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Título
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Regras que ensinam a maneira de escrever e Orthographia da lingua Portuguesa
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Subprojeto
Corpus Ortográfico do Português
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Tecnologia
Tratado Metaortográfico
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Língua Objeto
Português
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Metalinguagem
Português
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Autor
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Gandavo, Pero de Magalhães de (fl.1574-1576)
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Biografia sucinta do autor
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De Pero de Magalhães de Gandavo (fl.1574-1576) desconhecem-se as datas de nascimento e de óbito. De ascendência flamenga, daí a origem do seu apelido. Foi copista da Torre do Tombo, professor de latim e português na província natal de Entre douro e Minho. Esteve por duas vezes em território brasileiro, território acerca do qual também dedicou os seus estudos, os seus estudos com a obra Historia da prouincia Santa Cruz: a que vulgarmente chamamos Brasil (Lisboa, 1576), sendo por isso considerado o primeiro historiador do Brasil. Costuma-se afirmar que terá sido amigo pessoal de Luís de Camões (1524-1580).
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Editor
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Biografia sucinta do editor
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Tipo de documento
Impresso
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Local de impressão
Lisboa
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Impressor/Editora
António Gonçalves (século XVI)
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Ordem Religiosa
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Edição
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1.ª ed.
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Ano
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1574
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Volume de páginas/fólios
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36 fols.
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Outras edições conhecidas
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1.ª ed. Regras qve ensinam a maneira de escreuer e orthographia da lingua Portuguesa: com hum Dialogo que a diante se segue em defensam da mesma lingua, Avtor Pero de Magalhães de Gandauo, Em Lisboa: Na officina de Antonio Gonsaluez. 1574.
2.ª ed. Regras qve ensinam a maneira de escrever a orthographia da lingva Portuguesa: com hum Dialogo que adiante se segue em defensão da mesma lingua, Avtor Pero de Magalhães de Gandauo, em Lisboa: por Belchior Rodriguez; Vendemse em casa de Ioão d'Ocanha, liureiro. 1590.
3.ª ed. Regras qve ensinam a maneira de screver a orthographia da lingva Portuguesa: com hum Dialogo que adiante se segue em defensão da mesma lingua, Autor Pero de Magalhães de Gandauo, em Lisboa: em casa de Alexandre de Siqueyra; Vendemse em casa de Ioão d'Ocanha liureiro. 1592.
4.ª ed. Rolf Nagel (1969): Die Orthographieregeln des Pêro de Magalhães de Gândavo. Aufsätze zur Portugiesischen Kulturgeschichte: Portugiesische Forschungen der Görresgesellschaft 1/9: 110-135.
5.ª ed. Regras que ensinam a maneira de escrever e a ortografia da língua portuguesa: Com o diálogo que adiante se segue em defensão da mesma língua. Edição fac-similada da 1.a Edição, Introdução de Maria Leonor Carvalhão Buescu. Lisboa: Biblioteca Nacional.
6.ª ed. To¯ru Maruyama (2001): Keyword-in-Context-Index of the Regras que Ensinam a Maneira de Escrever e a Orthographia da Lingua Portuguesa (1574) By Pero de Magalhães de Gandavo. Nagoya: Department of Japanese Studies, Nanzan University.
7.ª ed. Carlos Assunção, Rolf Kemmler, Gonçalo Fernandes, Sónia Coelho, Susana Fontes & Teresa Moura (2019): As Regras que ensinam a maneira de escrever e ortografia da língua portuguesa (1574) de Pero de Magalhães de Gandavo: Estudo introdutório e edição. Vila Real: Centro de Estudos em Letras; Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (Ortógrafos Portugueses; 1). ISBN: 978-989-704-386-4; e-ISBN: 978-989-704-387-1. https://www.utad.pt/wp-content/uploads/sites/7/2020/04/CEL_Orto%CC%81grafos-Portugueses_1-1.pdf. http://hdl.handle.net/10348/9783.
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Mencionado em
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Descrição sumária
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Interesse linguístico
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Foi o primeiro tratado ortográfico propriamente dito da língua portuguesa e o de maior sucesso editorial anterior à obra de Madureira Feijó (1734), uma vez que foi a única obra metaortográfica do século XVI a ser editada várias vezes no mesmo século. Marca o início da inclusão expressa de ideias etimológicas nos tratados metaortográficos portugueses; surge na sequência da necessidade de uniformização ortográfica provocada pelo aumento da circulação de obras impressas.
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Inovações metalinguísticas
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Influência recebida de
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Grammatica da Lingoagem Portuguesa (1536) de Fernão de Oliveira
Grammatica da Lingua Portuguesa (1540) de João de Barros
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Influência exercida sobre
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Apesar da sua importância no mercado livreiro da época, não consta que a obra de Gandavo tenha exercido qualquer influência sobre tratados metalinguísticos posteriores, o que possivelmente se deve ao impacto maciço da obra de Duarte Nunes de Leão (1576)
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Índice da obra
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[rosto] – fols. 1r
[página em branco] – fol. 1v
[licenças] – fol. 2r
[dedicatória] A elRey nosso senhor. – fol. 2v
PROLOGO AO LECTOR. – fols. 3r-5r
De como se ha de fazer differença na pronunciação de alguas letras em que muitas pessoas se costumão enganar. – fols. 5r-7v
¶ DAS LETRAS COM que se escreue, & syllabas que se formão dellas. – fols. 8r-8v
Dos lugares onde se hade vsar destas letras maiusculas, & das pausas & distinções que se requerem no discurso das escripturas. – fols. 9r-9v
¶ DO QVE SE POEM per parenthesis. – fol. 10r
¶ Do que se ha de pôr com interrogação. – fol. 10v
¶ DOS SINAES QVE SE hão de vsar quando se não acabar a dição no fim da regra, & de como se ha de fazer esta diuisaõ. – fols. 11r-12v
¶ DOS ACCENTOS QVEse hão de vsar em alguas letras, ou vocabulos que teuerem duuidosa a significação. – fols. 13r-14v
¶ DAS LETRAS SVPERfluas que se hão de vedar nas partes onde não forem necessarias – fols. 14v-15v
¶ DE COMO SE HAõ DE escreuer os nomes & verbos compostos. – fols. 15v-16r
¶ Da pronunciação G. – fols. 16r-16v
¶ DAS PARTES A QVE se ha de ajuutar esta aspirção H. – fols. 16v-18r
¶ DE QVE MANEIRA & em que lugares se ha de vsar desta letra I, & onde hade ser grego. – fols. 18r-19r
¶ DOS LVGARES onde se ha sempre de seguir M. – fols. 19r-19v
¶ DE COMO SE HA DE vsar desta letra R. – fols. 19v-20r
¶ DE COMO SE HA DE vsar desta letra V. – fols. 20r-20v
SEGVESE HVM Dialogo em defensaõ da lingua Portuguesa, sobre a qual tem disputa hum Portugues com hum Castelhano, onde por se tratar desta materia vsa cada hum de sua linguagem na maneira seguinte. – fols. 21r-36v
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Localização na biblioteca/proprietário
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Biblioteca Nacional de Portugal
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Endereço Eletrónico ou URL
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https://purl.pt/12144
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Referências
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REFERENCES
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Autor(es) deste ficha
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Mónica Sofia Botelho Lima Augusto, Rolf Kemmler & Carlos Assunção
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Como citar esta ficha
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Augusto, Mónica Sofia Botelho Lima, Rolf Kemmler & Carlos Assunção. 2023. Gandavo, Pero de Magalhães de (fl.1574-1576): Regras que ensinam a maneira de escrever e Orthographia da lingua Portuguesa. https://pml.cel.utad.pt/ViewEntry.aspx?id_entry=8.
