Regras da lingua Portugueza, espelho da lingua Latina

    • Título
    • Regras da lingua Portugueza, espelho da lingua Latina
    • Subprojeto

    • Corpus Gramaticográfico do Português

    • Tecnologia

    • Gramática

    • Língua Objeto
    • Português
    • Metalinguagem
    • Português
    • Autor
    • Argote, Jerónimo Contador de (1676-1749)
    • Biografia sucinta do autor
    • Nasceu em 1676, na vila de Colares (Sintra). Aos 12 anos, entrou na Congregação dos Clérigos Regulares Teatinos, dedicando a sua vida aos estudos das línguas, modernas e antigas, aos estudos eclesiásticos e históricos. Foi sócio da Academia Real de História, fundada em 1720. Nesta qualidade, segundo Machado (1741, I), foi nomeado pelo rei para escrever as Memórias do Arcebispado de Braga, tarefa que cumpriu com grande mérito e de que resultou a sua obra de maior vulto, Memorias para a Historia Ecclesiastica de Braga, primaz das Hespanhas, com 4 tomos, publicados entre 1732 e 1747. Autor polígrafo, continuou a aprofundar os seus estudos ao longo da sua vida, elaborando numerosos trabalhos ligados à vida eclesiástica. Argote viria a falecer a 9 de abril de 1749, na Casa de São Caetano de Lisboa.
    • Editor
    • -
    • Biografia sucinta do editor
    • -
    • Tipo de documento
    • Impresso
    • Local de impressão
    • Lisboa
    • Impressor/Editora
    • Officina da Musica (século XVIII)
    • Ordem Religiosa
    • Ordem dos Clérigos Regulares (C.R) — Teatinos
    • Edição
    • 2.ª ed.
    • Ano
    • 1725
    • Volume de páginas/fólios
    • [XXIV], 356, [IV] pp.
    • Outras edições conhecidas
    • 1.ª ed.    Regras da lingua Portugueza, Espelho da lingua Latina, ou Disposic,am Para facilitar o ensino da lingua Latina pelas regras da Portugueza. Composto pelo Padre Caetano Maldonado da Gama. Lisboa Occidental: Na Officina de Mathias Pereyra da Sylva, & João Antunes Pedrozo. M. DCC. XXI.

      2.ª ed.    Regras da lingua Portugueza, espelho da lingua Latina: Ou disposiçaõ para facilitar o ensino da lingua Latina pelas regras da Portugueza. Dedicada Ao Principe de Portugal, Nosso Senhor, pelo padre Dom Jeronymo Contador de Argote, Clerigo Regular, e Academico da Academia Real da Historia Portugueza. Muyto accrescentada, e correcta. Segunda impressaõ. Lisboa Occidental: Na Officina da Musica. M. DCC. XXV.

    • Mencionado em
    • -
    • Descrição sumária
    • -
    • Interesse linguístico
    • Foi uma gramática utilizada nas aulas da Casa de São Caetano, em Lisboa. Além disso, pensa-se que foi uma gramática também bastante usada pelos alunos do ensino público em geral, pois António Félix Mendes, um dos dois autores cuja gramática latina foi imposta como alternativa à gramática latina de Manuel Alvares que havia sido proibida por Alvará Régio de 28 de junho de 1759, na sua Arte da Grammatica Latina, mais precisamente no «Methodo que deve seguir o mestre que ensina por esta Arte» (Mendes 1741: [XXI]), fazia a advertência seguinte: «Examinando primeiramente se o discípulo lê com expedição o Portuguez, e se tem algum vicio natural, que impede a clareza na pronuncia; ou daqueles, com que costumaõ inficionar a puerícia os Mestres, que naõ tendo forças, ou cabedal para continuar o officio, abrem escola; depois de lhe aplicar os meyos para os extirpar, explique-lhe as partes da Oraçaõ da Lingua Portugueza pela Arte do Padre D. Jeronymo, a qual como he composta pela idèa dos Autores, que sigo naõ conduzirà pouco a sua noticia para a intelligencia desta Arte» (Mendes 1741: [XXI]). Presume-se que esta indicação poderá ter projetado, em larga escala, o uso das Regras da língua portugueza.
    • Inovações metalinguísticas
    • Embora os termos técnicos utilizados pertençam à tradição gramatical latino-portuguesa, o autor baseia a maior parte das explicações e exemplos nos autores franceses de Port-Royal. Interessante é, também, o tratamento que o autor dá aos dialetos portugueses, sendo ainda o primeiro gramático português a dar um desenvolvimento muito significativo à sintaxe do português.
    • Influência recebida de
    • Na edição de 1725, só é feita referência aos gramáticos de Port Royal e a Bernard Lamy.

      Na edição de 1721, são citados como modelos António Velez, Sánchez de las Brozas, Johannes Vossius, os Padres da Congregação de Port Royal e Bernard Lamy.

    • Influência exercida sobre
    • Grammatica Portugueza da Lingua Latina de António Félix Mendes (1741).

      Verdadeiro metodo de estudar de Luís António Verney (1746).

      Arte da grammatica da lingua portugueza de António José dos Reis Lobato (1770).

      Grammatica philosophica, e orthographia racional da língua portugueza de Bernardo de Lima e Mello Bacelar (1783).

      Compendio da grammatica portugueza para instrucção da mocidade do autor anónimo (1804).

      Gramatica Portugueza de Manuel Dias de Sousa (1804).

      Memorias curiosas para a grammatica filosofica da lingua portugueza de Manuel Pedro Tomás Pinheiro de Aragão (1812).

      Introdução ao estudo da língua portuguesa no Brasil de Serafim da Silva Neto (1986).

    • Índice da obra
    • [rosto] – [I]

      [Dedicatória] – [III-IV]

      Prologo – [V-VI]

      Licenças – [VII-XV]

      Introducçam a' presente grammatica [XVI-XXIV]

      Primeyra parte – 1-183

      I. Dos nomes, artigos, terminaçoens, e casos; II. Das castas, e diversidades dos nomes; III. Dos Pronomes; IV. Dos Verbos, e das suas pessoas, modos, e tempos; V. Das Conjugaçoens dos Verbos Auxiliares; VI. Das Conjugaçoens dos Verbos Regulares; VII. Das formaçoens dos Verbos Regulares; VIII. Das formaçoens dos Verbos; IX. Das castas dos Verbos e X. Dos adverbios, Preposiçoens, e Conjunçoens,

      Segunda parte da grammatica portugueza – 184-240

      Da Syntaxe, e de suas castas; II. Da Syntaxe de reger, e das regras do Nominativo; III. Da Syntaxe do Genitivo; IV. Da Syntaxe, e regras do Dativo; V.Da Syntaxe do Accusativo, e das suas regras; VI. Da Syntaxe do Ablativo, e suas regras; VII. Da Syntaxe dos Verbos; VIII. Do resolver das Oraçoens,

      Terceyra parte – 241-290

      Da Syntaxe figurada, e da primeira figura; II. Da figura Peonasmo; III. Da figura Syllepse; IV. Da figura Hyperbaton; V. Dos Idiotismos; VI. Das figuras da Dicçaõ; VII. Das palavras Encliticas,

      Quarta parte da grammatica portugueza – 291-309

      Dos Dialectos da lingua Portugueza; II. Da Construiçaõ da lingua Portugueza,

      Pratica da regencia da grammatica portugueza conforme com a regencia da Latina – 310-311

      Carta do Padre Antonio Vieyra – 311-340

      Tratado breve da orthografia da lingua portugueza – 341-356

      Indice – [I-IV]

    • Localização na biblioteca/proprietário
    • Biblioteca Nacional de Portugal
    • Referências
    • -
    • Autor(es) deste ficha
    • Teresa Moura, Carlos Assunção & Rolf Kemmler
    • Como citar esta ficha
    • Moura, Teresa, Carlos Assunção & Rolf Kemmler. 2023. Argote, Jerónimo Contador de (1676-1749): Regras da lingua Portugueza, espelho da lingua Latina. https://pml.cel.utad.pt/ViewEntry.aspx?id_entry=20.

    Edição semidiplomática

    [1]

    REGRAS

    DA LINGUA

    PORTUGUEZA,

    ESPELHO DA LINGUA

    LATINA,

    Ou disposiçaõ para facilitar o ensino da lingua Latina pelas

    regras da Portugueza,

    DEDICADA

    AO PRINCIPE

    DE PORTUGAL

    Nosso Senhor,

    PELO PADRE

    DOM JERONYMO

    Contador de Argóte, Clerigo Regular, e Academico

    da Academia Real da Historia Portugueza.

    Muyto accrecentada e correida.

    Segunda impressao.

    LISBOA OCCIDENTAL,

    NA OFFICINA DA MUSICA,

    M. DCC. XXV.

    Com todas as licenças necessarias.

    [2]

    SENHOR.

    Contèm esta Grammatica

    a analogia, que se encontra

    entre a lingua Portugueza, e a Latina,

    e hum methodo facil, e claro para

    pelas regras da primeyra conhecer, e

    praticar os preceytos da segunda. Ambos

    [3]

    estes idiomas tiveraõ a fortuna de V.

    Alteza os honrar, o Portuguez desde o

    berço com o uso, o Latim agora na pueri~cia

    cõ a applicaçaõ. Offereço pois a V.

    Alteza esta Arte, para que com a sua

    protecção sirva aos seus vassallos de se

    adiantarem no conhecimento, e percepção

    destes dous venturozos idiomas. Deos

    guarde a Real pessoa de V. Alteza para

    exaltação das letras, e felicidade desta

    Monarquia.

    D. Jeronymo Contador de Argote.

    C. R.

    [4]

    PROLOGO

    A Presente Grammatica

    he Portugueza no nome,

    nas palavras, e

    nas regras; porèm no

    intento, e effeyto, para que se

    compoz, he Latina; por isso a mayor

    parte das regras, que contèm,

    guardaõ ou total, ou parcial harmonia

    com as Latinas, e as demais,

    em que a Grammatica Portugueza

    discorda inteyramente da Latina,

    as reputa como Idiotismo, e

    assim as deyxa para aquelles, que

    houverem de compor da Grammatica

    [5]

    Portugueza em toda a sua

    extensaõ. O methodo he breve,

    o estylo claro, e para o ser mais,

    algumas vezes declina para grosseyro.

    Erros alguns poderá ter;

    quem lhos encontrar, os pòde

    emendar, e farà hum beneficio à

    Arte; deyxando-a correcta, e ao

    Author deyxando-o advertido. Este,

    que na primeyra impressaõ disfarçou

    o nome, agora o declara,

    e tambem que nesta segunda impressaõ

    vay esta Grãmatica muyto

    accrecentada com algumas observaçoens,

    e doutrinas, que na outra, se omittiraõ.

    [6]

    LICENÇA

    DA ORDEM.

    Hoc opus inscriptum Grammatica

    da lingua Portugueza, &c.

    à R. P. D. Hieronymo Contador de

    Argote compositum, & juxta assertionem

    Patrum, quibus id commisimus,

    approbatum, ut typis mandetur,

    quoad nos spectat, facultate~ concedimus.

    In quorum fidem praesentes

    literas.. manu propria subscripsimus,

    & solito nostro sigillo firmavimus:

    Romae anno 1725. die 27. Januarij.

    D. Caetanus Pinelli Praepositus

    Generalis. C. R.

    D. Joannes Qualia. C. R. Secretarius.

    [7]

    LICENÇAS

    DO SANTO OFFICIO.

    Vistas as informaçoens, pòde-se

    imprimir o livro intitulado:

    Regras da lingua Portugueza, espelho

    da lingua Latina, de que he Author

    o Padre D. Jeronymo Contador de

    Argote; e depois de impresso tornarà

    para se conferir, e dar licença para

    correr, sem a qual naõ correrà. Lisboa

    Occidental 28. de Março de

    1724.

    Rocha. Fr. R. Lancastre. Cunha.

    Teyxeyra. Cabedo.

    [8]

    DO ORDINARIO.

    Vista a informaçaõ, pode-se imprimir

    o livro intitulado: Regras

    da lingua Portugueza, espelho da

    lingua Latina, de que se trata, e depois

    de impresso tornarà para se conferir,

    e dar licença que corra, sem a

    qual naõ correrà. Lisboa Occidental

    25. de Setembro de 1724.

    D. J. Arcebispo de Lacedemonia.

    DO PAÇO.

    Manda ElRey nosso Senhor

    que o Conde da Ericeyra, do

    seu Conselho, e da Junta dos tres Estados,

    veja o livro, de que esta Petiçaõ

    trata, e com seu parecer o remetta

    à Menza. Lisboa Occidental 26. de

    Agosto de 1724.

    Duque P. Baracho. Oliveyra.

    [9]

    SENHOR.

    Tres differenças tem o livro, que

    V. Magestade me manda ver,

    de outro, que por ordem sua approvey

    no anno de 1721. e entaõ se imprimio;

    he a primeyra em tudo dedicarse

    ao Principe nosso Senhor, em

    quem florecem as boas artes, que haõ

    de augmentarse mais com os exemplos

    de V. Magestade, que com os

    preceytos dos melhores Mestres; he

    a segunda declarar o seu Nome o Padre

    D. Jeronymo Contador de Argote,

    Clerigo Regular, e da Academia

    Real, que na primeyra impressaõ

    se encobrio, e eu quasi reconheci pela

    erudiçaõ, e acerto, com que escreve;

    he a terceyra hum Suppleme~to muyto

    consideravel a toda a obra, que

    sahe a luz mais correcta, e com novas

    reflexoens: todas estas tres differenças

    fazem mais digno este livro

    de tornarse a imprimir, tendo mostrado

    a experiencia a sua utilidade;

    [10]

    que já haviaõ prevenido Francisco

    Sanches Brocense na sua Minerva,

    Vicente Placio no trat. dos Anonymos,

    cap. 14. num. 457. Baillet

    no seu juizo sobre as obras principaes

    dos Authores mais doutos, tom. 3.

    n. 606. e 607. e sendo o methodo das

    analogias das palavras o que se tem

    hoje pelo mais breve para aprender

    as linguas, muyto mais claro, e seguro

    serà o da concordancia das grammaticas,

    que ensina a propriedade, e

    a collocaçaõ dos termos, de que o

    uso, e os Diccionarios explicaõ as

    significaçoens. Jà eu na minha primeyra

    Censura tinha ponderado que

    a protecçaõ, que V. Magestade concedeo

    às sciencias, e artes, principiava

    a produzir com felice cultura os

    melhores frutos, e que justamente o

    methodo da Grammatica devia preceder

    a todas, pois ensina a fallar, e

    a escrever com pureza: mostrey quãto

    eraõ intoleraveis os barbarismos, e

    solecismos nos que ignorassem os seus

    [11]

    preceytos, e quanta devia ser a sua

    estimaçaõ, pois significando Literaria

    se chamavaõ grammaticos os professores

    das boas artes, porque se naõ

    entendesse que a sua esfera comprehendia

    só as letras como caractères,

    mas em tudo o que as letras significaõ,

    e que sendo os sons, e as vozes

    os sinaes mais proprios, que acháraõ

    os homens para dar a conhecer aos

    outros os seus pensamentos, assim os

    fizeraõ visiveis, duraveis, e proprios

    para se communicarem com os ausentes,

    e para se perpetuarem as memorias,

    e nada succederia, se se naõ inventassem

    as letras, e, como Lucano

    ponderou, com ellas se pintàraõ os

    conceytos, achando hum idioma para

    os olhos os Fenicios, que como foraõ

    os primeyros conquistadores da Lusitania,

    lhe deyxáraõ nesta origem

    naõ só a obrigaçaõ de amar as armas,

    mas a de seguir as letras; por isso

    achou Estrabaõ no seu lib. 3. que entre

    todos os Hespanhoes eraõ os

    [12]

    Lusitanos os mais doutos, e os que

    tinhaõ mais antigos livros, e poesias:

    reconhecia que na lingua Portugueza

    tinha escrito Joaõ de Barros, em

    tudo Grande, e outros Autores algumas

    Grammaticas; mas como todos

    principiaõ por ella os seus estudos,

    naõ havia atègora quem com clareza,

    e brevidade escrevesse huma analogia,

    que pelo conhecimento da Grammatica

    da lingua propria facilitasse o

    das estranhas, sendo difficeis de perceber

    os preceytos novos, com que se

    ensinavaõ linguas desconhecidas com

    o irreparavel prejuizo de entender

    que ficavaõ sabendo o que tomavaõ

    de memoria, e naõ comprehendiaõ,

    e estas idèas confuzas eraõ causa da

    aversaõ, que se costuma ter aos estudos

    mais deliciozos, e precisos, pelo

    odio, que com a aspereza da Grammatica

    ficavaõ tendo às letras: naõ duvidava

    que tivessemos excellentes artes

    para aprender a lingua Latina,

    mas por falta de definiçoens naõ entendiaõ

    [13] 

    os discipulos o mesmo, que

    os Mestres lhes mandavaõ repetir,

    quasi sempre na mesma lingua, que

    ainda naõ sabiaõ, e quando a natureza

    lhes ensinou na infancia a propria

    sem arte, e por uso, se pretendia que

    soubessem a desconhecida sem uso, e

    só por arte, e me pareceo que o Author

    Anonymo executára com felicidade

    este projecto, e que era justo se

    dèsse a conhecer para nos explicar

    melhor, como agora executa, outros

    preceytos de huma arte, em que se

    mostrava taõ sciente, e em que nos

    deyxava reconhecer que era de huma

    Religiaõ, em que se falla, e escreve

    com tanta propriedade a lingua Latina,

    e Portugueza. Este foy, Senhor,

    naquelle tempo o meu parecer, e este

    he agora, entendendo que he muyto

    digno este livro de imprimirse. Lisboa

    Occidental 12. de Setembro de 1724.

    Conde da Ericeyra.

    [14]

    Que se possa imprimir, vistas as

    licenças do Santo Officio, e Ordinario,

    e depois de impresso tornarà

    a Mènza para se conferir, e taxar, que

    sem isso naõ correrà. Lisboa Occidental

    6. de Outubro de 1724.

    Baracho. Oliveyra.

    Visto estar conforme com o original,

    pòde correr. Lisboa Occidental.

    14. de Abril de 1725.

    Rocha. Fr. R. Lancastre. Cunha.

    Teyxeyra. Cabedo.

    Pode correr, visto estar cõforme.

    Lisboa Occidental. 16. de Abril

    de 1725.

    D. J. Arcebispo de Lacedemonia.

    Tayxaõ este livro em 100 em papel.

    Lisboa Occidental. 17. de Abril

    de 1725.

    Baracho. Oliveyra.

    [15]

    INTRODUCÇAM

    A PRESENTE

    GRAMMATICA.

    A Lingua Latina he universal

    em toda a Europa,

    e necessaria para as

    occupaçoens da Republica;

    por isso muytos

    a aprendem, mas poucos a sabem sufficientemente,

    e raros com perfeyçaõ.

    Em a aprender gastaõ os meninos a

    mayor parte da Puericia, e ainda da

    Adolescencia. Para evitar estas demoras,

    de que procedem graves danos,

    se tem proposto por alguns Varoens

    sabios diversos arbitrios. Entre estes

    o que se tem achado ser mais facil, util,

    [16]

    e seguro, ao menos para as Naçõens,

    cujas linguas vulgares saõ filhas da

    Latina, assim como a Portugueza,

    Castelhana, Italiana, e Franceza he

    ensinar aos rapazes primeyro a Grammatica

    da sua lingua vulgar, e depois

    ensinarlhes a Grammatica Latina

    porque assim viraõ a aprendella facil,

    e brevemente, segundo mostra a experiencia,

    e a razaõ.

    Mostra-o a razaõ, porq a mayor parte

    das regras da Grammatica Portugueza

    convem, e saõ as mesmas, de

    que usa a Grammatica Latina. E assim

    sabidas as primeyras tem vencido o

    Estudante, quando entra a aprender

    o Latim, a mayor parte das suas regras,

    nem encontra difficuldade em

    as perceber, e as usar, assim como

    aquelle que sabe jogar as cartas com

    figuras, ou cartas Portuguezas, com

    facilidade aprende a jogar com cartas

    Francezas porque como as regras do

    jogo saõ as mesmas, e só as figuras saõ

    differentes, conhecida a significaçaõ

    [17]

    das figuras, e a especie; com facilidade

    applica as regras para o jogo; de

    sorte q~ so tem difficuldade no conhecimento

    das figuras, porèm naõ na applicaçaõ

    dos preceytos. Do mesmo

    modo pois, sabendo o menino os

    preceytos da Grammatica Portugueza,

    terá difficuldade sómente em conhecer

    a significaçaõ, ou especie das

    palavras Latinas; mas sabida a especie,

    e significaçaõ, lhe ha de ser facil accõmodar

    os preceytos da Grammatica

    às palavras Latinas. Isto pelo q~ pertence

    às regras, em que convèm huma,

    o outra Grammatica; e pelo que pertence

    às regras, em que disserem, como

    saõ poucas, facilmente virà no conhecimento

    dellas.

    A esta razaõ confirmaõ as experiencias,

    pois he certo que a lingua

    Grega ao menos em toda a sua extensaõ,

    differe muyto mais da Latina, do

    que desta differe a Portugueza; comtudo

    vemos que os que aprendido

    o Latim, entraõ a aprender Grego,

    [18]

    com mediano estudo dentro de anno

    e meyo, ou dous annos sabem sufficie~temente

    a lingua Grega. E daqui sem

    duvida procedia que os Romanos, q~ 

    naõ obstante ser a lingua Latina a sua

    lingua vulgar, aprendiaõ a Grammatica

    della: porque como entre os nobres,

    e sabios estava muy valido o uso

    da lingua Grega, para a aprenderem

    sem difficuldade aprendiaõ primeyro

    na puericia a Grammatica Latina.

    A estas experiencias geraes, e estranhas

    accrescento a que eu particularmente

    observey. Recomendou-seme

    ensinar a lingua Latina a hum menino

    filho de hu Grande da nossa Corte,

    e reparey que ensinandolhe primeyro

    qualquer regra no Portuguez; a percebia

    logo na Grammatica Latina.

    Este pois he o intento desta Arte ensinar

    as regras da lingua Portugueza

    para facilitar aos meninos a percepçaõ,

    e o uso da Grammatica Latina.

    Nem me digaõ que os meninos teraõ

    igual difficuldade em aprender os

    [19]

    preceytos da Grammatica Portugueza;

    e em os perceber, do que tem

    em perceber, e aprender os da Latina,

    porque vay grande differença

    em perceber os preceytos daquillo,

    de que já sey a pratica, e daquillo, de

    que ainda a naõ sey. Aquillo, de que

    jà se sabe a pratica, e se tem o exercicio,

    he facil perceberse as regras, e he

    difficultozo de se perceberem as daquillo,

    de que se naõ tem pratica; e

    como os meninos tem a pratica, e o

    uso da lingua Portugueza, facilmente

    perceberaõ as regras da sua Grammatica,

    o que naõ pòde ser na Latina,

    porque naõ tem o uso della.

    Mas para com mais facilidade se

    conseguir o intento de facilitar os

    meninos ao ensino, e percepçaõ do

    Latim, observarà o Mestre com os

    que houver de ensinar as seguintes

    advertencias.

    Primeyramente naõ ensinarà ao

    menino esta Grammatica se naõ depois

    que souber ler sofrivelmente,

    [20]

    e entaõ ensinarlheha primeyro os Capitulos,

    que pertencem aos nomes, e

    lhos farà dar primeyra, segunda, e terceyra

    vez, ou atè que sayba, e perceba

    perfeytamente o que contèm; e isto

    mesmo observarà com os Capitulos

    dos Verbos, &c. Advertindo que tanto

    que souber a Grammatica dos nomes,

    o obrigarà quando ler qualquer

    obra a hir declarando os nomes, que

    tem, a que especie pertencem, em que

    numero estaõ, &c. Isto mesmo observarà

    com os Verbos, &c. De sorte,

    que sempre que ler qualquer obra

    Portugueza và dando nella razaõ da

    Grammatica, que tem aprendido. Sabidos

    pelo menino os Rudimentos,

    lhe ensinarà a Syntaxe simples, que

    darà duas, ou tres vezes, e sabida esta,

    se quizer lhe poderà ensinar os Rudimentos

    da lingua Latina atè os Preteritos,

    e no entretanto o obrigarà a

    por algum livro, ou carta reger a Syntaxe,

    e Grammatica Portugueza, advertindo

    ao naõ embaraçar, e a quando

    [21]

    encontrar Idiotismos, dizerlhe

    que pertencem à Syntaxe figurada.

    Esta lhe começarà a ensinar quando o

    menino entrar a aprender os Preteritos

    da Grammatica Latina; de sorte

    que quando acabar de saber os Rudimentos

    todos da Grammatica Latina,

    sayba inteyramente toda esta

    Grammatica Portugueza; e entaõ

    principiarà a ensinarlhe a Grammatica

    Latina, que sem duvida aprenderà

    com grande brevidade, supposto estar

    senhor da mayor parte della na Grammatica

    Portugueza; para o que quando

    der ao discipulo alguma Oraçaõ

    para a verter na lingua Latina, e o vir

    embaraçado, o farà reger a Syntaxe

    da mesma Oraçaõ na lingua Portugueza;

    e se huma, e outra forem semelhantes,

    e naõ tiverem desconveniencia,

    lhe farà ver a facilidade, e modo,

    com que se pòde governar para verter

    a Oraçaõ na lingua Latina; e se forem

    dessemelhantes na Grammatica,

    lhe explicarà a dessemelhança, e

    [22]

    disconveniencia.

    Porem; como este methodo, e miudezas,

    sò saõ praticaveis a respeyto

    dos meninos, que aprendem em suas

    casas com Mestres particulares, e naõ

    com os que apre~dem nos Estudos publicos,

    fora muyto conveniente que

    nas escolas ao mesmo tempo, em q~ os

    Mestres ensinaõ os meninos a escrever,

    e contar, lhes ensinassem esta

    Grammatica Portugueza; porque assim

    passariaõ aos Estudos publicos do

    Latim senhores jà naõ só das regras,

    em que convèm todas as linguas universalmente,

    que naõ saõ poucas, mas

    tambem da mayor parte das regras da

    Grammatica Latina, como nesta Grãmatica

    se pode ver.

    Tambem advirto que alguns poderaõ

    estranhar a explicaçaõ, que dou

    a alguns pontos da Grammatica Portugueza,

    porèm os que forem versados

    na liçaõ do novo methodo dos

    Padres da Congregaçaõ de Portroial,

    e da Grammatica discursada do

    [23]

    Padre Lami, veraõ que na explicaçaõ

    da Grammatica Portugueza observo

    a mesma doutrina, que elles observaraõ

    a respeyto da Latina.

    Ultimamente advirto que os Capitulos,

    que nesta segunda impressaõ

    vaõ accrecentados, que saõ muyta

    parte do quinto, e todo o sexto da

    terceyra parte, mostrou a experiencia

    que eraõ precisos para a intelligencia

    dos Idiotismos da lingua Portugueza,

    e a quarta parte para o ensino

    mais polido, e para a gente nobre,

    como tambem o tratadinho da

    Orthografia, que vay no fim.

    [1]

    REGRAS

    DA LINGUA PORTUGUEZA

    ESPELHO

    DA LINGUA LATINA,

    OU

    Disposiçaõ para facilitar o ensino da Lingua

    Latina pelas regras da Portugueza.

    PRIMEYRA PARTE.

    O CAPITULO I.

    Dos nomes, artigos, numeros, terminaçoens,

    e casos.

    MESTRE. Em que terra nacestes?

    D. Em Portugal.

    M. Pois logo haveis de saber

    a lingua Portugueza.

    D. Sim Senhor.

    [2]

    M. Dizeyme, e que cousa he lingua

    Portugueza?

    D. Lingua Portugueza saõ as palavras,

    e modo de fallar, de que os Portuguezes

    entre si usaõ na pratica,

    ou conversaçaõ, ou quando escrevem.

    M. E de que consta a pratica, ou conversaçaõ?

    D. Consta de palavras, ou Oraçoens.

    M. E que cousa he Oraçaõ?

    D. Saõ as palavras, que hum homem diz

    a alguem, ou lhe escreve.

    M. Dizey exemplos.

    D. Já estou saõ; Tenho sede; saõ Oraçoens.

    M. E quantas castas de palavras tem a

    lingua Portugueza, e as suas Oraçoens?

    D. Oyto.

    M. Quaes saõ?

    D. Nome, Pronome, Verbo, Participio,

    Adverbio, Preposiçaõ, Conjunçaõ,

    e Interjeyçaõ.

    M. E que cousa he Nome?

    D. Nome he huma palavra, que significa

    alguma cousa; tem numeros, e se

    [3]

    declina por casos.

    M. E q~ quer dizer significar algu~a cousa?

    D. Significar alguma cousa val o mesmo,

    que representar, declarar, ou manifestar

    alguma cousa.

    M. Dizey exemplo.

    D. Esta palavra Rosa significa a flor da

    Rosa; porque ouvida esta palavra

    Rosa, se me representa a flor da

    Rosa.

    M. Dissestes que o nome tinha numeros,

    e que cousa he Numero?

    D. Numero he a quantidade, assim como

    hum, dous, tres.

    M. E quantos numeros tem as palavras na

    lingua Portugueza?

    D. Dous.

    M. Quaes saõ?

    D. Numero Singular, e numero Plurar.

    M. E quaes saõ as palavras do numero

    Singular, e quaes as do Plurar?

    D. As do Singular, saõ as que significaõ

    huma só cousa, e as do Plurar as

    que significaõ mais de huma só

    cousa.

    M. Dizey exemplo.

    D. Rosa he palavra do singular; porque

    [4]

    significa huma só Rosa. Rosas he

    palavra do plurar; porque significa

    mais de huma Rosa.

    M. E como se conhece se o nome està no

    singular, ou no plurar?

    D. Conhece-se pelo artigo, como veremos

    adiante, e conhece-se pela ultima

    letra, em que o nome acaba.

    M. De que sorte se conhece pela ultima

    letra?

    D. Se o nome acaba na letra S. està no

    plurar, se em outra letra, està no

    singular.

    M. Dizey exemplo.

    D. Rosa està no singular; porque naõ acaba

    na letra S. Rosas està no plurar;

    porque acaba na letra S.

    M. E esta regra nunca falta?

    D. Falta em alguns nomes, que no singular

    acabaõ em S. assim como Deos;

    mas saõ poucos os taes nomes.

    M. Dissestes, menino, que o nome se declinava

    por casos, & que cousa he

    declinar o nome por casos?

    D. He repetir o nome com o seu artigo,

    e com as mudanças do artigo. Isto

    he na lingua Portugueza, que na

    [5]

    Latina naõ he assim.

    M. E que cousa he artigo?

    D. Artigo he huma palavrinha, ou particula,

    que se poem antes do nome.

    M. Dizey exemplos.

    D. A virtude. A particula A posta antes

    do nome Virtude he artigo. O amor

    a particula O posta antes do nome

    Amor he artigo.

    M. E quantos artigos ha na lingua Portugueza?

    D. Dous.

    M. Quaes saõ?

    D. Saõ O, & A.

    M. E antes do nome sempre se poem artigo?

    D. Sempre naõ.

    M. Dizey exemplo.

    D. Pedro naõ està em casa, nesta Oraçaõ antes

    do nome Pedro naõ està artigo.

    M. E como se sabe, quando se hade antes

    do nome pôr artigo, ou naõ o

    pôr?

    D. Sabe-se pelo uso.

    M. E os artigos tem numeros, & declinaõ-se

    por casos?

    D. Sim.

    [6]

    M. E que cousa he caso?

    D. Caso he a postura, ou posiçaõ do

    nome.

    M. E que cousa he a postura do nome?

    D. Isso aprende-se na Syntaxe.

    M. E tendes entre tanto outro modo, porque

    digais que cousa he caso?

    D. Sim, mas naõ taõ proprio.

    M. Dizey-o.

    D. Caso he a mudança de letras, que faz

    o artigo.

    M. E o artigo muda de letras?

    D. Sim, segundo os casos, como logo direy.

    M. E quantos casos ha?

    D. Seis em cada numero.

    M. Quaes saõ?

    D. Saõ estes, Nominativo, Genitivo,

    Dativo, Accusativo, Vocativo,

    Ablativo.

    M. E os Artigos tem todos esses casos?

    D. Tem todos, só naõ tem Vocativo.

    M. Dizey como se declinaõ os artigos.

    D. Declinaçaõ do artigo O.

    Numero singular.

    Nominativo O.

    [7]

    Genitivo          do, ou de

    Dativo             ao, ou O, ou a

    Accusativo      ao, ou O, ou a

    Ablativo          do, ou de.

    Numero Plurar.

    Nominativo     Os

    Genitivo          dos, ou de

    Dativo             aos, ou os, ou a

    Accusativo      aos, ou os, ou a

    Ablativo          dos, ou de.

    Declinaçaõ      do artigo A.

    Numero Singular.

    Nominativo     A.

    Genitivo          da, ou de

    Dativo             a

    Accusativo      a

    Ablativo          da, ou de

    Numero Plurar.

    Nominativo     as

    Genitivo          das, ou de

    [8]

    Dativo             as

    Accusativo      as

    Ablativo          das, ou de.

    M. E porque no mesmo caso de Genitivo

    pondes duas mudanças do artigo,

    dizendo do, ou de, e o mesmo fazeis

    no Dativo, Accusativo, &c?

    D. Porque humas vezes nos servimos do

    artigo do, outras do artigo de para

    o caso de Genitivo, e o mesmo fazemos

    com o Dativo, &c.

    M. Dizey exemplo.

    D. O livro do Mestre. Nestas palavras o

    Genitivo, Mestre, tem antes de si o

    artigo, e Genitivo do. O livro de

    Pedro. Nestas palavras o Genitivo

    Pedro tem antes de si o artigo, e

    Genitivo de.

    M. E como se sabe quando se ha de usar

    do artigo do, ou do artigo de, ao,

    ou o?

    D. Sabe-se pelo uso.

    M. E estes artigos em todos os casos saõ

    puramente artigos?

    D. No caso de Ablativo podemos dizer

    que saõ proposiçoens, como direy

    adiante.

    [9]

    M. Tendes dito as declinaçoens dos artigos;

    dizey agora quantas declinaçoens

    tem os nomes?

    D. Duas.

    M. Quaes saõ?

    D. A declinaçaõ dos nomes, que antes de

    si tem no Nominativo o artigo O, e

    as dos nomes, que no Nominativo

    tem antes de si o artigo A.

    M. E como se conhece quaes saõ os nomes,

    que tem antes de si o artigo O,

    e quaes os que tem o artigo A?

    D. Conhece-se pelo uso.

    M. Dizey as taes declinaçoens.

    D. Declinaçaõ dos nomes que tem antes

    de si o artigo O.

    Numero Singular.

    Nominativo     O Louvor.

    Genitivo          do Louvor.

    Dativo             ao Louvor.

    Accusativo      ao Louvor.

    Vocativo         ò Louvor.

    Ablativo          do Louvor.

    [10]

    Numero Plurar.

    Nominativo     Os Louvores.

    Genitivo          dos Louvores.

    Dativo             aos Louvores.

    Accusativo      aos Louvores.

    Vocativo         ò Louvores.

    Ablativo          dos Louvores.

    Declinaçaõ dos nomes, que tem antes

    de si o artigo A.

    Numero Singular.

    Nominativo     a Rosa.

    Genitivo          da Rosa.

    Dativo             a Rosa.

    Accusativo      a Rosa.

    Vocativo         ò Rosa.

    Ablativo          da Rosa.

    Numero Plurar.

    Nominativo     as Rosas.

    Genitivo          das Rosas.

    Dativo             as Rosas.

    [11]

    Accusativo      as Rosas.

    Vocativo         ò Rosas.

    Ablativo          das Rosas.

    M. Tendes dito a declinaçaõ dos nomes

    substantivos, dizey agora a dos nomes

    adjectivos, que tem duas terminaçoens.

    D. Declinaçaõ dos nomes adjectivos

    de duas terminaçoens.

    Numero Singular.

    Nominativo     O Branco, e a Branca.

    Genitivo          do Branco, e da Branca.

    Dativo             ao Branco, e à Branca.

    Accusativo      ao Branco, e à Branca.

    Vocativo         ò Branco, e ò Branca.

    Ablativo          do Branco, e da Branca.

    Numero Plurar.

    Nominativo     os Brancos, e as Brancas.

    Genitivo          dos Brancos, e das Brancas.

    Dativo             aos Brancos, e às Brancas.

    Accusativo      aos Brancos, e às Brancas.

    Vocativo         ò Brancos, e ò Brancas.

    [12]

    Ablativo dos Brancos, e das Brancas.

    M. E os nomes adjectivos, que tem só

    huma terminaçaõ, como se declinaõ?

    D. Se se lhe poem antes o artigo O, declinaõ-se

    com o artigo O, se se lhe

    poem o artigo A, declinaõ-se com

    o artigo A.

    M. Dizey exemplo.

    D. Este adjectivo Verde, se se lhe poem

    antes o artigo O, declina-se O verde,

    do verde, &c. Se se lhe poem antes

    o artigo A, declina-se A verde, da

    verde, &c.

    M. E que he necessario na lingua Portugueza

    para declinar hum nome?

    D. Basta saberlhe o nominativo do Singular,

    e o artigo que tem antes, e saber

    o nominativo do Plurar.

    M. E como se sabe o nominativo do Singular,

    e o artigo que tem antes?

    D. Sabe-se pelo uso, ou busca-se no Vocabulario.

    M. E como se sabe o nominativo do Plurar?

    D. Sabe-se pelo do Singular.

    M. De que sorte?

    D. Pela formaçaõ.

    [13]

    M. E que cousa he formaçaõ?

    D. He de huma palavra fazer outra palavra.

    M. Dizey exemplo.

    D. Da palavra Rosa fazer a palavra Rosas.

    M. E quantas castas de formaçoens ha?

    D. Tres.

    M. Quaes saõ?

    D. Formaçaõ por acrescentamento de letras,

    por diminuiçaõ, e por mudança.

    M. E qual he a formaçaõ por acrescentamento?

    D. Formaçaõ por acrescentamento, he

    quando se acrescenta a huma palavra

    alguma letra, ou letras, e se faz

    outra palavra.

    M. Dizey exemplos.

    D. Rosa acrescentandolhe a letra S, faz-se

    a palavra Rosas. Rapaz acrescentandolhe

    as letras inho faz-se a palavra

    Rapazinho.

    M. E qual he a formaçaõ por diminuiçaõ?

    D. He quando tiro a alguma palavra huma

    letra, e faço outra palavra.

    M. Dizey exemplos.

    [14]

    D. Laranjal tiro a esta palavra a letra L, e

    faço a palavra Laranja; Grandemente,

    tiro a esta palavra as letras mente,

    e faço a palavra Grande.

    M. E qual he a formaçaõ por mudança

    de letras?

    D. He quando mudo a alguma palavra

    alguma, ou algumas letras, e faço

    outra palavra.

    M. Dizey exemplos.

    D. Sol, mudo a esta palavra ol em es, e faço

    a palavra Soes. Omenagem mudo

    a esta palavra as letras em em ens, e

    fica Omenagens.

    M. E como se forma o Nominativo do

    Plurar dos nomes pelo Nominativo

    do Singular?

    D. Forma-se, ou por acrescentamento,

    ou por mudança de letras.

    M. E como se conhece quando ha de formarse

    por acrescentamento, e quando

    por mudança?

    D. Conhece-se pela terminaçaõ do Nominativo

    do Singular.

    M. Que cousa he terminaçaõ?

    D. Terminaçaõ he a ultima letra, ou letras

    de alguma palavra.

    [15]

    M. E porq~ dizeis a ultima letra, ou letras?

    D. porque as palavras ou acabaõ em letra

    vogal, ou em dipthongo, ou em

    letra consoante; se acabaõ em vogal,

    a terminaçaõ he a ultima letra vogal,

    assim como em Rosa a terminaçaõ

    he A, se acabaõ em dipthongo, a

    terminaçaõ he o dipthongo, assim

    como em Pay a terminaçaõ he ay: se

    acabaõ em letra consoante, a terminaçaõ

    he a ultima letra vogal com

    a consoante; assim como em Sol a

    terminaçaõ he ol.

    M. E quantas terminaçoens tem os nomes

    da lingua Portugueza no Singular?

    D. Os que acabaõ em vogal tem cinco

    terminaçoens, a saber, a, e, i, o, u, assim

    como Rosa, Pè, Javali, Pó, Nù.

    Os que acabaõ em dipthongo tem

    cinco, a saber, ay, aõ, ey, eu, oy, assim

    como Pay, Paõ, Ley, Meu, Boy: as

    que acabaõ na letra consoante L,

    tem cinco, a saber, al, el, il, ol, ul, assim

    como, Sal, Mel, Til, Sol, Sul. Os

    que acabaõ na consoante M tem

    cinco, a saber, am, em, im, om, um, assim

    [16]

    como: Botam, Desdem, Coxim,

    Dom, Commum. Os que acabaõ na

    consoante S, naõ sendo nomes proprios,

    saõ muyto poucos.

    M. Pois naõ acabaõ em S, Contumás, Rapas,

    Reves, Felis, Deos, e outros

    muytos?

    D. Naõ, porque esses nomes nos melhores

    Authores se achaõ acabando em

    Z. Contumaz, Rapaz, Revez, Feliz.

    O nome Deos esse acaba em S. Os

    nomes que acabaõ na consoante R,

    tem tres terminaçoens, a saber, ar, er,

    or, assim como Mar, Mulher, Amor.

    Os acabados na consoante Z tem

    cinco, a saber, az, ez, iz, oz, uz, assim

    como Paz, Rez, Perdiz, Noz, Cruz.

    M. E como por essas terminaçoens do

    Nominativo do Singular se formaõ

    os Nominativos do Plurar?

    D. Desta sorte, se o nome no Singular

    acaba na letra, vogal, acrescentase-lhe

    a letra S, e fica formado o Nominativo

    do Plurar: assim como Rosa

    acresce~tase-lhe a letra S, e fica Rosas,

    que he Plurar, o que se vè bem nesta

    taboa.

    [17]

    Singular A E I O U.

    Plurar  as es is os us.

    Se o nome no Singular acaba nos

    dipthongos ay, ey, oy, acrescentase-lhe

    a letra S, e fica formado o Plurar,

    assim como Pay, acrescentase-lhe

    a letra S, e fica Pays, que he o

    seu Plurar; se acaba no dipthongo

    aõ, ou se lhe acrescenta a letra S, ou

    se muda o aõ em oe~s, ou em ae~s, assim

    como graõ, acrescentase-lhe hum S,

    e fica grãos. Botaõ mudase-lhe a terminaçaõ

    aõ em oens, e fica Botoens.

    Capellaõ mudase-lhe a terminaçaõ

    aõ em ae~s, e fica Capellae~s.

    M. E como se conhece qual dessas formaçoens

    ha de ser?

    D. Conhece-se pelo uso; tudo isto se vè

    nesta taboa.

    Singular Ay Aõ Ey Eu Oy.

    Plurar  aes aõs oe~s ae~s eys eus ois.