Edição semidiplomática
REGRAS
QVE ENSINAM
A MANEIRA DE ESCRE-
VER E ORTHOGRAPHIA DA
lingua Portuguesa, com hum Dialo-
go que adiante se segue em de-
fensam da mesma
lingua.
AVTOR
PERO DE MAGALHÃES
DE GANDAVO.
EM LISBOA
Na officina de Antonio Gonsaluez.
Anno de 1574.
fol. 1rfol. 1v
VI por mandado dos illustrissimos & reueren-
dissimos senhores da sancta & geral Inqui-
sição esta obra de Pero de Magalhães sobre a or-
thographia da lingua Portuguesa com hum Dia-
logo em fauor da mesma lingua. E não achey
nella cousa contra a Fee & bõs costumes antes
tenho o tal exercicio por licito & proueitoso ne-
ste genero de materias desta qualidade, & me pa-
rece se deue imprimir. Em fe do qual assiney a-
qui viij. de Octubro. 1574.
F. Bertholameu
Ferreira.
¶ Vista a enformação acima escripta
imprimase. Em Lixboa a 9. de O-
ctubro de 1574.
Lião Anriquez. Manoel de Coadros.
fol. 2r
A elRey nosso
senhor.
POR SER A PRESEN-
te obra (muito alto &
serenissimo Rey senhor
nosso) em defensão da
lingua Portuguesa, &
V. A. ter tanta razão de a honrar & en-
grandecer muito, pella professar & ser
senhor da mesma nação, cobrey ani-
mo pera a dedicara V. A. a quem hu-
milmente peço ma receba debaixo
de seu emparo, pera que seguramen-
te sem temor dos mal dizentes possa
sair a luz, illustrandoa com o nome
de V. A. Cuja real pessoa nosso Se-nhor guarde & deixe reinar per
longos annos em muita
felicidade.
fol. 2v
PROLOGO AO LECTOR.
HVã das cousas (discreto
& curioso lector) que
me pareceo ser muy ne-
cessaria & conueniente
a toda pessoa que escre-
ue, saber bem guardar a orthogra-
phia, pondo em seu lugar as letras &
os accentos necessarios que se reque-
rem no discurso das escripturas. E
porque nesta parte os mais dos Por-
tugueses saõ muy estragados & vi-
ciosos, & com innumeraueis erros
que cometem, corrompem a verda-
deira pronunciação desta nossa lin-
guagem Portuguesa, quis fazer estas
regras da orthographia a rogo de al-
g?s amigos, as quaes trabalhey por
comprehender em breues palauras
fol. 3r
com a menos difficuldade que pude,
pera com ellas aproueitar a toda pes-
soa que as quiser seguir. Porem hase
de entender que minha tenção não
foy fazellas, senão pera os que não são
latinos. E por esta razão quis nellas
vsar de alg?s ex?plos, pera que assi fi-
cassem mais claras, & cõ menos tra-
balho fossem ent?didas de qualquer
pessoa ainda que nam tenha (como
digo) inteligencia de latim. Porque
se meu intento fora sómente aprouei-
tar com ellas aos grammaticos, ouue-
ra os taes ex?plos por escusados: pois
estâ claro não serem necessarios senão
a estes que escassamente sabem que
cousa he nome, & que cousa he ver-
bo. Os quaes ainda que tenhão mui-
fol. 3v
ta experiencia de escreuer, não po-
derão deixar de cair em muitos er-
ros, se não teuerem alg?as regras
que nesta parte os allumiem. E al-
lem da orthographia que nas pre-
sentes se pode comprehender, ha
muitos vocabulos em que se comet-
te vicio, & são tantos que seria cou-
sa muy comprida querer aqui ex-
primir & tratar de raiz como se hão
todos de escreuer. Porque h?s se es-
creuem com c, outros com s, &
outros com z: cada hum em fim
segue sua origem, & assi h?s per
descuido, & outros por não sa-
berem latim (que he a fonte don-
de manou a mayor parte de-
stes nossos vocabulos) costumão
fol. 4r
trocar muitas vezes h?as letras por
outras, o que realmente se nam pode
fazer sem offenderem â pronuncia-
ção desta nossa linguagem. E se os
Portugueses nisto quisessem aduertir
com diligencia mostrandose h? pou-
co mais curiosos desta arte de que tão
pouco se prezão, não aueria pela ven-
tura tantos que praguejassem desta
nossa lingua: porque com saberem
bem escreuer, saberião bem pronun-
ciar os vocabulos, & com os saberem
bem pronunciar, ficaria a mesma lin-
gua parecendo melhor aos naturaes
que a professam. Por onde não auia
de auer pessoa que se prezasse de si, q?
não trabalhasse por saber alg? latim,
que nisso consiste o falar bem Portu-
fol. 4v
gues: & desta maneira facilm?te eui-
tarião todos estes erros, & serião per-
fectos em guardar a orthographia cõ-forme â ethymologia & pro-
nunciação dos vocabulos
De como se ha de fazer
differença na pronunciação de al-
g?as letras em que muitas pessoas
se costumão enganar.
AS LETRAS
que se costumão muitas ve-
zes trocar h?as por ou-
tras, & em que se co-
metem mais vicios nesta
nossa linguagem, são estas que se seguem,
fol. 5r
conuemasaber, c, s, z, & isto nace
de não saberem muitos a differença que
ha de h?as ás outras na pronunciação.
E assi ha nesta parte erros tão manife-
stos, & tambem recebidos de alg?as pes-
soas, que cuidão que dous ss, em meyo
de parte, tem muito mais semelhança de
z, que de c, no que totalmente se enga-
não, porque dous ss, tem mais semelhan-
ça de c, que de z, assi como remissão,
profissão, &c. E hum mais de z, que de
c, (digo em meyo de dição entre duas
vogaes) assi como, casa, peso, &c.
que se esteuer diante consoante ainda que
seja em meyo de parte, hum sô terà a
mesma força que tem dous, assi como
defensão, descanso, curso, &c. En-
fol. 5v
fim que esta letra s, em principio de di-
ção, & em meyo diante consoante,
& em meyo dobrado entre duas voga-
es, sempre tem h?a mesma força & se
pronuncia de maneira que parece ter ma-
is semelhança de c, que de z, & em
meyo singello entre duas vogaes mais de
z, que de c, (como ja tenho dito.)