    Se o nome no Singular acabar em

    al, ol, ul, muda-selhe o L em es,

    assim como Pinhal, Pinhaes, Rol,

    Roes, Azul, Azues. Se acaba em el,

    mudase-lhe o L em is, assim como

    Burel, Bureis. Se acaba em il, mudase-lhe

    [18]

    o L em S, assim como Buril,

    Buris. Se acaba em aõ, forma-se da

    mesma sorte, que se acabàra no dipthongo

    em aõ, e isso he o mais acertado.

    Os nomes acabados em im

    mudaõ o m em ns assim como Serafim,

    Serafins. Os nomes acabados

    em em mudaõ o m em ns; assim como

    Homenagem, Homenagens. Os acabados

    em om mudaõ o m em ns, assim,

    como Som, Sons. Os acabados em

    um mudaõ o m em ns assim como

    Commum, Communs. Os acabados

    em ar, er, or, acrescentase-lhe es, assim

    como Mar, Mares, Mulher,

    Mulheres, Amor, Amores. Os acabados

    em az, ez, iz, oz, uz, acrescentase-lhe

    es, assim como Paz, Pazes,

    Rez, Rezes, Perdiz, Perdizes,

    Noz, Nozes, Cruz, Cruzes. O que

    se vè bem na seguinte taboa.

    Singular AL EL IL OL UL.

    Plurar  Aes, eis, is, oes, ues.

    Singular Am, em, im, om, um.

    Plurar  aõs, oe~s, ae~s, ens, ins, ons, uns.

    Singular Ar, er, or.

    Plurar  Ares eres, ores.

    [19]

    Singular Az, ez, iz, oz, uz.

    Plurar. Azes, ezes, izes, ozes, uzes.

    M. E essas regras das formações, que

    tendes dito, faltaõ algumas vezes?

    D. Sim, assim como nome Mal, que naõ

    muda o L no Plurar, mas forma-se

    por acrescentamento, e se lhe acrescenta

    es, e faz Males.

    M. Pois como se ha de saber quando faltaõ

    as taes regras?

    D. Sabe-se pelo uso porque a lingua Portugueza

    he muyto dilatada, e aqui

    só dizemos o commum para o principiante

    saber depois guiarse.

    M. E porque naõ dissestes mais terminaçoens

    dos nomes?

    D. Porque na lingua Portugueza naõ me

    lembro de mais terminaçoens, salvo

    em nomes proprios, assim como

    Tui, Madrid, e outros.

    M. E na lingua Portugueza ha nomes,

    que naõ tenhaõ numero Plurar?

    D. Sim, assim como Cal, Tez.

    M. E ha alguns, que naõ tenhaõ numero

    Singular?

    D. Sim, assim como Migas, Exequias.

    M. E como se sabem esses nomes?

    [20]

    D. Sabem-se pelo uso.

    M. Tendes mais que dizer dos numeros,

    e declinações dos nomes?

    D. Mais ha que dizer, mas isto basta.

    CAPITULO II.

    Das castas, e diversidades dos nomes.

    Mestre. Quantas castas ha de nomes?

    D. Muytas.

    M. Dizey as principaes.

    D. Ha nomes Proprios, Appellativos, e

    Collectivos.

    M. Quaes saõ os Proprios?

    D. Nome Proprio he o que significa as

    cousas proprias, e certas, assim como

    Antonio, que significa tal homem

    chamado Antonio.

    M. E quaes saõ os Appellativos?

    D. Saõ os que significaõ huma cousa,

    mas incerta, ou esta, ou aquella, assim

    como Homem, que significa hum

    homem, mas incerto, este, ou aquelle.

    M. Qual he o nome Collectivo?

    D. Nome Collectivo he o que no singular

    [21]

    significa muytas cousas por modo

    de huma só, assim como Povo, q~ no

    Singular significa muytos homens

    juntos de modo, q~ fazem hum povo.

    Tambem ha nomes Substantivos, e

    nomes Adjectivos.

    M. Quaes saõ os Substantivos?

    D. Nome Substantivo he aquelle, que per

    si só sem ajuda de outrem pode estar

    na Oraçaõ.

    M. Dizey exemplo.

    D. Amor he Substantivo porque per si,

    e sem ajuda de outrem pode estar

    na Oraçaõ, como quando digo: O Amor

    he suave. O nome Amor està per

    si, e sem necessitar de outro nome

    para isso na Oraçaõ.

    M. E quaes saõ os nomes Adjectivos?

    D. Nome Adjectivo he aquelle, que naõ

    pode estar na Oraçaõ sem outro

    nome, ou clara, ou occultamente.

    M. Dizey exemplo.

    D. Pequeno he nome Adjectivo, porque

    naõ pode estar na Oraçaõ sem outro

    nome ou claro, ou occulto, o qual

    [22]

    signifique a cousa, que he pequena,

    como quando digo: Meu filho he pequeno,

    o Adjectivo pequeno naõ póde

    estar na Oraçaõ sem o nome filho;

    porque se he pequeno, alguma cousa

    he a que he pequena, e assim o

    Adjectivo tem claro o Substantivo,

    de quem depende, e necessita.

    M. E quando he que tem occulto o nome,

    de quem necessita para estar na Oraçaõ?

    D. Quando na Oraçaõ só vem o Adjectivo,

    e o seu nome Substantivo, de que necessita,

    naõ vem, mas entende-se, assim

    como quãdo digo: O meu pequeno

    jà sabe ler. Nesta Oraçaõ vem o Adjectivo

    Pequeno sem o seu Substantivo

    Filho, de quem depende, e necessita,

    mas entende-selhe, e faz este sentido:

    O meu filho pequeno jà sabe ler.

    M. E ha outra regra mais facil para conhecer

    quaes saõ os nomes Substantivos,

    e Adjectivos?

    D. Sim.

    M. Dizeya.

    D. Os nomes, a que se naõ póde accommodar

    esta palavra cousa, saõSubstantivos, 

    [23]

    e os nomes a que se póde

    accommodar, saõ Adjectivos.

    M. Dizey exemplos.

    D. Amor he nome Substantivo, porq~ naõ

    se lhe póde accommodar a palavra

    Cousa, porque naõ se diz Cousa Amor.

    Este nome Amorozo he Adjectivo,

    porque se lhe accommoda a palavra

    Cousa, e se diz Cousa amorosa.

    M. E essa regra falta algumas vezes?

    D. Sim, principalmente nos nomes acabados

    em Or, os quaes, posto que

    Substãtivos, às vezes admittem a palavra

    Cousa, mas advirta-se que entaõ

    fica feyto Adjectivo, assim como

    Vencedor, que he Substantivo, e admitte

    a palavra Cousa, porque dizemos

    Cousa vencedora.

    M. E quantas terminaçoens tem os Adjectivos

    a respeyto dos Substãtivos?

    D. Huns tem huma, outros tem duas.

    M. E quaes saõ os que tem duas?

    D. Os que acabaõ em O, ou em M,

    ou U.

    M. Dizey exemplo.

    D. Branco tem duas terminaçoens, huma

    em O Branco, outra em A Branca.

    [24]

    Bom tem duas terminações, hu~a em

    M. Bom, outra em A, Boa.

    M. E para que servem essas duas terminações?

    D. Servem hu~a para os Substantivos masculinos,

    e outra para os femininos.

    M. Dizey exemplo.

    D. Panno Branco. A terminaçaõ em O, e

    adjectivo Branco serve, e se accommoda

    com o nome Panno, que he

    masculino. Capa Branca. A terminaçaõ

    em A, e Adjectivo Branca serve

    ao nome Capa, que he feminino.

    M. E quaes saõ os Adjectivos, que tem

    huma só terminaçaõ?

    D. Os que acabaõ em E, L, Z, e outros.

    M. Dizey exemplos.

    D. Amante, Leal, Contumaz.

    M. E porque tem estes Adjectivos huma

    só terminaçaõ?

    D. Porque a mesma terminaçaõ serve para

    os Substantivos masculinos, e

    femininos.

    M. Dizey exemplo.

    D. Mulher amante, Homem amante, o Adjectivo

    Amante serve ao nome Mulher,

    que he feminino, e ao nome Homem,

    [25]

    que he masculino.

    M. E ha algum nome Adjectivo acabado

    em A, que sirva para os Substantivos

    masculinos, e femininos?

    D. Sim.

    M. Qual he?

    D. O nome Cada, porque dizemos Cada

    irmaõ, e dizemos Cada irmãa.

    M. E quaes saõ os nomes masculinos, e

    quaes os femininos?

    D. Masculinos saõ os que antes do Nominativo

    tem o artigo O, assim como

    O Homem; Femininos os que antes

    do Nominativo tem o artigo A,

    assim como A Mulher.

    M. E o Adjectivo pòde às vezes servir de

    Substantivo?

    D. Sim.

    M. Quando?

    D. Quando se poem em lugar do Substantivo.

    M. Dizey exemplo.

    D. O azul logo desbota. Nesta Oraçaõ o

    adjectivo Azul serve de Substantivo,

    porque se poem em lugar do Substantivo

    Cor, e faz este sentido. A

    cor azul logo desbota.

    [26]

    M. Continuay as castas dos nomes?

    D. Ha nomes Relativos, e Infinitos.

    M. Quaes saõ os Relativos?

    D. Relativo he o que traz à memoria o

    nome antecedente.

    M. Porque se chama Relativo?

    D. Porque diz ordem ao seu antecedente.

    M. E que cousa he nome antecedente?

    D. He o nome, que vem na Oraçaõ antes

    do outro nome.

    M. Dizey exemplo.

    D. Estimo aquelle Religiozo, o qual he mortificado.

    Nesta Oraçaõ o nome Religiozo

    he antecedente do Relativo

    Qual, porque està posto antes do tal

    Relativo.

    M. E que cousa he trazer à memoria o nome

    antecedente?

    D. He tornallo a lembrar, e tornar a fazer

    mençaõ delle.

    M. Dizey exemplo.

    D. Estimo aquelle Religiozo, o qual he mortificado.

    Nesta Oraçaõ o Relativo

    Qual torna a trazer à memoria o

    nome Religiozo, porque faz este sentido.

    Estimo aquelle Religiozo, o qual

    Religiozo he mortificado.

    [27]

    M. E o nome Adjectivo pode servir de antecedente

    ao nome Relativo?

    D. As vezes sim.

    M. Dizey exemplo.

    D. Qual he o pay, tal he o filho. Nesta Oraçaõ

    o adjectivo Qual serve de antecedente

    ao Relativo Tal.

    M. E quaes saõ os nomes Infinitos?

    D. Nome Infinito he o que diz ordem a

    alguma pessoa, porèm naõ a declara,

    e se pòde accommodar a qualquer

    pessoa, assim como Quem.

    M. Continuay as castas de nomes?

    D. Ha nomes Patrios, e nomes Nacionaes.#[? no original]

    M. Quaes saõ?#[. no original. Emendou-se em vários lugares, mas não noutros; decidir e uniformizar critério]

    D. Patrios saõ os que declaraõ a Patria,

    assim como Lisbonense, Romano.

    Nacionaes saõ os que declaraõ as naçoens,

    assim como Italiano, Portuguez.

    M. Continuy as castas de nomes.

    D. Ha nomes Partitivos, e Numeraes.

    M. Quaes saõ os Partitivos?

    D. Partitivos saõ os que significaõ hum

    de muytos, ou muytos, e cada hum

    persi.

    [28]

    M. Dizey Exemplos.

    D. Algum significa hum de muytos. Todo

    significa muytos, e cada hum persi.

    M. Porque?

    D. Porque quando digo Algum homem falla,

    o nome Algum mostra que falla

    hum homem, e que ha mais homens.

    Quando digo Todo o homem

    falla, o nome Todo mostra que todos

    os homens fallaõ, e que cada

    hum falla.

    M. E porque se chamaõ esses nomes nomes

    Partitivos?

    D. Porque significaõ por modo de quem

    aparta, ou sepàra.

    M. Dizey exemplos.

    D. Quando digo Algum homem falla, parece

    que aparto o tal homem dos

    demais. E quando digo Todo o homem

    falla, parece que aparto o todo,

    que he homem, do todo; que o naõ

    he, nem falla, assim como da Pedra,

    do Leaõ, &c.

    M. E ha nomes, que naõ sendo Partitivos,

    tenhaõ as vezes força de Partitivos?

    D. Sim.

    [29]

    M. Quaes saõ?

    D. Saõ alguns Adjectivos, quando vem na

    Oraçaõ de sorte, que parece apartaõ

    humas cousas das outras.

    M. Dizey exemplo.

    D. As Lans negras naõ tomaõ outra cor. Nesta

    Oraçaõ o Adjectivo Negras tem

    força de Partitivo, porque parece

    aparta humas lans de outras lans; as

    negras das que o naõ saõ.

    M. E quaes saõ os nomes Numeraes?

    D. Saõ os que significaõ algum numero,

    assim como Hum, Dous, Tres.

    M. E quantas castas ha de nomes Numeraes?

    D. As principaes saõ duas, Numeraes Cardinaes,

    Numeraes Ordinaes.

    M. Quaes saõ?

    D. Numeraes Cardinaes saõ os que significaõ

    absolutamente algum numero,

    assim como Hum, Dous, Tres,

    &c. Numeraes Ordinaes Saõ os

    que significaõ algum numero, mas

    com ordem, assim como Primeyro,

    Segundo, Terceyro, &c.

    [M]#[sem separação da linha anterior, no original] Continuay as

    castas de nomes.

    D. Ha nomes Positivos, Comparativos,

    [30]

    Superlativos.

    M. Quaes saõ os Positivos?

    D. Positivos saõ aquelles, que significaõ

    a cousa absoluta, e simplesmente.

    M. E que cousa he significar absoluta, e

    simplesmente?

    D. He significar a cousa meramente, sem

    mayoria, nem excesso.

    M. Dizey exemplo.

    D. Alvo significa simplesmente; porque

    significa que huma cousa he alva

    sem dizer em que he mais alva q~ outra,

    e sem dizer se he muyto mais

    alva. Mais alvo naõ significa simplesmente,

    porque significa que huma

    cousa tem a alvura mayor. Alvissimo

    naõ significa simplesmente;

    porque naõ só significa q~ huma cousa

    he alva, e tem alvura, mas que he

    muyto alva, e tem alvura grande.

    M. E quaes saõ os Comparativos?

    D. Comparativos saõ os que servem para

    comparar as cousas entresi, e acrescentaõ

    a significaçaõ do seu Positivo,

    assim como Mayor, Melhor.

    M. Explicay isso.

    [31]

    D. A Cidade de Lisboa he mayor que a do

    Porto. Nesta Oraçaõ o nome Mayor

    serve de comparar a grandeza da Cidade

    de Lisboa com a grandeza da

    do Porto, e acrescenta a significaçaõ

    do seu Positivo que he o nome Grande.

    M. E na lingua Portugueza todos os nomes

    Adjectivos Positivos tem Comparativo?

    D. Só muyto poucos Positivos he que

    tem Comparativo.

    M. E quaes saõ?

    D. Saõ estes. Bom faz no Comparativo

    Melhor. Mào faz no Comparativo

    Peor, Grande faz no Comparativo

    Mayor, Pequeno faz Menor. Alèm

    destes ha tambem o Comparativo

    Superior, que tem por Positivo a

    Preposiçaõ Sobre, Inferior, Anterior,

    Posterior, Interior, e Exterior, que tambem

    nascem de algumas Preposiçoens.

    M. Pois se ha taõ poucos nomes Comparativos,

    que se faz para comparar as

    cousas?

    D. Suppre-se a falta do Comparativo com

    [32]

    a palavra Mais, e o Positivo.

    M. E q~ cousa he supprir a falta de alguma

    palavra?

    D. He pôr alguma palavra, ou palavras,

    que significaõ alguma cousa em lugar

    de outra palavra, que significa

    a mesma cousa.

    M. Dizey exemplo.

    D. Quero dizer Meu sogro he velho. Naõ

    me lembra a palavra Sogro, suppro a

    falta da tal palavra com outras, que

    significaõ o mesmo, e digo. O Pay

    de minha mulher he velho, e fica supprida

    a palavra Sogro, porque as palavras

    Pay de minha mulher significaõ

    o mesmo, que a palavra Sogro.

    M. Dizey agora exemplo de como se suppre

    o Comparativo com a palavra

    Mais, e o Positivo.

    D. Quero comparar a alvura da neve com

    a do papel, e digo: A neve he mais

    alva, que o papel. Nesta Oraçaõ as

    palavras Mais alva supprem a falta

    do Comparativo do Positivo Alvo.

    M. E ha Adjectivos, que naõ admittem

    Comparativo, nem ainda supprido?

    [33]

    D. Sim.

    M. Quaes saõ?

    D. Celeste, Nacido, Morto, Comprado,

    Desterrado, e outros, porque naõ se

    diz mais morto, mais nacido; &c.

    M. E como se sabe quaes saõ esses adjectivos?

    D. Sabe-se pelo uso.

    M. Quaes saõ os nomes superlativos?

    D. Superlativos saõ os nomes adjectivos

    que significaõ a cousa com excesso,

    assim como Alvissimo que significa

    muyto alvo.

    M. E donde nascem, e se formaõ os nomes

    Superlativos?

    D. Dos seus Positivos, assim como Alvissimo

    nasce, e se forma do Positivo

    Alvo.

    M. E como se formaõ?

    D. Formaõ-se segundo a terminaçaõ do

    Positivo.

    M. De que sorte?

    D. Se o Positivo acaba em O, ou em E,

    muda-selhe o O, ou E, em issimo, assim

    como Bello, Bellissimo, ou Bellissima,

    Amante, Amantissimo, ou Amantissima,

    se acaba em L, acrescentaselhe

    [34]

    ou issimo, ou issima, assim como,

    Fertil, Fertilissimo, ou Fertilissima.

    Se acabar em M, muda-selhe

    o M, em nissimo, ou nissima, assim como

    Bom, Bonissimo, ou Bonissima,

    Commum, Commumnissimo, ou Commumnissima.

    Se acaba em Z, mudaselhe o

    Z, em cissimo, ou cissima, assim

    como Capaz, Capacissimo, ou

    Capacissima.

    M. E porque dizeis issimo, ou issima?

    D. Porque os Superlativos tem duas terminaçoens,

    huma que serve para os

    Substantivos masculinos, outra para

    os femininos.

    M. Dizey exemplos.

    D. Homem alvissimo, Mulher alvissima.

    M. E essas regras que destes para formar

    os Superlativos faltaõ algumas vezes?

    D. Sim faltaõ em alguns.

    M. Dizeios.

    D. Pessimo que he Superlativo do adjectivo

    Mao. Novilissimo, que he Superlativo

    do adjectivo Nobre, Fidellissimo,

    de Fiel, Sacratissimo de Sagrado,

    Frigidissimo, de Frio, Amicissimo,

    [35]

    de Amigo e outros.

    M. E ha alguns Adjectivos, que naõ formaõ

    Superlativo?

    D. Sim.

    M. Dizey-os.

    D. Leal, Enfermo, Ferido, e outros muytos,

    que se sabem com o uso.

    M. E quando queremos significar esses

    Adjectivos com excesso, que se

    faz?

    D. Suppre-se a falta do Superlativo com

    o Positivo, e a palavra Muito.

    M. Dizey exemplo.

    D. Pedro està muyto enfermo. Nesta Oraçaõ

    o Positivo Enfermo, e a palavra Muyto

    supre a falta do Superlativo.

    M. E pode-se usar isso tambem com os

    Positivos que formaõ Superlativo?

    D. Sim.

    M. Dizey exemplo.

    D. Pedro he muyto alvo, ou Pedro he alvissimo.

    M. E ha alguns Adjectivos, que de nenhum

    modo admittaõ Superlativo?

    D. Sim.

    M. Dizeyos.

    D. Celeste, Nascido, Morto, e Desterrado, e

    [36]

    outros muytos, que se aprendem

    com o uso; porque naõ dizemos

    Muyto nacido &c.

    M. Tendes mais que dizer dos nomes?

    D. Mais ha que dizer mas isto basta.

    CAPITULO III.

    Dos Pronomes.

    Mestre. Qual he a segunda casta de

    palavras de que consta a Oraçaõ?

    D. Pronomes.

    M. Que cousa he Pronome?

    D. He huma palavra, que se poem em

    lugar de Nome.

    M. Dizey exemplo.

    D. Elle he Pronome porque se poem em

    lugar de Antonio, Pedro &c. e assim

    quando quero dizer Antonio joga

    digo Elle joga, e o Pronome Elle faz

    as vezes do nome Antonio.

    M. E quantas castas ha de Pronomes?

    D. Muytas.

    M. Dizey-as

    D. Ha Pronomes Primitivos, ou Pessoaes.

    [37]

    M. Quaes saõ.

    D. Eu, Tu, Elle, ou Ella.

    M. Porque dizeis Elle, ou Ella.

    D. Porq~ o Pronome Elle tem duas terminações,

    huma para servir aos nomes

    Masculinos, outra aos Femininos.

    M. E esses Pronomes declinaõ-se?

    D. Sim.

    M. Dizey as declinaçoens desses Pronomes.

    D. Declinaçaõ do Pronome Eu.

    Numero Singular.

    Nominativo     Eu.

    Genitivo          de mim.

    Dativo             me, ou a mim.

    Accusativo      me, ou a mim.

    Ablativo          de mim.

    Numero Plurar.

    Nominativo     Nòs.

    Genitivo          de nòs.

    Dativo             a nòs.

    Accusativo      a nòs.

    [38]

    Ablativo          de nòs.

    M. Dizey exemplos desses casos.

    D. Eu amo, o Pronome Eu està em Nominativo

    do Singular. Coytado de mim,

    o Pronome Mim està em Genitivo.

    Deume dinheyro o Pronome me està

    em Dativo. A mim o deve o Pronome

    me està em Accusativo. Demim o

    sabe o Pronome mim està em Ablativo.

    M. E porque razaõ està o Pronome nos

    casos, que dissestes?

    D. Isso aprende-se na Syntaxe.

    M. E no Ablativo ha às vezes alguma differença?

    D. Sim.

    M. Quando?

    D. Quando vem com a proposiçaõ#[confunde-se pre/pro. Anotar, emendar?] Com, porque entaõ no Singular disse Comigo,

    e no Plurar Com nosco.

    M. Dizey exemplos.

    D. Pedro foy comigo, Pedro foy com nosco.

    M. Dizey a declinaçaõ do Pronome Tu.

    D. Declinaçaõ do Pronome Tu.

    [39]

    Numero Singular.

    Nominativo     Tu.

    Genitivo          de ti.

    Dativo             te ou a ti.

    Accusativo      te ou a ti.

    Vocativo         tu.

    Ablativo          de ti.

    Numero Plurar.

    Nominativo     Vòs.

    Genitivo          de vós.

    Dativo             a vós.

    Accusativo      a vós.

    Vocativo         vòs.

    Ablativo          de vòs.

    M. Dizey exemplos desses casos.

    D. Tu amas o Pronome Tu està em Nominativo.

    Coytado de ti o Pronome

    Ti està em Genitivo, &c.

    M. E no Ablativo ha differença quando

    vem com a proposiçaõ Com.

    D. Sim; porque se diz Comtigo no Singular,

    e Com vosco no Plurar.

    M. Dizey exemplos.

    [40]

    D. Esta comtigo; Està Com vosco.

    M. Dizey a declinaçaõ do Pronome Elle,

    ou Ella.

    D. Declinaçaõ do Pronome Elle, ou

    Ella.

    Numero Singular.

    Nominativo     Elle, ou Ella.

    Genitivo          delle, ou della.

    Dativo             lhe, ou a elle, ou a ella.

    Accuzativo     a elle, ou a ella#[elle no original].

    Ablativo          delle, ou della.

    Numero Plurar.

    Nominativo     Elles, ou Ellas.

    Genitivo          delles, ou dellas.

    Dativo             lhes, ou a elles, ou a ellas.

    Accuzativo     a elles, ou a ellas.

    Ablativo          delles, ou dellas.

    M. Dizey exemplos desses casos.

    D. Elle ama. Elle està em Nominativo.

    Coytado delle o Pronome delle està

    em: Genitivo. Deulhe dinheyro o

    Pronome lhe está em Dativo. A elle

    [41]

    espero. O Pronome A elle està em

    Accusativo, Delle o sabe o Pronome

    delle està em Ablativo.

    M. E ha mais algum Pronome Pessoal

    Primitivo?

    D. Naõ; mas o Pronome Elle, ou Ella

    quando he Reciproco tem diversa declinaçaõ

    da que fica dita.

    M. E que cousa he Reciproco.

    D. Reciproco he aquella palavra que depois

    da acçaõ, ou obra sahir da

    pessoa, a faz entrar, ou tornar para a

    mesma pessoa.

    M. Dizey exemplo.

    D. Pedro rio-se, a particula, ou palavrinha

    se he Reciproco; porque tendo a acçaõ

    de ferir sahido de Pedro, que

    foy o feridor, o Pronome Se a faz

    tornar para o mesmo Pedro, e mostra,

    que elle foy o ferido.

    M. Dizey a declinaçaõ do Pronome Elle,

    sendo Reciproco.

    D. Declinaçaõ do Pronome Elle, ou

    Ella quando passa a ser Reciproco.

    Numero Singular, e Plurar.

    [42]

    Genitivo          de Si.

    Dativo             se, ou a si.

    Accusativo      se, ou a si.

    Ablativo          de si.

    M. E porque naõ differençais o numero

    Singular do Plurar?

    D. Porque este Reciproco da mesma sorte

    se declina no Singular, e Plurar.

    M. E porque naõ dissestes o Nominativo?

    D. Porque carece de Nominativo.

    M. Dizey exemplos de mais casos.

    D. He Senhor de si: O Reciproco Si està

    em Genitivo A si o deve està em

    Dativo. Accusou-se està em Accuzativo.

    Falla de si, està em Ablativo.

    M. E no Ablativo com a preposiçaõ Com

    padece alguma mudança?

    D. Sim, porque entaõ disse Comsigo.

    M. Dizey exemplos.

    D. Falla comsigo. Fallaõ comsigo.

    M. E porque se chamaõ a estes nomes

    Pessoaes?

    D. Porque mostraõ as pessoas.

    M. Dizey exemplo.

    D. Eu mostra a primeyra pessoa do Singular.

    [43]

    M. E porque se chamaõ Primitivos?

    D. Porque delles nascem outros Pronomes

    que se chamaõ Derivados, e

    Possessivos.

    M. Quaes saõ esses Pronomes?

    D. Saõ estes Meu, ou Minha, que nasce

    do Pronome Eu, Teu, ou Tua, q~ nasce

    de Tu. Seu, ou Sua, que nasce

    do Pronome, e Reciporco Si, Nosso,

    ou Nossa, que nasce do Pronome

    Nòs, Vosso, ou Vossa, que nasce do

    Pronome Vòs.

    M. E porque se chamaõ Possessivos esses

    Pronomes?

    D. Porque significaõ a posse, e ser senhor

    de alguma cousa; e assim como

    quando digo Isto he meu, Isto he teu.

    M. E como se declinaõ esses Pronomes?

    D. Declinaõ se como qualquer outro adjectivo

    só tem de particular, que Teu,

    ou Tua, Seu, ou Sua naõ tem Vocativo.

    M. E ha mais castas de Pronomes?

    D. Ha Pronomes, que saõ Demonstrativos,

    e Relativos, e ha Pronomes,

    que só saõ Relativos.

    M. Quaes saõ os que saõ Demonstrativos,

    [44] 

    e Relativos?

    D. Saõ os seguintes Este, ou Esta, Aquelle,

    ou Aquella, Esse, ou Essa, Isto,

    Isso, Aquillo.

    M. E porque se chamaõ Demonstrativos

    esses Pronomes?

    D. Porque significaõ de sorte, que parece

    estaõ mostrando a cousa que significaõ,

    assim como quãdo digo Este homem

    o Pronome Este parece està mostrando

    ao Homem.

    M. E esses pronomes sempre saõ Demonstrativos?

    D. Sim.

    M. E porque se chamaõ esses Pronomes

    Relativos?

    D. Porque trazem à memoria o seu antecedente.

    M. Dizey exemplo.

    D. Vi vosso filho este me pareceo esperto. Nesta

    Oraçaõ o Pronome Este he Relativo,

    porque traz à memoria o seu antecedente

    Filho, e faz este sentido, Vi

    vosso filho, este filho me pareceo esperto.

    M. E esses Pronomes saõ sempre Relativos?

    D. Naõ.

    [45]

    M. Quando he, que naõ saõ Relativos? #[foto cortada, não revi esta linha]

    D. Quando naõ tem antecedente proprio

    com quem concordem.

    M. Dizey exemplo.

    D. Esta caza he grande. Nesta Oraçaõ o

    Pronome Esta naõ he Relativo, porque

    naõ tem antecedente.

    M. Como se declinão esses Pronomes?

    D. Os Pronomes Este, ou esta Esse, ou

    Essa, Aquelle, ou Aquella declinaõ-se

    da mesma sorte, que o Pronome

    Elle, ou Ella.

    O Pronome Isto, Isso, Aquillo

    tem declinaçaõ particular.

    M. Dizey a declinaçaõ do Pronome Isto?

    D. Declinaçaõ do Pronome Isto.

    Numero Singular.

    Nominativo     Isto.

    Genitivo          disto.

    Dativo             a isto.

    Accusativo      a isto.

    Ablativo          disto.

    M. E porque naõ dizeis o Numero Plurar?

    [46]

    D. Porque o naõ tem.

    M. E como se declinaõ os Pronomes Isso,

    e Aquillo.

    D. Da mesma sorte, que o Pronome Isto.

    M. E quaes saõ os Pronomes, que saõ

    Relativos, e naõ saõ Demonstrativos?

    D. Saõ os seguintes Mesmo,

    ou Mesma O,

    ou A, Qual, ou Que.

    M. E como se declina o Pronome Mesmo,

    ou Mesma?

    D. Declina se como qualquer outro Ad[jectivo].

    M. Tem algua particularidade esse Pronome?

    D. Tem de particular, q~ se ajunta a todos

    os Pronomes, Primitivos, Possessivos,

    e Demonstrativos.

    M. Dizey exemplos.

    D. Eu mesmo o vi, Tu mesmo o viste, Elles

    mesmos o viraõ, Falla de si mesmo. Os

    meus mesmos me perseguem.

    M. E como se declina o Pronome O, ou A.

    D. Esse Pronome naõ se declina, porque

    naõ tem mais caso, que o Accuzativo,

    em ambos os numeros.

    M. Dizey exemplo.

    [47]

    D. Pedro vem, e eu o chamey. O Pronome

    O, està em Accuzativo, Comi

    peras; e as colhi.

    M. Não dissestes no Capitulo primeyro,

    que O, e A, eraõ artigos, como

    agora dizeys que saõ Relativos?

    D. Humas vezes saõ artigos, outras Relativos.

    M. E quando he que saõ Relativos?

    D. Quando trazem à memoria o seu antecedente.

    M. Dizey exemplo.

    D. Comi peras, e as colhi. Nesta Oraçaõ a

    palavra as traz a memoria o antecedente

    Peras, e faz este sentido. Colhi

    peras, e as peras comi.

    M. Dizey a declinaçaõ do Pronome Relativo

    Qual, ou Que?

    D. Declinaçaõ do Pronome Relativo

    Qual, ou Que.

    Numero Singular.

    Nominativo     O Qual, ou A Qual, ou Que.

    Genitivo          do Qual, ou da Qual, ou Que.

    Dativo             ao Qual, ou à Qual, ou Que.

    [48]

    Accuzativo     ao Qual, ou à Qual, ou Que.

    Ablativo          do Qual, ou da Qual, ou Que.

    Numero Plurar.

    Nominat.         Os Quaes, ou as Quaes, ou Que.

    Genitivo          dos Quaes, ou das Quaes, ou Que.

    Dativo             aos Quaes, ou as Quaes, ou Que.

    Ablativo          dos Quaes, das Quaes, ou Que.

    M. Dizey exemplos.

    D. Amey a Deos, o qual me premiou, ou

    amey a Deos, que me premiou. O Relativo

    Qual, ou Que està em Nominativo.

    O campo, do qual sou Senhor,

    ou O campo, de que sou Senhor. O Relativo

    do qual, ou do que està em Genitivo.

    O argumento, ao qual respondestes,

    ou a que respondestes. O Relativo

    ao qual, e que està em Dativo.

    O criado ao qual mandey, ou a que mandey.

    O Relativo ao qual, ou que està

    em Accuzativo. A pessoa, da qual o

    o sey, ou de que o sey o Relativo da

    qual, ou de que está em Ablativo.

    M. E esta palavra Que sempre he Relativo?

    D. Naõ muytas vezes he conjunçaõ.

    [49]

    M. Quando?

    D. Quando naõ traz à memoria nenhum

    nome antecedente.

    M. Dizey exemplo.

    D. Naõ quero, que meu filho brinque. Nesta

    Oraçaõ a palavra Que naõ he Relativo,

    porque, naõ traz à memoria

    antecedente algum.

    M. Esta palavra Quem significa as vezes

    o mesmo que o Relativo Que?

    D. Sim.

    M. Dizey exemplo.

    D. Aqui esta Pedro a quem eu ensiney.

    M. Tendes mais, que dizer dos Pronomes?

    D. Mais ha que dizer, mas isto basta.

    CAPITULO IV.

    Dos Verbos, e das suas pessoas, modos, e

    tempos.

    Mestre. Qual he a terceyra casta de

    palavras, de que usa a Oraçaõ na

    lingua Portugueza?

    D. Os Verbos.

    [50]

    M. Que cousa he Verbo?

    D. Verbo he huma palavra significativa,

    que tem pessoas, numeros, modos,

    tempos, e naõ se declina por casos.

    M. Dizeis que os Verbos tem pessoas, e

    que couza he pessoa?

    D. Pessoa he a palavra do Verbo, que tem

    antes de si algum Pronome pessoal.

    M. Dizey exemplo.

    D. Amo he pessoa, porque tem antes de

    si o Pronome pessoal Eu. Eu amo.

    M. E quantas pessoas tem o Verbo?

    D. Tres no Singular, e tres no Plurar.

    M. Quaes saõ as do Singular?

    D. Saõ as que tem antes de si aos Pronomes

    pessoaes, Eu, Tu, Elle.

    M. Dizey exemplo.

    D. Amo, Amas, Ama, saõ pessoas do Singular,

    porque tem antes de si os

    Pronomes pessoaes. Eu amo, Tu amas,

    Elle ama, ou pode ter os taes Pronomes.

    M. E quaes saõ as do Plurar?

    D. Saõ as que tem antes de si os Pronomes

    Nós, Vós, Elles.

    M. Dizey exemplos.

    D. Amamos, amais, amaõ. Saõ pessoas

    [51]

    do Plurar porque tem antes de si os

    Pronomes pessoaes Nós, Vós, Elles.

    Nós amamos, Vós amais, Elles amaõ.

    M. E estes Pronomes sempre se poem antes

    dessas pessoas?

    D. Naõ, mas ou se poem, ou se entendem.

    M. Dizey exemplo.

    D. Amo a Pedro. Nesta Oraçaõ a pessoa

    Amo, naõ tem antes de si Pronome,

    mas entendese:lhe porque Amo val

    o mesmo que Eu amo.

    M. E entre essas pessoas ha primeyra, segunda,

    e terceyra?

    D. Sim.

    M. Qual he a primeyra pessoa?

    D. He a que falla, e tem antes de si o Pronome

    Eu, ou Nos.

    M. Dizey exemplo.

    D. Amo Amamos saõ as primeyras pessoas,

    porque saõ as que fallaõ, e tem antes

    de si o Pronome Eu, ou Nòs Eu

    amo, Nòs amamos.

    M. Qual he a segunda?

    D. He a pessoa a quem se falla, e tem antes

    de si o Pronome Tu, ou Vós.

    M. Dizey exemplo.

    [52]

    D. Amas, Amais. Saõ segunda pessoa,

    porque saõ a pessoa a quem se falla, e

    tem antes de si o Pronome Tu, ou

    Vòs, Tu amas, Vòs amais.

    M. Qual he terceyra.

    D. he a pessoa de que se falla, e tem antes

    de si o Pronome Elle, ou Elles.

    M. Dizey exemplo.

    D. Ama, Amaõ, saõ terceyra pessoa, porque

    he de quem se falla, e tem antes

    o Pronome Elle, ou Elles, Elle

    ama, Elles amaõ.

    M. Dissestes que o Verbo tinha numeros

    que numeros tem?

    D. Singular, e Plurar.

    M. Qual he o Singular?

    D. Saõ as palavras, ou pessoas, que tem

    antes de si os Pronomes, Eu, Tu,

    Elle, Eu amo, Tu amas, Elle ama.

    M. Qual he o Plurar?

    D. Saõ as palavras, ou pessoas, que tem

    antes de si os Pronomes, Nós, Vós,

    Elles.

    M. Dizey exemplo.

    D. Amamos, Amais, Amaõ, saõ Plurar,

    porq~ tem antes de si os Pronomes,

    Nós, Vós, Elles, Nòs amamos, Vòs

    [53]

    amais, Elles amaõ.

    M. Dissestes, que os Verbos tinhaõ modos,

    e que cousa he Modo?

    D. Modo he maneyra de significar do

    Verbo.

    M. E quantas maneyras de significar tem

    os Verbos?

    D. As que basta explicar, e declarar, saõ

    quatro.

    M. Quaes saõ?

    D. A maneyra de Significar affirmando,

    e mostrando.

    M. Dizey exemplo.

    D. Amo, Amaràs, Amey, &c. que significaõ

    affirmando, e mostrando, que

    amo, ou que amey.

    M. E como se chama a essa maneyra de

    significar?

    D. Modo Indicativo.

    M. E porque se chama Indicativo.

    D. Porque Indicativo, quer dizer mostrador.

    M. Qual he a segunda?

    D. He a maneyra de significar mandando.

    M. Dizey exemplos.

    D. Ama tu, Lea elle que significaõ por

    modo de quem mãda amar, e ler, &c.

    [54]

    M. E como chamaõ a essa maneyra de

    significar?

    D. Modo Imperativo.

    M. Porque?

    D. Porque Imperativo quer dizer mandante.

    M. Qual he a terceyra?

    D. He a maneyra de significar debayxo

    de alguma condiçaõ.

    M. Dizey exemplos.

    D. Ainda que eu ame, se eu amasse, que naõ

    significaõ certamente, que amo,

    nem que amey, mas significaõ debayxo

    de condiçaõ que assim fosse.

    M. E como se chama essa maneyra de significar?

    D. Modo Subjunctivo.

    M. Porque?

    D. Porque Subjunctivo quer dizer cousa,

    que està junta com outra, e este modo

    significa pela condiçaõ, ou particula,

    que se lhe ajunta.

    M. Qual he a quarta?

    D. He a maneyra de significar sem affirmar

    nada.

    M. Dizey exemplos.

    D. Amar, Amando, que naõ affirmaõ

    [55]

    nada.

    M. E como se chama essa maneyra de significar?

    D. Modo Infinito.

    M. Porque?

    D. Porque Infinito quer dizer cousa, que

    naõ tem fim, nem termo, e as palavras,

    que naõ affirmaõ nada significaõ

    como se naõ tiveraõ fim.

    M. E de que constaõ os modos do Verbo?

    D. De Tempos.

    M. E que cousa he Tempo?

    D. Tempo geralmente fallando, saõ as

    horas, os dias, os annos.

    M. E quantas sortes ha de Tempos?

    D. Tres.

    M. Quaes saõ?

    D. Presente, Passado, Futuro.

    M. Qual he o Presente?

    D. Saõ os instantes horas, e dias, que

    agora vaõ passando.

    M. Qual he o Passado.

    D. Saõ os instantes, horas, dias, que jà

    passáraõ.

    M. Qual he Futuro?

    D. Saõ os instantes, horas, dias, que ainda

    haõ-de vir.

    [56]

    M. Tendes dito, que cousa he Tempo geralmente

    fallando: dizey agora,

    que cousa he tempo do Verbo?

    D. Tempo do Verbo saõ as palavras do

    Verbo, que dizem ordem a algum

    tempo.

    M. E quantos tempos tem o Verbo?

    D. Tres.

    M. Quaes saõ?

    D. Presente, Passado, Futuro.

    M. Qual he o Presente.

    D. Saõ as palavras do Verbo, que dizem

    ordem ao tempo presente.

    M. Dizey exemplo.

    D. Amo, Leyo, Ouço. Saõ tempo presente,

    porque significaõ que Amo, Leo,

    Ouço, neste instante, nesta hora &c.

    M. Qual he o tempo passado?

    D. Saõ as palavras do Verbo, que dizem

    ordem ao tempo, que passou.

    M. Dizey exemplo.

    D. Amey, Amava, Amàra. Saõ tempo

    passado, porque significaõ, que tive

    amor, em os instantes, horas, ou

    dias &c. que jà passáraõ.

    M. Que cousa he tempo Futuro.

    D. Saõ as palavras do Verbo, que dizem

    [57]

    ordem ao tempo, que ha de vir.

    M. Dizey exemplo.

    D. Amarey, Lerey. Saõ tempo Futuro,

    porque significaõ que hey de Amar,

    ou Ler nos instantes, horas, dias,

    &c. que naõ saõ, mas haõ de vir.

    M. E quantos tempos Presentes tem o

    Verbo?

    D. Hum em cada modo.

    M. E quantos tempos Passados?

    D. Tres no Indicativo, tres no Substantivo,

    e hum no Infinitivo.

    M. E porque tem tres tempos Passados?

    D. Porque a mesma cousa se pòde considerar

    Passada por tres sortes.

    M. Quaes saõ.

    D. Passada simplesmente a respeyto de si,

    Passada a respeyto de si, e presente a

    respeyto de outra, Passada a respeyto

    de si, e a respeyto de outra.

    M. E como se chama o tempo, que significa

    a cousa assim simplesmente

    passada?

    D. Chama-se Preterito perfeyto.

    M. Dizey exemplo desse tempo.

    D. Amey he perterito perfeyto; porque

    significa simplesmente, que a minha

    [58]

    acção de amar, jà passou.

    M. E como se chama o tempo, que demora

    a cousa passada em si, e presente

    a respeyto de outra?

    D. Preterito imperfeyto.

    M. Dizey exemplo desse tempo.

    D. Ceava, he preterito imperfeyto, porque

    mostra que a minha cea jà passou,

    e mostra, que a minha cea foy

    presente a outra cousa.

    M. E como mostra, que a cea foy presente

    a outra cousa?

    D. Naõ o mostra, quando dizemos sómente

    a palavra ceava, porem mostra

    o quando usamos della na Oraçaõ.

    M. Dizey exemplo.

    D. Quando entraste, eu ceava. Nesta Oraçaõ

    a palavra Ceava mostra, que a

    minha cea jà passou a respeyto do

    tempo, em que fallo, porèm mostra,

    que foy presente respeyto da

    tua entrada.

    M. E como se chama o tempo, que significa

    a causa passada a respeyto de si, e a respeyto de

    outra?

    D. Preterito plusquam perfeyto.

    [59]

    M. Dizey exemplo desse tempo.

    D. Eu ceàra, he preterito plusquam perfeyto,

    porque mostra q~ a minha cea

    jà passou a respeyto de mim, e mostra,

    que tambem jà passou a respeyto

    de outra cousa.

    M. E quando o mostra?

    D. Naõ o mostra, quando digo sómente

    Eu ceàra, porèm mostra-o no uso

    da Oraçaõ.