Mas ainda que isto assi pareça, nem
por isso terão licença de pôr c, em lu-
gar de s, nem s, em lugar de z, nem
z, em lugar de s, nem s, em lugar de
c, porque na verdade seria corrompe-
rem a verdadeira pronunciação dos voca-
bulos, & muitas vezes significar h?a
cousa por outra, assi como, passos que
se escreuem com dous ss, quando significão
fol. 6r
os que se dão com os pês, & paços quan-
do se entendem pellas casas reaes com c. E
outros alg?s nomes & verbos ha, que não
tem outra differença na significação, se não
escreuerem se com s, ou com c, ou com z,
assi como cozer que se escreue com z,
quando he por cozinhar alg?a cousa em
fogo, & coser com s, quando he por coser
com agulha. Tambem ceruo se escreue
com c, quando he pelo veado, & seruo com
s, quando se entende pelo escrauo. E assi
tambem cella com c, quando se toma pelo
aposento do religioso, & sella com s,
quando significa a que se poem no cauallo.
E porque de todas estas diuersidades de vo-
cabulos que ha em nossa lingua, se não po-
dem fazer regras geraes pera se conhecer
com que letras se hão de escreuer, he for-
fol. 6v
çado que todos os escriuães que nesta par-
te quiserem ser perfectos, tenhão algum
conhecimento de latim, ou ao menos conhe-
ção a differença que ha na pronunciação do
c, ao s, & do s, ao z, porque se cairem
nella, com mais facilidade poderão vedar
muitos erros conforme ao sentido da ore-
lha que nesta parte não he pouco fiel. E
pera saber como se ha de fazer esta diffe-
rença, entendam que quando pronuncia-
rem qualquer dição com c, hão de fazer
força com a lingua nos dentes debaixo de
maneira, que fique algum tanto a ponta
dobrada pera dentro, & quando for com
s, porão a lingua mais folgadamente pera
cima que fique soando a pronunciação á
maneira de assuuio de cobra, que esta foy
a causa porque os Antiguos formàram o s,
fol. 7r
da feição da cobra, & o c, à maneira
de meyo circulo que fica dobrado semelhan-
te à lingua quando o pronuncia. Quanto
esta letra z, composerão os Gregos de du-
as letras, conuemasaber, do s, & do
d, & assi a pronunciação della não he ou-
tra cousa, senão a de hum s, carregado
por respecto daquelle d, que lhe formão
diante, o qual d, não deixa soltar a lin-
gua tão liuremente como quando o mesmo
s, per si se pronuncia. Assi que esta &
todas as mais letras inuentaram os mes-
mos Antiguos sapientissimamente, porquecada h?a tem a forma conforme à
natureza & semelhança de
sua pronuncia-
ção.
fol. 7v
¶ DAS LETRAS COM
que se escreue, & syllabas que se
formão dellas.
NESTA arte do escreuer ha vinte
letras, ou vinte & h?a com este y gre-
go, a fora h, que lhe não chamão os Latinos
letra, senão aspiração. Destas vinte & h?a,
são seis vogaes & quinze consoantes. As
vogaes são estas, a, e, i, o, u, y. As consoantes
as mais que restão. E quantas vogaes teuer
h?a dição, de tantas syllabas sera. Saluo quã-
do acontecerem duas vogaes juntas, estas du-
as não terão mais que h?a sô syllaba: quero
dizer que aquelle u, que se segue sempre di-
ante q, & alg?as vezes diante g, que não
se conte por vogal, nem se faça menção, se-
não da outra vogal que se segue diante del-
le. E assi tambem quando j, ou v, seruiremfol. 8r
de consoantes, nam se entenderão então
por vogaes. As syllabas são estas que se
seguem, & destinguemse desta maneira
que neste vocabulo significo con, ue, ni, en,
te. Finalmente que h?a syllaba não he ma-
is que hum som que se faz com a voz co-
mo cada h?a destas que atras ficam destin-
tas. Tambem he necessario saber fazer to-
das estas letras grandes (ou maiusculas por
melhor dizer como lhe chamão os Lati-
nos) pera vsarem dellas (como a diante di-
rey) nas partes onde forem necessarias.
As quaes se fazem desta maneira seguinte.
A, B, C, D, E, F, G, H, I, K, L, M,
N, O, P, Q, R, S, T, V, X, Z, Y.
fol. 8v
Dos lugares onde se hade
vsar destas letras maiusculas, &
das pausas & distinções que se re-
querem no discurso das escriptu-
ras.
EM principio de regra quan-
do se começar a escreuer al-
g?a cousa, sempre se vsarà
de h?a letra destas maiuscu-
las. E no discurso da escriptura auerá tres
maneiras de distinções, pera que o lector
saiba melhor pausar & entender o senti-
do da sentença, ou clausula, conuemasa-
ber, auerá virgula, dous pontos: hum
ponto. (da maneira que fica significado)
Da virgula se vsarà quando quiserem de-fol. 9r
stinguir h?a parte da outra indo proseguin-
do pela sentença adiante todas as vezes que
for necessario. Dos dous pontos em alg?s
lugares, onde se fezer mais pausa. De
hum ponto no fim da clausula, onde se a-
caba de concluir alg?a cousa. E logo a di-
ante do mesmo ponto a primeira letra que
se seguir serà maiuscula: porque hum pon-
to sô tem mais força que dous, & os do-
us mais que a virgula. E assi todos os
nomes proprios, & sobrenomes de hom?s,
ou de molheres, & nomes de cidades, de
villas, ou de lugares, de reinos, prouinci-
as, nações, & rios, & de nomes exqui-sitos de animaes, ou bichos feroces, & os
doze meses do anno, tambem se
escreuerão com letra ma-
iuscula.
fol. 9v
¶ DO QVE SE POEM
per parenthesis.
QVANDO se offerecer em
alg?a parte da escriptura dizer al-
g?a cousa fôra da sentença, que
muitas vezes se não escusa pera ornamen-
to, & declaração do que se escreue, pôr-
seha entre dous meyos circulos (desta ma-
neira.) Todauia não sera muita lectura,
porque se não embarace o lector, nem per-
ca o tino da sentença ou pratica que leua
enfiada. A isto chamão os Latinos Par?-
thesis, o qual ainda que se não lea, nem
por isso fica o proposito, & sentido da
pratica desatado, como em alg?as partes
no discurso da presente escriptura se po-
de ver.
fol. 10r
¶ Do que se ha de pôr com interro-
gação.
QVANDO for necessario
escreuer alg?a cousa em que
se faça alg?a pregunta a mo-
do de exclamação, ou de
qualquer maneira que seja, no fim della
se porà hum ponto, & junto delle hum
risco reuolto pera cima, como se pode ver
neste exemplo que se segue. Ha pela ven-
tura cousa no mundo que o homem com a
industria não alcançe? A isto se chama in-terrogação, a qual sempre se ha
de vsar desta maneira que
digo nas partes se-
melhan-
tes.
fol. 10v
¶ DOS SINAES QVE SE
hão de vsar quando se não aca-
bar a dição no fim da regra, &
de como se ha de fazer esta diui-
saõ.