    M. Dizey exemplo.

    D. Quando tu entraste, eu ceara. Nesta

    Oraçaõ, a palavra Ceara mostra, que

    a minha cea jà passou, a respeyto

    do tempo, em que fallo, e mostra,

    que tambem jà tinha passado, quando

    tu entraste.

    M. E que quer dizer Preterito plusquam

    perfeyto?

    D. Quer dizer Preterito mais que perfeyto.

    M. E porque chamaõ aos tempos Passados?

    D. Porque Preterito quer dizer Passado.

    M. E quantos Futuros tem os Verbos?

    D. Dous no Indicativo; dous no Subjunctivo;

    hum no Imperativo, e hum

    [60]

    no Infinitivo.

    M. E porque tem dous Futuros?

    D. Porque a mesma cousa se pòde considerar,

    ou futura simplesmente, ou

    futura a respeyto de si, e Passada a

    respeyto de outra cousa.

    M. E como se chama o tempo, que denota

    a cousa futura simplesmente?

    D. Chama-se Futuro.

    M. Dizey exemplo desse tempo.

    D. Eu cearey, he futuro imperfeyto, ou

    simples, porque significa simplesmente,

    que a minha, Cea, ainda

    hade vir.

    M. E como se chama o futuro, que significa

    a cousa futura a respeyto de

    si, e passada a respeyto de outra.

    D. Chama-se Futuro perfeyto, e cõposto.

    M. Dizey exemplo desse tempo.

    D. Eu terey ceado, he futuro perfeyto,

    porque mostra, que a minha Cea

    ainda ha de vir antes de outra cousa.

    M. E quando he que o mostra?

    D. Naõ o mostra, quando só digo estas

    palavras Eu terey ceado, porem mostra

    o quanto uso dellas na Oraçaõ.

    M. Dizey exemplo.

    [61]

    D. Terey ceado quando tu entrares. Nesta

    Oraçaõ as palavras Terey ceado mostra,

    que a minha cea ainda ha de

    vir, e mostra, que quando tu entrares

    a minha cea ha de ter Passado.

    M. E alèm do que tendes dito, tem os

    Verbos alguma cousa, de que se deva

    tratar.

    D. Sim.

    M. Qual he?

    D. Gerundios, e Participios.

    M. E que cousa he Gerundio?

    D. Gerundio he huma palavra do modo

    Infinito, que por si só significa indeterminadamente,

    mas tem hum

    tal geyto de significar, que tira a

    obrar o que se diz, assim como

    Amando, Lendo, &c.

    M. E que quer dizer Gerundio?

    D. Gerundio quer dizer operativo; porque

    se deriva do Verbo Latino Gero

    que significa Obrar.

    M. E que cousa he Participio?

    D. Participio he huma palavra, que tem

    casos, e tempos, assim como, Amado,

    Lido, &c.

    M. E Porque se chama Participio?

    [62]

    D. Porque tem parte de Verbo; porque

    tem tempos; e tem parte de nome,

    porque tem casos. Porem isto dos

    Participios só na Gramatica Latina

    he que se percebe bem.

    CAPITULO V.

    Das Conjugaçoens dos Verbos Auxiliares.

    Mestre. Que cousa conjugaçaõ?

    D. He repetir o Verbo por todos

    os seus modos, tempos numeros,

    e pessoas.

    M. E antes de entrar a saber as conjugaçoens

    commuas, he necessario saber

    algumas particulares?

    D. Sim.

    M. Quaes?

    D. As dos Verbos Auxiliares.

    M. Que cousa he Verbo Auxiliar?

    D. He o Verbo, que ajuda os demais a

    formar os seus tempos.

    M. Dizey exemplo.

    D. Ser, he Verbo Auxiliar; porque ajuda

    os Verbos activos a formar os seus

    [63]

    tempos Passivos.

    M. Dizey exemplo.

    D. Eu sou amado. Nesta Oraçaõ o Verbo

    Ser com o participio amado forma o

    tempo presente do Verbo passivo do

    activo Amo, como veremos adiante.

    M. E quantos Verbos Auxiliares ha na

    lingua Portugueza?

    D. Dous.

    M. Quaes saõ?

    D. O Verbo Ser; o Verbo Ter, ou Haver.

    M. Dizey a Conjugaçaõ do Verbo Ser.

    D. Conjugaçaõ do Verbo Auxiliar Ser.

    Modo Indicativo.

    N. S.

    Eu sou.

    Tu es.

    Elle he.

    N. P.

    Nos somos.

    Vos sois.

    Elles saõ.

    Preterito imperfeyto

    N. S.

    Eu era.

    [64]

    Tu eras.

    Elle era.

    N. P. Nos eramos.

    Vós ereis.

    Elles eraõ.

    Preterito perfeyto.

    N. S.

    Eu fuy.

    Tu foste.

    Elle foy.

    N. P.

    Nós fomos.

    Vós fostes.

    Elles foraõ.

    Preterito perfeyto Composto.

    N. S.

    Eu tenho sido.

    Tu tens sido.

    Elle tem sido.

    N. P.

    Nòs temos sido.

    Vòs tendes sido.

    Elles tem sido.

    Preterito plusquam perfeyto.

    N. S.

    Eu fora.

    Tu foras.

    Elle fora.

    N. P.

    Nos foramos.

    Vós foreis.

    Elles foraõ.

    [65]

    Preterito plusquam perfeyto composto.

    N. S.

    Eu tinha sido.

    Tu tinhas sido.

    Elle tinha sido.

    N. P.

    Nós tinhamos sido.

    Vòs tinheis sido.

    Elles tinhaõ sido.

    Futuro.

    N. S.

    Eu serey.

    Tu serás.

    Elle será.

    N. P.

    Nós seremos.

    Vós sereis.

    Elles seraõ.

    Futuro composto.

    N. S.

    Eu terey sido.

    Tu terás sido.

    Elle terá sido.

    N. P.

    Nòs teremos sido.

    Vòs tereis sido.

    Elles teraõ sido.

    [66]

    Modo Imperativo.

    Presente.

    N. S.

    Sè tu.

    Seja elle.

    N. P.

    Sejamos nòs.

    Sede vòs.

    Sejaõ elles.

    Futuro.

    N. S.

    Seràs tu.

    Serà elle.

    N. P.

    Seremos nós.

    Sereis vós.

    Seraõ elles.

    Modo Subjunctivo.

    Presente.

    N. S.

    Posto q~ eu seja.

    Tu sejas.

    Elle seja.

    N. P.

    Posto q~ nòs sejamos.

    Vós sejais.

    Elles sejaõ.

    [67]

    Preterito imperfeyto.

    N. S.

    Posto q~ eu fora.

    Tu foras.

    Elle fora.

    N. P. Posto q~ nós foramos.

    Vós foreis.

    Elles foraõ.

    Preterito imperfeyto segundo.

    N. S.

    Eu seria.

    Tu serias.

    Elle seria.

    N. P. Nos serìamos.

    Vós seríeis.

    Elles seriaõ.

    Preterito perfeyto.

    N. S.

    Posto q~ eu fosse.

    Tu fosses.

    Elle fosse.

    N. P.

    Posto q~ nós fossemos.

    Vós fosseis.

    Elles fossem.

    [68]

    Preterito perfeyto composto.

    N. S.

    Posto que eu

    tenha sido.

    Tu tenhas sido.

    Elle tenha sido.

    N. P.

    Posto que nós

    tenhamos sido.

    Vós tenhais sido.

    Elles tenhaõ sido.

    Preterito plusquam perfeyto.

    N. S.

    Posto que eu fora.

    Tu foras.

    Elle fora.

    N. P.

    Posto que nós foramos.

    Vós foreis.

    Elles foraõ.

    Preterito plusquam perfeyto composto.

    N. S.

    Posto q~ eu tivera

    sido.

    Tu tiveras sido.

    Elle tivera sido.

    N. P.

    Posto q~ nós tiveramos

    sido.

    Vós tivereis sido.

    Elles tiveraõ sido.

    [69]

    Futuro.

    N. S.

    Como eu for.

    Tu fores.

    Elle for.

    N. P.

    Como nòs formos.

    Vós fordes.

    Elles forem.

    Futuro Composto.

    N. S.

    Posto q~ eu haja

    de ser.

    Tu hajas de ser.

    Elle haja de ser.

    N. P.

    Posto que nós hajamos

    de ser.

    Vós hajais de ser.

    Elles hajaõ de ser.

    Futuro composto.

    N. S.

    Como eu tiver sido.

    Tu tiveres sido.

    Elle tiver sido.

    N. P.

    Como nós tivermos sido.

    Vòs tiverdes sido.

    Elles tiverem sido.

    Modo Infinitivo.

    Presente.

    Ser.

    [70]

    Preterito perfeyto       Ter sido.

    Futuro Haver de ser.

    Gerundio, e Participio            Sendo.

    Participio, que serve ao Auxiliar        Sido.

    M. E a que Verbos serve de Auxiliar o

    Verbo Ser?

    D. Aos Verbos passivos com todos

    os modos, tempos, numeros, e pessoas,

    como logo diremos.

    M. Dizey a Conjugaçaõ do Verbo Ter.

    D. Conjugaçaõ do Verbo Auxiliar Ter.

    Modo Indicativo.

    Presente.

    N. S.

    Eu tenho, ou hey.

    Tu tens, ou has.

    Elle tem, ou ha.

    N. P.

    Nòs temos, ou havemos.

    Vòs tendes, ou haveis.

    Elles tem, ou haõ.

    Preterito imperfeyto.

    N. S.

    Eu tinha, ou havia.

    Tu tinhas, ou havias.

    [71]

    Elle tinha, ou havia.

    N. P.

    Nòs tinhamos, ou

    haviamos.

    Vòs tinheis, ou

    havieis.

    Elles tinhaõ, ou

    haviaõ.

    Preterito Perfeyto.

    N. S.

    Eu tive, ou

    houve.

    Tu tiveste, ou houveste.

    Elle teve, ou

    houve.

    N. P.

    Nòs tivemos, ou houvemos.

    Vòs tivestes, ou

    houvestes.

    Elles tiveraõ, ou

    houveraõ.

    Preterito perfeyto composto.

    N. S.

    Eu tenho tido.

    Tu tens tido.

    Elle tem tido.

    N. P.

    Nós temos tido.

    Vòs tendes tido.

    Elles tem tido.

    [72]

    Preterito plusquam perfeyto.

    N. S.

    Eu tivera, ou houvera.

    Tu tiveras, ou houveras.

    Elle tivera, ou houvera.

    N. P.

    Nòs tiveramos, ou

    houveramos.

    Vós tivereis, ou

    houvereis.

    Elles tiveraõ, ou

    houveraõ.

    Preterito plusquam perfeyto composto.

    N. S.

    Eu tivera tido.

    Tu tiveras tido.

    Elle tivera tido.

    N. P.

    Nós tiveramos tido.

    Vós tivereis tido.

    Elles tiveraõ tido.

    Futuro.

    N. S.

    Eu terey, ou haverey.

    Tu teràs, ou

    [73]

    haverás.

    Elle terà, ou haverà.

    N. P.

    Nós teremos, ou

    haveremos.

    Vós tereis, ou havereis.

    Elles teraõ, ou

    haveraõ.

    Futuro composto.

    N. S.

    Eu hey de ter, ou

    haver.

    Tu has de ter, ou

    haver.

    Elle hade ter, ou

    haver.

    N. P.

    Nós havemos de

    ter, ou haver.

    Vós haveis de ter,

    ou haver.

    Elles haõ de ter,

    ou haver.

    Futuro composto.

    N. S.

    Eu terey tido.

    Tu teràs tido.

    Elle terà tido.

    N. P.

    Nòs teremos tido.

    Vòs tereis tido.

    Elles teraõ tido.

    [74]

    Modo Imperativo.

    Presente.

    N. S.

    Tem tu.

    Tenha elle, ou haja

    elle.

    N. P.

    Tenhamos, ou hajamos nòs.

    Tende, ou havey

    vos.

    Tenhaõ, ou hajaõ elles.

    Futuro.

    N. S.

    Teràs, ou haveràs tu.

    Terà, ou haverà

    elle.

    N. P.

    Teremos, ou haveremos

    nòs.

    Tereis, ou havereis

    vos.

    Teraõ, ou haveraõ elles.

    Modo Subjunctivo.

    Presente.

    N. S.

    Posto que Eu tenha,

    [75]

    ou haja.

    Tu tenhas, ou

    hajas.

    Elle tenha, ou

    haja.

    N. P.

    Posto que nòs tenhamos

    ou hajamos.

    Vòs tenhais, ou

    hajaes.

    Elles tenhaõ, ou

    hajaõ.

    Preterito imperfeyto.

    N. S.

    Posto que eu tivera, ou

    houvera.

    Tu tiveras, ou

    houveras.

    Elle tivera, ou

    houvera.

    N. P.

    Nós tiveramos, ou

    houveramos.

    Vòs tivereis ou

    houvereis.

    Elles tiveraõ ou

    houveraõ.

    Preterito imperfeyto segundo.

    N. S.

    Eu teria, ou haveria.

    Tu terias, ou haverias.

    Elle teria ou haveria.

    N. P.

    Nòs teriamos, ou

    haveriamos.

    Vòs terieis, ou haverieis.

    Elles teriaõ, ou haveriaõ.

    [76]

    Preterito perfeyto.

    N. S.

    Posto que eu tivesse,

    ou houvesse.

    Tu tivesses, ou houvesses.

    Elle tivesse, ou houvesse.

    N. P.

    Nós tivessemos,

    ou houvessemos.

    Vós tivesseis, ou

    houvesseis.

    Elles tivessem, ou

    houvessem.

    Preterito perfeyto composto.

    N. S.

    Posto que eu tenha

    tido, ou havido.

    Tu tenhas tido, ou

    havido.

    Elle tenha tido,

    ou havido.

    N. P.

    Nós tenhamos tido,

    ou havido.

    Vós tenhais tido,

    ou havido.

    Elles tenhaõ tido, ou

    havido.

    [77]

    Preterito plusquam perfeyto.

    N. S.

    Posto que eu tivera, ou houvera, &c.

    Preterito plusquam perfeyto composto.

    N. S.

    Posto que eu tivera, ou houvera tido, &c.

    Futuro.

    N. S.

    Como eu tiver, ou

    houver.

    Tu tiveres, ou

    houveres.

    Elle tiver, ou

    houver.

    N. P.

    Como nós tivermos, ou

    houvermos.

    Vós tiverdes, ou houverdes.

    Elles tiverem, ou houverem.

    [78]

    Futuro composto.

    N. S.

    Posto que eu haja

    de ter.

    Tu hajas de ter.

    Elle haja de ter.

    N. P.

    Nós hajamos de

    ter.

    Vós hajais de ter.

    Elles hajaõ de ter.

    Futuro composto.

    Numero Singular.

    Como eu tiver tido, &c.

    Modo Infinitivo.

    Presente          Ter.

    Preterito          Ter tido.

    Gerundio        Tendo.

    Participio        Tido.

    M. E a que Verbos serve de Auxiliar o

    Verbo Ter.

    D. A os activos, neutros, e Passivos.

    M. Dizey exemplos.

    [79]

    D. Eu tenho amado aqui serve de Auxiliar

    ao Verbo activo Amo. Eu tenho gritado.

    Aqui serve de Auxiliar ao

    Verbo neutro Gritar. Eu tenho sido

    amado. Aqui serve de Auxiliar ao

    Verbo Passivo, Sou amado.

    M. E para que tempos, he q~ serve de Auxiliar?

    D. Para o Preterito perfeyto, para o plusquam

    perfeyto, para o Futuro, e

    Gerundio.

    M. Dizey exemplos.

    D. Tenho amado he Preterito perfeyto.

    Tinha amado he plusquam perfeyto.

    Terey amado he Futuro. Tendo amado

    he Gerundio.

    M. E como se chamaõ a esses Preteritos,

    e Futuros?

    D. Chamaõ-se Preterito perfeyto composto,

    Plusquam perfeyto composto,

    Futuro  composto, Gerundio cõposto.

    M. E porque se chamaõ compostos?

    D. Porque se compoem do Participio de

    qualquer Verbo, e dos tempos do

    Verbo Ter.

    M. E de que Participio se compoem?

    D. Do Participio Passivo.

    [80]

    M. Dizey exemplo.

    D. Tenho amado compoem-se do Participio

    passivo do Verbo Amo.

    M. E de que tempos do Verbo Auxiliar

    se compoem?

    D. De todos.

    M. De que sorte?

    D. Os Preteritos perfeytos compoem-se

    de todos os tempos Presentes, e

    Preteritos perfeytos do Verbo Ter.

    M. Dizey exemplos.

    D. Tenho amado he Preterito perfeyto do

    Verbo Amo, e compoem-se do presente

    Tenho do Verbo Ter. Tive

    amado he Preterito, e compoem-se

    de Tive perfeyto do Verbo Ter. da

    mesma sorte Tem tu amado, posto que

    eu tenha amado, saõ perfeytos do

    Verbo Amo, compoem-se do Presente

    do Verbo Ter.

    M. E donde se compoem os plusquam

    perfeytos?

    D. Compoem-se dos Preteritos imperfeytos

    do Verbo, e tambem dos Plusquam

    perfeytos.

    M. Dizey exemplos.

    D. Eu tinha amado, he plusquam perfeyto

    [81]

    do Verbo Amo, e compoem-se de

    Tinha Preterito imperfeyto do Verbo

    Ter. Eu tivera amado he plusquam

    perfeyto do Verbo Ter.

    M. E donde se compoem os Futuros

    compostos?

    D. Dos Futuros do Verbo Ter, e do presente

    Hey Haja.

    M. Dizey exemplos.

    D. Terey amado; Posto que eu tivera amado

    saõ Futuros compostos, e compoem-se

    de Terey, e Tiver Futuros

    do Verbo Ter. Hey de amar, Posto que

    eu haja de amar.

    M. E o Verbo Ter serve tambem de Auxiliar

    a si mesmo?

    D. Sim.

    M. Dizey exemplos.

    D. Tenho tido, Tenha tido, Tive tido.

    M. E esta Grammatica, e modo de fallar

    pelos compostos do Participio, e

    Verbo Auxiliar Ter he Latina, ou

    naõ?

    D. Naõ he Latina, he Barbara.

    M. E de q~ lingua a tomou a Portugueza?

    D. Dizem que da Tudesca.

    [82]

    CAPITULO VI.

    Das Conjugaçoens dos Verbos Regulares.

    Mestre. Qual he o Verbo Regular?

    D. Verbo Regular he o que se conforma

    com as regras das Conjugaçoens

    commuas em tudo.

    M. E quantas saõ as Conjugaçoens commuas?

    D. Na lingua Portugueza quatro.

    M. Quaes saõ?

    D. A primeyra dos Verbos, que no Infinitivo

    acabaõ em Ar, assim como,

    Amar. A segunda dos acabados em

    Er assim como Conhecer. A terceyra

    dos acabados em Ir assim como,

    Admittir. A quarta dos acabados em

    Or assim como, Por.

    M. E que he necessario para saber essas

    Conjugaçoens?

    D. Basta de cada huma saber a Conjugaçaõ

    de algum Verbo Regular.

    M. Porque?

    D. Porque sabida a Conjugaçaõ de qualquer

    Verbo Regular ficaõ sabidas as

    [83]

    Conjugaçoens de todos os mais

    Verbos Regulares daquella terminaçaõ.

    M. Dizey exemplos.

    D. Sabida a Conjugaçaõ do Verbo Amar

    ficaõ sabidas todas as de mais Conjugaçoens

    dos Verbos acabados no

    Infinitivo em Ar assim como Estimar,

    Louvar, &c. Sabida a Conjugaçaõ

    do Verbo Conhecer ficaõ sabidas

    as demais dos Verbos Regulares acabadas

    no Infinitivo em Er assim como

    Colher, ler &c. Sabida a Conjugaçaõ

    do Verbo Admittir ficaõ sabidas

    as demais Conjugaçoens dos

    Verbos Regulares acabados em Ir

    assim como, Reprimir.

    M. E de que sorte sabida a Conjugaçaõ

    de hum Verbo ficaõ sabidas as demais

    Conjugaçoens dos Verbos Regulares

    daquella Conjugaçaõ?

    D. Isso se dirà adiante, quando tratarmos

    das formaçoens.

    M. Dizey as Conjugaçoens dos Verbos

    acabados no Infinitivo em Ar.

    D. Conjugaçaõ dos Verbos em Ar, e primeyra

    Conjugaçaõ de Verbo Amar.

    [84]

    Modo Indicativo.

    Presente.

    N. S.

    Eu amo.

    Tu amas.

    Elle ama.

    N. P.

    Nós amamos.

    Vós amais.

    Elles amaõ.

    Preterito imperfeyto.

    N. S.

    Eu amava.

    Tu amavas.

    Elle amava.

    N. P.

    Nós amavamos.

    Vós amaveis.

    Elles amavaõ.

    Preterito perfeyto.

    N. S.

    Eu amey.

    Tu amaste.

    Elle amou.

    N. P.

    Nós amàmos.

    Vòs amastes.

    Elles amaraõ.

    [85]

    Preterito perfeyto composto.

    N. S.

    Eu tenho amado.

    Tu tens amado.

    Elle tem amado.

    N. P.

    Nòs temos amado.

    Vòs tendes amado.

    Elles tem amado.

    Preterito plusquam perfeyto.

    N. S.

    Eu amàra.

    Tu amàras.

    Elle amara.

    N. P.

    Nòs amaramos.

    Vòs amàreis.

    Elles amàraõ.

    Preterito plusquam perfeyto composto.

    N. S.

    Eu tinha amado.

    Tu tinhas amado.

    Elle tinha amado.

    N. P.

    Nós tinhamos amado.

    Vós tinheis amado.

    Elles tinhaõ amado.

    [86]

    Futuro.

    N. S.

    Eu amarey.

    Tu amaràs.

    Elle amará.

    N. P.

    Nòs amaremos.

    Vós amareis.

    Elles amaraõ.

    Futuro composto.

    N. S.

    Eu hey de amar.

    Tu has de amar.

    Elle ha de amar.

    N. P.

    Nós havemos de amar.

    Vòs haveis de amar.

    Elles haõ de amar.

    Futuro composto.

    N. S.

    Eu terey amado.

    Tu terás amado.

    Elle terá amado.

    N. P.

    Nòs teremos amado.

    Vós tereis amado.

    Elles teraõ amado.

    [87]

    M. Tendes dito o modo Indicativo, dizey

    agora as propriedades, deste

    modo.

    D. Affirmar, e mostrar como acima disse,

    e por isso he modo principal do

    Verbo.

    M. E porque só puzestes o Preterito

    perfeyto composto: Eu tenho

    amado, e naõ puzestes tambem outro

    composto, que he Eu tive amado?

    D. Porque nesta Grammatica quer Um.

    que eu responda ajustando a conformidade

    do Portuguez com o Latim,

    para assim se facilitarem os

    meninos pelas regras da lingua Portugueza,

    a aprenderem as regras, e

    uso da lingua Latina, e estes Preteritos

    compostos activos naõ os ha no

    Latim, alèm de que os mais usados

    no Portuguez saõ sòmente os que

    tenho dito.

    M. E porque nos Futuros dissestes dous

    Futuros compostos?

    D. Porque todo o Verbo tem dous Futuros

    compostos, hum do Verbo Haver,

    e do Infinitivo do Verbo conjugado

    [88]

    com a preposiçaõ De, outro;

    composto do Verbo Ter, e do participio

    do Verbo conjugado.

    M. Prosegui a conjugaçaõ do Verbo Amar.

    Modo Imperativo.

    Presente.

    N. S.

    Ama tu.

    Ame elle.

    N. P.

    Amemos nós.

    Amay vòs.

    Amem elles.

    Futuro.

    N. S.

    Amarás tu.

    Amará elle.

    N. P.

    Amaremos nós.

    Amareis vós.

    Amaraõ elles.

    M. Tendes dito o modo Imperativo, dizeyme

    agora porque naõ dissestes

    os preteritos deste modo?

    D. Porque os naõ tem.

    M. E porque naõ dissestes deste modo as

    [89]

    primeyras pessoas do Singular?

    D. Porque as naõ tem.

    M. E qual he a razaõ?

    D. A razaõ he: porque significa, comõ jà

    disse, a maneyra de quem manda, e

    ninguem se manda a si mesmo.

    M. E porque naõ tem Preteritos?

    D. Porque a propriedade deste modo he

    significar a maneyra de quem manda,

    e o Passado, ou Preterito jà se

    naõ pode mandar.

    M. E porque razaõ neste modo, e só neste,

    pondes o Pronome depois do

    Verbo?

    D. Para mais claramente se ver o modo

    de mandar, porque quando mandamos

    alguem, ordinariamente se

    poem o verbo primeyro, e depois o

    pronome Ama tu, vay tu.

    M. O Futuro, que dissestes no Indicativo,

    saõ as mesmas palavras, que do

    Imperativo, dizey pois como se

    ha de conhecer que modo he o a

    que pertencem?

    D. Conhece-se pelo sentido, que tem na

    oraçaõ; se o sentido he de affirmar,

    e mostrar, pertencem ao Indicativo,

    [90]

    se de mandar ao Imperativo.

    M. Continuay, a conjugaçaõ do verbo

    Amar.

    Modo Subjunctivo.

    Presente.

    N. S.

    Posto que eu ame.

    Tu ames.

    Elle ame.

    N. P.

    Posto que nós amemos.

    Vós amais.

    Elles amem.

    Preterito imperfeyto.

    N. S.

    Posto q~ eu amàra.

    Tu amàras.

    Elle amàra.

    N. P.

    Posto q~ nós amaramos.

    Vòs amareis.

    Elles amàraõ.

    Preterito imperfeyto segundo.

    N. S.

    Eu amaria.

    Tu amarias.

    [91]

    Elle amaria.

    N. P.

    Nós amariamos.

    Vós amarieis.

    Elles amariaõ.

    Preterito prefeyto.

    N. S.

    Posto q~ eu amasse.

    Tu amasses.

     Elle amasse.

    N. P.

    Posto q~ nós amassemos.

    Vós amasseis.

    Elles amassem.

    Preterito perfeyto composto.

    N. S.

    Posto que eu tenha amado.

    Tu tenhas amado.

    Elle tenha amado.

    N. P.

    Posto que nós tenhamos amado.

    Vós tenhais amado.

    Elles tenhaõ amado.

    Preterito plusquam perfeyto.

    N. S.

    Posto q~ eu amára.

    Tu amáras.

    Elle amára.

    N. P.

    Posto q~ nós amaramos.

    Vós amareis.

    Elles amàraõ.

    [92]

    Preterito plusquam perfeyto composto.

    N. S.

    Posto que eu tivera

    amado.

    Tu tiveras amado.

    Elle tivera amado.

    N. P.

    Posto que nós tiveramos

    amado.

    Vòs tivereis amado.

    Elles tiveraõ amado.

    Futuro.

    N. S.

    Como eu amar.

    Tu amares.

    Elle amar.

    N. P.

    Como nòs amarmos.

    Vós amardes.

    Elles amarem.

    Futuro composto.

    N. S.

    Posto que eu haja

    de amar.

    Tu hajas de amar.

    Elle haja de amar.

    N. P.

    Posto que nòs hajamos

    de amar.

    Vòs hajais de amar.

    Elles hajaõ de amar.

    [93]

    Futuro composto.

    N. S.

    Como eu tiver

     

    amado.

    Tu tiveres amado.

    Elle tiver amado.

    N. P.

    Como nòs tivermos

    amado.

    Vos tiverdes amado.

    Elles tiverem amado.

    M. Tendes ditto o Subjunctivo. Dizey

    agora as propriedades deste modo.

    D. As propriedades deste modo saõ significar

    com hum certo geyto de Futuro,

    depender de outra palavra, e

    ordinariamente he regido de algum

    outro Verbo para fazer sentido perfeyto.

    M. Dizey exemplo.

    D. Eu ame he Subjunctivo, mas as taes

    palavras naõ fazem sentido sem

    se lhe ajuntar alguma outra palavra

    do Verbo que o reja, assim como

    Permitta Deos que eu ame.

    M. Tem mais propriedades o modo Subjunctivo?

    D. Tem tambem outra propriedade, que

    [94]

    os seus tempos naõ tem firmeza,

    porque a mesma palavra, que humas

    vezes significa tempo Presente,

    outras significa tempo Futuro segundo

    as particulas, conjunçoens,

    e Verbos de que he regido, e tambem

    os Preteritos perfeytos, Imperfeytos,

    e Plusquam perfeytos,

    se confundem na Oraçaõ, e se poem

    huns pelos outros.

    M. Dizey exemplos.

    D. Posto que eu trabalhe naõ estou cançado.

    Nesta Oraçaõ a palavra Trabalhe,

    està no presente, porque he rigida

    do Verbo Estou, que està no presente.

    Porem nestoutra Oraçaõ,

    Posto que eu trabalhe, naõ hey de cançar.

    A palavra Trabalhe està no

    Futuro porque he regida do Futuro

    hey de cançar.

    M. E porque puzestes no Subjunctivo

    dous preteritos imperfeytos?

    D. Porque nas linguas vulgares os taes

    Subjunctivos tem os taes Preteritos

    imperfeytos, ainda que como jà

    disse se confundem muytas vezes, e

    servem huns pelos outros.

    [95]

    M. E porque puzestes as mesmas palavras

    no primeyro Imperfeyto, e no

    Plusquam perfeyto?

    D. Porque servem para hum, e para outro.

    M. E porque em huns tempos puzestes a

    conjunçaõ Posto que, em outros a conjunçaõ

    Como.

    D. Porque nem todos os tempos do Subjunctivo

    se podem accomodar com

    qualquer conjunçaõ.

    M. E porque no segundo Imperfeyto naõ

    puzestes conjunçaõ?

    D. Porque ordinariamente na Oraçaõ a

    leva depois, e para o sentido naõ

    necessita della antes.

    M. Dizey exemplo.

    D. Eu ame: naõ faz sentido algum; nem

    Eu ame a Pedro, posto que me aborrece.

    Eu amaria Sim faz algum sentido,

    ainda que sempre depende da

    particula; e conjunçaõ, que lhe vay

    diante. Eu amaria a Pedro, posto que

    me aborrecesse.

    M. Continuay a Conjugaçaõ do Verbo

    Amar.

    [96]

    Modo Infinitivo.

    Presente          Amar.

    Preterito prefeyto       Ter amado.

    Futuro Haver de amar.

    Gerundio        Amando.

    Participio, q~ serve aos compostos    Amado.

    M. Que propriedades tem este modo?

    D. Naõ, affirmar, nem declarar nada por

    si, e ser sempre regido de outro

    Verbo.

    M. Dizey exemplo.

    D. Amar. Esta palavra por si só, nem

    affirma, nem declara alguma cousa,

    e para affirmar, ou declarar alguma

    cousa ha de ser regida de outro Verbo,

    assim como Quero amar. Onde

    a palavra Amar he regida do Verbo

    Quero.

    M. E porque naõ puzestes no Infinitivo

    pessoas?

    D. Porque as naõ tem. Como Verbo.

    M. Dizey a Conjugaçaõ passiva do Verbo

    Amar.

    D. Conjugaçaõ passiva do Verbo Amar.

    [97]

    Modo Indicativo.

    Presente.

    N. S.

    Eu sou amado.

    Tu es amado.

    Elle he amado.

    N. P.

    Nós somos amados.

    Vós sois amados.

    Elles saõ amados.

    Preterito imperfeyto.

    N. S.

    Eu era amado.

    Tu eras amado.

    Elle era amado.

    N. P.

    Nós eramos amados.

    Vós ereis amados.

    Elles eraõ amados.

    Preterito perfeyto.

    N. S.

    Eu fuy amado.

    Tu foste amado.

    Elle foy amado.

    N. P.

    Nós fomos amados.

    Vós fostes amados.

    Elles foraõ amados.

    [98]

    Preterito perfeyto composto.

    N. S.

    Eu tenho sido

    amado.

    Tu tens sido amado.

    Elle tem sido amado.

    N. P.

    Nós temos sido

    amados.

    Vós tendes sido amados.

    Elles tem sido

    amados.

    Preterito plusquam perfeyto.

    N. S.

    Eu fora amado.

    Tu foras amado.

    Elle fora amado.

    N. P.

    Nós foramos amados.

    Vós foreis amados.

    Elles foraõ amados.

    Preterito plusquam perfeyto composto.

    N. S.

    Eu tinha sido

    amado.

    Tu tinhas sido

    amado.

    [99]

    Elle tinha sido

    amado.

    N. P.

    Nós tinhamos sido

    amados.

    Vós tinheis sido amados.

    Elles tinhaõ sido

    amados.

    Futuro.

    N. S.

    Eu serey amado.

    Tu seràs amado.

    Elle serà amado.

    N. P.

    Nós seremos amados.

    Vós sereis amados.

    Elles seraõ amados.

    Futuro composto.

    N. S.

    Eu hey de ser

    amado.

    Tu has de ser

    amado.

    Elle ha de ser

    amado.

    N. P.

    Nós havemos de ser

    amados.

    Vós haveis de ser

    amados.

    Elles haõ de ser

    amados.

    Futuro composto.

    N. S.

    Eu terey sido

    [100]

    amado.

    Tu teràs sido

    amado.

    Elle terà sido

    amado.

    N. P.

    Nòs teremos sido

    amados.

    Vòs tereis sido

    amados.

    Elles teraõ sido

    amados.

    Modo Imperativo.

    Presente.

    N. S.

    Se tu amado.

    Seja elle amado.

    N. P.

    Sejamos nós amados.

    Sede vós amados.

    Sejaõ elles amados.

    Futuro.

    N. S.

    Serás tu amado.

    Serà elle amado.

    N. P.

    Seremos nòs amados.

    Sereis vòs amados.

    Seraõ elles amados.

    [101]

    Modo Subjunctivo.

    Presente.

    N. S.

    Posto que eu seja

    amado.

    Tu sejas amado.

    Elle seja amado.

    N. P.

    Posto que nòs sejamos

    amados.

    Vós sejais amados.

    Elles sejaõ amados.

    Preterito imperfeyto.

    N. S.

    Posto que eu fora

    amado.

    Tu foras amado.

    Elle fora amado.

    N. P.

    Posto que nòs foramos

    amados.

    Vós foreis amados.

    Elles foraõ amados.

    Preterito imperfeyto.

    N. S.

    Eu seria amado.

    Tu serias amado.

    Elle seria amado.

    N. P.

    Nós seriamos amados.

    Vós serieis amados.

    Elles seriaõ amados.

    [102]

    Preterito perfeyto.

    N. S.

    Posto que eu fosse

    amado.

    Tu fosses amado.

    Elle fosse amado.

    N. P.

    Posto que nós fossemos

    amados.

    Vòs fosseis amados.

    Elles fossem amados.

    Preterito perfeyto composto.

    N. S.

    Posto que eu tenha

    sido amado.

    Tu tenhas sido

    amado.

    Elle tenha sido

    amado.

    N. P.

    Posto que nós tenhamos

    sido amados.

    Vós tenhais sido

    amados.

    Elles tenhaõ sido

    amados.

    Preterito plusquam perfeyto.

    N. S.

    Posto que eu fora

    amado.

    N. P.

    Posto que nós foramos

    amados.

    [103]

    Preterito plusquam perfeyto composto.

    N. S.

    Posto que eu tivera

    sido amado.

    Tu tiveras sido

    amado.

    Elle tivera sido

    amado.

    N. P.

    Posto que nòs tiveramos

    sido amados.

    Vòs tivéreis sido

    amados.

    Elles tiveraõ sido

    amados.

    Futuro.

    N. S.

    Como eu for

    amado.

    Tu fores amado.

    Elle for amado.

    N. P.

    Como nós formos

    amados.

    Vòs fordes amados.

    Elles forem amados.

    [104]

    Futuro composto.

    N. S.

    Posto que eu haja de

    ser amado.

    Tu hajas de ser

    amado.

    Elle haja de ser

    amado.

    N. P.

    Posto que nòs hajamos

    de ser amados.

    Vòs hajais de ser

    amados.

    Elles hajaõ de ser

    amados.

    Futuro composto.

    N. S.

    Como eu tiver sido

    amado.

    Tu tiveres sido

    amado.

    Elle tiver sido

    amado.

    N. P.

    Como nós tivermos sido

    amados.

    Vós tiverdes sido amados.

    Elles tiverem sido

    amados.

    Modo Infinitivo.

    Presente          ser amado.

    Preterito          Ter sido amado.

    [105]

    Futuro Haver de ser amado.

    Gerundio        Sendo amado.

    Participio.       Amado.

    M. Tendes dito a Conjugaçaõ Passiva do

    Verbo Amar, dizey agora os tempos

    da tal Conjugaçaõ saõ simplices,

    ou compostos?

    D. Todos saõ compostos. Huns saõ compostos

    sómente do Verbo Ser, e do

    Passivo do Verbo conjugado, assim

    como, Sou amado. Era amado, &c.

    outros saõ compostos do Verbo Ter

    e do Participio do Verbo Ser, e do

    Participio do Verbo conjugado; assim

    como, Tenho sido amado &c. a estes

    he q~ na Conjugaçaõ Passiva chamamos

    compostos.

    M. Dizey a Conjugaçaõ dos Verbos, que

    no Infinitivo acabaõ em Er.

    D. Conjugaçaõ dos Verbos em Er, e segunda

    conjugaçaõ.

    Conjugaçaõ do Verbo Receber.

    Modo Indicativo.

    Presente.

    N. S.

    Eu recebo.

    [106]

    Tu recebes.

    Elle recebe.

    N. P.

    Nòs recebemos.

    Vós recebeis.

    Elles recebem.

    Preterito imperfeyto.

    N. S.

    Eu recebia.

    Tu recebias.

    Elle recebia.

    N. P.

    Nòs recebiamos.

    Vós recebieis.

    Elles recebiaõ.

    Preterito perfeyto.

    N. S.

    Eu recebi.

    Tu recebeste.

    Elle recebeo.

    N. P.

    Nós recebemos.

    Vòs recebestes.

    Elles receberaõ.

    Preterito perfeyto composto.

    N. S.

    Eu tenho recebido, &c.

    [107]

    Preterito plusquam perfeyto.

    N. S.

    Eu recebera.

    Tu receberas.

    Elle recebera.

    N. P.

    Nòs receberamos.

    Vòs recebereis.

    Elles receberaõ.

    Preterito plusquam perfeyto composto.

    N. S.

    Eu tinha recebido, &c.

    Futuro.

    N. S.

    Eu receberey.

    Tu receberás.

    Elle receberá.

    N. P.

    Nós receberemos.

    Vòs recebereis.

    Elles receberaõ.

    [108]

    Futuro composto.

    N. S.

    Eu hey de receber, &c.

    Futuro composto.

    N. S.

    Eu terey recebido, &c.

    Modo Imperativo.

    Presente.

    N. S.

    Recebe tu.

    Receba elle.

    N. P.

    Recebamos nòs.

    Recebey vòs.

    Recebaõ elles.

    Futuro.

    N. S.

    Receberàs tu.

    [109]

    Receberà elle.

    N. P.

    Receberemos nòs.

    Recebereis vòs.

    Receberaõ elles.

    Modo Subjunctivo.

    Presente.

    N. S.

    Posto q~ eu receba.

    Tu recebas.

    Elle receba.

    N. P.

    Posto q~ nòs recebamos.

    Vòs recebais.

    Elles recebaõ.

    Preterito imperfeyto.

    N. S.

    Posto q~ eu recebera.

    Tu recebèras.

    Elle recebèra.

    N. P.

    Posto q~ nòs receberamos.

    Vòs recebereis.

    Elles recebèraõ.

    Preterito imperfeyto segundo.

    N. S.

    Eu receberia.

    Tu receberias.

    [110]

    Elle receberia.

    N. P.

    Nòs receberiamos.

    Vòs receberieis.

    Elles receberiaõ.

    Preterito perfeyto.

    N. S.

    Posto que eu recebesse.

    Tu recebesses.

    Elle recebesse.

    N. P.

    Posto que nós recebessemos.

    Vòs recebesseis.

    Elles recebessem.

    Preterito perfeyto composto.

    N. S.

    Posto que eu tenha recebido.

    Preterito plusquam perfeyto.

    N. S.

    Posto que eu recebera.

    Tu receberas.

    Elle recebera.

    N. P.

    Posto que nòs receberamos.

    Vòs recebereis.

    Elles receberaõ.

    [111]

    Preterito plusquam perfeyto composto.

    N. S.

    Posto que eu tivera recebido, &c.

    Futuro.

    N. S.

    Como eu receber.

    Tu receberes.

    Elle receber.

    N. P.

    Como nòs recebermos.

    Vós receberdes.

    Elles receberem.

    Futuro composto.

    N. S.

    Posto que eu haja de receber.

    Futuro composto.

    N. S.

    Como eu tiver recebido.

    [112]

    Modo Infinitivo.

    Presente          Receber.

    Preterito          Ter recebido.

    Futuro             Haver de receber.

    Gerundio        Recebendo.

    Participio para os compostos  Recebido.

    Conjugaçaõ passiva do Verbo Receber.

    Presente          Eu sou recebido, &c.

    Preterito imperfeyto   Eu era recebido, &c.

    Preterito perfeyto       Eu fuy recebido, &c.

    Prefeyto composto     Eu tenho sido recebido.

    Preterito plusquam perfeyto   Eu fora

    recebido, &c.

    Plusquam perfeyto composto Eu tinha

    sido recebido, &c.

    Futuro Eu serey recebido, &c.

    Futuro cõposto           Eu hey de ser recebido, &c.

    Futuro cõposto           Eu terey sido recebido, &c.

    Modo Imperativo.

    Presente          Se tu recebido, &c.

    Futuro Seràs tu recebido, &c.

    [113]

    Modo Subjunctivo.

    Presente          Posto que eu seja recebido, &c.

    Pret. imperfeyto         Posto q~ eu fora recebido, &c.

    Preterito imperfeyto seg.        Eu receberia, &c.

    Preterito perfeyto       Posto q~ eu fosse recebido.

    Perfeyto composto                 Posto que eu tenha sido

    recebido, &c.

    Preterito plusquam perfeyto   Posto que eu

    fora recebido, &c.

    Plusquam perfeyto composto Posto que eu

    tivera sido recebido, &c.

    Futuro Como eu for recebido, &c.

    Futuro composto        Posto que eu haja de ser

    recebido, &c.

    Futuro composto        Como eu tiver sido recebido,

    &c.

    Modo Infinitivo.

    Presente          Ser recebido.

    Preterito perfeyto       Ter sido recebido.

    Futuro Haver de ser recebido.

    Gerundio        Sendo recebido.

    Participio        Recebido.

    M. Dizey a Conjugaçaõ dos Verbos acabados

    [114]

    no Infinitivo em Ir.

    D. Conjugaçaõ terceyra dos Verbos em

    Ir.

    Conjugaçaõ do Verbo Admittir.

    Modo Indicativo.

    Presente.

    N. S.

    Eu admitto.

    Tu admittes.

    Elle admitte.

    N. P.

    Nòs admittimos.

    Vòs admittis.

    Elles admittem.

    Preterito imperfeyto.

    N. S.

    Eu admittia.

    Tu admittias.

    Elle admittia.

    N. P.

    Nòs admittiamos.

    Vòs admittieis.

    Elles admittiaõ.

    Preterito perfeyto.

    N. S.

    Eu admitti.

    [115]

    Tu admittiste.

    Elle admittio.

    N. P.

    Nòs admittimos.

    Vòs admittistes.

    Elles admittiraõ.

    Preterito perfeyto composto.

    N. S.

    Eu tenho admittido, &c.

    Preterito plusquam perfeyto.

    N. S.

    Eu admittira.

    Tu admittiras.

    Elle admittira.

    N. P.

    Nòs admittiramos.

    Vòs admittireis.

    Elles admittiraõ.

    Plusquam perfeyto composto.

    Eu tinha admittido, &c.

    [116]

    Futuro.

    N. S.

    Eu admittirey.

    Tu admittiràs.

    Elle admittirà.

    N. P.

    Nós admittiremos.

    Vòs admittireis.

    Elles admittiraõ.

    Futuro composto.

    N. S.

    Eu hey de admittir, &c.

    Futuro composto.

    N. S.

    Eu terey admittido, &c.

    Modo Imperativo.

    Presente.

    N. S.

    Admitte tu.

    [117]

    Admitta elle.

    N. P.

    Admittamos nòs.

    Admitti vòs.

    Admittaõ elles.

    Futuro.

    N. S.

    Admittiràs tu.

    Admittirà elle.

    N. P.

    Admittiremos nòs.

    Admittireis vòs.

    Admittiraõ elles.

    Modo Subjunctivo.

    Presente.

    N. S.

    Posto que eu admitta.

    Tu admittas.

    Elle admitta.

    N. P.

    Posto que nòs admittamos.

    Vòs admittais.

    Elles admittaõ.

    Preterito imperfeyto.

    N. S.

    Posto que eu admittira.

    N. P.

    Posto que nòs admittiramos.

    [118]

    Tu admittiras.

    Elle admittira.

    N. P.

    Vòs admittireis.

    Elles admittiraõ.

    Preterito imperfeyto segundo.

    N. S.

    Eu admittiria.

    Tu admittirias.

    Elle admittiria.

    N. P.

    Nós admittiriamos.

    Vós admittirieis.

    Elles admittiriaõ.

    Preterito perfeyto.

    N. S.

    Posto que eu admittisse.

    Tu admitisses.

    Elle admitisse.

    N. P.

    Posto nòs que admittissemos.

    Vòs admittisseis.

    Elles admittissem.

    Preterito perfeyto composto.

    N. S.

    Posto eu tenha admittido, &c.

    [119]

    Preterito plusquam perfeyto.

    N. S.

    Posto que eu admittira.

    Tu admittiras.

    Elle admittira.

    N. P.

    Posto que nós admittiramos.

    Vòs admittireis.

    Elles admittiraõ.

    Preterito plusquam perfeyto composto.

    N. S.

    Posto que eu tivera admittido, &c.

    Futuro.

    N. S.

    Como eu admittir.

    Tu admittires.

    Elle admittir.

    N. P.

    Como nòs admittirmos.

    Vós admittirdes.

    Elles admittirem.

    [120]

    Futuro composto.

    N. S.

    Posto que eu haja de admittir, &c.

    Futuro composto.

    N. S.

    Como eu tiver admittido, &c.

    Infinitivo.

    Presente          Admittir.

    Preterito perfeyto       Ter admittido.

    Futuro Haver de admittir.

    Gerundio        Admittindo.

    Participio, q~ serve aos cõpostos Admittido.

    Conjugaçaõ passiva do Verbo Admittir.

    Modo Indicativo.

    Presente          Eu sou admittido, &c.

    Preterito imperfeyto   Eu era admittido, &c.

    [121]

    Preterito perfeyto       Eu fuy admittido, &c.

    Preterito perfeyto composto  Eu tenho sido

    admittido, &c.

    Preterito plusquam perfeyto   Eu fora admittido,

    &c.

    Preterito plusquam perfeyto composto         

    Eu tivera sido admittido, &c.

    Futuro Eu serey admittido, &c.

    Futuro cõposto           Eu hey de ser admittido.

    Futuro cõposto           Eu terey sido admittido, &c.

    Modo Imperativo.

    Presente          Se tu admittido, &c.

    Futuro Seras tu admittido, &c.

    Modo Subjunctivo.

    Presente          Posto que eu seja admittido, &c.

    Preterito imperfeyto   Eu seria admittido.

    Preterito imperfeyto seg. Posto que eu fora

    admittido, &c.

    Pret. perfeyto. Posto q~ eu fosse admittido, &c.

    Preterito perfeyto composto. Posto que eu

    tenha sido admittido, &c.

    Preterito plusquam perfeyto   Posto que eu

    fora admittido, &c.

    [122]

    Preterito plusquam perfeyto composto         

    Posto que eu tivera sido admittido, &c.

    Futuro Como eu for admittido, &c.

    Futuro composto        Posto que eu haja de ser

    admittido, &c.

    Futuro composto        Como eu tiver sido admittido,

    &c.

    Modo Infinitivo.

    Presente          Ser admittido.

    Preterito perfeyto       Ter sido admittido.

    Futuro Haver de ser admittido.

    Gerundio        Sendo admittido.

    Participio        Admittido.

    Conjugaçaõ dos Verbos em Or.

    Conjugaçaõ do Verbo Por.

    Modo Indicativo.

    Presente.

    N. S.

    Eu ponho.

    Tu poens.

    Elle poem.

    N. P.

    Nós pomos.

    Vós pondes.

    Elles poem.

    [123]

    Preterito imperfeyto.

    N. S.

    Eu punha.

    Tu punhas.

    Elle punha.

    N. P.

    Nós punhamos.

    Vòs punheis.

    Elles punhaõ.

    Preterito perfeyto.

    N. S.

    Eu puz.

    Puzeste.

    Poz.

    N. P.

    Nòs puzemos.

    Puzestes.

    Puzeraõ.

    Preterito perfeyto composto.

    N. S.

    Eu tenho posto, &c.

    [124]

    Preterito plusquam perfeyto.

    N. S.

    Eu puzera.

    Puzeras.

    Puzera.

    N. P.

    Puzeramos.

    Puzereis.

    Puzeraõ.

    Preterito plusquam perfeyto composto.

    N. S.

    Eu tinha posto, &c.

    Futuro.

    N. S.

    Eu porey.

    Poràs.

    Porà.

    N. P.

    Poremos.

    Poreis.

    Poraõ.

    Futuro composto        Eu hey de pòr, &c.

    Futuro composto        Eu terey posto, &c.

    [125]

    Modo Imperativo.

    Presente.

    N. S.

    Poem tu.

    Ponha elle.

    N. P.

    Ponhamos nòs.

    Ponde vòs.

    Ponhaõ elles.

    Futuro.

    N. S.

    Poràs tu.

    Porà elle.

    N. P.

    Poremos nòs.

    Poreis vòs.

    Poraõ elles.

    Modo Subjunctivo.

    Presente.

    N. S.

    Posto que eu ponha.

    Tu ponhas.

    Elle ponha.

    N. P.

    Posto que nos ponhamos.

    Vós ponhais.

    Elles ponhaõ.

    [126]

    Imperfeyto primeyro.

    N. S.

    Posto q~ eu puzera.

    Tu puzeras.

    Elle puzera.

    N. P.

    Posto q~ nòs puzeramos.

    Vòs puzereis.

    Elles puzeraõ.

    Preterito imperfeyto segundo.

    N. S.

    Eu poria.

    Tu porias.

    Elle poria.

    N. P.

    Nòs poriamos.

    Vòs porieis.

    Elles poriaõ.

    Preterito perfeyto.

    N. S.

    Posto que eu puzesse.

    Tu puzesses.

    Elle puzesse.

    N. P.

    Posto que nós puzessemos.

    Vòs puzesseis.

    Elles puzessem.

    [127]

    Preterito perfeyto composto.

    N. S.

    Posto que eu tenha posto, &c.

    Preterito plusquam perfeyto.

    N. S.

    Posto que eu puzera.

    Tu puzeras.

    Elle puzera.

    N. P.

    Posto que nòs puzeramos.

    Vòs puzereis.

    Elles puzeraõ.

    Preterito plusquam perfeyto composto.

    N. S.

    Posto que eu tivera posto, &c.

    [128]

    N. S.

    Como eu puzer.

    Tu puzeres.

    Elle puzer.

    N. P.

    Como nòs puzermos.

    Vòs puzerdes.

    Elles puzerem.

    Futuro composto.

    N. S.

    Posto que eu haja de por, &c.

    Futuro composto.

    N. S.

    Como eu tiver posto, &c.

    Modo Infinitivo.

    Presente          Por.

    Preterito perfeyto       Ter posto.

    Futuro Haver de pòr.

    Gerundio        Pondo.

    [129]

    Participio        Posto.

    Conjugaçaõ passiva do Verbo Por.

    Modo Indicativo.

    Presente          Eu sou posto.

    Preterito imperfeyto   Eu era posto.

    Preterito perfeyto       Eu fuy posto.

    Preterito perfeyto composto  Eu tenho sido

    posto.

    Preterito plusquam perfeyto   Eu fora posto.

    Preterito plusquam perfeyto cõposto Eu

    tivera sido posto.

    Futuro Eu serey posto.

    Futuro composto        Eu hey de ser posto.

    Futuro composto        Eu terey sido posto.

    Modo Imperativo.

    Presente          Se tu posto, &c.

    Futuro             Seras tu posto, &c.

    Modo Subjunctivo.

    Presente          Posto que eu seja posto, &c.

    Preterito imperfeyto   Eu seria posto, &c.

    [130]

    Preterito imperfeyto   Eu fora posto, &c.

    Preterito perfeyto       Posto q~ eu fosse posto, &c.

    Preterito perfeyto composto  Posto que eu

    tenha sido posto, &c.

    Preterito plusquam perfeyto   Posto que eu

    fora posto, &c.

    Preterito plusquam perfeyto composto         

    Posto que eu tivera sido posto, &c.

    Futuro Como eu for posto, &c.

    Futuro composto        Posto que eu haja de ser

    posto, &c.

    Futuro composto        Como eu tiver sido posto,

    &c.

    Modo Infinitivo.

    Presente          Ser posto.

    Preterito imperfeyto   Ter sido posto.

    Futuro Haver de ser posto.

    Gerundio        Sendo posto.

    Participio        Posto.

    [131]

    CAPITULO VII

    Das formaçoens dos Verbos Regulares.

    Mestre. Que cousa he formaçaõ?

    D. Formaçaõ he por huma palavra

    fazer outra palavra.

    M. Dizey exemplo.

    D. Quero formar o tempo presente do

    Indicativo do Verbo Estimar, busco

    o tempo presente do Verbo Amar,

    e por elle vou formando as palavras

    do Verbo Estimar, Amo, Estimo, Amas,

    Estimas, &c.

    M. E quantas castas ha de formaçoens?

    D. Duas.

    M. Quaes saõ?

    D. Formaçaõ por semelhança, e formaçaõ

    por participaçaõ.

    M. Que cousa he nas palavras participaçaõ?

    D. He ter huma palavra parte de outra

    palavra.

    M. E que cousa he formaçaõ por semelhança?

    D. He quando faço a formaçaõ de hum

    [132]

    Verbo, ou nome à semelhança da

    formaçaõ de outro Verbo, ou nome.

    M. Dizey exemplo.

    D. Quero formar o presente do Verbo

    Andar, e vejo como se forma o presente

    do Verbo Amar, e segundo

    este se forma, assim vou eu fomando

    o presente do Verbo Andar.

    M. E que cousa he formaçaõ por participaçaõ?

    D. He quando da palavra, ou pessoa de

    hum Verbo formo outra do mesmo

    Verbo.

    M.Dizey exemplo.

    D. Quando formo v. g. a segunda pessoa

    do Preterito perfeyto do Verbo

    Ando da primeyra do mesmo Preterito,

    dizendo que a segunda pessoa

    Andaste se fórma da primeyra Andey,

    mudando o ey em aste.

    CAPITULO VIII.

    Das formaçoens dos Verbos.

    Mestre.  Como se formaõ as palavras

    do Verbo?

    [133]

    D. Por mudança de letras da raiz do Verbo.

    M. Qual he a raiz do Verbo?

    D. He o Infinitivo.

    M. Dizey exemplo.

    D. Amar he raiz do Verbo Amo, Conhecer

    do Verbo Conheço.

    M. Porque he o Infinitivo raiz do Verbo?

    D. Porque delle nascem os tempos, e as

    pessoas do Verbo.

    M. Dizey exemplo.

    D. Do Infinitivo Amar nasce o presente

    Amo, o Imperfeyto Amava, o perfeyto

    Amey, &c.

    M. E de que letras consta, e se compoem

    a raiz do Verbo?

    D. De letra terminativa, de letra figurativa,

    de letras iniciaes.

    M. Quaes saõ as letras iniciaes?

    D. Saõ as letras, porque principia a raiz,

    e estaõ antes da letra figurativa.

    M. Dizey exemplos.

    D. As letras iniciaes da raiz Escrever saõ

    Escre, porque por ellas principia a

    raiz Escrever, e estaõ antes da figurativa.

    M. Porque se chamaõ Iniciaes?

    [134]

    D. Porque Inicial quer dizer cousa, que

    principia.

    M. E nas formaçoens das palavras do

    Verbo mudaõ-se as letras iniciaes?

    D. Naõ.

    M. Dizey exemplo.

    D. Da raiz Escrever forma-se o presente

    Escrevo, e naõ se mudaõ as letras

    iniciaes Escre.

    M. Porque?

    D. Porque o officio das letras iniciaes he

    correrem por todos os modos, tempos,

    e pessoas do Verbo.

    M. Dizey exemplo.

    D. As letras iniciaes da raiz Escrever saõ

    Escre, estas correm todos os modos,

    tempos, e pessoas do Verbo. Escrevo,

    Escrevia, Escreveste, &c.

    M. E qual he a letra figurativa da raiz do

    Verbo?

    D. He a letra, q~ està antes da terminaçaõ.

    M. Dizey exemplos.

    D. A letra figurativa da raiz Amar he a

    letra m, porque està antes da terminaçaõ

    ar; a figurativa da raiz Conhecer

    he c porque està antes da terminaçaõ

    er.

    [135]

    M. E a letra figurativa muda-se nas formaçoens?

    D. Naõ.

    M. Dizey exemplos.

    D. Da raiz Escrever forma-se o presente

    Escrevo, e naõ se muda a figurativa

    V. Da raiz Amar forma-se o presente

    Amo, e naõ se muda a figurativa

    m.

    M. Porque?

    D. Porque o officio da figurativa he correr

    todos os modos, tempos, e pessoas

    dos Verbos, e ajuntar as letras

    iniciaes com as terminaçoens.

    M. Dizey exemplo.

    D. Da raiz Amar a figurativa he m, e

    esta he figurativa em todas as demais

    palavras do Verbo, assim como

    Amo, Amavas, Amando, &c.

    M. E quando a raiz do Verbo tem só tres

    letras, qual he então a figurativa, e

    quaes as iniciaes?

    D. Entaõ a figurativa serve tambem de

    inicial, assim como na raiz Ler.

    M. E qual he a terminaçaõ, ou letras terminativas

    da raiz?

    D. He a ultima syllaba, ou duas ultimas

    [136]

    letras da raiz.

    M. Dizey exemplo.

    D. Amar. A syllaba, e letras ar he terminaçaõ,

    e letras terminativas. Conhecer.

    A syllaba er he terminaçaõ.

    M. E porque se chamaõ estas letras terminativas?

    D. Porque Terminativa quer dizer cousa,

    que poem fim, e as taes letras saõ as

    que fazem o fim da raiz.

    M. E a terminaçaõ da raiz muda-se nas

    formaçoens?

    D. Sim.

    M. Dizey exemplo.

    D. Da raiz Amar formo o presente Amo,

    e mudo a syllaba ar na letra o.

    M. E porque se muda a terminaçaõ nas

    formaçoens?

    D. Porque o officio da terminaçaõ he

    differençar, e fazer entre si diversas

    as pessoas, numeros, tempos, e modos

    do Verbo.

    M. Dizey exemplo.

    D. Amar. Esta palavra se differença pela

    terminaçaõ ar de todas as demais

    palavras do Verbo, assim como Amo,

    Amavas, Amando.

    [137]

    M. Acima dissestes, que a figurativa era a

    que differençava entre si os Verbos,

    como dizeis agora que he a terminaçaõ?

    D. A figurativa differença entre si hum

    Verbo do outro Verbo, a terminaçaõ

    differença entre si as palavras

    do mesmo Verbo.

    M. Dizey exemplo.

    D. O Verbo Amar differença-se do Verbo

    Arar pela figurativa m, porem a

    raiz Amar differença-se das mais

    palavras do seu Verbo pela terminaçaõ

    ar, assim como Amo, Amas, Amava,

    &c.

    M. E como se fazem as formaçoens

    dos tempos, e pessoas?

    D. Fazem-se mudando-se a terminaçaõ

    da raiz na terminaçaõ do tempo,

    ou pessoa, que quero formar.

    M. Dizey exemplo.

    D. Quero formar o preterito perfeyto do

    Indicativo do Verbo Estimar, mudo

    a terminaçaõ ar na terminaçaõ

    ey, e formo o preterito perfeyto do

    Indicativo Estimey.

    M. E como se sabe qual he o tempo, ou

    [138]

    pessoa, que quero formar?

    D. Sabe-se por dous modos, ou pelas terminaçoens

    do Verbo exemplar,

    ou pelas taboas das terminaçoens.

    M. E como se sabe pelas terminaçoens do

    Verbo exemplar?

    D. Sabe-se, procurando no Verbo exemplar

    a pessoa, o tempo, e o modo,

    que se intenta formar, vendo qual

    he a sua terminaçaõ.

    M. Dizey exemplos.

    D. Quero formar o Preterito perfeyto do

    Indicativo do Verbo Estimar, vou

    buscar o exemplar da terminaçaõ, ou

    conjugaçaõ ar, q~ he o Verbo Amar,

    e neste Verbo busco o Preterito perfeyto

    do Indicativo, e vejo que a sua

    terminaçaõ he ey, aste, ou, &c. Am-ey,

    Am-aste, Am-ou; e mudo a terminaçaõ

    da raiz Estimar em ey, aste, ou.

    Estim-ei, Estim-aste, Estim-ou.

    M. E como se sabe nos tempos do Verbo

    exemplar qual he a sua terminaçaõ?

    D. Sabe-se pela letra figurativa do Verbo.

    M. De que sorte?

    D. Todas as letras, ou syllabas, que estaõ

    [139]

    depois da figurativa do Verbo, saõ terminaçaõ.

    M. Dizey exemplo.

    D. O Preterito imperfeyto do Indicativo

    Am-ava, Am-avas, Am-ava, &c. As

    terminaçoens saõ ava, avas, ava,

    porq~ estaõ depois da figurativa m.

    M. Dissestes acima que a figurativa se

    conhecia pela terminaçaõ, como

    agora dizeis que as terminaçoens

    se conhecem pela figurativa?

    D. A figurativa do Verbo conhece-se pela

    terminação da raiz, porém as demais

    terminaçoes conhecem-se pela

    figurativa.

    M. Porque?

    D. Porque as terminaçoens mudaõ-se em

    todos os tempos, e pessoas do Verbo,

    e a figurativa sempre he a mesma.

    M. Dizey exemplo.

    D. Na raiz Amar conhece-se que a figurativa

    do Verbo Amar he m, porque

    he a letra, que està antes da terminaçaõ,

    ou ultima syllaba da raiz, e nos

    demais tempos, e pessoas, como

    Amey, Amamos, Amareis, conhece-se

    [140]

    que a terminaçaõ he ey, amos, areis,

    porque saõ as syllabas, ou letras, que

    estaõ depois da figurativa do Verbo,

    que he m.

    M. Que cousa he taboa das terminaçoens

    do Verbo?

    D. Taboa das terminaçoens he lista de

    todas as pessoas, numeros, tempos,

    e modos do Verbo.

    M. E quantas taboas ha de terminaçoens

    do Verbo?

    D. Na lingua Portugueza ha tres.

    M. Quaes saõ?

    D. A das terminaçoens do Verbo acabado

    no Infinitivo em ar, dos acabados

    em er, a dos acabados em ir.

    M. E como se formaõ os Verbos por essas

    taboas?

    D. Com muyta facilidade. Quero formar

    a primeyra pessoa do futuro Indicativo

    do Verbo Estimar, busco na

    primeyra taboa a terminaçaõ do tal

    futuro, e pessoa, acho que he arey,

    ajunto esta terminaçaõ com as letras

    iniciaes, e figurativa do Verbo Estimar,

    que saõ Estim, e faço Estimarey.

    [141]

    M. Componde essas tres taboas.

    D. Taboa das terminaçoens dos Verbos

    em ar.

    Tempos.

    Presente.

    Singular.

    Pessoas.

    1 o

    2 as

    3 a

    Plurar.

    Pessoas.

    1 amos

    2 ais

    3 aõ

    Imperfeyto.

    Singular.

    ava

    avas

    ava

    Plurar

    avamos

    aveis

    avaõ

    Perfeyto.

    Singular

    ey

    aste

    ou

    Plurar

    amos

    astes

    araõ

    Plusquam.

    Singular

    ara

    aras

    ara

    Plurar

    aramos

    areis

    araõ

    Futuro.

    Singular

    arey

    aras

    ara

    Plurar

    aremos

    areis

    araõ

    Imperativo presente

    Singular

    1

    2 a

    3 e

    Plurar

    1 emos

    2 ay

    3 em

    [+ 1 linha por erro?:

    araõ arà

    aremos areis arão]

    Subjunctivo presente.

    Singular

    e

    es

    e

    Plurar

    emos

    eis

    em

    Imperfeyto primeyro.

    Singular

    ara

    aras

    ara

    Plurar

    arámos

    areis

    araõ

    Imperfeyto segundo.

    Singular

    aria

    arias

    aria

    Plurar

    ariamos

    arieis

    ariaõ

    Perfeyto.

    Singular

    asse

    asses

    asse

    Plurar

    assemos

    asseis

    assem

    [142]

    Plusquam.

    Singular

    ara

    aras

    ara

    Plurar

    aramos

    areis

    araõ

    Futuro.

    Singular

    ar

    ares

    ar

    Plurar

    armos

    ardes

    arem

    Infinito presente.        ar.

    Gerundio.       ando.

    Participio.       ado.

    Taboa das terminaçõess dos Verbos em er.

    Indicativo presente

    Singular

    Pessoas.

    1 o

    2 es

    3 e

    Plurar

    Pessoas.

    1 emos

    2 eis

    3 em

    Imperfeyto.

    Singular

    ia

    ias

    ia

    Plurar

    iamos

    ieis

    iaõ

    Perfeyto.

    Singular

    i

    este

    eo

    Plurar

    emos

    estes

    eraõ

    Plusquam.

    Singular

    era

    eras

    era

    Plurar

    eramos

    ereis

    eraõ

    Futuro.

    Singular

    erèy

    eràs

    erà

    Plurar

    eremos

    erèis

    eraõ

    Imperativo presente.

    Singular

    1

    2 e

    3 a

    Plurar

    1 amos

    2 ey

    3 aõ

    Futuro.

    Singular

    1

    2 eràs

    3 erà

    Plurar

    1 erèmos

    2 erèis

    3 eràõ

    [143]

    Subjunctivo presente.

    Singular

    a

    as

    a

    Plurar

    amos

    ais

    Imperfeyto primeyro.

    Singular

    era

    eras

    era

    Plurar

    eramos

    ereis

    eraõ

    Imperfeyto segundo.

    Singular

    eria

    erias

    eria

    Plurar

    eriamos

    erieis

    eriaõ

    Perfeyto.

    Singular

    esse

    esses

    esse

    Plurar

    essemos

    esseis

    essem

    Plusquam.

    Singular

    era

    eras

    era

    Plurar

    eramos

    ereis

    eraõ

    Futuro.

    Singular

    er

    eres

    er

    Plurar

    ermos

    erdes

    erem

    Infinitivo presente.     er.

    Gerundio.       endo.

    Participio.       ido.

    Taboa das terminações dos Verbos em ir.

    Indicativo presente.

    Singular.

    Pessoas.

    1 o

    2 es

    3 e

    Plurar

    1 imos

    2 is

    3 em

    Imperfeyto.

    Singular

    ia

    ias

    ia

    Plurar

    iamos

    ieis

    iaõ

    Perfeyto.

    Singular

    i

    iste

    io

    Plurar

    imos

    istes

    iraõ

    [144]

    Plusquam.

    Singular

    ira

    iras

    ira

    Plurar

    iramos

    ireis

    iraõ

    Futuro

    Singular

    irey

    iràs

    irà

    Plurar

    irèmos

    irèis

    iraõ

    Imperativo presente.

    Singular

    2 e

    3 a

    Plurar

    1 amos

    2 i

    3 aõ

    Futuro.

    Singular

    2 iràs

    3 irà

    Plurar

    1 iremos

    2 ireis

    3 iraõ

    Subjunctivo presente.

    o

    as

    a

    Plurar

    amos

    ais

    Imperfeyto primeyro.

    ira

    iras

    ira

    Plurar

    iramos

    ieis

    iraõ

    Imperfeyto segundo.

    Singular

    iria

    irias

    iria

    Plurar

    iriamos

    irieis

    iriaõ

    Perfeyto.

    Singular

    isse

    isses

    isse

    Plurar

    issemos

    isseis

    issem

    Plusquam.

    Singular

    ira

    iras

    ira

    Plurar

    iramos

    ireis

    iraõ

    Futuro.

    Singular

    ir

    ires

    ir

    Plurar

    irmos

    irdes

    irem

    Infinitivo presente.     ir

    Gerundio.       indo.

    Participio.       ido.

    M. E porque naõ ha taboa nas terminaçoens

    dos Verbos acabados em or, q~

    disssestes fazem a quarta cõjugaçaõ?

    [145]

    D. Porque verdadeyramente na lingua

    Portugueza só ha tres conjugações,

    porque em or só acaba o Verbo Por,

    e os seus compostos compor, dispor,

    &c. e assim propriamente naõ formaõ

    conjugaçaõ diversa, mas saõ

    Verbos irregulares; porem como o

    Verbo Por tem muytos compostos,

    e na lingua Latina ha quatro conjugaçoens,

    por isso disse acima haver

    tambem quatro na Portugueza,

    para observar o mais que posso semelhança

    entre a lingua Latina, e

    Portugueza; e advirta-se que os

    compostos do Verbo Por todos se

    cõjugaõ como o Verbo Por, de quem

    se compoem.

    M. As formaçoens, que tendes dito, servem

    para todos os tempos, ou só

    para alguns?

    D. Servem sómente para todos os tempos

    simplices.

    M. E donde se formaõ os tempos compostos?

    D. Formaõ-se dos Verbos auxiliares, e

    do Participio do Verbo principal, ou

    do Infinitivo, e da preposiçaõ De.

    [146]

    M. Dizey exemplo.

    D. Eu tenho amado he tempo composto

    do Verbo Amar, e forma-se do presente

    do Verbo auxiliar Ter, e do

    Participio Amado do Verbo principal

    Amar.

    M. E de que tempos do Verbo auxiliar se

    formaõ?

    D. Isso jà fica dito no Capitulo VI.

    M. Tendes mais que dizer das formaçoens

    dos Verbos Regulares?

    D. Mais ha que dizer, mas isto basta.

    CAPITULO IX.

    Das castas dos Verbos.

    Mestre. Quantas castas ha de Verbos?

    D. Muytas.

    M. Dizey algumas.

    D. Ha verbos Activos, Passivos, Neutros.

    M. Qual he o Activo?

    D. He o que significa huma cousa, que eu

    faço a outrem, assim como Quebrar,

    Cozer, Assar.

    M. E para o Verbo ser activo he necessario

    [147]

    que essa cousa seja somente feyta

    no nosso pensamento, ou he necessario

    mais?

    D. Basta ser feyta a outrem, ainda que

    seja só no nosso pensamento.

    M. Dizey exemplos.

    D. Amar he Verbo Activo, porque significa

    cousa, que eu faço a outrem, ainda

    que a cousa, que eu faço a outrem,

    he dentro no meu pensame~to.

    M. Qual he o Verbo Passivo?

    D. He o que significa cousa, que outrem

    me faz a mim, assim como Ser amado,

    ser assado, ser entendido.

    M. Qual he o Verbo Neutro?

    D. Verbo Neutro he o que significa huma

    cousa, que eu faço, mas naõ a faço a

    outrem, nem outrem ma faz a

    mim, assim como Rir; ou significa

    alguma cousa, que me succede, mas

    naõ a faço a outrem; assim como

    Adoecer, Enfraquecer, Desmayar, &c.

    M. Continuay as castas dos Verbos.

    D. Ha Verbos pessoaes, e impessoaes.

    M. Quaes saõ?

    D. Pessoaes saõ os que tem tres pessoas

    em ambos os numeros, assim como

    [148]

    Amo, Amas, Ama, &c. Impessoaes

    os que só tem a terceyra pessoa,

    assim como Acontece.

    M. Continuay as castas dos Verbos.

    D. Ha Verbos Reciprocos.

    M. Quaes saõ?

    D. Saõ os que significaõ de sorte, que fazem

    a acçaõ da pessoa entre, e torne

    para a mesma pessoa, assim como

    Callarse, Levantarse.

    M. E como se conhecem facilmente esses

    Verbos?

    D. Conhecem-se, porque quando fora da

    Oraçaõ repetimos o seu Infinitivo,

    ou raiz lhe accrescentamos a particula

    se, assim como Callarse, Doerse.

    M. Continuay as castas dos Verbos.

    D. Ha Verbos Simplices, e Compostos.

    M. Quaes saõ?

    D. Simplices os que constaõ de huma só

    palavra; assim como Amar. Compostos

    os que constaõ de duas, assim

    como Des-figurar, Tres-ler.

    M. Continuay as castas dos Verbos.

    D. Ha Verbos Irregulares, e Regulares.

    M. Quaes saõ?

    D. Regulares saõ os que se conjugaõ pelas

    [149]

    regras, que demos no Capitulo

    passado, Irregulares os que se affastaõ

    dellas.

    M. E quantos saõ os Irregulares.

    D. Muytos, mas os principaes saõ estes.

    Na primeyra cõjugaçaõ Dar, Estar.

    Na segunda Dizer, Fazer, Poder,

    Ver, Querer, Saber, Trazer. Na terceyra

    Ir, Vir.

    M. Esses Verbos saõ Irregulares em todos

    os tempos, e modos, ou só em

    alguns?

    D. Huns saõ em todos, outros saõ em alguns,

    mais, ou menos.

    M. Dizey as conjugaçoens dos tempos

    Irregulares desses Verbos.

    D. Conjugaçaõ dos Verbos Irregulares.

    Conjugaçaõ do Verbo Dar.

    Modo Indicativo.

    Presente.

    Eu dou.

    Tu dàs.

    Elle dà.

    Nòs damos

    Vòs dais

    Elles daõ.

    Imperfeyto.

    Eu dava, &c.

    [150]

    Perfeyto.

    Eu dey

    Tu dèste

    Elle deu

    Nòs dèmos

    Vós dèstes

    Elles deraõ.

    Plusquam perfeyto.

    Eu dera

    Tu deras

    Elle dera

    Nòs deramos

    Vòs dereis

    Elles deraõ

    Futuro.

    Eu darey, &c.

    Modo Imperativo.

    Presente          Dà tu, &c.

    Futuro.                        Daras tu, &c.

    Modo Subjunctivo.

    Presente.

    Posto que eu dè, &c.

    Imperfeyto.

    Posto que eu dera.

    Imperfeyto segundo.

    Eu daria

    Tu darias

    Elle daria

    Nòs dariamos

    Vòs darieis

    Elles dariaõ

    [151]

    Preterito perfeyto.

    Posto que eu desse

    Tu dèsses

    Elle desse

    Nòs dessemos

    Vòs desseis

    Elles dessem

    Plusquam perfeyto.

    Eu dera, &c.

    Futuro.

    Como eu der

    Tu deres

    Elle der

    Nòs dermos

    Vòs derdes

    Elles derem

    Modo Infinitivo.

    Presente.         Dar.

    Gerundio.       Dando.

    Participio.       Dado.

    Conjugaçaõ do Verbo Estar.

    Modo Indicativo.

    Presente.

    Eu estou

    Tu estàs

    Elle està

    Nòs estamos

    Vòs estais

    Elles estaõ

    Preterito imperfeyto.

    Eu estava, &c.

    [152]

    Preterito perfeyto.

    Eu estive

    Tu estiveste

    Elle esteve

    Nòs estivemos

    Vòs estivestes

    Elles estiveraõ

    Plusquam perfeyto.

    Eu estivera

    Tu estiveras

    Elle estivera

    Nòs estiveramos

    Vòs estivereis

    Elles estiveraõ

    Futuro.

    Eu estarey, &c.

    Modo Imperativo.

    Presente.

    Està tu

    Esteja elle

    Estejamos nòs

    Estay vòs

    Estejaõ elles

    Futuro.

    Estaras tu, &c.

    Modo Subjunctivo.

    Presente.

    Posto que eu esteja

    Tu estejas

    Elle esteja

    Nòs estejamos

    Vòs estejais

    Elles estejaõ

    [153]

    Preterito imperfeyto primeyro.

    Posto que eu estivera

    Tu estiveras

    Elle estivera

    Nòs estiveramos

    Vòs estivereis

    Elles estiveraõ

    Preterito imperfeyto segundo.

    Eu estaria

    Tu estarias

    Elle estaria

    Nòs estariamos

    Vòs estarieis

    Elles estariaõ

    Preterito perfeyto.

    Posto que eu estivesse

    Tu estivesses

    Elle estivesse

    Nòs estivessemos

    Vòs estivesseis

    Elles estivessem

    Preterito plusquam.

    Eu estivera, &c.

    Futuro.

    Como eu estiver

    Tu estiveres

    Elle estiver

    Nós estivermos

    Vós estiverdes

    Elles estiverem

    Modo Infinitivo.

    Presente.         Estar.

    Gerundio.       Estando.

    Participio.       Estado.

    [154]

    Conjugaçaõ do Verbo Dizer.

    Modo Indicativo.

    Presente.

    Eu digo

    Tu dizes

    Elle diz

    Nòs dizemos

    Vós dizeis

    Elles dizem

    Preterito imperfeyto.

    Eu dizia, &c.

    Preterito perfeyto.

    Eu disse

    Tu disseste

    Elle disse

    Nòs dissemos

    Vós dissestes

    Elles disseraõ

    Plusquam perfeyto.

    Eu dissera, &c.

    Futuro.

    Eu direy

    Tu diràs

    Elle dirà

    Nòs diremos

    Vòs direis

    Elles diraõ

    Modo Imperativo.

    Presente.

    Dize tu

    Diga elle

    Digamos nòs

    Dizey vòs

    Digaõ elles

    [155]

    Futuro.

    Diràs tu

    Dirà elle

    Diremos nòs

    Direis vòs

    Diraõ elles

    Modo Subjunctivo.

    Presente.

    Posto que eu diga, &c.

    Preterito imperfeyto.

    Posto que eu dissera, &c.

    Imperfeyto segundo.

    Eu diria, &c.

    Preterito perfeyto.

    Posto que eu dissesse, &c.

    Preterito plusquam perfeyto.

    Eu dissera, &c.

    Futuro.

    Como eu disser, &c.

    Modo Infinitivo.

    Presente.         Dizer.

    Gerundio.       Dizendo.

    Participio.       Dito.

    [156]

    Modo Indicativo.

    Presente.

    Eu faço

    Tu fazes

    Elle faz

    Nós fazemos

    Vós fazeis

    Elles fazem

    Preterito imperfeyto.

    Eu fazia, &c.

    Preterito perfeyto.

    Eu fiz

    Tu fizeste

    Elle fez

    Nós fizemos

    Vós fizestes

    Elles fizeraõ

    Plusquam.

    Eu fizera, &c.

    Futuro.

    Eu farey

    Tu faràs

    Elle farà

    Nós faremos

    Vós fareis

    Elles faraõ

    Imperativo.

    Presente.

    Faze tu

    Faça elle

    Façamos nòs

    Fazey vòs

    Façaõ elles

    [157]

    Futuro.

    Faràs tu

    Farà elle

    Faremos nòs

    Fareis vòs

    Faraõ elles

    Subjunctivo.

    Presente.

    Posto que eu faça, &c.

    Imperfeyto.

    Posto que eu fizera, &c.

    Imperfeyto segundo.

    Eu faria, &c.

    Perfeyto.

    Posto que eu fizesse, &c.

    Plusquam.

    Posto que eu fizera, &c.

    Futuro.

    Como eu fizer

    Tu fizeres

    Elle fizer

    Nós fizermos

    Vós fizerdes

    Elle fizerem

    Modo Infinitivo.

    Presente.         Fazer.

    Gerundio.       Fazendo.

    Participio.       Feyto.

    [158]

    Conjugaçaõ do Verbo Poder.

    Modo Indicativo.

    Presente.

    Eu posso

    Tu pòdes

    Elle pòde

    Nós podemos

    Vós podeis

    Elles pòdem

    Preterito imperfeyto.

    Eu podia, &c.

    Perfeyto.

    Eu pude

    Tu pudeste

    Elle pode

    Nòs pudemos

    Vós pudestes

    Elles puderaõ

    Plusquam.

    Eu pudera, &c.

    Futuro.

    Eu poderey

    Tu poderàs

    Elle poderà

    Nòs poderemos

    Vós podereis

    Elles poderaõ

    Subjunctivo.

    Presente.         Posto que eu possa, &c.

    Imperfeyto.     Posto que eu pudera, &c.

    Imp. segundo. Eu poderia, &c.

    Perfeyto.         Posto que eu pudesse, &c.

    Plusquam perf.           Eu pudera, &c.

    Futuro.                        Como eu puder, &c.

    [159]

    Infinitivo.

    Presente.         Poder.

    Gerundio.       Podendo.

    Conjunçaõ do Verbo Saber.

    Indicativo Presente.

    Eu sey

    Tu sabes

    Elle sabe

    Nós sabemos

    Vós sabeis

    Elles sabem

    Preterito imperfeyto.  Eu sabia, &c.

    Perfeyto.         Eu soube, &c.

    Plusquam perfeyto.    Eu soubera, &c.

    Futuro.                       Eu saberey, &c.

    Imperativo.

    Presente.

    Sabe tu

    Sayba elle

    Saybamos nòs

    Sabey vòs

    Saybaõ elles

    Futuro.

    Saberàs tu

    Saberà elle

    Saberemos nòs

    Sabereis vòs

    Saberaõ elles

    [160]

    Subjunctivo.

    Presente.         Posto que eu sayba, &c.

    Imperf. primeyro.       Posto que eu soubera, &c.

    Imperf. segundo.        Eu saberia, &c.

    Perfeyto.         Posto q~ eu soubesse, &c.

    Plusquam perf.           Eu soubera, &c.

    Futuro.

    Como eu souber

    Tu souberes

    Elle souber

    Nós soubermos

    Vós souberdes

    Elles souberem

    Infinitivo.

    Presente.         Saber.

    Gerundio.       Sabendo.

    Participio.       Sabido.

    Conjugaçaõ do Verbo Trazer.

    Indicativo.

    Presente.

    Eu trago

    Tu trazes

    Elle traz

    Nós trazemos

    Vós trazeis

    Elles trazem

    Imperfeyto.

    Eu trazia, &c.

    [161]

    Perfeyto.

    Eu trouxe

    Tu trouxeste

    Elle trouxe

    Nós trouxemos

    Vós trouxestes

    Elles trouxeraõ.

    Plusquam.

    Eu trouxera, &c.

    Futuro.

    Eu trarey

    Tu traras

    Elle trarà

    Nós traremos

    Vós trareis

    Elles traraõ

    Imperativo.

    Presente.

    Traze tu

    Traga elle

    Tragamos nòs

    Trazey vòs

    Tragaõ elles

    Futuro.

    Traràs tu

    Trarà elle

    Traremos nòs

    Trareis vòs

    Traraõ elles

    Subjunctivo.

    Presente.         Posto que eu traga, &c.

    Imperfeyto.     Posto que eu trouxera, &c.

    Imperfeyto seg. Eu traria, &c.

    Perfeyto.         Posto que eu trouxesse, &c.

    Plusquam.       Posto que eu trouxera, &c.

    [162]

    Futuro.

    Como eu trouxer

    Tu trouxeres

    Elle trouxer

    Nós trouxermos

    Vós trouxerdes

    Elles trouxerem

    Infinitivo.

    Presente.         Trazer.

    Gerundio.       Trazendo.

    Participio.       Trazido.

    Conjugaçaõ do Verbo Ir.

    Modo Indicativo.

    Presente.

    Eu vou

    Tu vas

    Elle vay

    Nós vamos

    Vós ides

    Elles vaõ

    Imperfeyto      Eu jà, &c.

    Perfeyto.         Eu fuy, &c.

    Plusquam.       Eu fora, &c.

    Futuro.                        Eu irey, &c.

    Modo Imperativo.

    Presente.

    Vay tu.

    Va elle

    Vamos nòs

    Ide vòs

    Vaõ elles

    [163]

    Futuro.

    Iràs tu

    Irá elle

    Iremos nòs

    Ireis vòs

    Iraõ elles.

    Subjunctivo.

    Presente.

    Posto que eu vá

    Tu vás

    Elle vá

    Nós vamos

    Vós vades

    Elles vaõ

    Imperfeyto primeyro. Posto que eu fora, &c.

    Imperfeyto segundo.  Eu iria, &c.

    Perfeyto.         Posto q~ eu fosse, &c.

    Plusquam.       Posto que eu fora, &c.

    Futuro.

    Como eu for

    Tu fores

    Elle for

    Nós formos

    Vós fordes

    Elles forem

    Infinitivo.

    Presente.         Ir.

    Gerundio.       Indo.

    Participio.       Ido.

    [164]

    Conjugaçaõ do Verbo Vir.

    Modo Indicativo.

    Presente.

    Eu venho

    Tu vens

    Elle vem

    Nòs vimos

    Vòs vindes

    Elles vem

    Imperfeyto.

    Eu vinha, &c.

    Perfeyto.

    Eu vim

    Tu vieste

    Elle veyo

    Nòs viemos

    Vòs viestes

    Elles vieraõ

    Plusquam.

    Eu viera, &c.

    Futuro.

    Eu virey

    Tu viràs

    Elle virà

    Nòs viremos

    Vòs vireis

    Elles viraõ

    Imperativo.

    Presente.

    Vem tu

    Venha elle

    Venhamos nòs

    Vinde vòs

    Venhaõ elles

    [165]

    Futuro.

    Viràs tu

    Virà elle

    Viremos nòs

    Vireis vòs

    Viraõ elles

    Subjunctivo.

    Presente.         Posto que eu venha, &c.

    Imperf. primeyro.       Posto que eu viera, &c.

    Imperf. segundo.        Eu viria, &c.

    Perfeyto.         Posto que eu viesse, &c.

    Plusquam.       Posto que eu viera, &c.

    Futuro.

    Como eu vier

    Tu vieres

    Elle vier

    Como nòs viermos

    Vòs vierdes

    Elles vierem

    Infinitivo.