QVANDO no fim de
alg?a regra se não acabar
a dição de escreuer por não
caber na mesma regra, pôr-
seha junto da parte que fi-
ca escripta dous sinaes desta maneira = que
significão irse acabar a outra parte que
resta no principio da regra que se ha de
seguir. Porem hase de ter aduertencia
que em semelhantes lugares nunqua se par-
ta syllaba pelo meyo ainda que pareça ser
necessario partirse pera igualdade da escri-fol. 11r
ptura: porque não se sofre estar a con-
soante em h?a regra, & a vogal na ou-
tra, digo quando ambas se ajuntão que fa-
zem h?a syllaba. Saluo esta letra s, nun-
qua se apartará de p, nem de t, ainda que
pareça que se parte a syllaba pelo meyo, assi
como, estes vocabulos que se seguem & ou-
tros semelhantes, quando se ouuesse de par-
tir a syllaba que está antes do s, por não
caberem na regra, diuidirsehião desta ma-
neira, re= sponde, de= spacho, hone= sti-
dade, con= stranger, &c. Finalmente que
sempre andará o s, pegado no p, & no t,
pera perfectamente se auer de escreuer.
¶ E tambem esta letra c, pelo conseguinte
em tal caso nunqua se apartará do t, assi
como, san= cta, conje= ctura, vi= ctoria,
&c. Ainda que nesta nossa linguagem pelafol. 11v
corrupção dos vocabulos, vsão muito poucas
vezes, ou quasi nunqua de c, ante t: mas
quando o vocabulo o tem de sua origem, &
assi inteiramente foy vsurpado do latim pe-
ra nosso vso, não sera desnecessario, nem
inconueniente vsallo (como alg?s querem di-
zer) antes vsandose (como digo) nos taes
vocabulos, sera muita perfeição: porq? quan-
to mais chegarmos ao latim estes & outros
quaesquer vocabulos latinos que corrupta-
mente vsamos guardandolhes fielmente sua
orthographia, tanto sera nossa lingua mais
polida, & ficara nesta parte mais singular,
& appurada que as outras. ¶ E assi tam-
bem quando em algum vocabulo se dobrar a
consoante, quero dizer quando duas letras
semelhantes esteuerem entre duas vogaes,
ou ?tre vogal & cõsoante, assi como, approuo,fol. 12r
affligo, asseguro, &c. & que cada hum
dos taes vocabulos se haja de diuidir por
não caber na regra, nunqua a consoante
se apartará da vogal que está antes della:
& assi não auendo lugar em que possa ca-
ber mais do vocabulo que a syllaba que
está ante das duas consoantes, h?a dellas fi-
cará no fim da regra junto da vogal que lhe
antecede, & a outra que resta responde-
rá no principio da regra á outra letra &
ás mais que a diante se seguirem, assi co-mo, ap= prouo, of= ficio, neces=
sidade, & outros infinitos a
que sempre em seme-
lhantes lugares
se ha de guar-
dar esta regra.
fol. 12v
¶ DOS ACCENTOS QVE
se hão de vsar em alg?as letras, ou
vocabulos que teuerem duuidosa
a significação.
QVANDO este articulo a, ou
as, se ajuntar a alg?s nomes fe-
meninos, a que se concede ou
nega alg?a cousa, terá hum accento em
cima, assi como, à vossa geração se deue
esta honra, ás cousas diuinas se ha de ter
grande acatamento, &c. Enfim que assi
como dixeramos, ao, ou aos em nomes mas-
culinos, assi diremos à, ou âs, com este
accento em cima em nomes femininos: sal-
uo quando se ajuntar a alg?s nomes pro-
prios, não sera necessario vsarse deste ac-
cento nelle ainda que sejão femeninos, por-fol. 13r
que se dixessemos, a Lixboa se deue esta
honra, està claro não ter alli este a, necessi-
dade de accento, pois se não deue vsarse
não quando a pronunciação carrega nelle
da maneira que nos exemplos acima fica
declarado onde se denota com o tal accento
o mesmo que outros denotão com dous aa,
não sendo a meu juizo necessario mais que
hum sô, vsandose nelle deste accento que digo.
¶ E assi tambem quando se ouuer de vsar
desta letra o, em alg?a inuocação, pôrseha
com hum accento emcima, assicomo. Vos ô
poderoso Senhor valeinos, ô grão Rey a-
judainos, &c. Tambem ha muitos verbos
que não se sabe se falão do tempo passado,
se do por vir: & pera se tirar esta duuida,
quando falarem do tempo passado, se porá o
accento na penultima, que não he a derradei-fol. 13v
ra syllaba, senão que esta antes della, assi-
como, alcançára, louuára, agradecéra, &c.
E quando falarem do por vir, pôrseha na
vltima desta maneira, assicomo, alcança-
rá, louuoará, agradecerá, &c. E estes
verbos & todos os mais no plurar, quan-
do falarem do passado que fezerem o accen-
to na penultima se escreuerão com m, assi-
como, alcançaram, louuaram, &c. E quan-
do falarem do futuro que fezerem o accen-
to na vltima, se escreuerão com ão, assi-
como, alcançarão, louuarão, &c. Ou tam-
bem se podem escreuer com m, quer falem
do passado quer do por vir, distinguindo
esta duuida com os mesmos accentos da
maneira que acima digo. Alem destes
ha outros muitos vocabulos, em que hefol. 14r
necessario vsarse deste & doutros accen-
tos, pera que melhor se saibão pronunciar,
& entender a significação delles. Mas por
agora não quis tratar aqui, senão destes
em cuja significação pode auer duuida não
se vsando do tal accento que acima fica de-
clarado.
¶ DAS LETRAS SVPER
fluas que se hão de vedar nas par-
tes onde não forem necessarias.
NVNQVA em principio
nem em cabo de dição, se vsa-
rá de duas letras semelhan-
tes, nem ainda no meyo,
saluo quando a origem do vocabulo as pe-
dir, ou quando algum nome ou verbo forfol. 14v
composto como adiante se dira.
Em nenh?a dição diante consoante se
seguirão nunqua dous rr, porque sera
grande vicio, assi como, Anrique, honra,
&c. que se escreuem com hum sô r, &
não com dous como muitas pessoas costu-
mão: porque hum r, diante consoante tem
tanta força como em principio de dição, &
por isso he desnecessario nas taes dições vsa-
rem de dous, senão de hum sô.
¶ Outras impropriedades de letras se vsão
em alg?s nomes, que são tão bem recebi-
das & acceitas na terra, como se as te-
uessem de sua origem, os quaes são estes,
& costumão se escreuer desta maneira á
imitação dos Gregos, Xp?o, Ih?s, Xpão,
Xpuão, espriuão: auendose de escreuer
destoutra, Christo, Iesus, Christão, Chri-fol. 15r
stouão, escriuão. E ainda que destas du-
as maneiras se vse, & a pronunciação toda
seja h?a, todauia como eu digo sera melhor
vsado, pois estas são as letras de sua natu-
ral origem com que se deuem escreuer.
¶ DE COMO SE HAõ DE
escreuer os nomes & verbos
compostos.
TODOS os nomes & ver-
bos que forem compostos de-
stas letras, a, i, o, di, a pri-
meira que se seguir diante
de qualquer dellas, sera
dobrada. De a, assicomo, affirmo, acciden-
te, asseguro, &c. De i, assicomo, illustre,
innumerauel, irrigular, &c. De o, assico-fol. 15v
mo, officio, oppressão, offendo, &c. De
di, assi como, differente, dissimular, dif-
ficuldade, &c. E pelo mesmo caso que esta
regra se guarda em o latim, se deue tam-
bem guardar com a mesma fidelidade nesta
nossa linguagem.