    Presente.         Vir.

    Gerundio.       Vindo.

    Participio.       Vindo.

    Conjugaçaõ do Verbo Ver.

    Modo Indicativo.

    Presente.

    N. S.

    Eu vejo

    Tu vès

    Elle vè

    N. P.

    Nòs vemos

    Vòs vedes

    Elles vem

    [166]

    Imperfeyto.

    Eu via, &c.

    Perfeyto.

    Eu vi, &c.

    Plusquam perfeyto.

    Eu vira, &c.

    Futuro.

    Eu verey, &c.

    Imperativo.

    Presente.

    N. S.

    Vè tu

    Veja elle.

    N. P.

    Vejamos nòs

    Vede vòs

    Vejaõ elles

    Futuro.

    Veràs tu, &c.

    Subjunctivo.

    Presente.

    N. S.

    Posto que eu veja

    Tu vejas

    Elle veja

    N. P.

    Nòs vejamos

    Vòs vejais

    Elles vejaõ

    [167]

    Imperfeyto primeyro.

    N. S.

    Posto que eu vira

    Tu viras

    Elle vira

    N. P.

    Nòs viramos

    Vòs vireis

    Elles viraõ

    Imperfeyto segundo.

    Eu veria, &c.

    Perfeyto.

    N. S.

    Posto que eu visse

    Tu visses

    Elle visse

    N. P.

    Nòs vissemos

    Vòs visseis

    Elles vissem

    Plusquam perfeyto.

    Posto que eu vira, &c.

    Futuro.

    N. S.

    Como eu vir

    Tu vires

    Elle vir

    N. P.

    Nós virmos

    Vòs virdes

    Elles virem

    Indicativo.

    Presente.         Ver.

    Gerundio.       Vendo.

    Participio.       Visto.

    [168]

    Conjugaçaõ do Verbo Querer.

    Modo Indicativo.

    Presente.

    Eu quero, &c.

    Imperfeyto.

    Eu queria, &c.

    Perfeyto.

    N. S.

    Eu quiz

    Tu quizeste

    Elle quiz

    N. P.

    Nòs quizemos

    Vós quizestes

    Elles quizeraõ

    Plusquam perfeyto.

    Eu quizera, &c.

    Futuro.

    Eu quererey, &c.

    Imperativo.

    Presente.

    N. S.

    Quere tu

    Queyra elle

    N. P.

    Queyramos nós

    Querey vós

    Queyraõ elles

    [169]

    Subjunctivo.

    Presente.

    N. S.

    Posto que eu queyra

    Tu queyras

    Elle queyra

    N. P.

    Nòs queyramos

    Vòs queyrais

    Elles queyraõ

    &c.

    CAPITULO X.

    Dos Adverbios, Proposiçoens, e Conjunçoens.

    Mestre. Qual he a quarta casta de palavras,

    de que usamos na lingua

    Portugueza?

    D. Participios.

    M. Que cousa he participio?

    D. Isso jà fica dito no Capitulo IV.

    M. Qual he a quinta casta de palavras?

    D. Adverbios.

    M. Que cousa he Adverbio?

    D. Adverbio he huma palavra, que naõ

    tem tempos, nem se declina por casos,

    e junta a outra palavra determina,

    e declara a sua significaçaõ.

    [170]

    M. Dizey exemplo.

    D. Combate valerosamente, a palavra Valerosamente

    he adverbio, porque junta

    com o Verbo combater declara que

    se combate Valerosamente, isto he

    com valor.

    M. E porque estas palavras se chamaõ

    Adverbios?

    D. Porque ordinariamente se poem junto

    ao Verbo, assim como Combate valerosamente.

    Tambem se poem cõ os adjectivos,

    assim como Muyto bom, mas sempre

    leva Verbo, ou se lhe entende.

    M. E quantas castas ha de Adverbios?

    D. Muytas.

    M. Dizey as principaes.

    D. Ha adverbios de lugar, assim como Onde,

    Donde, Por onde, Para onde. Ha adverbios

    de tempo; assim como

    Hoje, Amanhãa, Hontem, Antehontem.

    Ha adverbios de perguntar, assim como

    Porque? Porque razaõ? Como

    assim? Ha Adverbios de affirmar,

    assim como Sim, Certamente, Na verdade,

    Sem duvida. Ha Adverbios de

    negar, assim como Naõ, De nenhum

    [171]

    modo. Ha Adverbios de mostrar,

    assim como Eis-aqui, Eis-alli. Ha

    adverbios de chamar, assim como Olà,

    O, Sciô. Ha Adverbios de comparar,

    assim como Do mesmo modo, Da mesma

    sorte. Ha adverbios de quantidade,

    assim como Muyto, Pouco,

    Mais, Menos.

    M. Continuay as castas de Adverbios.

    D. Ha Adverbios, que saõ nomes com

    seu artigo, assim como Ás escondidas,

    Ás claras; Á tarde. Ha Adverbios, q~

    saõ nomes com proposiçaõ, assim

    como De noyte, De dia, Sem duvida.

    M. Continuay as castas de Adverbios.

    D. Ha Adverbios, que se formaõ dos nomes

    adjectivos, e adverbios, que

    naõ se formaõ dos nomes adjectivos.

    M. Dizey exemplos.

    D. Grandemente. He Adverbio, e forma-se

    do adjectivo grande, e da particula

    mente. Onde naõ se forma.

    M. E como se formaõ os Adverbios dos

    adjectivos?

    D. Formaõ-se ordinariamente dos adjectivos

    na terminaçaõ feminina,

    [172]

    accrescentandolhe a palavra mente.

    M. Dizey exemplo.

    D. Clarame~te, forma-se do adjectivo Clara,

    e da particula mente, que se lhe accrescenta.

    M. Qual he a sexta casta de palavras, que

    ha na lingua Portugueza?

    D. As Preposiçoens.

    M. Que cousa he Preposiçaõ?

    D. Preposiçaõ he huma palavra, que se

    poem antes das outras palavras, ou junta, ou

    separada.

    M. Dizey exemplos.

    D. Para Roma. A palavra Para he Preposiçaõ,

    e està posta antes do nome

    Roma. Condiscipulo. A palavra Com

    he Preposiçaõ, e està junta ao nome

    Discipulo.

    M. E quantas castas ha de Preposiçoens?

    D. Ha Preposiçoens separaveis, e inseparaveis.

    M. Quaes saõ as separaveis?

    D.Saõ as que podem vir separadas de outras

    palavras, assim como Para Roma.

    M. E quantas saõ essas Preposiçoens?

    S. Saõ muytas.

    [173]

    M. Dizey algumas.

    D. Alem, Aquem, Antes, Em, Junto,

    Perto, Por, Para, e outras.

    M. Quaes saõ as inseparaveis?

    D. Saõ as que naõ podem vir na Oraçaõ

    sem estarem unidas, e juntas com

    outra palavra.

    M. Dizey exemplo.

    D. Refazer. A Preposiçaõ Re està junta à

    palavra fazer, e naõ pode vir na Oraçaõ

    separada.

    M. E quantas saõ essas Preposiçoens?

    D. Muytas.

    M. Dizey algumas.

    D. Re, De, Ex, Extra, Intro, Per, Pro, e

    outras, a mayor parte dellas tiradas

    do Latim.

    M. E as Preposiçoens regem caso?

    D. As separadas sim.

    M. E que casos regem?

    D. Accusativo, e Ablativo.

    M. E quaes saõ as que regem Accusativo,

    e Ablativo?

    D. Isso diremos na Syntaxe.

    M. E ha algumas Preposiçoens, que tenhaõ

    alguma particularidade?

    D. Sim.

    [174]

    M. Quaes saõ?

    D. Estas De, Em, Por, A.

    M. Que particularidade tem a Preposiçaõ

    De?

    D. Tem a particularidade, que na apparencia

    muda de letras, tem numeros,

    e terminaçaõ, humas vezes masculina,

    outras feminina, humas vezes se

    diz De, outras Da.

    M. E porque dizeis que isso he na apparencia?

    D. Isso he embaraçado, e naõ he para os

    principiantes.

    M. E que particularidades tem a Preposiçaõ

    Em?

    D. A Preposiçaõ Em muytas vezes se

    muda nestas particulas No, Na,

    Nos, Nas.

    M. Dizey exemplo.

    D. Vive em sua casa. Vive na sua casa. Vive

    em o seu cazal. Vive no seu cazal.

    M. E que particularidade tem a Preposiçaõ

    Por?

    D. A Preposiçaõ Por muytas vezes se muda

    nas particulas Pelo, Pelos, Pela,

    Pelas.

    M. Dizey exemplo.

    [175]

    D. Veyo por mar, ou  veyo pelo mar.

    M. E que particularidade tem a preposiçaõ

    A?

    D. Tem a particularidade, que se poem

    em lugar de outras preposiçoens.

    M. Dizei de que preposiçoens se poem,

    e que casos pede?

    D. Poem-se em lugar da preposiçaõ Para,

    e entaõ pede accusativo, assim como

    Fuy a Roma, ou Para Roma. Deylhe

    a beber agua, ou para beber. Poem-se

    em lugar da preposiçaõ Por, e pede

    accusativo, assim como O arratel de

    uvas val a dez reis, ou por dez reis.

    Poem-se em lugar da preposiçaõ

    Com, ou De, e pede accusativo, assim

    como Morro a fome, de fóme, ou com

    fóme. Poem-se em lugar da preposiçaõ

    em, e pede accusativo, assim

    como Foy-se ao pòr do Sol, que val o

    mesmo, que se dissesse Foy-se no pòr

    do Sol. Esta preposiçaõ A he a que

    na lingua Portugueza tem mais difficuldade

    para fazermos os seus casos

    semelhantes à Grãmatica Latina.

    M. Tendes mais que dizer das Preposiçoens?

    [176]

    D. Mais ha que dizer, mas isto basta.

    M. Qual he a setima casta de palavras,

    que se usa na lingua Portugueza?

    D. As Conjunçoens.

    M. Que cousa he Conjunçaõ?

    D. Conjunçaõ he huma particula, que

    serve de unir o sentido, e palavras

    da Oraçaõ.

    M. Dizey exemplos.

    D. Eu, e Pedro somos Religiosos. Nesta

    Oraçaõ a particula e serve de Cõjunçaõ,

    porque une, e ata a palavra Eu

    com a palavra Pedro.

    M. Quantas castas ha de Conjunçoens?

    D. Muytas.

    M. Dizey algumas.

    D. Ha Conjunçoens Copulativas, e Disjunctivas.

    M. Quaes saõ as Copulativas?

    D. Saõ as que ataõ as palavras com o sentido

    da Oraçaõ, assim como Eu, e Pedro

    somos Religiosos.

    M. Quaes saõ as Disjunctivas?

    D. Saõ as que ataõ, e unem as palavras,

    mas apartaõ, e desunem o sentido,

    assim como Ou.

    M. Dizey exemplo.

    [177]

    D. Pedro, ou Paulo entrou aqui. Nesta Oraçaõ

    a particula ou ata a palavra Pedro

    com a palavra Paulo, mas desune-os

    no sentido da Oraçaõ: porque faz

    mostrar, naõ entraraõ ambos, mas

    hum só, ou hum, ou outro.

    M. Continuay as castas de Conjunçoens.

    D. Ha Conjunçoens causaes, e condicionaes.

    M. Quaes saõ as causaes?

    D. As que mostraõ, e significaõ a causa

    de alguma cousa.

    M. Dizey exemplo.

    D. Como, porque tenho fome. Nesta Oraçaõ a

    particula Porque he Conjunçaõ causal;

    porque declara que a causa, e

    motivo de eu comer he a fome.

    M. Quaes saõ as condicionaes?

    D. Saõ as que fazem o sentido da Oraçaõ

    condicional, assim como Se, Posto,

    Ainda que, &c.

    M. Dizey exemplo.

    D. Se estiver doente, hey de curarme. Nesta

    Oraçaõ a particula Se faz o sentido

    condicional, porque affirma que me

    hey de curar, mas debayxo da condiçaõ

    se estiver doente.

    [178]

    M. Qual he a oytava casta de palavras, de que

    se usa na lingua Portugueza?

    D. As Interjeyçoens.

    M. Que cousa he Interjeyçaõ?

    D. He huma particula, que mostra os affectos

    do animo, assim como Ay, que

    mostra a tristeza, ou angustia, Ó que

    mostra alegria.

    M. Tendes mais que dizer dos Adverbios,

    Preposiçoens, Conjunçoens,

    ou Interjeyçoens?

    D. Mais ha que dizer, mas isto basta.

    CAPITULO XI.

    Dos Generos dos nomes, e dos Preteritos dos

    Verbos.

    Mestre. Que cousa he Genero de nome?

    D. He a accõmodaçaõ, que entre si guardaõ

    os substantivos e adjectivos.

    M. Dizey exemplo.

    D. Este substantivo Monte accommoda-se

    cõ a terminaçaõ masculina de qualquer

    adjectivo, que tem duas terminaçoens,

    [179]

    assim como quando dizemos

    Monte alto, Monte fragozo, e

    naõ se accommoda com a terminaçaõ

    feminina alta, ou fragosa. Esta

    explicaçaõ basta para o principiante,

    porque isto tem seu embaraço.

    M. E quantas castas ha de Generos?

    D. Tres na lingua Portugueza.

    M. Quaes saõ?

    D. Masculino, Feminino, e Commum.

    M. Qual he o masculino?

    D. He a accommodaçaõ, que guardaõ os

    substantivos com a terminaçaõ masculina

    dos adjectivos, que tem duas

    terminaçoens.

    M. Dizey exemplo.

    D. Monte he do genero masculino; porque

    junto com o adjectivo Alto, ou

    outro, que tenha duas terminações,

    accommoda-se com a terminaçaõ

    masculina, e se diz Monte alto, Monte

    bayxo.

    M. E qual he o Genero feminino?

    D. He a accommodaçaõ, que os nomes

    substantivos guardaõ com a terminaçaõ

    feminina dos adjectivos, que

    tem duas terminaçoens.

    [180]

    M. Dizey exemplo.

    D. Terra he do genero feminino, porque

    com os adjectivos, que tem duas

    terminaçoens, se accommoda com a

    feminina, assim como Terra alta,

    Terra bayxa, &c.

    M. Qual he o Genero commum?

    D. He a accommodaçaõ, que ha entre a

    terminaçaõ commua dos adjectivos

    com os substantivos masculinos, e

    femininos.

    M. Dizey exemplo.

    D. Fertil he do genero commum, porque

    se accommoda com os substantivos

    masculinos, e femininos, assim como

    Campo fertil, Terra fertil.

    M. E como se conhece quaes saõ os nomes

    masculinos, e femininos?

    D. Masculinos saõ os que na declinaçaõ

    antes do nominativo tem o artigo

    O, assim como O monte, femininos os

    que tem o artigo A, assim como A

    terra; communs os que tem hum e

    outro artigo, assim como O fertil, e

    A fertil.

    M. E os nomes proprios, que na declinaçaõ

    naõ tem artigo antes do nominativo,

    [181]

    assim como Pedro, Antonio,

    Portugal, Lisboa, como se conhecem

    de que Genero saõ?

    D. Conhecem-se pelo Genero do seu nome

    appellativo, a que pertencem.

    M. Dizey exemplo.

    D. Pedro he masculino; porque pertence

    ao appellativo Homem, Portugal he

    masculino, porque pertence ao appellativo

    Reyno, que he masculino,

    Antonia he feminino, porque pertence

    ao appellativo Mulher, que he

    feminino, Lisboa he feminino, porque

    pertence ao appellativo Cidade,

    &c.

    M. E na lingua Portugueza ha nomes do

    Genero incerto?

    D. Naõ.

    M. Qual he o nome de Genero incerto?

    D. He aquelle, que huns fazem masculino,

    outros feminino, assim como

    Fim, a que na Provincia do Minho

    a gente vulgar faz feminino, e diz

    A fim, a gente polida masculino, O

    fim, e he como se deve dizer.

    M. E ha Genero Neutro no Portuguez?

    D. Naõ.

    [182]

    M. E qual he o nome do Genero Neutro?

    D. O que nem he masculino, nem feminino.

    No Latim ha muytos.

    M. E porque he facil no Portuguez saber

    o Genero dos nomes, e no Latim he

    trabalhoso?

    D. Porque no Portuguez os nomes quasi

    sempre se poem com o seu artigo,

    que mostra o Genero, e no Latim

    poucas vezes se poem com o artigo.

    M. Que cousa saõ Preteritos?

    D. Preteritos, fallando absolutamente, saõ

    os Preteritos perfeytos do Indicativo

    dos Verbos, assim como Amey,

    Conheci, Admitti.

    M. E como fazem no Preterito os Verbos?

    D. Isso jà o disse nas Conjugaçoens.

    M. Pois basta saber as Conjugaçoens para

    saber os Preteritos?

    D. Na lingua Portugueza sim.

    M. E na Latina?

    D. Naõ.

    M. Porque?

    D. Porque os Verbos Regulares Latinos

    no Preterito ordinariamente mudaõ

    de letras iniciaes, e figurativas, e naõ

    [183]

    tem raiz, donde se formar; porèm

    no Portuguez os Verbos no Preterito

    só mudaõ a terminaçaõ, e formaõ-se

    do Infinitivo.

    M. E na lingua Portugueza ha Supinos?

    D. Naõ.

    M. Que cousa he Supino?

    D. Isso pertence a quem aprende Latim.

    M. Tendes mais que dizer dos Generos, e

    Preteritos?

    D. Mais ha que dizer, mas isto basta.

    [184]

    SEGUNDA PARTE

    DA GRAMMATICA

    PORTUGUEZA

    CAPITULO I.

    Da Syntaxe, e de suas castas.

    MESTRE. Que cousa he Syntaxe?

    D. Syntaxe he a boa ordem,

    e disposiçaõ das palavras.

    M. E que cousa he a boa ordem,

    e disposiçaõ das palavras?

    D. He estarem as palavras no numero,

    caso, e no lugar, que lhes pertence.

    M. Dizey exemplo.

    D. O Pay ama aos filhos. Nesta Oraçaõ ha

    boa ordem de palavras, porque todas

    [185]

    as palavras estaõ no numero, caso, e

    lugar, que se lhes deve. Ao contrario

    se eu disser. O Pay aos ama filhos,

    ou Os Pay amaõ aos filho, estaõ mal

    ordenadas as palavras, porque naõ

    estaõ no caso, e lugar, que deve ser.

    M. E quantas castas ha de Syntaxe?

    D. Duas.

    M. Quaes saõ?

    D. Syntaxe simples, e Syntaxe figurada.

    M. Qual he a simples?

    D. He a que ensina as regras de ordenar

    bem as palavras na ordem natural.

    M. E qual he a ordem natural das palavras?

    D. He que o artigo esteja antes do nome,

    o nominativo antes do Verbo, o

    caso do Verbo depois do Verbo,

    que o adjectivo tenha o seu substantivo,

    &c.

    M. Dizey exemplo.

    D. Pedro ama a seu pay. Nesta Oraçaõ as

    palavras estaõ na sua ordem natural,

    porque o nominativo Pedro està antes

    do Verbo ama, depois do Verbo

    està o seu caso, &c. Ao contrario

    nesta Oraçaõ Ama Pedro ao pay seu

    [186]

    as palavras naõ estaõ na ordem natural

    porque o nominativo Pedro està

    depois do Verbo, &c.

    M. Qual he a Syntaxe figurada?

    D. He a que ensina quando estaõ bem ordenadas

    as palavras, ainda que estejaõ

    fóra da ordem natural.

    M. Quantas castas ha de Syntaxe simples?

    D. Duas.

    M. Quaes saõ?

    D. Syntaxe de concordar, e Syntaxe de

    reger.

    M. Qual he a de concordar?

    D. He a que ensina as regras de concordar

    os Verbos com os nomes, ou

    pronomes, e a concordar os nomes

    adjectivos com os substantivos.

    M. E que cousa he concordar os Verbos

    com os nomes, ou pronomes?

    D. He estar o Verbo no mesmo numero,

    e pessoa, em que estaõ os nomes, e

    pronomes.

    M. Dizey exemplo.

    D. Eu amo. Nesta Oraçaõ o Verbo Amo

    concorda com o pronome Eu em

    numero, e em pessoa; em numero

    [187]

    porque eu he singular, e singular

    he tambem Amo. Em pessoa, porque

    Amo he a primeyra pessoa, e Eu he

    primeyra pessoa. Ao contrario nesta

    Oraçaõ Eu amas. O Verbo naõ

    concorda com o pronome, porque

    Amas he segunda pessoa, e Eu primeyra.

    Tambem nesta Eu amamos.

    O Verbo naõ concorda com o pronome,

    porque Eu he Singular, e

    Amamos Plurar.

    M. E que cousa he concordar o adjectivo

    com o seu substantivo?

    D. He estar o adjectivo no mesmo genero,

    no mesmo numero, e no mesmo

    caso, que o seu substantivo.

    M. Dizey exemplo.

    D. A Rosa murcha perde a gala. Nesta Oraçaõ

    o adjectivo murcha concorda

    com o substantivo Rosa, porque ambos

    estão no numero singular, no genero

    feminino, e no caso de nominativo.

    Ao contrario nesta Oraçaõ:

    A Rosa murchas perde a gala. O adjectivo

    murchas naõ concorda com

    o substantivo Rosa, porque Rosa està

    no singular, murchas no plurar. Tambem

    [188]

    nesta Oraçaõ. A Rosa murcho

    perde a gala, o adjectivo Murcho naõ

    concorda com o substantivo Rosa,

    porque Rosa he do genero feminino,

    e Murcho he terminaçaõ masculina.

    M. Qual he a Syntaxe de reger?

    D. He a que ensina em que caso haõ de

    estar na Oraçaõ os nomes, e em que

    modos, e tempos haõ de estar os

    Verbos.

    M. Dizey as regras da Syntaxe de concordar.

    D. Primeyra Regra. Todo o nome adjectivo

    concorda com o seu substantivo

    em genero, numero, e caso, ou

    o substantivo venha na Oraçaõ claro,

    ou este ja occulto.

    M. Dizey exemplo com o substantivo

    claro.

    D. A faisca despresada causou o incendio.

    Nesta Oraçaõ o adjectivo Despresada

    concorda com o seu substantivo

    Faisca em genero, porque Faisca he

    feminino, e Despresada està na terminaçaõ

    feminina; em numero, porque

    Faisca està no singular, e no singular

    està Despresada. Em caso, porque

    [189]

    Faisca està em nominativo, e Despresada

    tambem.

    M. Dizey exemplo do substantivo escondido.

    D. Pedro em breve ha de vir. Nesta Oraçaõ

    o adjectivo Breve cõcorda com

    seu substantivo Tempo, que está

    escondido, em genero, porque Tempo

    he do Genero masculino, e Breve

    tambem he terminaçaõ masculina;

    em numero, porque Tempo está no

    singular, e Breve tambem; em caso,

    porque Tempo está em ablativo, e em

    ablativo está Breve.

    M. E esta regra falta ás vezes?

    D. Falta com os Participios algumas vezes.

    M. Quando?

    D. Quando vem nos tempos compostos,

    como o Verbo Ter.

    M. Dizey exemplo.

    D. Nós temos comprado a louça. Nesta Oração

    o adjectivo, e participio Comprado

    naõ concorda, nem com  o

    substantivo, e pronome Nos, nem

    com o substãtivo Louça: (que saõ os

    que podem ser os seus substantivos)

    [190]

    não concorda com o pronome Nós,

    porque este está no Plurar, e Comprado

    no Singular; naõ concorda com

    Louça, porque Louça he feminino, e

    Comprado está na terminação masculina.

    M. E no Latim ha tambem essa irregularidade,

    e modo de fallar?

    D. Naõ, este modo de fallar he barbaro, e

    procede da lingua Tudesca.

    M. Continuay as regras da Syntaxe.

    D. Segunda regra. Todas as vezes, que

    os nomes substantivos, com que

    concorda o adjectivo, saõ muytos,

    e de diversos generos, o adjectivo,

    quanto ao numero, se poem no plurar,

    quanto ao genero concorda com

    o mais nobre, que he o masculino.

    Esta regra ha tambem no Latim.

    M. Dizey exemplo.

    D. A Rosa, e o Cravo murchos perdem a gala.

    Nesta Oraçaõ o adjectivo Murchos

    concorda com os seus substantivos

    Rosa, e Cravo: e porque saõ

    muytos, està no plurar, e porque o

    substanctivo Cravo he do genero

    masculino, está na terminaçaõ masculina.

    [191]

    D. Terceyra regra. O Verbo concorda

    em numero, e em pessoa com o nome,

    que lhe serve de nominativo.

    Esta regra ha tambem no Latim.

    M. Dizey exemplo.

    D. Pedro tem saude. Nesta Oraçaõ o Verbo

    Tem concorda com seu nominativo

    Pedro em numero, porque Pedro

    està no singular, e o Verbo tem està

    no singular; concorda em pessoa,

    porque Pedro he terceyra pessoa.

    D. Quarta regra. Quando os nomes, que

    servem de nominativo ao Verbo, saõ

    muytos, e pertencem a diversas pessoas,

    o Verbo quanto ao numero vay

    ao plurar, e quanto à pessoa concorda

    com a mais nobre. Esta regra ha

    tambem no Latim.

    M. Dizey exemplo.

    D. Eu, e Pedro escapamos da tormenta. Nesta

    Oraçaõ o Verbo Escapamos tem

    dous nomes, que lhe servem de nominativos,

    e significaõ diversas pessoas,

    porque Eu significa primeyra

    pessoa, e Pedro terceyra; e por isso

    o Verbo quanto ao numero está no

    plurar, e quanto à pessoa està na primeyra,

    [192]

    e concorda com o pronome

    Eu, que he a pessoa mais nobre.

    D. Quinta regra. O Relativo O qual, a qual,

    ou Que concorda com o seu antecedente

    em genero, e em numero,

    mas naõ concorda em caso. Esta regra

    ha tambem no Latim.

    M. Dizey exemplo.

    D. Estimo estes soldados, os quaes saõ valerosos.

    Nesta Oraçaõ o Relativo os

    quaes concorda com seu antecedente

    Soldados em genero, porque Soldados

    he masculino, e valerosos està na

    terminaçaõ masculina: concorda em

    numero; porque Soldados he plurar,

    e plurar he tambem valerosos. Naõ

    concorda em caso, porque Soldados

    está em accusativo do Verbo Estimo,

    e os quaes em nominativo do Verbo

    Saõ.

    D. Sexta regra. Os pronomes Este, Esse, &c.

    quando sómente saõ Relativos, concordaõ

    com o seu antecedente em

    genero, e numero, e não concordão

    em caso. Esta regra ha tambem

    no Latim.

    M. Dizey exemplo.

    [193]

    D. Pedro ama aos filhos, e estes naõ lhe correspondem.

    Nesta Oração o pronome

    Estes só he relativo, e concorda em

    genero, e numero com o seu antecedente

    Filhos, mas não concorda em

    caso, porque Filhos está em accusativo

    do Verbo Ama, e Estes em nominativo

    do Verbo Correspondem.

    M. Dissestes acima que todo o adjectivo

    concordava com o seu substantivo

    em genero, e numero, e caso,

    os relativos saõ adjectivos, agora

    dizeis que os relativos não concordaõ

    com o seu substantivo em

    caso: logo com que substantivo he

    que concordaõ?

    D. Concordão em caso com o mesmo seu

    antecedente que depois do relativo

    torna a vir escondido.

    M. Dizey exemplo.

    D. Na Oração acima Estimo estes Soldados,

    os quaes saõ valerozos. O rellativo os

    quaes tem por antecedente o substantivo

    Soldados, e este substantivo está

    duas vezes na Oração, a primeyra

    vez está claro, e está posto antes do

    relativo os quaes; e segunda vez

    [194]

    está escondido, e entende-se depois

    do relativo os quaes desta sorte. Estimo

    estes Soldados, os quaes Soldados

    saõ valerozos. Com o tal substantivo

    pois escondido he que concorda

    o relativo em genero, numero, e

    caso; o mesmo he no Latim.

    M. Tendes mais que dizer da Syntaxe de

    concordar?

    D. Mais ha que dizer, mas isto basta.

    CAPITULO II.

    Da Syntaxe de reger, e das regras do Nominativo.

    Mestre. Quantas castas ha de Syntaxe

    de reger?

    D. Duas.

    M. Quaes saõ?

    D. Syntaxe de reger os nomes, Syntaxe

    de reger os Verbos.

    M. Qual he a de reger os nomes?

    D. He a que ensina as regras de saber em

    que caso se haõ de pór na Oraçaõ os

    nomes.

    [195]

    M. E qual he a de reger os verbos?

    D. A que ensina em que modos, tempos

    &c. se haõ de por na Oraçaõ os

    Verbos.

    M. E quantas castas ha de Syntaxe de reger

    os nomes?

    D. Seis.

    M. Quaes saõ?

    D. A primeyra de reger o nominativo, a

    segunda de reger o genitivo, a terceyra

    de reger o dativo, a quarta o

    accusativo, a quinta o vocativo, a

    sexta o ablativo.

    M. E qual he a Syntaxe de reger o nominativo?

    D. A que ensina as regras de quando o

    nome ha de estar, e por-se na Oraçaõ

    em nominativo.

    M. Dizey essas regras.

    D. Primeyra regra. Todo o Verbo pessoal

    do modo finito tem antes de si

    nominativo claro, ou escondido.

    Esta regra ha tambem no Latim.

    M. Dizey exemplo.

    D. Eu amo a Deos. Nesta Oração o Verbo

    Amo tem antes de si o nominativo

    Eu claro. Amo a Deos. Nesta Oração

    [196]

    o Verbo Amo tem antes de si o

    nominativo Eu escondido.

    M. Antes do Verbo pòde succeder estarem

    muytos nomes, dizey, pois, qual

    he o nome, que antes do Verbo ha

    de estar no nominativo?

    D. O nome que fizer na Oração.

    M. E qual he o nome, que faz na Oração?

    D. He o que serve ao Verbo de pessoa.

    M. Dizey exemplo.

    D. El Rey de Portugal partio para a guerra.

    Nesta Oração a palavra Rey he a que

    faz na Oração, porque he a que serve

    de terceyra pessoa ao Verbo Partio.

    E isto he que se chama postura,

    ou posição recta.

    D. Segunda regra. Quando os nomes

    que fazem na Oração forem muytos,

    todos se hão de pôr em nominativo.

    Esta regra ha tambem no Latim.

    M. Dizey exemplo.

    D. O gesto, o rosto, os olhos muytas vezes enganaõ.

    Nesta Oraçaõ, os nomes Gesto,

    Rosto, Olhos estaõ em nominativo,

    porque todos fazem na Oraçaõ.

    D. Terceyra regra. Quando na Oraçaõ

    [197]

    vem dous nomes, que significaõ huma

    só cousa, e hum delles faz na

    Oração, o outro, que está tambem

    com elle, se poem em nominativo, e

    se chama nominativo de apposiçaõ.

    Esta regra ha tambem no Latim.

    M. Dizey exemplo.

    D. O Conde Governador o mandou. Nesta

    Oraçaõ o nome Conde, e o nome Governador

    significa huma só cousa,

    isto he, huma só pessoa, e homem.

    O nome Conde he o que faz na Oraçaõ,

    e ambos estaõ em nominativo,

    o nome Conde como nominativo

    principal, e necessario, o nome Governador

    como nominativo de apposiçaõ.

    D. Quarta regra. O Infinitivo do Verbo

    quando serve na Oraçaõ de nome, se

    poem em nominativo. Esta regra

    tambem ha no Latim.

    M. Dizey exemplo.

    D. O mentir naõ me esta bem. Nesta Oraçaõ

    o Infinitivo Mentir serve de nome,

    e está em nominativo, porque

    faz na Oraçaõ.

    D. Quinta regra. Os Verbos, que significaõ

    [198]

    uniaõ de huma cousa comsigo

    mesma, assim como os Verbos Ser,

    Ser feyto, Ser chamado, tem dous nominativos,

    hum antes, outro depois

    de si. Esta regra ha tambem no Latim.

    M. Dizey exemplo.

    D. A velhice he doença. Nesta Oração o

    Verbo He tem antes de si o nominativo

    Velhice, e depois de si o nominativo

    Doença, porque significa a

    união de huma cousa comsigo mesma.

    Isto he, que a Velhice he o mesmo

    que a Doença.

    D. Sexta regra. Os Verbos Neutros, quando

    tem o mesmo modo de significar,

    tambem tem dous nominativos, hu~

    antes, outro depois de si. Esta regra

    ha tambem no Latim.

    M. Dizey exemplo.

    D. O nosso exercito tornou vencedor. Nesta

    Oraçaõ o nome Exercito, que está

    antes do Verbo. Tornou, e o nome

    Vencedor, que está depois, ambos estaõ

    em nominativo do Verbo Tornou,

    porque este significa por modo

    de quem une, e faz que seja a mesma

    [199]

    cousa o Vencedor, e o Exercito.

    D. Setima regra. Os adverbios Eisaqui,

    Eisalli, e outros semelhantes tem depois

    de si nominativo. Esta regra

    ha tambem no Latim.

    M. Dizey exemplo.

    D. Eisaqui o ladraõ. Nesta Oração o nome

    Ladraõ està em nominativo do

    adverbio Eisaqui.

    D. Oytava regra. Quando na Oração vem

    hum, ou dous, ou mais nomes, os

    quaes naõ saõ regidos, e estaõ na

    Oraçaõ, como independentes do

    demais sentido, se poem em nominativo

    absoluto. Esta regra naõ a

    ha no Latim, porque os taes nomes

    vaõ a ablativo.

    M. Dizey exemplos.

    D. Posto eu à menza ouvi meyo dia. Nesta

    Oração as palavras Posto eu, naõ saõ

    regidas de ninguem, e estaõ como

    independentes do demais sentido da

    Oração, e por isso estaõ em nominativo,

    Sendo eu menino, vi o successo.

    Nesta Oração, as palavras Sendo eu

    menino, naõ saõ regidas de ninguem,

    e estaõ como separadas, e sem dependencia

    [200]

    das demais, e por isso estaõ

    em nominativo absoluto.

    M. Tendes mais que dizer da Syntaxe do

    nominativo?

    D. Mais ha que dizer, mas isto basta.

    CAPITULO III.

    Da Syntaxe do Genitivo.

    Mestre. Qual he a Syntaxe de reger

    o Genitivo?

    D. He a que ensina as regras de quando os

    nomes estaõ, e se devem pôr em

    Genitivo.

    M. Dizey as regras do Genitivo.

    D. Primeyra regra. Quando na Oraçaõ

    vem dous nomes substantivos de

    cousas diversas, hum depois do outro,

    e hum significa como possuido,

    e outro como possuidor, o segundo,

    que significa como possuidor,

    se poem em Genitivo. Esta regra

    ha tambem no Latim.

    M. Dizey exemplo.

    D. O castigo he pena do peccado. Nesta Oração

    [201]

    o substantivo Pena, e Peccado

    significaõ diversas cousas, vem hum

    depois do outro, o substantivo Pena

    significa como cousa possuida, e o

    substantivo Peccado como possuidor

    da Pena, e por isso está em genitivo.

    M. Tendes outra regra mais facil para

    entender isso?

    D. Sim; porèm naõ he taõ segura.

    M. Dizey-a.

    D. Primeyra regra. Quando na Oraçaõ

    vem dous nomes substantivos, hum

    depois do outro, e entre elles está o

    artigo De, Do, Dos, Da, Das, o segundo,

    sobre que cahem estas particulas,

    está em genitivo, assim como

    O amor de Deos, onde o nome Deos

    está em genitivo.

    M. E porque dizeis que esta regra naõ he

    segura?

    D. Porque às vezes falta, assim como quãdo

    digo, Moeda de ouro, onde ouro

    está em ablativo de materia.

    D. Segunda regra. Muytos adjectivos,

    que significaõ por modo de abundancia,

    falta, ignorancia, cuydado, e

    outros pedem genitivo, e regem-se

    [202]

    desta sorte. Quem he abundante,

    falto, ignorante, ou cuydadozo,

    poem-se em nominativo; aquillo, de

    que he abundante, falto, ignorante,

    ou cuydadozo, poem-se em genitivo.

    Esta regra tambem ha no Latim.

    M. Dizey exemplo.

    D. Campo fertil de frutos, onde frutos está

    em genitivo do adjectivo Fertil, que

    significa por modo de abundancia.

    Necessitado de dinheyro, onde dinheyro

    está em genitivo do adjectivo necessitado,

    que significa por modo de falta,

    &c.

    M. E esse genitivo poderse-ha dizer que

    he ablativo?

    D. Com os demais adjectivos, que na lingua

    Latina pedem igualmente genitivo,

    ou ablativo, sim; com os que

    na lingua Latina só pedem genitivo,

    naõ.

    M. Dizey exemplos.

    D. Fertil de frutos. Posso dizer que Frutos

    está em genitivo, ou ablativo,

    porque por huma parte o artigo De

    igualmente se accommoda ao genitivo,

    e ao ablativo; por outra parte

    [203]

    o adjectivo Fertil no Latim pede genitivo,

    ou ablativo. Liberal de dinheyro,

    naõ direy que dinheyro está

    em ablativo, porque ainda que em

    razaõ do artigo possa estar em hum,

    ou outro caso, com tudo nos adjectivos,

    que procedem do Latim, quando

    não ha motivo para o contrario,

    devemo-nos conformar com o Latim,

    e o adjectivo Liberal no Latim

    só pede genitivo.

    M. E porque nos devemos conformar

    com o Latim?

    D. Porque a lingua Portugueza he filha

    da Latina.

    D. Terceyra regra. Os nomes numeraes

    pedem depois de si genitivo do plural.

    Esta regra ha tambem no Latim.

    M. Dizey exemplo.

    D. Os nossos mataraõ oytenta dos Turcos. Nesta

    Oraçaõ o substantivo Turcos està

    em genitivo depois do nome numeral

    Oytenta.

    M. E pòde se dizer que o nome Turcos

    està em ablativo da preposiçaõ Dos?

    D. Sim, porque no Latim os numeraes

    [204]

    admittem tambem ablativo com semelhante

    preposição.

    M. E pode-se esse genitivo, ou ablativo

    mudar em outro caso?

    D. Pode-se mudar algumas vezes em accusativo

    do plurar com a preposiçaõ

    Entre.

    M. Dizey exemplo.

    D. Morreraõ oytenta entre os Turcos.

    M. Esse caso do nome numeral pòde-se

    pòr de outra sorte?

    D. Pòde se concordar com o nome numeral,

    como com nome adjectivo, e

    ficar no caso, em que o numeral estiver;

    o mesmo he no Latim.

    M. Dizey exemplo.

    D. Os nossos mataraõ oytenta Turcos. Onde

    Turcos está concordando com o nome

    numeral Oytenta, e servindo de

    accusativo ao Verbo Mataraõ.

    D. Quarta regra. Os nomes partitivos pedem

    depois de si genitivo do plurar.

    Esta regra ha tambem no Latim.

    M. Dizey exemplo.

    D. Nenhuma das feras he mais prudente, que

    o Elefante. Nesta Oraçaõ o partitivo

    Nenhuma tem depois de si o genitivo

    [205]

    do plurar das feras.

    M. Esse genitivo pode-se mudar em outro

    caso?

    D. Este genitivo pòde se dizer que he

    ablativo, porque no Latim os partitivos

    admittem ablativo com semelhante

    preposiçaõ. Tambem se

    pode mudar em accusativo do plurar

    com a preposiçaõ Entre, assim

    como: Entre as feras nenhuma ha

    mais prudente de q o Elefante. O mesmo

    admittem o Latim. Tambem se

    póde concordar com o Partitivo em

    caso, assim como Nenhuma fera he

    mais prudente, &c.

    D. Quinta regra. Os Comparativos, quando

    na Oraçaõ vem como Partitivos

    pedem genitivo. Esta regra ha tambem

    no Latim.

    M. Dizey exemplo.

    D. O melhor Pregador dos Portuguezes foy

    o Padre Antonio Vieyra. Nesta Oração

    o Comparativo Melhor vem como

    Partitivo, e tem o genitivo dos

    Portuguezes. Este genitivo se pòde

    dizer que he ablativo da preposição

    Dos, e se pode mudar em accusativo

    [206]

    com a preposiçaõ Entre, e o mesmo

    se pratica no Latim.

    D. Sexta regra. Quando os adjectivos

    tem força de Partitivos, tambem admittem

    genitivo do plurar dos seus

    substantivos, mas entaõ o tal substãtivo

    ha-se de pòr antes do seu adjectivo.

    No Latim pode-se pòr, ou

    antes, ou depois.

    M. Dizey exemplo.

    D. Das lans as negras naõ recebem cor. Nesta

    Oração o substantivo Lans está

    em genitivo antes do seu adjectivo

    Negras, que tem forsa de Partitivo.

    Este ablativo se pòde dizer que he

    ablativo cõ a preposiçaõ Das. Tambem

    se pòde mudar em accusativo

    com a preposição Entre, e tambem

    se pode concordar com o seu adjectivo

    em genero, numero, e caso. O

    mesmo tudo se pratica no Latim.

    M. E se o tal substantivo se puzer depois

    do seu adjectivo?

    D. Entaõ na lingua Portugueza por força

    ha de estar no caso, em que estiver

    o seu adjectivo, assim como: Os

    antigos Portuguezes eraõ muyto regulados.

    [207]

    D. Setima regra. Os Superlativos na lingua

    Portugueza naõ querem genitivo,

    mas querem accusativo com a

    preposiçaõ Entre, como diremos

    adiante. No Latim querem tambem

    genitivo.

    M. Dizey exemplo.

    D. Nuno Alvares foy Capitaõ valerosissimo

    entre os Portuguezes. Onde o nome

    Portuguezes està em accusativo com

    a preposiçaõ Entre depois do Superlativo

    Valerosissimo.

    D. Oytava regra. O Verbo Ser quando

    val o mesmo, que possuir, pede genitivo.

    Rege-se desta sorte: a cousa

    possuida he o nominativo, o possuidor

    genitivo. Esta regra ha tambem no Latim.

    M. Dizey exemplo.

    D. Este livro he de Pedro. Nesta Oraçaõ

    o Verbo He significa possuir, e o nome

    Livro, que he a cousa possuida,

    está em nominativo, e o nome de

    Pedro, que he o possuidor, em genitivo.

    D. Nona regra. O Verbo Ser, quando

    val o mesmo, que o Verbo Pertencer,

    [208]

    pede genitivo; quem pertence he

    nominativo, a quem pertence genitivo.

    M. Dizey exemplo.

    D. He dos moços respeytar aos velhos. Nesta

    Oraçaõ o Verbo He significa Pertencer,

    e tem depois de si genitivo dos

    moços, que he a quem pertence.

    D. Decima regra. O Verbo Ser quãdo significar

    Causar, pede genitivo; quem

    causa he nominativo, o que causa he

    genitivo, a quem o causa he dativo.

    No Latim naõ pede genitivo.

    M. Dizey exemplo.

    D. A chuva foy de proveyto aos campos. Nesta

    Oraçaõ o Verbo Foy significa Causar,

    e tem depois de si o genitivo de

    proveyto, que he o que causa a Chuva.