¶ Da pronuncia-
ção G.
SEMPRE diante g, se
seguirá u, ante e, & ante
i, quando se pronunciar com
força, assicomo, guerra, san-
gue: guitarra, guia, &c. E se não
teuer este u, ante e, & ante i, te-
rá a pronunciação desta maneira, assi-fol. 16r
assicomo, gente, geração: fugida, regi-
mente, &c. E quando diante g, se seguir
a, ou o, nunqua se porà u, assicomo Gon-
çalo, gozo, braga, lugar, &c. Saluo
quando for necessario a pronunciação go-
star delle, assicomo, igual, guarda, lin-
gua, &c.
¶ DAS PARTES A QVE
se ha de ajuutar esta
aspirção H.
A ESTA letra a, se a-
juntarà h, quando for ver-
bo, que significar auer al-
g?a cousa, quer com elle
se affirme quer se negue,
assicomo, ha muitos annos que vi foão, nãofol. 16v
ha impedimento de ninguem, &c.
E assi tambem ao mesmo a, se ajuntará
h, quando com elle significar alg?a excla-
mação, então neste lugar se porá h, dian-
te, assicomo. Ah desauentura tão grande.
Ah campos Lusitanos suspiray, &c.
Tambem a esta letra e, se ajuntará h,
quando for verbo, que significar ser alg?a
cousa, quer negando quer affirmando, assi
como, he muito meu amigo. não he quem
parecia, &c. E isto não porque o tenha de
sua origem, mas pera com elle denotar que
he verbo como digo, & não conjunção. Po-
sto que tambem costumão alg?as pessoas
por escusar este h, no tal verbo, escreuello
somente com hum accento em cima desta
maneira é. Finalmente que de qualquer de-
stas se pode vsar. Mas porque com este ac-fol. 17r
cento he muito pouco vsado, & muitas
pessoas o auerão por nouidade, ignorando
pela ventura o que o tal accento denota,
pareceme que sera mais acertado & me-
lhor escreuello com h, por ser pelo costume
mais claro & facil a todos, que destoutra
maneira que digo (saluo meliori iudicio.)
¶ E pelo conseguinte he necessario vsar
se tambem deste h, em alg?s vocabulos ain-
da que de si o não tenhão, não porque seja
necessario a pronunciação gostar delle, mas
por razão de se entenderem, & significa-
rem melhor, conforme ao vso desta nossa
linguagem, assicomo, hum, h?a, hia, hi.
Porem tirando estes, muy raramente, ou
nunqua teremos necessidade em principio
de dição, vsar mais delle, saluo em alg?s
vocabulos que o teuerem de sua origem,fol. 17v
assicomo, homem, honra, honestidade, hi-
storia, &c.
¶ DE QVE MANEIRA
& em que lugares se ha de vsar
desta letra I, & onde ha
de ser grego.
ESTA letra I, se ha de
escreuer de tres maneiras,
& de cada h?a se ha de
vsar nas partes onde for ne-
cessario, conuemasaber, j,
comprido, y, gregro, i, pequeno. Deste j,
comprido se vsarà, quando seruir de conso-
ante, quer em principio de dição, quer em
meyo, assicomo, jornada, sobeja, &c. Este y
grego se seguirá sempre ? meyo de dição, q?ndofol. 18r
acontecer entre duas vogaes, & nunqua te-
ra pronunciação de consoante, assicomo, jo-
ya, mayor, moyos, &c. E noutra nenh?a
parte se deue vsar, nem sera sofriuel, sal-
uo se for em cabo de dição diante vogal,
assicomo, Rey, darey, foy, muy, &c. que
parece bem em semelhantes lugares, & não
offende â pronunciação da linguagem. Não
trato dos vocabulos que o tem de sua ori-
gem, porque esses de seu se está não lho ne-
garmos quando se offerecerem, & nos vie-
rem á noticia. E posto que aja opiniões de
alg?as pessoas que sô nos taes vocabulos q?
o teuerem de sua origem se ha de vsar del-
le, não faltão outras muitas (cujo parecer
he digno de grande authoridade) que affir-
mem auerse de vsar deste y, nos lugares q?
digo, ainda que o não tenhão de sua orig?,fol. 18v
assi pela necessidade que nesta nossa lingua-
gem temos delle, como por estar ja tão bem
recebido pelo costume, que pareceria estra-
nho querer vedallo, mayormente sendo tão
necessario como digo nas partes semelhan-
tes.
Este i, pequeno seruirá sempre em to-
das as mais partes que se offerecer.
¶ DOS LVGARES
onde se ha sempre de se-
guir M.
ANTE p, m, b, sempre se es-
creuerá m. Ante p, assicomo,
imperio, companhia, emparo,
&c. Ante m, assicomo, immenso, summo,
immortal, &c. Ante b, assicomo, Ambro-fol. 19r
sio, ambição, embargo, &c. E noutra
nenh?a parte se seguirá ante consoante se
não n.
¶ DE COMO SE HA DE
vsar desta letra R.
QVANDO em meyo de
dição a pronunciação desta
letra r, for dobrada, sem-
pre se escreuerá com dous
rr, assicomo, terra, socor-
ro, ferro, &c. Saluo diante consoante se
seguirá hum só (como ja tenho dito) ain-
da que pareça que a pronunciação pede do-
us, assicomo, tenro, genro, &c. porque se
não sofrem duas letras semelhantes diante
consoante.
fol. 19v
Nunqua se vsará deste R, maiusculo em
meyo de parte alg?a, nem ainda em princi-
pio, como vsão muitos, saluo nos lugares on-
de se ouuer de vsar de letra maiuscula co-
mo a tras deixo declarado.
¶ DE COMO SE HA DE
vsar desta letra V.
SEmpre em principio de qual-
quer dição se vsarà deste v,
meão, & em meyo sempre
sera u, pequeno, ainda que
sirua de consoante, assicomo, viuua, viuer,
&c.
Outras regras não sinto ao presente que a-
qui possa trazer, nem de que deua mais par-
ticularmente fazer menção, porq? meu int?tofol. 20r
não foy tratar aqui, senão destas que boa-
mente se podessem entender dos que não sa-
bem latim pera com ellas euitar alg?a par-
te dos muitos vicios & barbarismos que ne-
sta nossa linguagem se cometem. E porisso pretendi ser nellas facil, &
passar por tudo isto com
breuidade.
¶ Fim.
fol. 20v
g SEGVESE HVM
Dialogo em defensaõ da lingua Portugue-
sa, sobre a qual tem disputa hum Portu-
gues com hum Castelhano, onde por
se tratar desta materia vsa ca-
da hum de sua lingua
gem na maneira
seguinte.
Interlocutores.
Petronio. Portugues.
Falencio. Castelhano.