    D. Undecima regra. Os Verbos de esquecerse,

    lembrarse, alegrarse, entristecerse,

    e outros, quando naõ saõ

    activos, pedem depois de si genitivo:

    quem se lembra, esquece, &c. poem-se

    em nominativo, aquillo de q~

    se esquece, lembra, &c. poem-se em

    genitivo. Esta regra ha tambem no

    Latim.

    [209]

    M. Dizey exemplo.

    D. Lembrome dos meus males. Nesta Oração

    o Verbo Lembrome naõ he activo,

    e tem depois de si o genitivo Dos

    meus males, que he o do que me lembro.

    M. E estes Verbos podem ser activos?

    D. Alguns sim, assim como Lembrar, Allegrar,

    e outros, porque se diz O Sol

    alegra os campos. Lembrey a ElRey os

    meus serviços, e nestas oraçoens saõ

    activos.

    D. Duodecima regra. Os Verbos de admoestar

    alèm do seu accusativo de

    Verbos activos, pedem genitivo;

    quem admoesta poem-se em nominativo

    a quem admoesta em accusativo,

    a cousa de que admoesta, em

    genitivo. Esta regra ha tambem no

    Latim.

    M. Dizey exemplo.

    D. Admoestey aos Religiozos da sua obrigaçaõ.

    Nesta Oraçaõ o Verbo Admoestey

    tem depois de si o genitivo Da

    sua obrigaçaõ, que he a cousa, de que

    Admoestey. Este genitivo se pòde

    dizer, que he ablativo com preposiçaõ

    [210]

    Da, porque no Latim estes Verbos

    admittem ablativo com semelhante

    preposiçaõ.

    D. Decima terceyra regra. Os Verbos de

    accusar, e absolver alèm do seu accusativo

    de Verbos activos, pedem

    genitivo do crime, de que accuso,

    ou da pena, de que absolvo. Esta

    regra ha tambem no Latim.

    M. Dizey exemplo.

    D. Absolvi a Pedro da pena, em que encorreo.

    Nesta Oraçaõ o Verbo Absolvi

    alèm do seu accusativo, tem depois

    de si o genitivo Pena, que he de que

    o absolvi. Este genitivo se pòde dizer

    he ablativo, porque no Latim

    estes Verbos admittem ablativo com

    semelhante preposiçaõ.

    D. Decima quarta regra. Alguns adverbios

    muytas vezes pedem depois de

    si genitivo. Esta regra ha tambem

    no Latim.

    M. Dizey exemplo.

    D. Tive Assaz de trabalho. Nesta Oraçaõ

    o nome Trabalho está em genitivo

    do adverbio assaz.

    D. Decima quinta regra. O Verbo no

    [211]

    Infinitivo muytas vezes serve de genitivo,

    assim como He tempo de cear.

    Onde o Verbo de cear, que està no

    Infinitivo, serve de genitivo e val o

    mesmo que He tempo de cea.

    D. Decima sexta regra. Quando depois

    de hum nome substantivo, que està

    em genitivo sem interposiçaõ nenhuma,

    se segue outro substantivo,

    que significa, e pertence á mesma

    cousa, o tal segundo substantivo

    está em genitivo, e se chama genitivo

    de apposiçaõ. Esta regra ha

    tambem no Latim.

    M. Dizey exemplo.

    D. Este livro he de Pedro bom Estudante.

    Nesta Oraçaõ o nome Estudante està

    depois do substantivo, e genitivo de

    Pedro, significa ao mesmo Pedro, e

    por isso està em genitivo de apposiçaõ.

    M. Tendes mais que dizer da Syntaxe do

    genitivo?

    D. Mais ha que dizer, mas isto basta.

    [212]

    CAPITULO IV.

    Da Syntaxe, e regras do Dativo.

    Mestre. Qual he a Syntaxe do Dativo?

    D. He a que ensina as regras de quando

    os nomes estaõ, e se haõ de pòr no

    caso do Dativo.

    M. Dizey essas regras.

    D. Primeyra regra. Aquillo, que he como

    fim, e termo, para que diz ordem, a

    significação do adjectivo, ou Verbo,

    se poem em Dativo. Esta regra ha

    tambem no Latim.

    M. Dizey exemplos.

    D. Lisboa esta visinha ao Mar. Nesta Oração

    o nome Mar, está em Dativo,

    porque he o fim, e termo, a que diz

    ordem o adjectivo Visinho. Demos

    graças a Deos. Nesta Oração o nome

    Deos está em Dativo, porque he o

    termo, e fim a que diz ordem o Verbo

    Dar.

    M. Esse Dativo pode-se mudar em outro

    caso?

    [213]

    D. Com alguns nomes, e Verbos pode-se

    mudar em accusativo com a preposiçaõ

    Para. O mesmo ha no Latim.

    M. Dizey exemplo.

    D. A paz he util a todos, ou para todos. Nesta

    Oraçaõ o nome Todos he o termo,

    e fim do adjectivo Util; e o tal nome

    Todos pode estar, ou em dativo, ou

    em accusativo com a preposiçaõ Para.

    M. E quaes saõ esses nomes, e Verbos,

    que podem ter hum, ou outro caso?

    D. Isso com o uso se aprende.

    D. Segunda regra. Muytos adjectivos,

    que significaõ por modo de perda,

    ou proveyto, graça, ou desgraça,

    favor, ou desfavor, fidelidade, ou

    infidelidade, pedem dativo depois

    de si, e regem-se desta sorte, aquillo,

    que he danoso, ou proveytoso,

    &c. poem-se em nominativo, a

    quem he danoso, proveytoso,

    &c. poem-se em dativo. Esta regra

    he filha da primeira, e tambem a ha

    no Latim.

    M. Dizey exemplo.

    D. O Prégador foy molesto aos ouvintes. Nesta

    [214]

    Oraçaõ o adjectivo Molesto, que

    significa por modo de cousa danosa,

    tem depois de si o dativo Aos ouvintes,

    que he a quem he danoso.

    M. E alguns adjectivos desses podem ter

    outro caso?

    D. Sim, assim como: Contrario a todos, ou

    de todos, e outros muytos.

    M. E como se sabe quaes saõ esses adjectivos?

    D. Pelo uso.

    D. Terceyra regra. Os Verbos Neutros

    muytos pedem dativo, assim como,

    Gritar, Argumentar, Pelejar, &c.

    M. Dizey exemplo.

    D. Gritey aos Soldados, porque fugiaõ.

    M. E como se conhece, quando querem

    dativo?

    D. Quando o nome, a que dizem ordem,

    tem antes de si o artigo ao, a, aos, as,

    os, assim como, Gritey aos Soldados.

    M. Esse caso pòde-se mudar?

    D. Algu~s Verbos o podem mudar em ablativo

    com preposição, assim como Peleyjey

    com os Soldados, porque fugiaõ.

    D. Quarta regra. Os Verbos de declarar,

    prometter, dar, restituir, ajuntar,

    [215]

    mandar, e entregar, e outros, que

    com o uso se aprendem, alèm do accusativo

    de Verbos activos, pedem

    dativo, daquella pessoa, ou cousa,

    para que a acção do Verbo diz ordem,

    e regem-se desta sorte. Quem

    declara, promette, &c. poem-se em

    nominativo; aquillo, que promette,

    declara, &c. poem-se em accusativo;

    a pessoa, ou cousa a quem o declara,

    promette, &c. poem-se em dativo.

    Esta regra ha tambem no Latim.

    M. Dizey exemplo.

    D. Entreguey as cartas a Pedro. Nesta Oração

    o nome Pedro está em dativo do

    Verbo Entreguey, porque he o nome,

    a quem diz ultimamente ordem a

    acçaõ do Verbo Entreguey, e he a

    pessoa, a quem se entregou.

    D. Quinta regra. Alguns dos Verbos acima

    ditos em lugar do dativo pòdem

    ter accusativo com a preposiçaõ

    Para, assim como Trago as cartas

    a El Rey, ou para El Rey. Isto succede

    tambem no Latim.

    M. E quaes saõ esses Verbos?

    [216]

    D. Sabem-se com o uso.

    D. Sexta regra. O Verbo Ser quando significa

    Causar, pede dativo. Rege-se

    desta sorte. Quem causa he nominativo,

    o que causa genitivo, a quem

    o causa dativo. No Latim pede dous

    dativos.

    M. Dizey exemplo.

    D. A chuva foy de proveyto aos campos. Nesta

    Oração o Verbo Foy val o mesmo

    que Causou, e o nome Campos, que he

    a quem causou, está em dativo.

    D. Setima regra. O Infinitivo do Verbo

    às vezes serve de dativo; assim como

    Estive attento ao ler da sentença, onde

    o Infinitivo Ler serve de dativo ao

    adjectivo Attento, e val o mesmo

    que Estive attento à liçaõ da sentença.

    D. Oytava regra. Quando na Oraçaõ depois

    de hum substantivo, que està em dativo,

    vem outro apoz elle, que significa

    a mesma cousa, o segundo està

    tambem em dativo; e se chama

    dativo de apposiçaõ. Esta regra ha

    tambem no Latim.

    M. Dizey exemplo.

    D. Entreguey as cartas ao Conde Governador.

    [217]

    Nesta Oraçaõ o substantivo Governador

    destà depois do substantivo, e

    dativo Conde, significa a mesma cousa,

    e por isso esta em dativo de apposiçaõ.

    M. Tendes mais que dizer da Syntaxe de

    dativo?

    D. Mais ha que dizer, mas isto basta.

    CAPITULO V.

    Da Syntaxe do Accusativo, e das suas regras.

    Mestre. Qual he a Syntaxe do Accusativo?

    D. He a que ensina as regras de quando os

    nomes estaõ; e se haõ de pór em Accusativo.

    M. Dizey essas regras.

    D. Primeyra regra. Todo o Verbo activo

    pede depois de si accusativo. Esta

    regra ha tambem no Latim.

    M. Dizey exemplo.

    D. Amo a Pedro. Nesta Oraçaõ o nome

    Pedro està em accusativo do Verbo

    Amo.

    [218]

    M. E qual ha de ser o nome, que ha de

    servir de accusativo ao Verbo activo?

    D. O substantivo, sobre que cahir a acçaõ

    do Verbo.

    M. Dizey exemplo.

    D. Entreguey as cartas a Pedro. Nesta Oraçaõ

    o nome Cartas serve de accusativo

    ao Verbo Entreguey, porque

    a acçaõ do Verbo Entreguey cahe sobre

    o nome Cartas.

    D. Segunda regra. Os Verbos Neutros,

    quando significaõ como activos pedem

    accusativo. Esta regra ha tambem

    no Latim.

    M. Dizey exemplo.

    D. Vivo vida ditosa. Nesta Oraçaõ o Verbo

    Neutro Vivo rege o nome Vida,

    que nasce do mesmo Verbo Vivo.

    Andey o caminho. Nesta Oraçaõ o

    Verbo Neutro Andar rege o nome

    substantivo Caminho, cuja significaçaõ

    tem parentesco com a do Verbo

    Andar.

    D. Terceyra regra. O Verbo no Infinitivo

    às vezes serve de accusativo,

    assim como Procuro cear, onde o

    [219]

    Infinitivo Cear serve de accusativo ao

    Verbo Procuro. Esta regra ha tambem

    no Latim.

    D. Quarta regra. As Preposiçoens Conforme,

    Contra, Entre, Junto, Por, Para,

    Segundo pedem depois de si accusativo,

    assim como Entre os Portuguezes,

    Junto à fonte, Por terra. Esta regra

    ha tambem no Latim.

    A preposiçaõ A pede depois de si accusativo,

    segundo dissemos, quando

    tratàmos das preposiçoens, assim

    como Vay a Roma. Esta preposiçaõ

    A se pode muytas vezes equivocar

    com o artigo, assim como Veste ao

    modo de França, onde A he preposiçaõ,

    e naõ artigo.

    A causa, o instrumento, o modo

    muytas vezes se poem em accusativo

    com preposiçaõ A, assim como

    Morto à sede, Jugar aos dados, Andar

    a bom passo.

    M. E estes accusativos podem-se mudar

    em outro caso?

    D. Alguns se podem mudar em ablativo

    com outra preposiçaõ, assim como

    Morto de fome. No Latim a causa, o

    [220]

    instrumento, o modo, poem-se em

    ablativo.

    D. Quinta regra. Quando na Oraçaõ vem

    os nomes de lugar de sorte, que correspondem

    a pergunta Para onde?

    os taes nomes se poem em accusativo

    com a preposiçaõ Para.

    M. Dizey exemplo.

    D. Vay para a Igreja. Nesta Oraçaõ o nome

    Igreja, està em accusativo com

    a preposiçaõ Para, porque vem na

    Oraçaõ correspondendo à pergunta

    Para onde.

    D. Sexta regra. Quando vem os nomes

    de lugar correspondendo à pergunta

    Por onde, se poem em accusativo

    com a preposiçaõ Por. Esta regra ha

    tambem no Latim.

    M. Dizey exemplo.

    D. Passou por Coimbra. Nesta Oraçaõ o nome

    Coimbra està em accusativo com

    a preposiçaõ Por, porque vem na

    Oraçaõ correspondendo à pergunta

    Por onde?

    M. Quaes saõ os nomes de lugar?

    D. Os que significaõ alguma cousa, aonde

    se pode estar, assim como Terra,

    [221]

    Campo, Villa, Cidade, &c.

    D. Setima regra. O espaço de tempo, que

    corresponde à pergunta Por quanto

    tempo, se poem na Oração em accusativo

    com a preposiçaõ Por clara,

    ou escondida. Esta regra ha tambem

    no Latim.

    M. Dizey exemplo.

    D. Viveo por seis mezes, ou Viveo seis mezes.

    Nesta Oraçaõ os nomes Seis

    mezes; que significaõ o espaço do

    tempo, estaõ em accusativo com a

    preposiçaõ Por.

    D. Oytava regra. Os nomes de tempo,

    quando vem na Oraçaõ correspondendo

    à pergunta Quando, ou Em

    que tempo, algumas vezes se poem

    em accusativo.

    M. Dizey exemplo.

    D. Aos dez dias de Mayo succedeo a ruina.

    Nesta Oração os nomes Aos dez dias

    estaõ em accusativo da preposiçaõ

    A. Note-se que o A aqui he preposiçaõ.

    M. Quaes saõ os nomes de tempo?

    D. Os que significaõ o tempo, assim

    como Hora, Dia, Mez, &c.

    [222]

    D. Nona regra. O espaço, ou distancia

    do lugar, poem-se na Oraçaõ em accusativo,

    com a preposiçaõ Por clara,

    ou escondida. Esta regra quasi

    a ha tambem no Latim.

    M. Dizey exemplo.

    D. A minha quinta dista do Mar por huma

    legoa, ou dista do Mar huma legoa.

    Nesta Oraçaõ o nome Legoa esta

    em accusativo com a preposiçaõ

    Por clara, ou escondida, porque he

    o espaço que dista.

    D. Decima regra. O preço muitas vezes

    se poem em accusativo com a preposiçaõ

    Por clara, ou escondida. No

    Latim naõ.

    M. Dizey exemplo.

    D. Comprey hum escravo por cem mil reis,

    ou custoume o escravo cem mil reis.

    Nestas Oraçoens o preço está em accuzativo

    com a preposiçaõ Por, ou

    clara, ou escondida.

    M. Esta preposiçaõ que está escondida

    pòde-se pòr clara?

    D. Sempre naõ.

    M. Dizey exemplo.

    D. Custou-me hum escravo cem mil reis. Nesta

    [223]

    Oraçaõ a preposiçaõ Por está escondida,

    e seria erro polla clara, dizendo

    Custoume hum escravo por cem

    mil reis. Isto succede muytas vezes

    na lingua Portugueza em que se devem

    entender as preposiçoens, e naõ

    se podem por claras.

    D. Undecima regra. Os Verbos passivos

    depois de si pedem accusativo com a

    preposiçaõ Por. Esta regra ha tambem

    no Latim.

    M. Dizey exemplo.

    D. Sou chamado por El Rey. Nesta Oraçaõ

    o nome El Rey està em accusativo

    com a preposiçaõ Por depois do

    Verbo passivo Ser chamado.

    D. Duodecima regra. Quando na Oraçaõ

    vem hum substantivo depois de

    outro, que està em accusativo, ambos

    significaõ a mesma cousa, o segundo

    se poem em accusativo, e se

    chama accusativo de apposiçaõ. Esta

    regra ha tambem no Latim.

    M. Dizey exemplo.

    D. Amo a Pedro Estudante. Nesta Oraçaõ

    o nome Estudante vem depois do accusativo

    Pedro, significa o nome Pedro,

    [224]

    e está em accusativo de apposiçaõ.

    O Vocativo só se usa delle por modo

    de chamar, como Ó Pedro. O mesmo

    he no Latim.

    CAPITULO VI.

    Da Syntaxe do Ablativo, e suas regras.

    Mestre. Qual he a Syntaxe do Ablativo?

    D. He a que ensina as regras de quando

    os nomes estaõ, e se haõ de por em

    Ablativo.

    M. Dizey essas regras.

    D. Primeyra regra. Todo o Ablativo he

    regido de preposiçaõ clara, ou escondida.

    Esta regra ha tambem no Latim.

    M. Dizey exemplo.

    D. Nesta tarde vou para a Quinta. Nesta

    Oraçaõ os nomes Esta tarde estaõ em

    ablativo da preposiçaõ Em clara trocada

    na letra N. Esta tarde vou

    para a Quinta. Nesta Oraçaõ os nomes

    [225]

    Esta tarde estaõ em ablativo da

    preposiçaõ Em, que de todo està

    escondida, e se entende.

    D. Segunda regra. A causa, o instrumento,

    a parte, o modo comummente

    se poem em ablativo com alguma

    preposiçaõ. No Latim quasi he o

    mesmo.

    M. Dizey exemplos.

    D. Cahio com medo. Ferido da espada. Tremulo

    das maõs. Anda de vagar com

    medo he ablativo de causa. Da espada

    de instrumento, Das mãos, de parte,

    De vagar, de modo.

    M. E algumas vezes poem-se a causa, o

    instrumento, o modo em outro caso?

    D. Sim, como jà dissemos no Capitulo do

    accusativo, o que se sabe com o uso.

    D. Terceyra regra. Os nomes numeraes,

    partitivos, e superlativos admittem

    ablativo do plurar como jà dissemos

    no Capitulos dos Genitivos.

    D. Quarta regra. Muytos adjectivos,

    que significaõ abundancia, privaçaõ,

    diversidade, e outros pedem ablativo,

    segundo dissemos no Capitulo dos Genitivos.

    [226]

    D. Quinta regra. Os Verbos Neutros

    pela mayor parte pedem ablativo

    com alguma preposiçaõ, assim como:

    Desfalecer de forças. Confiar da virtude.

    Tresbordar em sangue. Viver com

    gosto. No Latim muytos querem ablativo,

    muytos dativo.

    D. Sexta regra. Alguns Verbos admittem

    ablativo, ou accusativo depois

    de si, assim como Gozar, usar, e outros.

    O mesmo he no Latim.

    M. Dizey exemplos.

    D. Gozo do Imperio, ou Gozo o Imperio, Uso

    os vestidos, ou Uso dos vestidos.

    M. E esses Verbos quando regem ablativo

    saõ activos?

    D. Naõ, entaõ saõ neutros, porque a acçaõ

    do Verbo naõ cahe no substantivo.

    M. E quando tem accusativo?

    D. Entaõ saõ activos, porque a acçaõ do

    Verbo cahe no substantivo.

    D. Setima regra. Os Verbos de encher,

    carregar, descarregar, livrar, prender,

    e outros alèm do seu accusativo,

    pedem ablativo, e regem-se

    desta sorte. Quem enche, carrega

    [227]

    &c. poem-se em nominativo, a quem

    enche, carrega, &c. em accusativo;

    à cousa, de que enche, carrega, &c.

    em ablativo com preposiçaõ. No Latim

    tambem, mas sem preposiçaõ

    commummente.

    M. Dizey exemplo.

    D. Enchi a quartã de agua. Nesta Oraçaõ

    o nome Agua està em ablativo, porque

    he a cousa, de que enche.

    Muytos querem que estes ablativos,

    e os dos adjectivos sejaõ  ablativos,

    ou de causa, ou de instrumento, ou

    de modo, ou de materia.

    D. Oytava regra. Os Verbos passivos ordinariamente

    em lugar do accusativo

    com a preposiçaõ Por admittem

    ablativo com a preposiçaõ De. No

    Latim quasi he o mesmo.

    M. Dizey exemplo.

    D. Pedro he amado de mim. Nesta Oraçaõ

    o pronome Mim está em ablativo

    com a preposiçaõ do Verbo passivo

    He amado, podera ser accusativo com

    a preposiçaõ Por. Pedro he amado por

    mim.

    D. Nona regra. Quando na Oraçaõ vem

    [228]

    os nomes correspondendo à pergunta

    Em que parte? se poem em

    ablativo com a preposiçaõ Em. E

    esta regra ha tambem no Latim.

    M. Dizey exemplo.

    D. Naci em Lisboa. Nesta Oração o nome

    Lisboa está em ablativo com a

    preposiçaõ Em, porque vem na Oraçaõ

    correspondendo à pergunta Em

    que parte?

    D. Decima regra. Quando na Oraçaõ os

    nomes de lugar vem correspondendo

    à pergunta De que parte? poem-se

    em ablativo cõ a preposiçaõ De.

    M. Dizey exemplo.

    D. Venho de casa. Nesta Oraçaõ o nome

    De casa está em ablativo com a preposiçaõ

    De, porque vem na Oração

    correspondendo à pergunta De que

    parte?

    D. Undecima regra. O espaço do tempo,

    quando vem na Oração correspondendo

    à pergunta Em quanto tempo,

    se poem em ablativo com a preposição

    Em.

    M. Dizey exemplo.

    D. Compuz este livro em tres mezes. Nesta

    [229]

    Oraçaõ os nomes Tres mezes estaõ

    em ablativo com a preposiçaõ Em,

    porque vem na Oraçaõ correspondendo

    à pergunta Em quanto tempo?

    D. Duodecima regra. O Verbo no Infinitivo

    muytas vezes serve de ablativo,

    assim como Com pelejar se desfaz

    a contenda, onde o Infinitivo Pelejar

    serve de ablativo à preposiçaõ Com.

    D. Decima terceyra regra. Os nomes de

    tempo, quando vem na Oração correspondendo

    a pergunta Quando, ou

    em que tempo, pela mayor parte se

    poem em ablativo com a preposição

    Em. Esta regra quasi a ha tambem

    no Latim.

    M. Dizey exemplo.

    D. No Veraõ se padece calma. Nesta Oração

    o nome Veraõ está em ablativo

    com a preposiçaõ Em, porque vem

    na Oraçaõ correspondendo à pergunta

    Quando?

    D. Decima quarta regra. A medida se

    poem em ablativo com a preposiçaõ

    De clara, ou escondida. No Latim se

    poem em ablativo sem preposiçaõ.

    M. Dizey exemplo.

    [230]

    D. Esta trave he mais grossa, que a outra

    hum palmo. Nesta Oraçaõ os nomes

    Hum palmo está em ablativo com

    a preposiçaõ De escondida, e significa

    a medida. Tambem se póde dizer

    que estaõ em accusativo da preposiçaõ

    Por escondida, entendendo-se

    assim. Esta trave he mais grossa, que

    a outra hum por palmo.

    D. Decima quinta regra. O preço se

    poem muytas vezes em ablativo

    com a preposiçaõ Em. No Latim

    sem preposiçaõ.

    M. Dizey exemplo.

    D. Tayxaõ este livro em dous tostoens. Nesta

    Oraçaõ os nomes Dous tostoens, que

    significaõ preço, estaõ em ablativo

    com a preposiçaõ Em.

    D. Decima sexta regra. Quando depois de

    hum substantivo, que está em ablativo,

    vem logo outro, que pertence á

    mesma cousa, se poem em ablativo

    e se chama ablativo de apposiçaõ.

    Esta regra ha tambem no Latim.

    M. Dizey exemplos.

    D. Fuy com Pedro Soldado. Nesta Oraçaõ

    o nome Soldado vem depois do substantivo

    [231]

    e ablativo Pedro, significa

    ao mesmo Pedro, e está em ablativo

    de apposiçaõ.

    M. E os comparativos, quando saõ partitivos,

    que caso pedem na lingua

    Portugueza?

    D. Póde-se dizer que pedem ablativo com

    a preposiçaõ Que, tomando esta palavra

    Que por preposiçaõ, ou se póde

    dizer, que naõ pedem caso.

    M. Dizey exemplo.

    D. Pedro he mais douto, que seu irmaõ. Nesta

    Oraçaõ se tomarmos a particula

    Que como preposiçaõ, diremos estar

    em ablativo os nomes Seu irmaõ.

    Porem naõ a tomando como preposiçaõ,

    diremos que o comparativo

    naõ pede caso, e que os nomes Seu

    irmaõ estaõ em nominativo do Verbo

    He, que se torna a entender desta

    sorte: Pedro he mais douto, do que he

    seu irmaõ.

    M. E os adverbios, que se compoem de

    nome, e artigo, assim como, De força,

    De noyte, Ás claras, &c. em

    que caso estão?

    D. Os que se compoem de nome, e preposiçaõ

    [232]

    De, assim como De força, estaõ

    em ablativo. Os q~ se compoem

    de artigo sómente, como Ás claras,

    podemos dizer estaõ em accusativo

    de alguma preposiçaõ escondida, ou

    em ablativo, assim como Ás claras

    pòde-se dizer esta em accusativo, ente~dendo-se

    a preposiçaõ Pelas claras;

    pois dizemos Pela mansa em lugar

    de Mansamente. Ou se pòde dizer

    estar em ablativo da preposiçaõ Em,

    que se lhe entende, pois dizemos

    Em vaõ em lugar Vãamente.

    M. E quando na Oração vem alguns nomes,

    que parece se naõ pòdem accõmodar

    as regras de nenhum caso?

    D. Entaõ deve-se entender alguma preposiçaõ

    mediante, a qual fique neste,

    ou naquelle caso, ainda que seja erro

    polla clara.

    M. Dizey exemplo.

    D. A ferida està correndo sangue. Nesta Oraçaõ

    o nome Sangue naõ apparece

    o caso, em que esteja, mas na verdade

    està em ablativo da preposiçaõ

    Em, que se lhe entende, e naõ está

    clara; mas está clara, quando se

    [233]

    usa do cõposto Escorrer Os vestidos ainda

    estaõ escorrendo em agua.

    M. Tendes mais que dizer da Syntaxe de

    reger os casos?

    D. Mais ha que dizer, mas isto basta.

    CAPITULO VII.

    Da Syntaxe dos Verbos.

    Mestre. Qual he a Syntaxe dos Verbos?

    D. He a que ensina as regras, modos,

    tempos, numeros, e pessoas, em

    que estão, e se devem por os Verbos.

    M. Dizey essas regras.

    D. O que pertence a pessoas, numeros,

    e tempos nas Linguagens, e Capitulo

    dos Verbos fica dito, e tambem

    o que pertence ao modo Indicativo,

    assim direy sò o que pertence ao

    subjunctivo, e Infinitivo.

    D. Primeyra regra. A conjunçaõ Para

    que commummente leva o Verbo ao

    subjunctivo. Esta regra ha tambem

    [234]

    no Latim.

    M. Dizey exemplo.

    D. Sirvo a Pedro para, que me pague. Nesta

    Oraçaõ o Verbo Pague està no subjunctivo,

    porque tem antes a conjunçaõ

    Para que.

    D. Segunda regra. As conjunçoens, e adverbios

    Antes q~, Primeyro que sempre

    levaõ o Verbo ao subjunctivo. No

    Latim tambem levaõ o Verbo ao

    subjunctivo.

    M. Dizey exemplo.

    D. Antes que estude reso. Nesta Oraçaõ

    o Verbo Estude està no subjunctivo,

    porque tem antes de si o adverbio, e

    conjunçaõ Antes que.

    D. Terceyra regra. As conjunçoens, Posto

    que, Ainda que, Atè que, Quando,

    Como quer que, e outras muytas levão

    o Verbo ao subjunctivo, ou ao Indicativo.

    A mesma regra ha no Latim.

    M. Dizey exemplo.

    D. Ainda que ame a meu filho, castigo-o, ou

    Ainda q~ amo a meu filho, castigo-o. Nestas

    Oraçoens o Verbo Ame està no

    subjunctivo, e o Verbo Amo no Indicativo,

    porque tem antes de si a conjunçaõ,

    [235]

    Ainda que.

    D. Quarta regra. O Verbo no Infinitivo

    sempre he regido de outro Verbo,

    que està antes. Esta regra ha tambem

    no Latim.

    M. Dizey exemplo.

    D. Naõ posso correr, Nesta Oração o Infinitivo

    Correr he regido do Verbo

    Posso, que està antes.

    D. Quinta regra. Se o Infinitivo faz na

    Oraçaõ, e serve de nominativo, naõ

    he regido de outro Verbo antecedente.

    Esta regra ha tambem no Latim.

    M. Dizey exemplo.

    D. O viver bem a todos aproveyta. Nesta

    Oraçaõ o Infinitivo Viver naõ he

    regido de outro Verbo antecedente,

    porque faz na Oraçaõ, e serve de

    nominativo.

    D. Sexta regra. O Verbo no Infinitivo

    muitas vezes val o mesmo, q~ o Verbo

    no Indicativo cõ a Conjunçaõ Que.

    Esta regra ha tambem no Latim.

    M. Dizey exemplo.

    D. Vejo arder o monte. Esta Oraçaõ val

    o mesmo, que estoutra. Vejo que

    [236]

    arde o monte.

    D. Setima regra. O Infinitivo muytas

    vezes val o mesmo que o Verbo no

    Indicativo com o relativo Qual, ou

    Que. Esta regra ha tambem no Latim.

    M. Dizey exemplo.

    D. Ouço tanger os sinos. Esta Oraçaõ val o

    mesmo que esta, Ouço os sinos, os

    quaes tangem, ou que tangem.

    D. Oytava regra. O Verbo no Infinitivo

    muytas vezes val o mesmo, que o

    Verbo no subjunctivo com a Conjunçaõ

    Que.

    M. Dizey exemplo.

    D. Mandey aos Soldados vigiar. Esta Oraçaõ

    val o mesmo, que estoutra.

    Mandey aos Soldados que vigiassem.

    M. Tendes mais que dizer da Syntaxe dos

    Verbos?

    D. Mais ha, que dizer, mas isto basta.

    [237]

    CAPITULO VIII.

    Do resolver das Oraçoens.

    Mestre. Que cousa he resolver huma

    Oraçaõ?

    D. He fazer a Oraçaõ por outras palavras,

    que valem o mesmo, e o dizem

    mais claramente.

    M. E as Oraçoens feytas pelo Verbo activo,

    podem se resolver pelo passivo.

    D. Sim.

    M. Dizey de que sorte.

    D. Attenta-se na Oraçaõ activa para o nominativo,

    para o Verbo, e para o

    seu accusativo, e entaõ o accusativo

    muda-se em nominativo, e o Verbo

    muda-se para passivo. Quanto ao modo,

    e tempo, fica no mesmo: quanto

    ao numero, e á pessoa, concorda

    com o seu nominativo, que tem na

    passiva; e o que era nominativo na

    voz activa, passa para ablativo com

    a preposiçaõ De, ou para accusativo

    com a preposiçaõ Por.

    M. Dizey exemplo.

    [238]

    D. Pedro ama as virtudes. Esta Oraçaõ

    está feyta pelo verbo activo Amo, e

    resolve-se pelo Verbo passivo Ser

    amado nesta forma. As virtudes saõ

    amadas por Pedro o nome Virtudes,

    que na Oraçaõ activa era accusativo

    do Verbo, na passiva fica nominativo.

    O Verbo Amar, que na activa

    estava no modo Indicativo, no tempo

    Prezente, no numero singular,

    na terceyra pessoa, na passiva fica no

    mesmo modo, no mesmo tempo,

    muda porem o numero, porque o

    nominativo da passiva he plurar, e

    o da activa he singular; a pessoa he

    a mesma, porque hum, e outro nominativo

    saõ terceyras pessoas na

    activa Pedro, na passiva, as Virtudes,

    e finalmente o nome Pedro que na

    activa estava em nominativo, na

    passiva passa para ablativo com a

    preposiçaõ De, ou accusativo com a

    preposiçaõ Por.

    M. E se na Oraçaõ alem dos casos dittos

    vierem outros?

    D. Tudo o mais fica da mesma sorte, que

    estava na activa.

    [239]

    M. Dizey exemplo.

    D. Pedro com grande fervor imita as virtudes

    dos Santos. Esta Oraçaõ se muda na

    passiva desta sorte. As virtudes dos

    Santos saõ imitadas por Pedro com

    grande fervor. Onde só se muda o

    accusativo do Verbo, o Verbo, e o

    nominativo, e tudo o mais fica como

    estava na activa. O mesmo he

    no Latim.

    M. Tendes mais, que dizer do resolver

    das Oraçoens?

    D. Sim, e he que para os meninos aprenderem

    bem, e se facilitarem para o

    Latim, se lhes façaõ resolver as Oraçoens

    de humas palavras Portuguezas

    para outras, que venhaõ a dizer

    o mesmo, e tenhaõ alguma correspondencia

    com a Grammatica Latina.

    M. Dizey exemplo.

    D. Esta Oraçaõ v. g. Os Christãos vencèraõ

    os Turcos. Mandar-selhe-ha fazer

    pelo Verbo, e palavras Ficar debayxo

    desta sorte. Os Turcos ficáraõ

    debayxo dos Christãos. Estoutra Pedro

    ama as letras mande-selhe fazer

    [240]

    pelo Verbo Ser tido, e a palavra

    Amor desta sorte. O amor das letras

    he tido por Pedro. Ou pela palavra

    Amavel desta sorte. As letras saõ

    amaveis a Pedro.

    M. Tendes mais que dizer da Syntaxe

    simples?

    D. Mais ha que dizer, mas isto basta.

    [241]

    TERCEYRA PARTE.

    CAPITULO I.

    Da Syntaxe figurada, e da primeyra figura.

    MESTRE. Que he cousa Syntaxe

    figurada?

    D. Saõ as regras de dispor

    bem as palavras fora da

    ordem natural, e por figuras.

    M. Que cousa he figura?

    D. He o modo de fallar contra as regras

    da Syntaxe simples, porèm admittido

    do uso.

    M. Dizey exemplo.

    D. O Turco arma. Nesta Oraçaõ o Verbo

    activo Arma naõ tem accusativo,

    contra as regras da Syntaxe simples,

    [242]

    e assim ha figura na tal Oraçaõ, e lhe

    faltaõ as palavras A sua gente.

    M. E quantas figuras ha na Syntaxe?

    D. Muytas, mas todas se reduzem a quatro,

    ou cinco.

    M. Quaes saõ?

    D. Ellipse, que quer dizer falta. Pleonasmo,

    que quer dizer superfluidade.

    Sillepse, que quer dizer pensamento;

    Hiperbaton, q~ quer dizer perturbaçaõ.

    Idiotismo, que quer dizer propriedade.

    M. Que cousa he Ellipse?

    D. He a falta de alguma palavra na Oraçaõ.

    M. Quantas castas ha de Ellipse.

    D. Duas. Ellipse pura, Ellipse não pura,

    que se chama Zeugma.

    M. E quando ha Ellipse pura?

    D. Quando alguma palavra falta totalmente

    na Oração.

    M. Dizey exemplo.

    D. Recebia de um. Nesta Oração falta totalmente

    a palavra Carta, e por isso

    ha Ellipse pura.

    M. E qual he a Ellipse Zeugma?

    D. He quando alguma palavra falta, e

    [243]

    vem na Oraçaõ.

    M. Dizey exemplos.

    D. Amo a Pedro, e naõ a Francisco. Nesta

    Oração a palavra Amo vem na Oraçaõ,

    e falta, porq~ devia vir duas vezes,

    e dizer Amo a Pedro, e naõ amo a

    Francisco.

    M. Dizey as regras da Ellipse pura.

    D. Primeyra regra. Todas as vezes, que

    ha caso de apposiçaõ, ha Ellipse do

    Verbo Ser, e do relativo Qual, ou

    Que.

    M. Porque?

    D. Porque o caso de apposiçaõ necessariamente

    diz uniaõ, e esta se declara

    pelo Verbo Ser.

    M. Dizey exemplos.

    D. O Conde Governador o mandou. Nesta

    Oração faltaõ as palavras Que he, as

    quaes unem o nome Governador, caso

    de apposiçaõ, com o nome Conde

    desta sorte. O Conde, que he Governador,

    o mandou. Na mesma fórma

    Este livro he de Pedro Estudante. Esse

    livro he de Pedro, que he Estudante.

    O mesmo he no Latim.

    D. Segunda regra. Todas as vezes que o

    [244]

    Verbo no modo finito naõ tem nominativo,

    ha Ellipse.

    M. Porque?

    D. Porque todo o Verbo no modo finito

    pede antes de si nominativo.

    M. Dizey exemplo.

    D. Amo a Pedro. Nesta Oração o Verbo

    Amo não tem antes de si nominativo,

    e ha Ellipse do nominativo Eu.

    O mesmo he no Latim.

    M. E pode-se usar dessa figura em todos

    os Verbos, tempos, e pessoas?

    D. Sim, excepto quando os Verbos significaõ

    acçoens diversas.

    M. Dizey exemplo.

    D. Eu leyo, tu escreves. Naõ posso dizer

    Leyo, Escreves, porque se poem para

    significarem acçoens diversas. O

    mesmo he no Latim.

    D. Terceyra regra. Todas as vezes que

    depois do Verbo activo naõ està accusativo,

    ha Ellipse.

    M. Porque?

    D. Porque todo o Verbo activo pede depois

    de si accusativo.

    M. Dizey exemplo.

    D. O Turco arma. Nesta Oraçaõ o Verbo

    [245]

    activo Arma naõ tem o seu accusativo,

    e há Ellipse do accusativo A

    sua gente. O Turco arma a sua gente.

    O mesmo he no Latim.

    M. E desta Ellipse posso usar com todos

    os nomes, e Verbos?

    D. Naõ. Só com os que o uso introduzio.

    D. Quarta regra. Todas as vezes, que na

    Oraçaõ està o adjectivo sem o seu

    substantivo, ha Ellipse.

    M. Porque?

    D. Porque o adjectivo naõ pode estar na

    Oraçaõ sem o seu substantivo.

    M. Dizey exemplo.

    D. Em breve tornarey. Nesta Oraçaõ o

    adjectivo Breve está sem substantivo,

    e ha Ellipse do substantivo

    Tempo. Em breve tempo tornarey. O

    mesmo he no Latim.

    M. E desta Ellipse pode-se usar com todos

    os adjectivos, e substantivos?

    D. Naõ. Sò nos que introduzio o uso.

    D. Quinta regra. Todas as vezes, que a

    palavra Que na Oração he relativo,

    ha Ellipse.

    M. Porque?

    [246]

    D. Porque o relativo ha de concordar em

    caso com o seu substantivo, e com o

    relativo Que nunca se poem o substantivo,

    com quem concorda em

    caso.

    M. Dizey exemplo.

    D. Repito as palavras, que lhe disse. Nesta

    Oração a palavra Que he relativo, e

    val o mesmo, que o relativo Qual, e

    faltalhe o substantivo Palavras, com

    quem concorda em caso. Repito as

    palavras, as quaes palavras lhe disse.

    M. E desta Ellipse pòde-se usar sempre?

    D. Cõ o relativo Que he obrigação usalla,

    com o relativo Qual pòde-se usar,

    ou não usar.

    D. Sexta regra. Quando o relativo Que,

    ou Qual não tem antes de si o seu

    antecedente, ha duas Ellipses.

    M. Porque?

    D. Porque o relativo necessariamente ha

    de ter duas vezes o seu substantivo,

    huma antes, como antecedente, outra

    depois, como seu substantivo,

    com quem concorda em caso.

    M. Dizey exemplo.

    D. Ha huns, a que agradaõ as armas, ou Ha

    [247]

    huns, aos quaes agradaõ as armas.

    Nesta Oração ha duas Ellipses da

    palavra Homens, a primeyra antes do

    relativo, a segunda depois. Ha huns

    homens, aos quaes homens agradaõ as

    armas. O mesmo he no Latim.

    D. Oytava regra. Todas as vezes, que

    vem na Oração algum nome, sem ser

    nominativo absoluto, e naõ apparece

    em que caso está, nem quem o

    reja, ha Ellipse de alguma preposiçaão.

    M. Porque?

    D. Porque todo o nome he regido ou de

    outro nome, ou de algum Verbo, ou

    de preposição.

    M. Dizey exemplo.

    D. Esta taboa he larga dous palmos. Nesta

    Oração os nomes Dous palmos naõ

    saõ regidos de ninguem, nem apparece

    em que caso estejaõ, e faltalhe a

    preposição De. Esta taboa he larga

    de dous palmos.

    M. E esta Ellipse pode-se usar sempre?

    D. Naõ. Sò onde o uso introduzio se

    pòde usar.

    D. Nona regra. Quando na Oração ha

    [248]

    diversos membros, e o Verbo, que

    rege a Oração, se não pòde accommodar

    mais que a hum, ha Ellipse

    do Verbo diverso.

    M. Dizey exemplo.

    D. Naõ duvido passar a India, mas ficar là

    isso naõ. Nesta Oração ha dous membros,

    Passar à India hum, Ficar là outro.

    O Verbo Duvido he o que governa

    o primeyro, porèm não accõmoda

    para governar o segundo, e

    assim no segu~do falta o Verbo Quero.

    Naõ duvido passar à India, mas

    ficar là, isso naõ quero. O mesmo he

    no Latim.

    M. Dizey as regras de Ellipse Zeugma.

    D. Primeyra regra. Todas as vezes, que

    na Oração está algum nome, ou

    Verbo, o qual para o sentido da Oraçaõ

    se deve tornar a repetir da mesma

    sorte, que está na Oração, ha

    Zeugma. E esta he a primeyra casta.

    M. Dizey exemplo.

    D. Conheceis os astros do Ceo, e as influencias.

    Nesta Oração para o sentido ficar

    perfeyto, he necessario tornar a entender

    a palavra Conheceis, e a palavra

    [249]

    Ceo, mas sem mudança, nem no tempo, nem no

    numero, nem na pessoa,

    nem no caso: desta sorte Conheceis

    os astros do Ceo, e conheceis as influencias

    do Ceo. O mesmo he no Latim.

    D. Segunda regra. Quando o nome, ou

    Verbo se deve tornar a entender, mas

    com mudança no numero, género,

    pessoa, tempo, ou caso, ha Zeugma!

    Esta he a segunda casta.

    M. Dizey exemplo.

    D. Recebido o Rey, e os companheyros. Nesta

    Oração falta segunda vez a palavra

    Recebido, e se torna a entender, mas

    em diverso numero. Recebido o Rey,

    e recebidos os companheiros.

    Da mesma sorte. Hoje estou em Portugal,

    á manhãa em Castella, falta, e se

    torna a entender o Verbo Estou, mas

    em diverso tempo Estarey. O mesmo

    he no Latim.

    [250]

    CAPITULO II.

    Da figura Pleonasmo.

    Mestre. Que cousa he Pleonasmo?

    D. He a palavra, que vem demais,

    e naõ he necessaria na Oração.

    M. Quantas castas ha de Pleonasmo?

    D. Duas.

    M. Quaes saõ?

    D. Pleonasmo quanto ao sentido, e Pleonasmo

    quanto à construição.

    M. Dizey as regras dessa figura.

    D. Primeyra regra. Todas as vezes, que

    na Oração vem palavra, sem a qual

    fica o sentido perfeyto, ha Pleonasmo,

    quando ao sentido.

    M. Dizey exemplo.

    D. Anda o seu caminho. Nesta Oração ha

    Pleonasmo, quanto ao sentido, porque

    sem as palavras Seu caminho fica

    perfeyto o sentido da Oração. O

    mesmo he no Latim.

    D. Segunda regra. Quando na Oraçaõ

    vem alguma palavra, sem a qual fica

    perfeyta a regencia, ha Pleonasmo,

    [251]

    quanto à construiçaõ.

    M. Dizey exemplo.

    D. S. Francico antes predisse o successo.

    Nesta Oraçaõ ha Pleonasmo quanto

    à regencia; porque sem a palavra

    Antes ficava perfeyta a regencia das

    palavras da Oraçaõ S. Francisco predisse

    o successo.

    D. Terceyra regra. Quando na Oraçaõ

    vem alguma palavra, sem a qual

    fica perfeyto o sentido, mas naõ a

    regencia, ha Pleonasmo quanto ao

    sentido, mas naõ quanto à regencia.

    M. Dizey exemplo.

    D. Anda o seu caminho. Nesta Oraçaõ ha

    Pleonasmo, quanto ao sentido, mas

    naõ quanto a regencia, porque o

    Verbo Andar esta activo, e o Verbo

    activo rege accusativo precisamente,

    e sem as palavras Seu caminho

    naõ tinha accusativo.

    D. Quarta regra. Quando na Oração vem

    palavra, sem a qual fica perfeyto o

    sentido, e a regencia, ha Pleonasmo

    do sentido, e da regencia.

    M. Dizey exemplo.

    D. S. Francisco antes predisse o successo. Nesta

    [252]

    Oração ha Pleonasmo, quanto ao

    sentido, e à regencia, porque a Oração

    sem a palavra Antes fica perfeyta,

    quanto a huma, e outra cousa.

    CAPITULO III.

    Da figura Syllepse.

    Mestre. Que cousa he Syllepse?

    D. He a palavra, que naõ concorda

    com outra palavra, com a qual devia

    concordar, mas concorda com a significação,

    e sentido della.

    M. Dizey exemplo.

    D. O exercito pereceo, parte acabaraõ de doença,

    parte morreraõ nos recontros.

    Nesta Oração os Verbos Acabaraõ, e

    Morreraõ, naõ cõcordaõ em numero

    com o seu nominativo Parte, porque

    Parte he singular, Acabaraõ he Plurar,

    e Morreraõ tambem; mas concorda

    com a significaçaõ, ou sentido,

    porque Parte significa muytos Soldados.

    M. Dizey as regras da figura Syllepse.

    [253]

    D. Primeyra regra. Todas as vezes, que

    o adjectivo naõ concorda em genero,

    ou numero com o seu substantivo,

    mas com o significado delle, ha

    Syllepse, ou no genero, ou no numero,

    ou no genero, e numero.

    M. Dizey exemplo.

    D. Estava muyta gente, e todos pasmados.

    Nesta Oração os adjectivos Todos

    pasmados, naõ concordaõ em genero,

    nem em numero com o seu substantivo

    Gente, mas com o significado,

    que he Homens, e val o mesmo que

    Estavaõ muytos homens, e todos pasmados.

    Isto mesmo succede no Latim.

    D. Segunda regra. Todas as vezes, que

    na Oração o Verbo naõ concorda

    com o seu nominativo, mas com o

    significado, e sentido delle, ha Syllepse

    no numero.

    M. Dizey exemplo.

    D. Chegou a multidaõ, entraraõ na Cidade.

    Nesta Oração o Verbo Entraraõ

    naõ concorda com o seu nominativo

    Multidaõ no numero, mas com o

    significado, e sentido, que he Home~s,

    e val o mesmo, que Chegou a multidaõ,

    [254]

    entraraõ os homens na Cidade. O

    mesmo he no Latim.

    M. E desta figura pòde-se usar com todos

    os nomes, e Verbos?

    D. Naõ, só se usa com os que o uso introduzio,

    e saõ alguns nomes Collectivos.

    D. Terceyra regra. Todas as vezes que

    na Oraçaõ vem o Verbo, ou adjectivo

    no plurar, e os substantivos,

    hum está no caso competente, outro

    em ablativo com a preposiçaõ

    Com ha Syllepse no numero.

    M. Dizey exemplo.

    D. Pedro com sua irmãa partiraõ para Roma.

    Nesta Oraçaõ o Verbo Partiraõ naõ

    concorda em numero com o seu nominativo

    Pedro, mas concorda com

    o sentido, que he este. Pedro, e sua

    irmãa partiraõ para Roma. O mesmo

    he no Latim.

    M. Esta figura pode-se usar com todos os

    Verbos, e nomes?

    D. Sim.

    D. Quarta regra. Quando na Oraçaõ vem

    nome relativo, e antes de si naõ tem

    antecedente, e se percebe pelo sentido

    [255]

    da Oração, ha Syllepse relativa.

    M. Dizey exemplo.

    D. As nuvens choveraõ sangue, o qual chuveyro

    muytos viraõ. Nesta Oração o

    relativo qual não tem antecedente, e

    percebe-se pelo sentido ser a palavra

    Chuveyro. As nuve~ns choveraõ choveyro

    de sangue, o qual chuveyro muytos

    viraõ. O mesmo he no Latim,

    mas esta figura he rarissima.

    CAPITULO IV.

    Da figura Hyperbaton.

    Mestre. Que cousa he Hyperbaton?

    D. He estarem as palavras na Oração

    fóra do lugar natural, e confusas,

    a saber, estar o Verbo antes do

    seu nominativo, ou depois do seu caso,

    &c.

    M. Dizey exemplo.

    D. A Pedro amo eu. Nesta Oração as palavras

    estaõ fóra da ordem natural,

    porque Pedro he o caso do Verbo

    [256]

    está antes do Verbo Amo; e o Verbo

    Amo está antes do nominativo Eu.

    M. Quantas castas ha de Hyperbaton?

    D. No Portuguez tres.

    M. Quaes saõ?

    D. Anastrophe, que quer dizer inversão,

    Parenthesis, que quer dizer

    interposição, Synchesis, que quer

    dizer confuzaõ. No Latim ha mais.

    M. Que cousa he Anastrophe?

    D. He porse a palavra antes de outra palavra,

    devendo estar depois.

    M. Dizey exemplo.

    D. Pedro se matou. Nesta Oração a particula

    Se está antes do Verbo Matou,

    e o seu lugar natural era estar depois.

    Pedro matou-se. O mesmo he

    no Latim.

    M. E desta figura pode-se usar com todos

    os nomes, e palavras?

    D. Naõ. Sò com as que permitte o uso.

    M. Qual he a figura Parenthesis?

    D. He quando se interrompe o sentido da

    Oração, e depois se torna a continuar,

    e esta he bem vulgar.

    M. Qual he a figura Synchesis?

    D. He quando na Oração todas, ou muytas

    [257]

    palavras estaõ fora do seu lugar

    natural.

    M. Dizey exemplo.

    D. A Pedro amo eu. Nesta Oração todas

    as palavras estaõ fóra do lugar natural,

    como acima dissemos.

    M. E esta figura usa-se no Portuguez?

    D. No verso sim, na prosa naõ. No Latim

    em prosa, e verso se usa com

    mais, ou menos moderação.

    M. E na mesma Oraçaõ succede haver

    muytas figuras?

    D. Sim.

    M. Dizey exemplo.

    D. Pedro ha de mister curado. Nesta Oraçaõ

    ha a figura Anastrophe, porque a

    preposiçaõ De havia naturalmente

    estar depois da palavra Mister, e ha

    a figura Ellipse; porque na tal Oraçaõ

    falta, e se entende o Verbo Ser.

    Pedro ha mister de ser curado.

    [258]

    CAPITULO V.

    Dos Idiotismos.

    Mestre. Que cousa he Idiotismo?

    D. He o modo particular de fallar

    de alguma lingua.

    M. E que cousa he Idiotismo da lingua

    Portugueza?

    D. He o modo de fallar da lingua Portugueza

    particular da tal lingua.

    M. E neste Capitulo, que entendeis pela

    palavra Idiotismo?

    D. Entendo todos os modos, e termos de

    fallar da lingua Portugueza, que

    não tem conveniencia, ou semelhança

    com a Grammatica Latina,

    ainda que os taes modos de fallar da

    lingua Portugueza se achem na

    Grammatica de outras linguas vulgares,

    assim como na Castelhana, Italiana,

    &c.

    M. E quantas castas de Idiotismos ha na

    lingua Portugueza?

    D. Muytas.

    M. Dizey algumas.

    [259]

    D. Ha Idiotismos quanto aos artigos.

    M. Porque?

    D. Porque na lingua Portugueza os nomes

    commummente antes de si levão

    o seu artigo, e no Latim poucas

    vezes.

    M. Continuay os Idiotismos.

    D. Ha Idiotismos quanto às declinações

    dos nomes, e quanto ás terminações

    dos casos.

    M. Porque?

    D. Porque na lingua Portugueza só ha

    duas declinaçoens, como dissemos

    no Capitulo primeyro da primeyra

    parte desta Grammatica, e no Latim

    ha sinco. E porque na lingua

    Portugueza todos os casos tem a

    terminaçaõ do nominativo, e no Latim

    muytos casos naõ tem diversa

    terminaçaõ do nominativo.

    M. Continuay.

    D. Ha Idiotismos nos pronomes Isto, Isso,

    Aquillo, e no adjectivo Tudo, que

    significaõ por hum modo especial,

    e naõ tem plurar.

    M. Explicay isso.

    D. Pedro tudo quer para si. Nesta Oraçaõ

    [260]

    o adjectivo Tudo significa por hum

    modo particular, porque significa

    muytas cousas, e val o mesmo que

    se disseramos Pedro todas as cousas

    quer para si; e ao mesmo tempo he

    singular, e parece naõ tem substantivo,

    com quem concorde. E advirta-se

    que ha muyta differença entre o

    adjectivo Todo substantivado, e o

    adjectivo Tudo, porque dizemos

    v. g. Este palacio visto por partes naõ

    parece perfeyto, mas visto o todo delle, està

    perfeyto, e não podemos dizer Visto

    o tudo delle.

    M. E ha tambem Idiotismos nos Verbos?

    D. Sim.

    M. Quaes saõ?

    D. Primeyramente ha Idiotismo nas vozes

    dos Verbos.

    M. Porque?

    D. Porque os Verbos no Latim só tem

    duas vozes, activa, e passiva, e na

    lingua Portugueza tem quasi tres

    vozes.

    M. Quaes saõ?

    D. Voz activa, passiva, e reciproca, que

    he hum modo de significar quasi como

    [261]

    se fora outra voz.

    M. Que cousa he essa voz, a que chamais

    reciproca?

    D. He quando o Verbo significa de sorte,

    que mostra que a acçaõ, ou significaçaõ

    do Verbo sahe, e torna para a

    mesma pessoa.

    M. Dizey exemplos.

    D. Eu ferime, onde o Verbo Ferime mostra

    que a acçaõ de ferir sahio de mim, e

    para mim tornou. Comeceyme a queyxar,

    ou comecey a queyxarme, onde a

    acçaõ de queyxar sahe de mim, e

    torna para mim. Estes Idiotismos

    às vezes saõ Grammatica muyto

    barbara.

    M. E como se reciprocaõ os Verbos?

    D. Reciprocaõ-se, accrescentando-selhes os

    pronomes Me, Te, Se, Nós, Vós, Se.

    M. Dizey exemplo.

    D. Eu amome, Tu amas-te. Elle ama-se,

    Nós amamonos, Vòs amais-vos, Elles

    amaõ-se. Eu amavame, &c. accrecentando

    o pronome Me a primeyra

    pessoa do singular, o pronome Te á

    segunda, o pronome Se à terceyra,

    o pronome Nós à primeyra do plurar,

    [262]

    o pronome Vós á segunda, o pronome

    Se á terceyra.

    M. E podem reciprocarse quaesquer Verbos?

    D. Alguns não, assim como o Verbo Leyo,

    porque não podemos dizer Eu leyo-me,

    &c. Porèm alguns Verbos ha,

    que, ainda que se naõ pódem reciprocar

    quanto à significaçaõ, reciprocaõ-se

    quanto á terminação.

    M. Dizey exemplo.

    D. Escrevo he Verbo, que se naõ reciproca

    quanto á significaçaõ, porque nunca

    mostra que a acção de escrever

    sahe, e torna para a mesma pessoa,

    mas reciprocamolo na terminação,

    porque dizemos Eu escrevome com

    Pedro em lugar de dizer Eu escrevo

    a Pedro, e Pedro escreveme a mim, com

    que lá vem a ter hum certo ar de reciproco.

    Tambem damos terminação, e ar de

    reciprocos a alguns Verbos, que o

    naõ pòdem ser, assim como Voume,

    Vas-te, Riome de Pedro, Riaõ-se de

    Pedro, e outros muytos, que fazem

    huma Grammatica barbara, e embaraçada.

    [263]

    M. Dissestes que a particula Se reciprocava

    os Verbos nas terceyras pessoas.

    Pergunto, e a tal particula Se naõ

    faz tambem muytas vezes voz passiva

    nas terceyras pessoas?

    D. Sim.

    M. Dizey exemplos.

    D. Os Turcos matavaõ-se á espada pelos

    Portuguezes. Nesta Oraçaõ a particula

    Se faz passivo o Verbo Matavaõ,

    e val o mesmo que se disseramos

    Os Turcos eraõ mortos à espada,

    &c. Porèm nestoutra Oração Os

    Turcos matavaõ-se por naõ ficarem cativos,

    a particula Se reciproca o Verbo

    Matavaõ, porque mostra que a

    acção de matar sahia dos Turcos, e

    tornava para elles, e val o mesmo

    que se dissera. Os Turcos matavaõ

    a si mesmos por naõ ficarem cativos.

    M. E como se conhece se a particula Se

    faz o Verbo passivo, ou reciproco?

    D. Conhece-se desta sorte. Attenta-se

    donde nasce a acçaõ, ou significação

    do Verbo, e se nasce do nome que

    está na Oraçaõ em nominativo, está

    o Verbo reciprocado; porèm se nasce

    [264]

    de nome, que está em accusativo e

    a preposiçaõ Por, ou Ablativo com

    preposiçaõ, está o Verbo na voz

    passiva.

    M. Dizey exemplo.

    D. Pedro pintava se neste paynel. Nesta Oraçaõ

    a acçaõ de pintar nasce de Pedro,

    que está em nominativo, e assim

    o Verbo Pintava está reciprocado.

    Ao contrario nesta Oraçaõ. Pedro

    pintava se neste paynel pelo seu Mestre.

    Nesta Oraçaõ a acçaõ de pintar nasce,

    e sahe do Mestre, que está em accusativo

    com a preposiçaõ Por, ou

    Pelo, e assim mostra que o Verbo

    Pintava com a particula Se está passivo.

    M. Muyto embaraçada he a Grammatica

    dos Verbos reciprocados.

    D. Sim, e por isso, e porque discorda

    muyto da Latina, se não deve ensinar

    aos meninos.

    M. Continuay os Idiotismos dos Verbos.

    D. Ha Idiotismos nos tempos compostos

    activos, como já dissemos no Capitulo

    sexto da primeyra parte desta

    Grammatica.

    [265]

    M. Continuay.

    D. Ha Idiotismos nos Infinitivos.

    M. Porque?

    D. Porque na lingua Portugueza a voz

    do Infinitivo naõ pòde supprir as

    vozes do Indicativo, v. g. a voz Amar

    naõ pode supprir o Indicativo com

    a particula Que, Que amo, Que amava,

    Que amey, Que hey de amar, &c.

    e no Latim sim.

    M. Explicay isso mais.

    D. Quando dizemos no Portuguez, v. g.

    Pedro sabe que eu amo a seus irmãos, o

    Verbo Amo a respeyto da lingua

    Portugueza està no Indicativo, a respeyto

    porèm do Latim está ou no

    Indicativo, ou no Infinitivo, conforme

    querem usar. No Portuguez cõtudo

    não se pode usar da voz Amar

    que he a voz do presente do Infinitivo.

    Isto mesmo succede com o preterito

    do Indicativo quando antes de si

    tem a particula Que, e com o futuro

    composto do Verbo Haver, v. g. Pedro

    dizia que eu amara a seus irmãos.

    Ou Pedro dizia que eu havia de amar

    [266]

    a seus irmãos. Onde no Portuguez

    huma, e outra Oração estão no Indicativo,

    e não se pódem fazer por

    voz do Infinitivo, no Latim sim.

    M. Continuay os Idiotismos.

    D. Ha Idiotismos tambem no Infinitivo,

    porque na lingua Portugueza o Verbo

    no Infinitivo serve naõ só de nome,

    mas tem tempos, numeros, e

    pessoas, e no Latim o Infinitivo,

    posto que sirva de nome, com tudo

    nunca tem artigo, numeros, nem

    pessoas.

    M. Dizey exemplo.

    D. O eu ler a miude me faz mal aos olhos. O

    tu leres a miude te faz mal aos olhos.

    O elle ler a miude, &c. O nòs lermos

    a miude, &c. O vòs lerdes a miude,

    &c. O elles lerem a miude, &c. Nas

    quaes Oraçoens o Verbo Ler, Leres,

    &c. está no Infinitivo, tem artigo,

    pessoas, e numeros. Da mesma sorte

    podemos dizer no tempo preterito.

    O eu ter lido a miude, o tu teres

    lido a miude, &c. Da mesma sorte

    no tempo futuro. O eu haver de ler

    a miude. O tu haveres de ler a miude,

    &c.

    [267]

    M. E porque naõ puzestes esse tempo

    conjugado quando tratastes das Cõjugaçoens

    dos Verbos?

    D. Porque este tempo he o mesmo, e se

    regùla pelo futuro do Conjuntivo,

    v. g. Como eu ler, Como tu leres, &c.

    M. E em todos os Verbos se regùla pelo

    futuro do Conjuntivo?

    D. Nos Verbos regùlares sim, nos irregulares

    naõ, porque nos irregulares

    commummente se differença a terminação

    do Infinitivo da terminação

    do futuro do subjunctivo, v. g.

    Ser no futuro do subjunctivo faz Como

    eu for ver, Como eu vir. Dizer.

    Como eu disser, &c.

    M. Continuay os Idiotismos.

    D. Ha Idiotismos nos Gerundios.

    M. Porque?

    D. Porque na lingua Portugueza só ha

    hum Gerundio, que he o Gerundio

    em Do, assim como Amando, e no

    Latim ha tres Gerundios, hum em

    Di, outro em Do, outro em Dum,

    para explicar os quaes se serve a lingua

    Portugueza da voz do Infinitivo

    com alguma preposiçaõ, assim

    [268]

    como De amar, Para amar, &c.

    M. Continuay.

    D. Ha Idiotismos nos Participios activos.

    M. Porque?

    D. Porque na lingua Portugueza o Gerundio

    em Do quando leva adiante

    de si os pronomes Eu, Tu, Elle, Nós,

    Vós, Elles, serve de Participio activo,

    e tambem muytas vezes, ainda

    que naõ leve diante os taes pronomes,

    v. g. Vendo eu o successo, chamey

    a Pedro. Onde o Verbo Vendo está

    no participio activo. Da mesma sorte

    Soprando o vento se alterou o mar.

    Onde Soprando he participio activo.

    M. Continuay os Idiotismos.

    D. Ha Idiotismos nos adverbios, preposiçoens,

    conjunçoens, &c. que o uso

    facilmente ensina, e se percebem cõ

    facilidade.

    M. Continuay.

    D. Ha Idiotismos na Syntaxe de concordancia.

    M. Porque?

    D. Porque os participios passivos quando

    com o Verbo Haver formaõ os tempos

    compostos, muytas vezes naõ

    [269]

    concordaõ com os seus substantivos,

    como já advertimos no Capitulo

    primeyro da Segunda Parte desta

    Grammatica.

    M. Continuay.

    D. Ha Idiotismos na concordancia do

    Verbo com o seu nominativo.

    M. Porque?

    D. Porque o Verbo Haver nas terceyras

    pessoas do numero singular não concorda

    em numero com o seu nominativo.

    M. Dizey exemplo.

    D. Ha muytas flores neste jardim. Onde o

    Verbo Haver está no numero singular,

    e o seu nominativo Flores no

    plurar. Da mesma sorte: Havia

    muytas flores neste jardim, &c. O que

    he hum Idiotismo, e Grammatica

    muyto irregular.

    M. Continuay.

    D. Ha Idiotismos na regencia dos casos.

    M. Dizey-os.

    D. Ha Idiotismos na regencia dos nominativos.

    M. Porque?

    D. Porque muytas vezes o Verbo naõ

    [270]

    tem nominativo, nem claro, nem occulto,

    e os nomes, que deviaõ servir

    de nominativo, estaõ em outros

    casos.

    M. Dizey exemplo.

    D. A mim naõ se me dà de Pedro. Onde o

    Verbo Da naõ tem nominativo algum

    claro, ou occulto. O pronome

    A mim está em dativo, e o nome Pedro

    em ablativo. Da mesma sorte.

    A mim naõ se me dà de Francisco hum

    caracol. Onde tambem não ha nominativo

    nem claro, nem occulto,

    porque as palavras Hum caracol estaõ

    em accusativo, ou ablativo de

    preço. E val o mesmo que se disseramos.

    Naõ estimo a Francisco em

    hum caracol, ou por hum caracol, segundo

    deyxamos explicado na Syntaxe.

    M. Continuay.

    D. Ha Idiotismos no nominativo absoluto,

    porque o não ha no Latim, e o

    ha no Portuguez, v. g. Posto eu a

    menza deu meyo dia. Onde os nomes

    Posto eu estaõ em nominativo, como

    fica dito na Syntaxe.

    [271]

    M. E ha algu~a duvida nessa Grammatica,

    que seguis nesta materia.

    D. Alguma pòde causar ver que nos participios

    activos postos em caso absoluto

    muytas vezes o pronome, com

    quem concordaõ, he Me, Te, Se, &c.

    os quaes naõ pòdem ser nominativos,

    assim como nestas Oraçoens Indome

    para França. Pondome à menza

    ouvi a noticia, em que os participios

    estaõ no caso absoluto, e concordando

    com o pronome Me. Porem

    eu entendo que nestes modos de fallar

    ha Ellipse do nominativo Eu,

    Tu, Elle, &c. e que o pronome só

    serve de reciprocar o participio,

    porque dizemos Indome eu para

    França. Pondome eu à menza. Onde

    claramente o participio Indo, e Pondo

    concorda com o pronome Eu, que he

    nominativo, e a particula Me só

    serve de dar ao participio hum ar

    de reciproco.

    M. Continuay.

    D. Ha Idiotismos na regencia dos accusativos.

    M. Porque?

    [272]

    D. Porque muytas vezes o Verbo tomado

    impessoalmente rege accusativo

    a qual Grammatica he muyto diversa

    da Latina.

    M. Dizey exemplo.

    D. Manda ElRey que se prendaõ os traidores.

    Onde o nome, e artigo Os traidores

    està claramente em accusativo, e

    parece ser regido do Verbo se pre~daõ,

    que està impessoal.

    M. Esta Grammatica he muyto barbara,

    podeylla por ventura reduzir a

    Grammatica Latina?

    D. Sim, dizendo que o nome Traidores

    esta alli pela figura Syllepse regido

    do Verbo Prender, naõ do tal Verbo,

    segundo se acha impessoal na Oraçaõ,

    mas do Verbo, segundo o seu

    sentido, que he este Manda ElRey

    que prendaõ os traidores.

    M. Continuay.

    D. Ha Idiotismos na significaçaõ das palavras.

    M. Porque?

    D. Porque as palavras muytas vezes significaõ

    huma cousa, e querem dizer

    outra.

    [273]

    M. Dizey exemplos.

    D. A Deos. Estas palavras saõ o termo, de

    que usamos nas despedidas, e significaõ

    Deos, mas querem dizer Ficay

    com bem, ou Deos vos guarde. Da

    mesma sorte Morrer de fome. Nestas

    palavras o Verbo Morrer, que significa

    acabar a vida, quer dizer Ter

    grande fome. Morrer de riso, quer

    dizer Ter grande vontade de rir, ou

    Rir muyto.

    M. Continuay.

    D. Ha outros muytos termos de fallar na

    lingua Portugueza, que saõ puros

    Idiotismos, assim como Pedro aborreceme

    como moscas, que val o mesmo

    que Tenho tanto aborrecimento a Pedro,

    como tenho às moscas, ou Tenho

    odio grande a Pedro. Esqueceome

    o livro, que val o mesmo que Esquecime

    do livro, e outros, que o uso ensina.

    M. E deve o Mestre ensinar a Grammatica

    destes Idiotismos aos meninos?

    D. Naõ, principalmente a dos muyto embaraçados,

    deve sómente dizerlhe

    que saõ Idiotismos.

    M. Dizey algu~as regras nesse particular.

    [274]

    D. Primeyra regra. Todas as vezes que

    na Oraçaõ vierem as palavras Tudo,

    Isto, Isso, Aquillo, ha suspeyta de Idiotismo

    embaraçado, e assim o Mestre

    o naõ explicará ao menino.

    Segunda regra. Todas as vezes que

    na Oração vierem os pronomes, ou

    particulas Me, Te, Se, Lhe, &c. ha

    suspeyta de Idiotismo, e o Mestre

    o naõ explicará ao menino.

    Terceyra regra. Todas as vezes que

    o Verbo estiver no modo Infinito, ha

    suspeyta de Idiotismo, e o Mestre

    o naõ explicará ao menino.

    Quarta regra. Todas as vezes que na

    Oração vier o Verbo Haver, ha suspeyta

    de Idiotismo, e o Mestre o naõ

    explicará ao menino.

    M. E se o Mestre conhecer claramente,

    que naõ ha Idiotismo?

    D. Entaõ poderá dizer a Grammatica ao

    menino.

    M. E se o Mestre conhecer no menino

    boa percepçaõ, e perspicacia, que

    farà?

    D. Entaõ poderlhe-ha ensinar os Idiotismos

    mais faceis. Os muyto difficultozos

    [275] 

    porèm nunca se devem

    ensinar, se naõ com grande cautela

    de o naõ confundir.

    M. Tendes mais que dizer dos Idiotismos

    da lingua Portugueza?

    D. Mais ha que dizer, mas isto basta.

    CAPITULO VI.

    Das figuras da Dicçaõ.

    Mestre. Que cousa he Dicçaõ?

    D. He a palavra, ou o dito.

    M. E que cousa he figura da Dicçaõ?

    D. He o modo particular de dizer, ou escrever

    algu~as palavras contra as regras

    commuas.

    M. Quantas figuras ha de Dicçaõ?

    D. Diversas, mas todas se podem reduzir

    a tres.

    M. Quaes saõ?

    D. Addiçaõ, Subtracçaõ, Commutaçaõ.

    M. E que quer dizer Addiçaõ?

    D. Quer dizer accrecentamento.

    M. Que cousa he Addiçaõ?

    D. He quando na palavra se accrecenta

    [276]

    alguma letra, que segundo as regras

    commuas naõ devia ter.

    M. Dizey exemplo.

    D. Assombrar. Esta palavra segundo as

    regras commuas devia dizerse Sombrar,

    porque nasce da palavra Sombra,

    e significa fazer sombra, mas

    pela figura Addiçaõ se lhe accrecentaõ

    as letras As.

    M. E quantas castas ha de Addiçaõ?

    D. Tres, a saber, no principio da palavra,

    no meyo, e no fim.

    M. Qual he a Addiçaõ no principio da

    palavra?

    D. He quando no principio da palavra se

    accrecenta alguma letra, ou letras,

    que segundo as regras commuas

    não devia ter, assim como Assombrar.

    M. E como se chama entaõ a essa figura?

    D. Prothese, ou Addição.

    M. E essa figura he muyto usada na lingua

    Portugueza?

    D. Naõ muyto; mas usa-se em alguns

    Verbos, e nomes, que se sabem pelo

    uso.

    M. E qual he a Addiçaõ no meyo da palavra?

    [277]

    D. He quando no meyo da palavra se accrecenta

    alguma letra, que segundo

    as regras commuas naõ devia ter.

    M. Dizey exemplo.

    D. Eu Queyra, tu Queyras, &c. nestas

    pessoas, e tempo do Verbo Querer

    se accrecenta a letra I, no meyo da

    palavra, que segundo as regras da

    Grammatica devia estar sem ella, e

    devia dizerse, Eu Quera, tu queras,

    &c. porque o Verbo Querer naõ tem

    I, no Infinitivo, ou Indicativo, que

    he donde se formaõ as pessoas, e

    tempos do Verbo.

    M. E como se chama a essa figura?

    D. Epenthese, ou Interjeyçaõ.

    M. E he muyto usada na lingua Portugueza?

    D. Naõ muyto, e sabe se pelo uso.

    M. E qual he a Addiçaõ no fim da palavra?

    D. He quando no fim da palavra se accrecenta

    alguma letra ou letras, que segundo

    as regras commuas naõ devia

    ter.

    M. Dizey exemplo.

    D. Eu quiz, nesta pessoa, e tempo perfeyto

    do Indicativo do Verbo Querer

    [278]

    se accrecenta no fim a letra Z, que

    segundo as regras das formaçoens

    naõ devia ter.

    M. E como se chama essa figura?

    D. Paragoge, ou Adjunçaõ.

    M. E he muyto usada na lingua Portugueza?

    D. Naõ.

    M.Que cousa he Subtracçaõ?

    D. He quando na palavra se tira alguma

    letra, ou letras, que segundo as regras

    commuas devia ter.

    M. Dizey exemplo.

    D. Pollonia, onde o nome Apollonia perde

    a letra A, que devia ter.

    M. E que quer dizer Subtracçaõ?

    D. Quer dizer tiramento, ou diminuição.

    M. E quantas castas ha de Subtracçaõ?

    D. Tres, a saber, no principio da palavra,

    no meyo, e no fim.

    M. Qual he a Subtracçaõ no principio?

    D. He quando no principio da palavra se

    tira alguma, ou algumas letras, que

    segundo as regras commuas deviaõ

    ficar, assim como Pollonia em lugar

    de Apollonia.

    M. E como se chama a essa figura?

    [279]

    D. Apherese, ou Subtracçaõ simplesmente.

    M. E he muyto usada na lingua Portugueza?

    D. Naõ.

    M. Qual he a Subtracçaõ no meyo da palavra?

    D. He quando no meyo da palavra se tira

    alguma, ou algumas letras, que segundo

    as regras commuas devia ter.

    M. Dizey exemplo.

    D. Como vòs amares, onde a palavra Amardes

    perde a letra D, que se lhe devia

    pòr, e dizer Como vós amardes.

    M. E como se chama a essa figura?

    D. Chama-se Syncope, ou Concisaõ.

    M. E he muyto usada na lingua Portugueza?

    D. Sim.

    M. Dizey em que palavras se usa.

    D. Usa-se nas segundas pessoas do numero

    plurar do futuro do conjuntivo

    dos Verbos, pelo que dizemos

    Como vòs amares, ou Amardes. Como

    vòs escreveres, ou Escreverdes. Como

    vòs admittires, ou Admittirdes. Usa-se

    tambem com a segunda pessoa do

    numero plurar do tempo presente

    [280]

    do Verbo Haver quando faz futuro

    composto, pelo que dizemos Vos heis

    de amar, ou Vós haveis de amar.

    Usa-se tambem com o futuro composto

    do Verbo Dizer quando vem

    com os pronomes Me, Te, Se, Lhe,

    Nòs, Vòs, Lhes, assim como Dirme-ha,

    Dirte-ha, Dirnos-haõ em lugar

    de Dizerme-ha, Dizerte-ha, &c. Usa-se

    mais em outras palavras, que ensinarà

    o uso, assim como Pero em lugar de

    Pedro, Payo em lugar de

    Pelayo, &c.

    M. E qual he a Subtracçaõ no fim da palavra?

    D. He quando no fim da palavra se tira

    alguma letra, ou letras, que devia ter

    segundo as regras commuas.

    M. Dizey exemplo.

    D. Elle quer, onde a palavra Quer perde a

    ultima letra E, porque segundo as

    regras das Conjugaçoens commuas

    devia ser Elle quere.

    M. E como se chama essa figura?

    D. Apocope, ou Separaçaõ.

    M. E he muyto usada na lingua Portugueza?

    [281]

    D. Naõ. Usa-se com tudo nas terceyras

    pessoas do numero singular do

    tempo presente do modo Indicativo

    de alguns verbos, assim como

    Elle produz, Elle luz, Elle diz, Elle faz,

    que segundo as regras deviaõ ser,

    Elle produze, Luze, Dize. Usa-se mais

    em algumas palavras, que o uso ensinarà.

    M. Que cousa he Commutaçaõ?

    D. He quando na palavra se muda huma,

    ou muytas letras em outra, ou outras,

    contra as regras commuas.

    M. Dizey exemplo.

    D. Eu sinto, onde na palavra Sinto a letra

    E, se muda na letra I, porque devendo

    dizerse Eu sento do Infinitivo

    Sentir, se diz Eu sinto. Da mesma

    sorte a palavra Perco muda a letra D,

    em C, porque nasce do Infinitivo

    Perder. A palavra Digo muda o Z,

    em G, porque nasce do Infinitivo

    Dizer.

    M. E essa figura he muyto usada na lingua

    Portugueza?

    D. Sim.

    M. Dizey quando se usa.

    [282]

    D. Usa-se em diversas pessoas, e tempos

    de alguns Verbos irregulares, assim

    como Digo, Diga, Perco, Perca,

    Minto, Minta, dos Verbos Dizer,

    Perder, Mentir. Vòs ledes, Lede

    vòs, do Verbo Ler, Peço, de Pedir,

    Despeço de Despedir, &c.

    M. Usa-se mais algumas vezes?

    D. Usa-se tambem em algumas palavras

    derivadas, assim como Prisaõ, que se

    deriva, isto he, que nasce do Verbo

    Prender, e muda o E, em I.

    M. Usa-se mais algumas vezes?

    D. Usa-se juntamente com outras figuras

    em diversas palavras.

    M. Que quer dizer isso?

    D. Quer dizer que em algumas palavras

    se acha esta figura Commutaçaõ, e

    tambem outras figuras.

    M. Dizey em que palavras.

    D. Na preposiçaõ Em, na preposiçaõ Por,

    na palavra Cento, na palavra Santo,

    e em outras.

    M. Explicay isso.

    D. Quando à preposiçaõ Em, se ajuntão

    os artigos O, Os, A, As, a tal preposição

    Em, por Subtracção perde a

    [283]

    letra E, e pela figura Commutação

    muda a letra M, em N, e junta com

    o artigo faz No, Nos, Na, Nas, assim

    como Estou em o campo, ou no campo.

    Estou em casa de Pedro, ou na casa de

    Pedro.

    Da mesma sorte, quando com a preposiçaõ

    Por se ajuntaõ os artigos O, ou Os, A, ou

    As, muda pela figura Commutação

    as letras O, e R, em E, e L,

    e junta com os artigos faz Pelo, Pelos,

    Pela, Pelas, assim como Pelo mar,

    ou Por mar. Pela terra, ou Por terra.

    Da mesma sorte na palavra Cento pela

    figura Subtracçaõ perde as letras ultimas

    T, e O, e pela figura Commutaçaõ

    muda a letra N, em M, e faz

    Cem.

    Tambem a palavra Santo quando se

    accommoda aos nomes de Santos,

    que começão por letra consoante,

    pela figura Subtracção perde a letra

    T, e pela figura Commutação muda

    o M, em til, e fica Saõ, assim como

    Saõ Francisco, Saõ Gregorio, &c. exceptua-se

    desta regra Santo Thomas,

    que posto que começa o nome Thomas

    [284]

    por consoante, se lhe accommoda

    a palavra Santo.

    Pelas mesmas figuras dizemos Graõ

    Prior, Graõ Mestre, Graõ Turco, em

    lugar de Grande Prior, Grande Mestre,

    &c.

    M. E usa-se algumas vezes mais da figura

    Commutação?

    D. Usa-se com todas as pessoas dos Verbos,

    que acabaõ em S, quando se lhe

    ajunta o relativo O, Os, A, As, porque

    muda entaõ a pessoa do Verbo

    a ultima letra S, em L.

    M. Dizey exemplos.

    D. Tu amalo em lugar de Tu o amas. Nós

    amamolo em lugar de Nós o amamos.

    Vós amastelo em lugar de Vós o amastes,

    onde todas as pessoas acabadas

    em S, mudaõ o ultimo S, em L.

    Tambem se usa da figura Comutação

    com a figura Addição em todas as

    pessoas dos Verbos acabadas em R,

    quando se ajuntaõ com os relativos

    acima ditos O, Os, A, As, porque as

    taes pessoas, ou palavras do Verbo

    mudaõ o R, ultimo em L, e se lhe

    accrecenta outro L, assim como Ha

    [285]

    de querello em lugar de Ha de o querer.

    A Deos he bom amallo em lugar

    de He bom amar a Deos, onde as palavras

    Querer, e Amar mudaõ o ultimo

    R, em L, e se lhe accrecenta outro

    L, e estaõ juntas com o relativo

    O.

    Ultimamente usa-se a figura Commutaçaõ

    com outras palavras, que o uso

    ensinará.

    M. Ha mais alguma figura da Dicçaõ?

    D. Ha outra cousa, a que tambem podemos

    chamar figura da Dicçaõ.

    M. Qual he?

    D. He a Apostrophe.

    M. Que quer dizer Apostrophe?

    D. Quer dizer Retroversaõ, ou Volta.

    M. E que cousa he Apostrophe?

    D. He quando alguma palavra perde a ultima

    vogal para hir continuando cõ

    a palavra, que lhe vay diante, e formarem

    ambas huma só palavra.

    M. Dizey exemplo.

    D. Antontem, onde das palavras Ante, e

    Ontem se forma huma só palavra, e

    para se fazer de ambas huma só palavra

    perde a palavra Ante a ultima

    [286]

    vogal que he a letra E, e se ajunta

    com a palavra Ontem.

    M. E he muyto usada a Apostrophe na lingua

    Portugueza?

    D. Sim.

    M. Dizey quando se usa.

    D. Usa-se em alguns nomes proprios,

    assim como Pedralves em lugar de

    Pedro Alvares, Marianna, em lugar

    de Maria Anna, &c.

    Usa-se com os pronomes Me, Te, Lhe,

    quando vem antes dos relativos O,

    Os, A, As, assim como Dissemo, que

    sem Apostrophe havia de ser Disseme o.

    Digama, que sem Apostrophe havia

    de ser Digame a. Lha manda, que

    sem Apostrophe havia de ser Lhe a

    manda, &c.

    Usa-se mais em algumas palavras, que

    o uso mostra.

    M. E porque se chama a esta figura Apostrophe,

    ou Volta, ou Retroversaõ?

    D. Porque para sinal de haver Apostrophe,

    nas palavras usaõ em algumas linguas

    por huma virgulasinha voltada

    para a palavra, que perde a vogal, desta

    sorte Ant’ontem, porem na lingua

    [287]

    Portugueza naõ usamos deste sinal.

    M. Tendes mais que dizer das figuras da

    Dicçaõ?

    D. Mais ha que dizer, mas isto basta.

    CAPITULO VII.

    Das palavras Encliticas.

    Mestre. Que cousa he palavra, ou

    dicçaõ Enclitica?

    D. Dicçaõ Enclitica he aquella particula,

    ou palavra, que perde o seu tom, e

    o poem na ultima syllaba da palavra

    antecedente, se he capaz delle.

    M. E que cousa he tom?

    D. He hum certo geyto ou diversidade de

    som, com que pronunciamos a mesma

    palavra, ou particula.

    M. Dizey exemplo.

    D. Dizme nesta palavra a particula Me se

    pronuncia com algum geyto, ou diversidade,

    do que quando pomos a

    particula Me, antes do Verbo Diz,

    e pronunciamos Me diz.

    M. Isto he huma cousa, que mal se percebe,

    [288]

    ou conhece.

    D. Assim he, e na verdade em algumas

    palavras se percebe mais, em outras

    menos.

    M. E que cousa he Syllaba?

    D. Isso naõ pertence aqui. Agora baste

    dizer que he a pronunciaçaõ de alguma,

    ou algumas letras vogaes per

    si só, ou com algu~a, ou algumas consoantes.

    M. Dizey exemplo.

    D. A, Da, Foz, Os, Mey, &c. cada huma

    destas pronunciaçoens faz huma

    syllaba.

    M. E quaes saõ as particulas, ou dicçoens

    Encliticas na lingua Portugueza?

    D. Saõ estas Me, Te, Se, Lhe, Nós, Vòs,

    Lhes, e a meu ver tambem os relativos

    O, Os, A, As.

    M. E quaes saõ as regras dos Encliticos?

    D. Saõ estas. Todas as vezes que estas

    particulas, ou pronomes Me, Te,

    Se, Lhe, Nòs, Vòs, Lhes, se poem

    logo depois do Verbo, se fazem Encliticas.

    Isto he mudaõ o seu tom.

    M. Dizey exemplos.

    D. Mandeme, Mandaisme, Dizte, Perdese.

    [289]

    Delhe, Fizeramos, Digovos,

    Dizemlhes, onde as particulas Me,

    Te, &c. perdem o tom proprio, e

    se fazem Encliticas, porque estaõ

    postas logo depois dos Verbos Mande,

    Diz, &c.

    M. E quando essas particulas, ou pronomes

    se poem antes do Verbo, saõ

    Encliticas?

    D. Naõ.

    M. Dizey exemplo.

    D. Pedro me he suspeyto, onde a particula

    Me, naõ he Enclitica, porque està

    antes do Verbo He.

    M. E esses pronomes, ou particulas podem-se

    por antes, ou depois do

    Verbo?

    D. Commummente ou se podem pòr antes,

    ou depois.

    M. Dizey exemplo.

    D. Tu daslhe paõ, ou Tu lhe das paõ, onde

    a particula Lhe em huma Oraçaõ

    está depois do Verbo Das, em outra

    está antes.

    M. E quando he que saõ Encliticos os relativos

    O, Os, A, As?

    D. Quando se ajuntaõ aos pronomes Me,

    [290]

    Te, &c. que vem logo depois dos

    Verbos.

    M. Dizey exemplo.

    D. Deylhos, onde o relativo Os está Enclitico,

    porque se ajunta ao pronome

    Lhe vindo depois do Verbo Dey.

    M. Tendes mais que dizer das palavras

    Encliticas?

    D. Mais ha que dizer, mas isto basta.

    [291]

    QUARTA PARTE

    DA GRAMMATICA

    PORTUGUEZA.

    CAPITULO I.

    Dos Dialectos da lingua Portugueza.

    MESTRE. Que quer dizer

    Dialecto?

    D. Quer dizer modo de fallar.

    M. Que cousa he Dialecto?

    D. He o modo diverso de fallar a mesma

    lingua.