Pet. LEmbrame, senhor
FaIencio, que os dias
passados nos acha-
mos em casa de Fla-
minio nosso amigo,fol. 21r
onde reuoluendo certos liuros de
diuersas linguag?s, a que menos
vos quadrou & mais vitupera-
stes, foy esta nossa Portuguesa de
que todos praguejaes, sendo ella
em si tão graue & tão excellente
assi na prosa como no verso que só
a latina lhe pode nesta parte fazer
ventagem. Quisera logo então
(como sabeis) prouaruos esta ver-
dade, & mostraruos per razões
claras quanto esta nossa excede á
vossa: mas porque o tempo nem
o lugar erão pera esta disputa, não
fomos com ella mais por diante.
Pelo que assentamos (se vos lem-
bra) de concluir esta questão o
primeiro dia que nos vissemos.
fol. 21v
Falen. Por cierto señor Petronio que
no es poco de agradecer el amor
que en esso mostrais a vuestra na-
turaleza. Porque siendo essa opi-
nion tan contraria de todos, y
conoscida vuestra lengua por la
mas tosca y grossera del mundo,
quereis defenderla y sustentar el
contrario: lo que yo creo que
que no sera, sino con algunas ap-
parentes razones, o argumen-
tos sophisticos de que suelen vsar
los hombres sabios & de buenos
ingenios para que se juzguen por
buenas y verdaderas sus opinio-
nes.
Petro. Pouca necessidade tenho eu
senhor Falencio, de buscar perafol. 21r
esta disputa argumentos dessa qua-
lidade, auendo tantas & tão ver-
dadeiras razões que nesta parte
me fauorecem & com verdade
posso alegar. Mas ja que temos
mouida esta questão, & o tempo
nos dá lugar pera a concluir, ago-
ra vos peço me digais, qual he a ra-
zão que tendes pera julgar por tos-
ca, & grosseira esta nossa lingua,
que em estremo folgarey de a ou-
uir?
Fal. La causa señor Petronio, de vue-
stra lengua ser juzgada por essa
(no solo de todas las naciones del
mundo, mas aun de los mismos
Portugueses que la posseen) es por-
que en su principio como se pue-fol. 22v
de ver enel lenguaje de algunas hi-
storias y chronicas antiguas de Por-
tugal, vsauan muchos vocabulos
muy differentes y improprios de
su natural signifícacion y origen.
Y despues conosciendo los hom-
bres por el tiempo adelante la im-
propriedad, y poca policia deste
lenguaje, vinieron poco a poco ap-
purando lo con diriuar y compo-
ner vocabulos de diuersas lengu-
as ayuntando los ala suya: y ansi
con fauor delas agenas supplieron
muchos defectos que ella en si te-
nia. Por dõde se no puede llamar
verdadero Portugues el que agora
en estos tiempos vsais, sino el an-
tiguo que en principio se vsaua,fol. 23r
como ya tengo dicho. Y por esso
con razon llaman todos a esta len-
gua barbara, que en la realidad
dela verdad lo es, pues de si es tan
pobre, y tan poco polida, que
sin ayuda delas otras quedaria tan
ruda y tosca, que en estos tiem-
pos no se poderia oir, ni aun en-
tender delos mismos Portugue-
ses:
Petro. Nessa opinião não consenti-
rey eu, nem vos senhor Falencio
deuieis de ir com ella mais por di-
ante: porque aueis de saber que
esta nossa lingua foy inuentada
como forão as outras linguas. E
se alg?a nesta parte a fauoreceo
foy a Latina, da qual todos estesfol. 23v
nossos vocabulos, ou a mayor par-
te delles trazem sua origem. E
assi a linguagem que nesse anti-
guo tempo se vsaua neste nosso
Portugal a que vos chamais tosca
& ruda, está claro em muitos
vocabulos ser mais chegada ao la-
tim que esta que agora vsamos:
porque hoje em dia ha neste Rei-
no lugares onde ainda se vsa del-
les como antiguamente. Pelo
que se póde affirmar com verda-
de q? não era outra cousa esta ma-
neira de falar senão h? latim cor-
rupto. Mas como a g?te pelo t?po
a diãte fosse ? crecim?to, & os ho-
m?s teuess? necessidade de exerci-
tar? esta lingua ? varios negocios,fol. 24r
cada vez a forão mais appurando
descobrindo nella outros voca-
bulos que ainda que não saõ la-
tinos como estes antiguos que a-
tras deixamos, todauia soam me-
lhor aos ouuidos da gente polida,
& saõ mais proprios & accomoda-
dos pera significarem aquillo que
queremos, que outros que aja em
nenh?a lingua. Ora naquelles em
que seguimos o latim, não ha
que reprehender, pois claramen-
te se vé que quanto mais a elle
nos chegamos, tanto melhor pa-
recem & mais authorizada fica
nossa linguagem. Pela qual razão
se não pode negar ser este o natu-
ral, & verdadeiro Português quefol. 24v
agora vsamos: no qual se desapassio-
nadamente quiserdes pôr os olhos,
& notar a ethymologia & signifi-
cação de alg?s vocabulos desta nos-
sa lingua, achareis que em muitas
partes faz ventagem á vossa, como
logo vos posso moftrar em hum
nosso vocabulo que agora me lem-
bra (allem doutros muitos que a-
qui não alego por escusar proluxida-
de) & he que dizemos olhar, &
vós mirar: pois se o instrumento
com que vemos chamamos olhos,
com razão dizemos olhar & vós cha-
maislhe ojos, & dizeis mirar. O qual
verbo não pode ser conueniente,
nem conforme a sua significação,
sem dizerdes ojar, ou chamardesfol. 25r
aos olhos miros. Outras muitas
impropiedades de vocabulos ha de-
sta maneira em vossa lingua que
muy raramente ou nunqua se acha-
rão na nossa. E allem disso outros
temos cá de que vos lá careceis, sem
os quaes não podeis por nenhum
modo bem explicar aquillo que el-
les significão, conuemasaber, dize-
mos geito, saudade, lembrança, pra-
guejar, enxergar, agasalhar, &c. E
nos não carecemos daquelles com
que vós quereis significar estes & os
mais que ha. E por todas estas ra-
zões, & outras muitas que alegarey,
não se pode a esta nossa lingua cha-
mar pobre nem grosseira, pois na
realidade da verdade o não he, nemfol. 25v
pessoa que sentir bem della auera
que tal confesse.
FALENCIO.
¶ Bein se señor Petronio, que siem-
pre en vuestras razones y argumen-
tos os aueis mostrado hombre de
grande ingenio: mas aun que conel
pretendais escreuer las mias, no de-
xaré de sustentar esta opinion de
vuestra lengua ser la que digo, ha-
sta no ver contra my otras mas vr-
gentes que me obliguen a confessar
el contrario. Y por esso os suplico me
digais ya q? ella es tan dilicada y excel?-
te como dezis, y tiene tãta grauedad ?fol. 26r
su estylo: qual es la causa porque
todas las naciones del mundo la a-
borrecen tanto, y la tienen en tan
poco.
PETRONIO.
A causa desse aborrecimento, & des-
prezo (ou por melhor dizer inue-
ja) senhor Falencio, naceo de ella
ser em si tão difficultosa, que de ma-
rauilha vimos estrangeiro algum que
a podesse bem tomar, ainda que ne-
ste Reino andasse muitos annos, &
trabalhasse pela imprender quanto
humanamente fosse possiuel. E da-
qui vem a todas as nações aborrece-
rem na tanto, & não na poderemfol. 26v
gostar, por lhes ser (como digo) tão
pouco facil, & de tão ruim desistão.
FALENCIO.
¶ Luego si assi es, muy mejor es la
Castellana y mas vtil a todos: pues
no hay nacion enel mundo que no
la tome con mucha facilidad, y la
tenga en mucho mas estima que la
vuestra, la qual con razon se deue
llamar grossera y tosca, ya que es tan
escabrosa y difficil de tomar, que no
aprouecha a nadie el vso della sino a
sus naturales.
PETRONIO.
Antes h?a das prouas que eu tenhofol. 27r
de ella ser melhor, & muito mais
delicada que a vossa, he por essa
difficuldade que vós lhe achais, por-
que vemos por experiencia que quã-
to as cousas em si saõ melhores, &
mais excellentes, tanto he mais tra-
balhoso & difficil ao homem alcan-
çallas. Quanto mais se esta nossa
lingua fora difficultosa por causa de
ser barbara, & grosseira, de crer he,
que a mesma difficuldade tiueramos
em tomar as outras linguas, que
tem os estrangeiros em tomar a nos-
sa. Mas pela contrario he ella tal,
& de tanta preminencia, que a to-
dos os naturaes habilita & dispoem
de maneira, que em pouco tempo
& com muita facilidade (como cla-fol. 27v
ramente se vé por experiencia) to-
mão qualquer lingua estranha, &
nisto fazem ventagem a todas as ou-
tras nações.
FALENCIO.
¶ Esso no niego yo, ni dexo de
conoscer, señor Petronio, 1a razon
que en essa parte teneis: porque he
visto muchos Portugueses en Casti-
lla hablar nuestra lengua, como si
fuera de su naturaleza suya. Y en
Italia por el consiguinte algunos vi-
de que en ella no diffirian delos
mismos Italianos. Mas esso tam-
bien se puede refirir a sus buenosfol. 28r
buenos ingenios y habilidades que
tienen de su naturaleza, y no ala dis-
pusicion de su lengua.
Petronio.
Dizeime senhor Falencio, se hum
homem não for bom musico, & te-
uer ruim vóz, por muito habil, &
sentido que seja, poderá bem contra
fazer a outros quaesquer musicos
que ouça?
Falencio.
Esso mal podra ser, si el no tiene boz
que le ayude.
Petronio.
Pois de crer he, que se os Portugueses
teuerão ruim lingua, & fora tão gros-
seira como dizem, que não contra-
fezeram com ella também as outrasfol. 28v
linguas, nem lhes aproueitára nesta
parte seu bom ingenho.
Falencio.
Pues señor Petronio, ya que essa gra-
cia es attribuida a la capacidad de vu-
estra misma lengua, y por virtud
della sois tan habilissimos en tomar
las agenas, qual es la causa porque
los mismos Portugueses siendo ella
suya la desdeñan, y por su boca con-
fiessan ser ella la mas tosca y barbara
del mundo?
Petronio.
A isso vos respondo, senhor Falencio,
que esta nação Portuguesa pela ma-
yor parte, he mais affeiçoada ás cou-
sas dos outros Reinos, que ás da sua
mesma natureza, cousa que se nãofol. 29r
acha nas outras nações: porque to-
das engrandecem sua lingua, & fa-
zem muito pelas cousas que qua-
drão nella, sós os Portugueses pare-
ce que negão nesta parte o amor á na-
tureza. E daqui vem a muitos dize-
rem mal de sua lingua, & consenti-
rem na opinião dos estrangeiros, o q?
realmente se póde attribuir mais a
ignorancia, que a razão alg?a que a
isso os moua. Porem os hom?s de
bom juizo que bem a sentem, não
podem deixar de engrandecer mui-
to, & confessar comigo que a ella se
deue mais louuor que á vossa.
Falencio.
¶ Creo yo señor Petronio, que de-fol. 29v
uen ser muy pocos o quiça ningu-
nos, los que quieran assentir con
vós en essa opinion. Porque hom-
bres Portugueses muy principales y
de grandes ingenios, escriuieron, y
aun oy dia escriuen sus obras en Ca-
stellano por ser lenguage mas appa-
zible y dulce, y sonar mejor a los
oydos que la vuestra: y esto es tan
notorio y manifiesto, que hasta los
niños vuestros naturales conoscen y
confiessan esta verdad.
Petronio.
¶ Não he bastante razão essa que a-
legais pera que vossa lingua por esse
respecto mereça ser prefirida á nossa,fol. 30r
Porque aueis de saber que cada lin-
gua per si tem hum estylo mais pro-
prio, & em que melhor parece, co-
mo he, a Grega nos versos, a Latina
nas orações, a Toscana nos sonetos,
a Portuguesa nas comedias em pro-
sa & no verso heroyco, a Castelhana
nas trouas redondas & garridas que
naturalmente parecem feitas & in-
uentadas pera ella. E daqui veo a
muitos Portugueses vendo quã bem
parecia neste estylo, & que nella se a-
chaua mais facilm?te cõsoantes pera
verso, exercitarem na por seu passa-
tempo em eglogas, canções, elegias,
& cantos pastorijs que saõ materias
leues, & accomodadas ao estylo da
mesma lingua. Mas cousas graues,fol. 30v
& de importancia, não me dareis ne-
nhum Portugues antiguo nem mo-
derno que as tratasse nem escreuesse
em vossa lingua. E se quereis sa-
ber quam pouca necessidade temos
della, vede o estylo das comedias &
dos versos do nosso verdadeiro por-
tugues Francisco de Sâ de Miranda,
que foy o primeiro que nesta nossa
Lusitania o descubrio com tamanha
admiração, que de todos em geral
ficou confessada esta verdade. Vede
a Asia daquelle famoso & excellen-
te escriptor Ioam de Barros que por
ella em Veneza está prefirido a Pto-
lomeu. Vede a primeira & segunda
parte da Imagem da vida Christãa
daquelle doctissimo varão Frey He-fol. 31r
ctor Pinto que agora em nossos dias
sahio a luz: Vede o estylo da lingua-
gem de Lourenço de Caceres, de Frã-
cisco de Moraes, de Iorge Ferreira,
de Antonio Pinto, & doutros illu-
stres varões que na prosa tanto se as-
sinalaram, descobrindo com seus in-
genhos peregrinos o segredo da graui-
dade & fermosura deste nosso Portu-
gues. Pois se no verso heroyco vos
parece que a vossa lhe pode fazer ven-
tagem: vede as obras do nosso famo-
so poeta Luis de Camões de cuja fa-
ma o tempo nunqua triumphará, ve-
de a brandura das daquelle raro espi-
rito Diogo Bernardez: vede finalm?-
te as do doctor Antonio Ferreira de q?fol. 31v
o mundo tantos louuores canta: &
em cadada hum destes autores acha-
reis hum estylo tão excellente, & tão
natural & accomodado a esta nossa
lingua, que forçadamente aueis de
vir a deceruos de vossa opinião, &
confessar comigo ser ella indigna
desse nome que vos lhe dais. Pois
se quereis ver a lingua de que he
mais vizinha, & donde manou,
lede a arte da grammatica da lin-
gua Portuguesa que o mesmo Ioam
de Barros fez, & o mesmo podeis
ver no liuro da antiguidade de E-
uora de Mestre Andre de Resende,
onde claramente se mostra, que cõ
pouca corrupção deixa de ser Latina.fol. 32r
Enfim que se alg?a com razão se po-
de chamar barbara he a vossa, a qual
toma da lingua Arabia, & a mayor
parte dos vocabulos falais do papo
com aspiração: & assi fica h?a lin-
guagem imperfecta, & mais corru-
pta do que vos dizeis que a nossa he.
Falencio.
Pues señor Petronio, ya que con el
arteficio de vuestras razones quereis
ahogar, y confundir las mias, y pien-
sais quedar vencedor, y triumphar
de my opinion: agora os quiero pro-
uar en como la nuestra lengua es mas
propinqua al latim que la vuestra,
con algunos vocabulos que aqui
offereceré, conuieneasaber. Dezis
hontem, nos hayer, el latin heri.fol. 32v
Dezis engenho, nos ingenio, el latin
ingenio. Dezis dores, nos dolores, el
latin dolores. Dezis cores, nos colo-
res, el latin colores. Dezis calmas,
nos calores, el latin calores. Dezis pai-
xões, nos passiones, el latin passiones.
Dezis pessoa, nos persona, el latin per-
sona. Enfim otros muchos vocabu-
los ha en nuestra lengua, que diffe-
ren muy poco, o quasi nada dela la
latina, delos quales la vuestra es muy
remota, como en estos os t?go mo-
strado. Pues como la lengua Latina
sea madre delas otras lenguas, y mas
copiosa y excellente de todas quantas
hay (como sabemos) aquella q? mas
semejãte y propinqua fuere a ella, essa
serâ mejor y mas singular q? las otras.
fol. 33r
Petronio.
¶ Se cõ essa razão vos parece, senhor
Falencio, que tendes concluido, ain-
da vos prouarey que a nossa he mais
chegada ao latim que a vossa, como
se pode ver em outros muitos voca-
bulos nossos de que a vossa tambem
se desuia: alg?s delles são estes que se
seguem. Vos dizeis lengua, nos lin-
gua, o latim lingua. Dizeis pluma,
nos penna, o latim penna. Dizeis t?-
prano, nos cedo, o latim cito. Dize-
is lexos, nos longe, o latim longe. Di-
zeis años, nos annos, o latim annos.
Dizeis daño, nos damno, o latim dã-
no. Finalmente que se quantos me
occorrem vos quisesse aqui dizer, se-
ria cousa infinita de nunqua acabar,fol. 33v
porq? (como digo) a mayor parte dos
vocabulos pron?ciaes cõ aspirações,
por onde fica vossa lingua muito ma-
is remota, & desuiada do latim que a
nossa: & se não vedeo nestes que ago-
ra vos direy. Vos dizeis hembra, nos
femia, o latim femina. Dizeis hierro
nos ferro, o latim ferro. Dizeis hiel,
nos fel, o latim fel. Dizeis hado, nos
fado, o latim fato. Dizeis huir nos fu-
gir, o latim fugere. Dizeis hazer, nos
fazer, o latim facere. Pois daqui pode-
is inferir quanto melhor, & mais gra-
ue he a nossa lingua: & se quiserdes sa-
ber quanto nesta parte excede não só-
mente á vossa, mas ainda ás outras de
q? não tratamos, a este proposito vos
contarey, que hum dia em Paris se a-fol. 34r
cháram n?a certa parte hom?s de di-
uersas nações, os quaes vierão a di-
sputar de suas línguas, & cada h? fez
versos em latim buscando vocabulos
mais semelhantes á sua, & nenh?a se
achou que mais participasse do latim
que a nossa: porque dez ou doze ver-
sos se fezerão, q? não descrepão da lin-
gua Latina cousa alg?a, nem da Por-
tuguesa: dos quaes me lembrão estes
que se seguem.
O quam diuinos acquiris terra triumphos,
Tam fortes animos alta de sorte creando.
De numero sancto gentes tu firma reseruas.
Per longos annos viuas tu terra beata.
Cõtra non sanctos te armas furiosa Paganos.
Viuas tu semper gentes mactando feroces,
Quae ethiopas Turcos fortes Indos dás saluos.
De Iesu Christo sãctos mõstrãdo Prophetas.
fol. 34v
¶ Ficarão todos tão enleados quando
nestes versos virão a perfeição desta
lingua, que não podéram deixar de a
confessar por melhor, & mais chega-
da ao latim de todas. E assi tambem
vós senhor Falencio, diuieis de cair na
conta, & acabar de conhecer que por
todas as vias he ella mais polida & del-
gada que a vossa.
Falencio.
¶ Aunque con todas essas razones os
paresca que aueis prouado fuerça cõ-
tra las mias, con todo esso no creo se-
ñor Petronio, que totalm?te sean ba-
stantes para deshazer my opinion.
Porque supuesto que en essos versosfol. 35r
se muestre vuestra lengua tan cerca
del latin, tambien se de espacio pen-
sassemos en la nuestra, podria ser que
hallassemos vocabulos con q? hiziesse
mos otros tantos, o mas en nuestro
lenguaje, y tan latinos como essos q?
aueis alegado.
Petronio.
Não me parece, senhor Falencio, que
sera possiuel achardes vocabulos tão
perfectamente latinos nem que tão
bem pareção em vossa linguagem, q?
vos síruão ?a versos desta qualidade.
Falencio.
¶ Y que razon aura, señor Petronio,
para que tan perfectam?te los no ha-
llemos en la nuestra, au?do entre am-
bas ? vna ala otra tan poca differ?cia?
fol. 35v
Petronio.
Porque alem de as aspirações q? vsais
vos corromperem (como ja disse) a se-
melhança que a vossa lingua podia
ter com a Latina, tendes nella muitas
syllabas que se dobrão per duas letras
vogaes, que o latim nem nós nunqua
vsamos: como he, tierra, fuerte, muer-
te, fuerte, luengo, cierto, & outros in-
finitos vocabulos, nos quaes a nossa
segue o latim, & não descrepa delle
cousa alg?a, & a vossa totalmente pa-
rece que nelles se esmerou em se des-
uiar delle, como se desta maneira fi-
casse mais perfecta.
Falencio.
¶ Ora senhor Petronio, vos lo teneis
muy bien hecho, y hasta aqui dispu-fol. 36r
tado sabiamente como hombre de
grande ingenio, y que no dessea poco
engrandecer las cosas de su naturale-
za. Y por esso demos fin a nuestra di-
sputa, y seamos amigos como siem-
pre lo fuimos, que lo demás poco nos
importa.
Petronio.
Dessa maneira, senhor Falencio, ja q?
contra minhas razões não tendes ma-
is q? arguir, & o campo fica por meu,
demos por concluida nossa questão,
que isto he tarde, & vãose faz?do ho-
ras. Por isso não me detenho mais, fi-
quaiuos embora que outro dia nos
veremos.
Fim.
fol. 36v