    M. Dizey exemplo.

    D. O modo, com que se falla a lingua Portugueza

    nas terras v. g. da Beyra, he

    diverso do com que se falla a mesma

    [292]

    lingua Portugueza em Lisboa

    porque em huma parte se usa de humas

    palavras, e pronuncia, e em outra

    parte se usa de outras palavras, e

    outra pronuncia, naõ em todas as

    palavras, mas em algumas. Esta diversidade

    pois de fallar, que observa

    a gente da mesma lingua, he que se

    chama Dialecto.

    M. E quantas castas ha de Dialectos?

    D. Muytas, mas as principaes saõ tres.

    M. Quaes saõ?

    D. Dialectos locaes, e Dialectos de tempo,

    e Dialectos de profissaõ.

    M. Que cousa he Dialecto local?

    D. Dialecto local he a differença, com que

    se falla a mesma lingua em diversas

    terras da mesma naçaõ.

    M. Dizey exemplo.

    D. A diversidade, com que se falla a lingua

    Portugueza nas terras da Beyra,

    e da Estremadura, he Dialecto local.

    M. E quantos Dialectos locaes tem a lingua

    Portugueza?

    D. Muytos, mas os principaes saõ cinco.

    M. Quaes saõ?

    D. O Dialecto da Provincia da Estremadura,

    [293]

    o da Provincia de Entre Douro,

    e Minho, o da Beyra, o do Algarve,

    e o de Tras os Montes.

    M. E que cousa he o Dialecto da Provincia

    da Estremadura?

    D. He a pronuncia, palavras, e modo de

    fallar a lingua Portugueza usado nas

    terras da Provincia da Estremadura.

    M. E que cousa he o Dialecto da Provincia

    de Entre Douro, e Minho?

    D. He a pronuncia, palavras, e modo de

    fallar a lingua Portugueza usado

    nas terras da Provincia do Minho, o

    mesmo se deve de dizer competentemente

    dos demais.

    M. E em que differe o Dialecto de Entre

    Douro, e Minho, do da Estremadura?

    D. Differe na pronuncia, porque a letra

    V, consoante pronunciaõ como B,

    ao Vinho dizem Binho; a letra B, pronunciaõ

    como V consoante, ao Vento,

    dizem Bento. As letras aõ pronunciaõ

    om, ao Naõ dizem Nom, ao

    Paõ Pom. Differe nas palavras, porque

    à Viraçaõ chamaõ Marè, à Alameda

    chamaõ Devesa. Differem no

    modo de fallar, porque fazem a alguns

    [294]

    nomes masculinos femininos,

    e aos femininos masculinos, O fim dizem

    A fim. A febre dizem O febre, e

    tambem mudaõ em alguns Verbos

    as terminaçoens das pessoas, Eu estive

    dizem Eu esteve. Eu fiz dizem

    Eu fez.

    M. E em que differe o Dialecto da Beyra

    do da Estremadura?

    D. Differe na pronuncia, porque ao ditongo

    Ou sempre pronunciaõ Oy, a Ouvir

    dizem Oyvir, a Couves dizem

    Coyves. Esta pronuncia se reteve no

    Dialecto da Estremadura em muytas

    palavras, porque ao Couro dizemos

    Coyro, ao Mouro Moyro, ao

    Touro Toyro, &c.

    Differe outro sim o Dialecto da Beyra

    do da Estremadura, porque às palavras,

    que começaõ por A, accrecentaõ

    muytas vezes a letra I, Agoa dizem

    Aiagoa. A alma dizem Aialma.

    Differem nas palavras, porque aos

    Canteyros de flores, ou hortaliça chamaõ

    Leyras, aos Vagados Oyras, aos

    Rapazes Cachopos, às Raparigas Cachopas.

    [295]

    M. Em que differe o Dialecto de Tras os

    Montes do da Estremadura?

    D. Differe na pronuncia, e nas palavras,

    que condizem muyto com as da

    Beyra, e Entre Douro, e Minho.

    M. E em que differe o Dialecto do Algarve

    do da Estremadura?

    D. Differe na pronuncia, porque ao E, fechado

    pronunciaõ como I, assim como

    Pedaço dizem Pidaço, e ao I,

    pronunciaõ como E fechado, assim

    como Dizer pronunciaõ Dezer, e

    em outras cousas. Meu dizem Mey,

    Seis horas dizem Seis joras.

    M. E porque naõ pondes o Dialecto da

    Provincia de Alentejo entre os demais?

    D. Porque differe pouco do da Estremadura,

    ao Concertar chama Amanhar,

    aos Casaes chama Montes, &c. e dizem

    tem alguns defeytos da pronuncia

    do Algarve.

    M. E ha mais alguns Dialectos locaes?

    D. Ha alguns de alguns lugares de Tras os

    Montes, e Minho nas rayas de Portugal,

    que saõ muyto barbaros, e

    quasi que se naõ pòdem chamar

    [296]

    Portuguez, mas só os usa a gente

    rustica da quelles lugares.

    M. E que cousa he Dialecto de tempo?

    D. He a differe~ça do fallar da mesma lingua

    em diversos tempos.

    M. E quantos Dialectos de tempo ha na

    lingua Portugueza?

    D. Podemos dizer que tres.

    M. Quaes saõ?

    D. Antiquissimo, e he o que se usou atè o

    tempo de ElRey Dom Diniz o

    Sexto de Portugal. Antigo, e he o

    que se usou quasi atè a perda de ElRey

    D. Sebastiaõ, e Moderno, e he

    o que actualmente se usa da perda

    de ElRey D. Sebastiaõ para cà.

    M. E em que differe o Dialecto antigo, e

    antiquissimo do moderno?

    D. Em muytas cousas, principalmente o

    antiquissimo, o que se vè nos livros,

    e doaçoens antiguas. Baste saber

    que tinhaõ muyta parte do Dialecto

    actual do Minho, Beyra, e

    Tras os Montes.

    M. E esses Dialectos he necessario sabellos?

    D. Para as pessoas curiosas, e doutas he

    [297]

    necessario saber muyta parte delles,

    mas isso aprende-se com mais vagar.

    M. E que cousa he Dialecto de profissaõ.

    D. He a differença de fallar a mesma lingua,

    de q~ usaõ os que exercitaõ diversa

    profissaõ de fallar.

    M. Dizey exemplo.

    D. Quem falla, ou escreve hum successo

    em verso, conta-o com muyta differença

    do que que~ o conta em prosa,

    e a esta differença chamo Dialecto

    de profissaõ sem entrar na disputa

    se esta divisaõ he propria, ou

    impropria.

    M. E quantos Dialectos de profissaõ ha

    na lingua Portugueza?

    D. Dous no sentido, em que aqui tomo a

    palavra Dialecto.

    M. Quaes saõ?

    D. O da prosa, a que chamaremos Prosaico,

    e o do verso, a que chamamos

    Poetico.

    M. E qual he o Dialecto da prosa, ou como

    vós lhe chamais Prosaico?

    D. He o modo de fallar, de que usamos

    quando dizemos qualquer cousa

    [298]

    sem ser em verso, assim como quando

    fallamos familiarmente, &c.

    M. E qual he o Dialecto Poetico?

    D. He o modo de fallar, de que usamos

    quando contamos algum successo,

    ou o escrevemos em verso.

    M. E em que differe o Dialecto Poetico

    do Prosaico?

    D. Differe nas palavras, e na ordem das

    palavras.

    M. Porque differe nas palavras?

    D. Porque ao que o Dialecto Prosaico

    chama Throno, o Poetico muytas vezes

    chama Solio, ao Sol chama Febo,

    ao Chegar diz Appropinquar. Ao Ceo

    chama Polo, &c.

    M. E porque differe na ordem das palavras?

    D. Porque o Dialecto da prosa sempre

    conserva a ordem natural das palavras,

    segundo deyxamos dito na

    Syntaxe. Porèm o Dialecto Poetico

    muytas vezes naõ conserva a tal

    ordem, antes usa da figura Hyperbaton,

    e Synchisis, que explicàmos

    no Capitulo quarto da Syntaxe figurada.

    [299]

    M. Dizey exemplo.

    D, O Sileno buscava

    Daquellas que a serra deu bacantes

    Ja que Ninfas as nega ser errantes

    O hombro sem aljava.

    Nestes versos a palavra Sileno significa

    o Guarda, Bacantes significa Loucas,

    Ninfas significa Mulheres, Errantes

    significa Vagabundas, e a orde~ das

    palavras está toda cõfusa, e ordenada

    no Dialecto familiar devia ser assim.

    Buscava ao guarda daquellas mulheres

    loucas, que vinhaõ pela serra, pois

    o naõ trazerem aljava no hombro mostrava

    naõ serem mulheres vagabundas.

    Onde se vè que he muyto diversa a

    ordem, que as palavras tem no Dialecto

    Poetico, e no de Prosa.

    M. Ha mais algu~ Dialecto, de que trateis?

    D. Ha hum modo de fallar a lingua Portugueza

    mao, e viciado, ao qual podemos

    chamar Dialecto rustico, e

    delle usa a gente ignorante; rustica,

    e incivil, e delle he necessario desviar

    aos meninos bem criados.

    M. E em que differe esse mao Dialecto

    do Dialecto verdadeyro?

    [300]

    D. Differe na pronuncia, nas palavras, e

    no modo de fallar a lingua Portugueza.

    M. Dizey exemplos.

    D. Para dizerem os rusticos Por certo, dizem

    Bofé. Aos Tostoens dizem Tostaens,

    aos Graõs Grães, &c. A letra Z

    muytas vezes pronunciaõ como G,

    ao Vizitar dizem Vigitar, à Vizita

    Vigita. Eu fizera dizem Eu figera,

    Eu trouxe dizem Eu trouve, a Ouvido

    dizem Ouvisto. Atreverse dizem

    Estreverse. Flores dizem Froles, &c.

    M. Ha mais algum Dialecto?

    D. Ha os Dialectos ultramarinos, e conquistas

    de Portugal, como India,

    Brasil, &c. os quaes tem muytos termos

    das linguas barbaras, e muytos

    vocabulos do Portuguez antigo.

    Tambem em Lisboa entre os homens,

    a que chamaõ de ganhar, ha hum genero

    de Dialecto, a que chamaõ Giria,

    de que os taes usaõ algumas vezes

    entre si. E assim tambem os Siganos

    tem outra especie de Giria,

    por que se entendem huns com os outros.

    [301]

    M. Tendes mais que dizer dos Dialectos

    da lingua Portugueza?

    D. Mais ha que dizer, mas isto basta.

    CAPITULO II.

    Da Construiçaõ da lingua Portugueza.

    Mestre. Que cousa he Construiçaõ?

    D. He declarar com as palavras de

    huma lingua, ou Dialecto o que está

    escrito, ou dito em palavras de outra

    lingua, ou Dialecto, assim como

    declarar com palavras Portuguezas

    o que está dito, ou escrito com palavras

    Latinas. Ou declarar com palavras

    do Dialecto, de prosa Portugueza

    o que está escrito, ou dito no

    Dialectico Poetico.

    M. Dizey exemplo.

    D. Quero construir estas palavras do Dialecto

    Poetico. No solio rutilante o

    fulgor reverberava; e declaro estas

    palavras com outras do Dialecto de

    prosa, que significaõ o mesmo, assim

    A luz fazia reflexo no throno resplandecente.

    [302]

    M. Explicay isso.

    D. Fulgor quer dizer Luz. Reverberava

    quer dizer Fazia reflexo. No solio

    quer dizer No throno. Rutilante quer

    dizer Resplandecente.

    M. E de quantas partes consta a Construiçaõ?

    D. De duas.

    M. Quaes saõ?

    D. Trocar as palavras, e mudarlhe a ordem.

    M. Explicay isso.

    D. Trocar as palavras he em lugar de humas

    palavras de huma lingua, ou

    Dialecto, por outras de outra lingua,

    ou Dialecto, que signifiquem o

    mesmo, como acima fica dito. Mudar

    a ordem das palavras he por na

    ordem natural as palavras, que na lingua

    Latina, ou no Dialecto Poetico

    estaõ confusas pela figura Hyperbaton,

    como dissemos no Capitulo antecedente.

    M. E como se sabe trocar as palavras de

    huma lingua nas palavras de outra

    lingua, ou as palavras de hum Dialecto

    nas de outro Dialecto?

    [303]

    D. Isso sabe-se pelos Vocabularios.

    M. E como se sabe mudar as palavras da

    ordem confusa para a ordem natural?

    D. Sabe-se pelas regras da Construiçaõ.

    M. Que cousa saõ as regras da Cõstruiçaõ?

    D. Saõ as regras, que ensinaõ a por em huma

    lingua na ordem natural as significaçoens

    daquillo, que em outra

    lingua, ou Dialecto estava na ordem

    perturbada, e confusa.

    M. Dizey essas regras.

    D. Primeyra regra. Na Construiçaõ a primeyra

    palavra, que se deve buscar na

    Oraçaõ confusa, he o nome, que faz

    na Oraçaõ, e serve ao Verbo de nominativo

    ou claro, ou occulto, e

    esta se deve pòr primeyro na Oraçaõ

    feyta na ordem natural, e Dialecto

    da prosa.

    M. Dizey exemplo.

    D. Insustava nos mares furiozo

    Com rapida procella o Austro iniquo.

    Nesta Oraçaõ q~ està feyta no Dialecto

    Poetico cõfuso, para lhe desfazer

    a cõfusaõ, e a pòr na orde~ natural do

    Dialecto Prosaico, deve-se buscar

    quem he o nome, que faz na Oraçaõ,

    [304]

    e serve de nominativo ao Verbo Insustava,

    que significa soprar, e acharemos

    que he o nome Austro, que

    significa o vento Sul, porque este

    nome he o que serve de pessoa ao

    Verbo Insustava; e assim construiremos

    primeyro, e poremos na Oraçaõ

    natural a palavra Austro, dizendo

    o Vento Sul, &c.

    Segunda regra. Se ha adjectivos, que

    concordem com o nominativo, que

    faz substantivo na Oraçaõ, estes taes

    se devem buscar logo na Oraçaõ confusa,

    e pollos depois do seu substantivo

    na Oraçaõ feyta na ordem natural.

    M. Dizey exemplo.

    D. Insustava nos mares furioso

    Com rapida procella o Austro iniquo.

    Nesta Oraçaõ os adjectivos Furioso, e

    Iniquo concordaõ com o substantivo

    Austro, q~ faz na Oraçaõ, e assim logo

    depois da palavra Austro os devemos

    construir, e pòr na Oração feyta na

    ordem natural, dizendo. O vento Sul

    furioso perverso, &c.

    Terceyra regra. Se o substantivo, que

    [305]

    faz na Oração; tiver outros nomes,

    que pendaõ delle, e fação com elle

    hum modo de fazer na Oração, tambem

    se devem construir, e pòr primeyro

    na Oraçaõ natural antes de

    construir; ou pòr o Verbo.

    M. Dizey exemplo.

    D. Insustava nos mares produzido

    Da rapida procella o Austro iniquo.

    Nesta Oraçaõ os nomes Da rapida

    procella pendem do substantivo principal

    Austro, que faz na Oraçaõ, e cõ

    elle de algu~a sorte fazem tambem na

    Oraçaõ; e assim se devem construir,

    e pòr na Oraçaõ natural depois do

    substantivo Austro, e seus adjectivos,

    e dizer O vento Sul perverso produsido

    da arrebatada tempestade, &c.

    porque Rapida significa Arrebatada.

    Procella significa Tempestade.

    Quarta regra. Depois de estar construido

    tudo o que de algum modo

    faz na Oração, e serve de pessoa ao

    Verbo, se constroe o Verbo, e se

    poem na ordem natural.

    M. Dizey exemplo.

    D. Insustava nos mares produzido.

    [306]

    Da rapida procella o Austro iniquo.

    Constroe-se, e se poem na ordem

    natural o Verbo Insustava, depois

    de posto na ordem natural, o que na

    regra atraz fica dito, e se diz. O vento

    Sul perverso produzido da arrebatada

    tempestade soprava, &c.

    Quinta regra. Depois do Verbo se

    constroe, e poem na ordem natural

    o nome, que serve de caso ao Verbo.

    M. Dizey exemplo.

    D. Aos mares agitava furiozo

    Com rapida procella o Austro iniquo.

    Nesta Oração depois do Verbo Agitava,

    q~ significa Mover, se constroe,

    e poem na ordem natural o artigo, e

    nome Aos mares, porque he o caso do

    Verbo Agitar, e se diz assim. O vento

    Sul furiozo, e perverso movia os mares.

    Sexta regra. Se o nome, que serve de

    caso ao Verbo, tem adjectivo, que

    concorde com elle, se constroe, e

    poem na ordem natural logo depois

    delle.

    M. Dizey exemplo.

    D. Aos mares agitava compellidos

    Da rapida procella o Austro iniquo.

    [307]

    Nesta Oraçaõ depois do nome Mares

    se constroe, e poem na ordem natural

    o adjectivo Compellidos, que

    concorda com Mares, e se diz. O

    vento Sul perverso movia os mares

    obrigados da arrebatada tempestade.

    Setima regra. Se o caso do Verbo tem

    pendentes de si outros nomes substantivos,

    se constroem depois do caso

    do Verbo.

    M. Dizey exemplo.

    D. Aos mares agitava compellidos

    Da rapida procella o Austro iniquo.

    Nesta Oraçaõ as palavras Da rapida

    procella estaõ pendentes dos casos

    Mares compellidos, porque a Rapida

    procella he por quem saõ compellidos,

    e assim se devem construir logo

    depois, e dizer. O vento Sul perverso

    movia aos mares obrigados da

    arrebatada tempestade.

    Oytava regra. Depois do caso do Verbo

    activo, e suas dependencias se constroe,

    e poem na ordem natural o

    caso, a que o Verbo faz correlaçaõ,

    que he o caso de dativo.

    M. Dizey exemplo.

    [308]

    D. Aureos tributava às Regias plantas

    Do Augusto Joseph votos.

    Constroe-se assim. Offerecia peças de

    ouro aos pes Reaes do Augusto Joseph,

    onde As Regias  plantas, q~ quer dizer

    aos Reaes pès, e he o caso, a quem faz

    correlaçaõ o Verbo Tributava, que

    quer dizer Offerecia, se constroe, e

    poem na ordem natural depois das

    palavras Aureos votos, que quer dizer

    Peças de ouro, que he o caso do Verbo

    Tributava.

    Nona regra. O caso de genitivo, ou

    ablativo sempre se constroem depois

    do nome, ou Verbo, ou preposiçaõ,

    de que dizem dependencia.

    M. Dizey exemplo.

    D. Aos mares agitava furiozo

    Com rapida procella o Austro iniquo.

    Constroe-se na ordem natural. O

    vento Sul furiozo, e perverso movia os

    mares com a arrebatada tempestade.

    Onde as palavras, Com a arrebatada

    tempestade se poem depois das palavras

    Agitava os mares, porque saõ

    como huma dependencia das taes

    palavras em razaõ de a tempestade

    [309]

    ser a causa, ou Instrumento, com

    que se agitavaõ os mares.

    Decima regra. Os relativos muytas

    vezes se constroem antes dos nomes,

    que fazem na Oraçaõ.

    M. Dizey exemplo.

    D. Soprava o vento nas margens,

    Que o doce Tejo recrea.

    Constroe se. O vento soprava nas ribeyras,

    as quaes o doce Tejo alegra. Onde

    o relativo Que, ou As quaes na

    ordem natural se constroe, e poem

    antes dos nomes Doce Tejo, que fazem

    na Oraçaõ.

    M. Ha mais regras da Construiçaõ?

    D. Muytas mais, mas estas bastaõ para

    mostrar ao principiante a conveniencia,

    e semelhança entre a Construiçaõ

    Latina, e Portugueza, e lhe

    dar luz para a Construiçaõ Latina.

    [310]

    PRATICA

    DA REGENCIA DA GRAMMATICA

    Portugueza conforme com

    a regencia da Latina.

    Para intelligencia clara do

    modo, com que se deve ensinar

    esta Grammatica, e para

    que os meninos se facilitem

    pela regencia della à regencia,

    e regras da lingua Latina, me pareceo

    propor aqui o exercicio pratico das

    regras, que temos dado, e delle usáraõ os

    Mestres na fórma, que dizemos na Introducção,

    que vay no principio desta Grammatica.

    Para idea pois, e exemplar deste exercicio,

    e regencia pratica, escolhi huma

    Carta escrita pelo insigne Padre Antonio

    [311]

    Vieyra, da Companhia de Jesus ao Eminentissimo

    Cardial de Lancastre, a qual

    naõ anda impressa atèqui, e ma participou

    hum amigo, e he a seguinte.

    CARTA

    DO P. ANTONIO VIEYRA

    para o Eminentissimo Cardial

    de Lancastre.

    EMINENTISSIMO SENHOR.

    Com melhor saude, que o anno passado, e

    com menos vida, porque elle passou,

    beyjando de joelhos a sagrada Purpura dou a

    Vossa Eminencia as graças da continuada mercè,

    com que Vossa Eminencia por sua benignidade,

    e grandeza se digna de conservar na memoria,

    e de honrar por tantos modos este minimo

    criado de Vossa Eminencia.

    Se o amor da Patria, com que os meus annos

    se animàraõ a compor, aquelles discursos,

    foy merecedor de algum premio, na approvaçaõ

    de Vossa Eminencia recebi o que me naõ

    [312]

    atrevia a pretender, nem ainda a dezejar. Eu

    os dediquey à sepultura do segredo, e Vossa

    Eminencia mandando-os sahir à luz do mundo,

    resuscitou em mim a confiança morta, a

    que por tantos outros esquecimentos ha muyto

    tinha feyto as exequias no templo do desengano.

    Nelle porèm, vendo-me taõ favorecido de Vossa

    Eminencia, adoro hoje a imagem, que nunca vi,

    do agradecimento, nem por isso arrependido de

    ter idolatrado as estatuas da ingratidaõ, naõ

    só com os fumos do incenso, mas com os sacrificios

    do sangue; e sera a mayor gloria do meu

    amor a Patria, como he a mayor fineza, servir

    aos futuros, pagar aos passados, e naõ dever

    nada aos presentes. Deos guarde a Vossa Eminencia.

    Bahia 14. de Julho de 1690.

    Eminentissimo Senhor.

    Antonio Vieyra.

    Esta Carta contèm quatro periodos, e

    assim regeremos a sua Grammatica, propondo

    primeyro hum periodo, e depois

    outro, com a advertencia que a do primeyro

    periodo a regeremos cõ toda a miudeza,

    [313]

    para que os Mestres vejaõ como haõ de

    perguntar, e ensinar aos meninos. Os demais

    periodos os regeremos sem tanta

    miudeza, por naõ causar tedio na repetição

    das mesmas cousas.

    M. Que cousa he regencia da Grammatica?

    D. He declarar que cousa saõ as palavras,

    que se achaõ em alguma Oraçaõ, e

    a fórma, porque estaõ postas, e a razaõ.

    M. Explicay isso mais claramente.

    D. Reger a Grammatica he dizer de cada

    palavra que parte da Oração he, e

    se he nome, dizer que casta de nome

    he, de que declinação, de que numero,

    de que genero, em que caso

    está, e de que~. Se he Verbo, que casta

    de Verbo he, em que modo, em que

    tempo, em que numero, em q~ pessoa

    està, que caso pede, &c.

    M. Tendes algum papel bem feyto, por

    onde pratiqueis essa regencia?

    D. Sim, huma Carta do grande Padre Antonio

    Vieyra para o Eminentissimo

    Cardeal Lancastre.

    [314]

    M. Dizey o primeyro periodo dessa

    Carta.

    D. Eminentissimo Senhor com melhor saude,

    que o anno passado, mas com menos vida,

    porque elle passou; beyjando de joelhos

    a sagrada Purpura, dou a V. Eminencia

    as graças da continuada mercè,

    com que V. Eminencia por sua benignidade,

    e grandeza se digna de conservar

    na memoria, e de honrar por tantos

    modos este minimo criado de V. Eminencia.

    M. Comecemos a regencia da Grammatica

    dessa Carta. Dizey que cousa he

    Eminentissimo?

    D. He nome adjectivo superlativo.

    M. Porque he nome?

    D. Porque tem numeros, e se declina por

    casos.

    M. Que numeros tem, e como faz nelles?

    D. Tem numero singular, e faz Eminentissimo,

    tem numero plurar, e faz

    Eminentissimos.

    M. E porque se declina por casos?

    D. Porq~ se diz O Eminentissimo. Do Eminentissimo,

    &c.

    M. E porque he nome adjectivo?

    [315]

    D. Porque naõ pòde estar na Oração sem

    o seu substantivo, ou claro, ou occulto.

    Ou porque se lhe accommoda a

    palavra Cousa na terminação feminina

    Cousa Eminentissima.

    M. E porque tem terminação feminina

    diversa?

    D. Porque os adjectivos acabados em O

    tem duas terminaçoens, huma para

    os nomes masculinos, que he a que

    acaba em O, outra para os femininos,

    que he a que acaba em A. Eminentissimo,

    Eminentissima.

    M. E porque he superlativo?

    D. Porque significa com excesso, isto he,

    cousa naõ só eminente, mas muyto

    eminente.

    M. Donde se fórma o superlativo Eminentissimo?

    D. Do seu positivo Eminente, mudado o

    E em issimo.

    M. Com quem concorda o superlativo

    Eminentissimo?

    D. Com o seu substantivo Senhor.

    M. E porque he o seu substantivo?

    D. Porque he a cousa, que he eminentissima.

    [316]

    M. E como concorda?

    D. Concorda em genero, em numero, e

    em caso.

    M. Porque?

    D. Porque todo o adjectivo concorda cõ

    o seu substantivo em genero, numero,

    e caso.

    M. E como concorda em genero, numero,

    e caso?

    D. Concorda em genero, porque Senhor

    he masculino, e Eminentissimo está

    na terminação masculina; concorda

    em numero, porque Senhor he do numero

    singular, e Eminentissimo tambem;

    concorda em caso, porque Senhor

    está em vocativo, e Eminentissimo

    tambem.

    M. Que cousa he Senhor?

    D. He nome substantivo, appellativo, masculino,

    do numero singular.

    M. Porque?

    D. He nome, porque significa, tem numeros,

    e se declina por casos. He

    substantivo, porque pode estar per

    si só na Oraçaõ. He appellativo,

    porque per si só naõ significa tal Senhor,

    mas este, ou aquelle. He masculino,

    [317]

    porque se lhe accommoda o

    artigo O. O Senhor. He do numero

    singular, porque significa huma

    só cousa, e naõ acaba na letra S.

    M. Em que caso està?

    D. Em vocativo.

    M. De quem?

    D. Da particula O, que se lhe entende

    pela figura Ellipse, e val o mesmo,

    que se dissesse Ó Eminentissimo Senhor.

    M. Que cousa he Com?

    D. Preposiçaõ.

    M. Que caso pede?

    D. Ablativo.

    M. Que cousa he Melhor?

    D. Nome adjectivo, comparativo.

    M. E porque he adjectivo?

    D. Isso jà fica dito na palavra Eminentissimo,

    e naõ devemos estar sempre

    repetindo o mesmo quando, do que

    fica dito em humas palavras se ve o

    que se ha de dizer nas outras.

    M. Porque he comparativo?

    D. Porque compara a saude de hum anno

    com a saude de outro anno.

    M. Quantas terminaçoens tem?

    [318]

    D. Huma, e serve para os nomes masculinos,

    e femininos.

    M. Quem he o seu positivo?

    D. O adjectivo Bom, porque Melhor val

    o mesmo que Mais bom.

    M. Quem he o seu substantivo, cõ quem

    concorda?

    D. He o nome Saude, e concorda com

    elle em genero, numero, e caso.

    M. Que cousa he Saude?

    D. He nome substantivo, appellativo,

    feminino do numero singular.

    M. Porque?

    D. He feminino, porque se lhe accommoda

    o artigo A, A saude. O demais

    fica dito no nome Senhor.

    M. E em que caso està Saude?

    D. Està em ablativo da preposiçaõ Com.

    M. Que cousa he Que?

    D. He preposiçaõ, ou adverbio, segundo

    se disse no Capitulo sexto da

    Syntaxe simples em razaõ de que

    aqui cahe sobre a cousa comparada,

    como logo veremos.

    M. Que cousa he O?

    D. Aqui O não he artigo, ou ao menos

    serve de preposição; porque ha hu~

    [319]

    Idiotismo muy embaraçado nestas

    palavras. Com melhor saude, que o

    anno passado.

    M. E onde està ahi o Idiotismo?

    D. Nas palavras. O anno passado.

    M. E como conheceis que ha ahi Idiotismo?

    D. Conheço-o, porque as taes palavras

    não apparece em que caso estejaõ,

    nem Verbo, ou preposiçaõ, que as

    reja, nem fazem sentido sem se lhes

    entenderem outras muytas palavras.

    M. E atreveisvos a explicar, e resolver

    este Idiotismo?

    D. Sim, mas não he para principiantes.

    M. Explicay-o, e resolvey-o.

    D. A particula O aqui he a preposição No,

    e se lhe come a letra N pela figura

    da Dicção Apherese. As palavras

    Anno passado estaõ em ablativo à pergunta

    Quando; ou Em que tempo, e

    demais ha aqui Ellipse das palavras

    seguintes. A saude, que eu tinha; e

    assim posta a Oração inteyra, e sem

    figura pelas regras da Syntaxe simples

    ha de ser. Com melhor saude, que

    a saude, que eu tinha no anno passado.

    [320]

    M. Que cousa he Mas?

    D. Conjunção.

    M. Porque?

    D. Porque ata o sentido, e as palavras.

    M. Com menos, que cousa he Menos?

    D. Adverbio de quantidade, e comparativo

    do adjectivo comparativo Menor.

    M. Porque he comparativo?

    D. Porque compara a vida de hum anno

    com a vida do outro.

    M. Que cousa he Vida?

    D. He nome substantivo, &c.

    M. Em que caso està?

    D. Em genitivo do adverbio Menos, e ha

    Ellipse do artigo De. Com menos de

    vida.

    M. Qual he aqui o caso da preposição

    Com?

    D. Servelhe de caso o adverbio Menos.

    M. Que cousa he Porque?

    D. Conjunçaõ causal.

    M. Porque he causal?

    D. Porque declara o fundamento de a vida

    de hum anno ser mais breve que

    a outra.

    M. Que cousa he Elle?

    [321]

    D. He pronome, relativo.

    M. E porque he pronome?

    D. Porque se poem em lugar do nome

    Anno. Elle, isto he, O anno.

    M. Porque he relativo?

    D. Porque traz à memoria o nome Anno.

    M. Quem he o seu antecedente?

    D. O nome Anno, porque fica antes delle.

    M. Com quem concorda?

    D. Em genero, e numero com o nome

    Anno.

    M. E com quem concorda em caso?

    D. Com o nome Anno, que se lhe torna a

    entender depois Elle anno.

    M. E em que caso està, e de quem?

    D. Està em nominativo do Verbo Passou.

    M. Porque?

    D. Porque he o nome, que faz na Oraçaõ.

    M. E porque faz na Oraçaõ?

    D. Porque he o nome, que serve de pessoa

    ao verbo Passou. Elle, isto he, o

    anno Passou.

    M. E que pessoa he, e porque?

    D. He terceyra pessoa, porque he de

    quem se falla. Fala-se do anno, e dis-se

    delle que jà passou. E he a terceyra

    pessoa, porque he o pronome

    [322]

    Elle, que sempre com os Verbos he

    terceyra pessoa.

    M. E de que numero he, e porque?

    D. He do singular, porque significa hum

    so, e naõ muytos.

    M. Que cousa he Passou?

    D. Verbo.

    M. Porque?

    D. Porque significa, tem modos, e tempos,

    numeros, e pessoas.

    M. Que casta de Verbo he?

    D. Neutro.

    M. Porque?

    D. Porque naõ significa cousa, que se faz

    a outrem.

    M. A que conjugaçaõ pertence, e por

    onde vay?

    D. Pertence à primeyra dos Verbos acabados

    no Infinitivo em Ar, e vay

    pelo Verbo Amar.

    M. Quaes saõ as suas letras iniciaes?

    D. Saõ Pas.

    M. Porque?

    D. Porque saõ as por onde principia, e ficaõ

    antes da figurativa.

    M. E qual he a sua letra figurativa?

    D. He a letra S segunda.

    [323]

    M. Porque?

    D. Porque he a que se poem antes da terminaçaõ

    Ar do Infinitivo Pas-s-ar.

    M. Passou em que modo, em que tempo,

    em que numero, em que pessoa

    està e porques?

    D. Está no modo Indicativo, porque affirma,

    e mostra que o anno na verdade

    passou, e foy. No preterito

    perfeyto, porque affirma simplesmente

    que o anno passou. No singular,

    porque fala de hum só anno.

    Na terceyra pessoa, porque concorda

    com Elle, que he terceyra pessoa.

    M. Que cousa he Beyjando?

    D. He o Verbo Beyjar.

    M. Que casta de Verbo he?

    D. Activo.

    M. Porque?

    D. Porque significa cousa, que se faz a

    outrem.

    M. Em que modo está, e porque?

    D. Está no Infinitivo, porque per si só a

    palavra Beyjando não affirma nada.

    M. E que cousa he do Infinitivo?

    D. Gerundio.

    M. Porque?

    [324]

    D. Porque significa com hum certo geyto

    de quem obra.

    M, Que caso pede?

    D. Accusativo.

    M. Porque?

    D. Porque todo o Verbo activo pede accusativo.

    M. Que cousa he De joelhos?

    D. Adverbio.

    M. Porque?

    D. Porque junto ao Gerundio Beyjando

    determina o modo, porque se faz a

    acçaõ. Isto he, que se faz estando

    com os joelhos em terra.

    M. E que casta de adverbio he?

    D. He dos adverbios, que saõ nomes com

    o seu artigo, porque De he artigo,

    Joelhos nome.

    M. Que cousa he A?

    D. He artigo feminino do nome Sagrada.

    M. Que cousa he Sagrada?

    D. He adjectivo da terminação feminina.

    M. Porque he feminino?

    D. Porque se lhe accommoda o artigo A.

    M. Que adjectivo he?

    D. Positivo.

    M. Porque?

    [325]

    D. Porque significa simplesmente sem

    comparação, nem excesso.

    M. Como faz o comparativo?

    D. Mais sagrada.

    M. E como faz no superlativo?

    D. Sacratissima.

    M. Com quem concorda Sagrada?

    D. Com Purpura.

    M. Que cousa he Purpura?

    D. Nome substantivo, &c.

    M. Em que caso está, e de quem?

    D. Està em accusativo de Beyjando, porque

    he a cousa beyjada.

    M. Que cousa he Dou?

    D. He Verbo activo irregular da primeyra

    Conjugaçaõ, &c.

    M. E porque he irregular?

    D. Porque em muytos tempos se desvia

    da Conjugação dos Verbos em Ar.

    M. Quem he o seu nominativo?

    D. O pronome Eu, que se lhe entende por

    Ellipse.

    M. Pois nada mais he seu nominativo?

    D. He seu nominativo de alguma sorte

    tudo o que pende do pronome Eu,

    que vem a ser todas as palavras Com

    melhor saude, que o anno passado, mas

    [326]

    com menos vida beyjando a sagrada

    Purpura de joelhos.

    M. E porque?

    D. Porque quem dà naõ he só Eu, mas

    Eu com melhor saude, que o anno passado,

    &c.

    M. A vossa; que cousa he Vossa?

    D. He hum pronome possessivo, que nasce

    do pronome primitivo Vós.

    M. Com quem concorda?

    D. Com Eminencia.

    M. Em que caso está Eminencia, e de que~?

    D. Em dativo do Verbo Dou.

    M. Porque?

    D. Porque he a quem se dà.

    M. Em que caso està Graças?

    D. Em accusativo do Verbo Dou.

    M. Porque?

    D. Porque he a cousa dada.

    M. Que cousa he Da?

    D. Preposiçaõ.

    M. Que cousa he Continuada?

    D. Hum adjectivo participio do Verbo

    Continuar.

    M. Com que concorda?

    D. Com o substantivo Merce.

    M. Em que caso està?

    [327]

    D. Em ablativo da preposiçaõ Da.

    M. Com que. Que cousa he Que?

    D. He relativo, e val o mesmo que Qual.

    M. Quem he o seu antecedente?

    D. O nome Merce, e faz este sentido,

    Com a qual merce.

    M. Em que caso está Que?

    D. Em ablativo da preposiçaõ Com.

    M. Em que caso está Vossa Eminencia?

    D. Em nominativo do Verbo Digna-se,

    porque lhe serve de pessoa, e faz na

    Oraçaõ.

    M. Que cousa he Por?

    D. Preposiçaõ.

    M. Que cousa he Sua?

    D. Pronome possessivo derivado do pronome

    Si.

    M. Com quem concorda?

    D. Com o nome Benignidade.

    M. Em que caso està Benignidade?

    D. Em accusativo da preposiçaõ Por.

    M. Que cousa he E?

    D. Conjunçaõ copulativa.

    M. Em que caso está Grandeza?

    D. Em accusativo da preposiçaõ Por, que

    por Ellipse se torna a ente~der desta

    sorte. Por benignidade, e por grandeza.

    [328]

    M. Que cousa he Se digna?

    D. He o Verbo Dignarse.

    M. Que Verbo he?

    D. Neutro, e reciproco.

    M. Porque he reciproco?

    D. Porq~ faz tornar para a pessoa a acção

    do Verbo, e conhece-se, porque no

    Infinitivo lhe ajuntamos a particula

    Se.

    M. Pois, se o Verbo he dignarse, como

    tem antes a particula Se?

    D. Pela figura Anastrophe.

    M. Que cousa he De conservar?

    D. He o Verbo Conservar.

    M. Em que modo està?

    D. No Infinitivo.

    M. E porque tem a particula De?

    D. Aqui tem-na pela figura Pleonasmo,

    e pudera estar sem ella.

    M. Em que tempo està?

    D. No presente.

    M. De que Verbo he regido este Infinitivo?

    D. Do Verbo Se digna.

    M. Que cousa he Na?

    D. He a preposiçaõ Em com o artigo A,

    tirada a letra E, pela figura da dicçaõ

    [329]

    Apherese, e mudado o M em

    N pela figura Commutaçaõ.

    M. Em que caso està Memoria?

    D. Em ablativo da preposiçaõ Na.

    M. Que cousa he De honrar?

    D. He o Verbo Honrar. Està no Infinitivo.

    M. De quem he regido esse Infinitivo?

    D. Do Verbo Se digna, que se torna a entender

    por Ellipse, E se digna de honrar.

    M. Por tantos. Que cousa he Tantos?

    D. Nome adjectivo.

    M. He por ventura relativo?

    D. He, mas aqui naõ.

    M. Porque?

    D. Porque naõ traz a ninguem à memoria,

    e significa o mesmo, que Muytos.

    Por muytos modos.

    M. Que cousa he Este?

    D. Pronome demonstrativo.

    M. E he aqui relativo?

    D. Naõ, porque naõ traz ninguem à memoria.

    M. Com quem concorda?

    D. Com o substantivo Criado.

    M. Que cousa he Minimo?

    [330]

    D. Superlativo do positivo Pequeno.

    M. Com quem concorda?

    D. Com o substantivo Criado.

    M. Em que caso està Criado?

    D. Em accusativo do Verbo activo Honrar,

    porque he a cousa honrada.

    M. Em que caso està De vossa Eminencia?

    D. Em genitivo de dous nomes substantivos,

    &c.

    M. Dizey o segundo periodo da Carta.

    D. Se o amor da patria, com que os meus annos

    se animaraõ a compor aquelles discursos,

    foy merecedor de algum premio,

    na approvaçaõ de Vossa Eminencia recebi

    o que me naõ atrevia a pretender,

    nem ainda a dezejar.

    M. Que cousa he Se?

    D. Conjunçaõ condicional.

    M. Porque he condicional?

    D. Porque mostra que recebeu premio debayxo

    da condiçaõ de ser merecedor.

    M. Em que caso està Amor?

    D. Em nominativo do Verbo Foy.

    M. Em que nominativo?

    D. Em nominativo de antes.

    M. Em que caso està Patria?

    [331]

    D. Em genitivo de dous nomes substantivos, &c.

    M. Em que caso está Meus annos?

    D. Em nominativo do Verbo Se animaraõ.

    M. Que cousa he Se animaraõ?

    D. O Verbo passivo Ser animado, ou Animarse.

    M. Pois naõ he o Verbo Animar reciprocado?

    D. Tambem se pòde dizer que o he, mas

    entaõ a particula Se he o artigo Si, e

    está em accusativo do Verbo activo

    Animar, e faz este sentido, O amor

    da Patria, com que os meus annos animaraõ

    a si.

    M. Que cousa he A?

    D. Aqui he preposição, e val o mesmo

    que Para.

    M. Que couda he Compor?

    D. Verbo composto.

    M. Porque he composto?

    D. Porque se compoem da preposição

    Com, e do Verbo simples Por.

    M. Em que caso està Aquelles discursos?

    D. Em accusativo do Verbo Compor, porque

    he a cousa composta.

    [332]

    M. Que cousa he Foy?

    D. He o Verbo Ser.

    M. Em que caso està Merecedor?

    D. Em nominativo do Verbo Foy, e he nominativo

    de depois.

    M. E  porq~ tem aqui dous nominativos?

    D. Porque significa uniaõ de huma cousa

    comsigo mesma. O amor foy merecedor.

    M. Que cousa he Algum?

    D. Nome adjectivo partitivo.

    M. Porque he partitivo?

    D. Porque significa hum entre muytos,

    hum premio entre muytos premios.

    M. Em que caso està Premio?

    D. Em genitivo de dous nomes substantivos,

    porque faz este sentido Foy

    merecedor de premio algum.

    M. Que cousa he Recebi?

    D. Verbo da terceyra Conjugação em Er.

    Receber.

    M. Que cousa he O que?

    D. O aqui he relativo, traz à memoria

    Premio, està em accusativo do Verbo

    Recebi, Que he tambem relativo; traz

    à memoria Premio, está em accusativo

    do Verbo Pretender. Ha aqui

    [333]

    Ellipse da palavra Premio, e sem

    Ellipse se resolve assim: Recebi o

    premio, o qual premio me naõ atrevia

    a pretender.

    M. Me naõ atrevia. Que cousa he Me?

    D. Me he a particula Me, ou reciproco

    Eu, que reciproca o Verbo Atrevèr-se,

    e havia de ser Naõ me atrevia.

    M. Que cousa he Nem ainda?

    D. He conjunção.

    M. Dizey o terceyro periodo da Carta.

    D. Eu os dediquey à sepultura do segredo, e

    Vossa Eminencia mandando-os sahir à

    luz do mundo, resuscitou em mim a

    confiança morta, a que por tantos outros

    esquecimentos ha muyto tinha feyto as

    exequias no templo do desengano.

    M. Que cousa he Os?

    D. Relativo, concorda com Discursos, está

    em accusativo do Verbo Dediquey.

    Quer dizer Eu os discursos dediquey.

    M. Em que caso está Sepultura?

    D. Em dativo, porque he a quem diz ordem

    o Verbo Dediquey.

    M. Em que caso está Luz?

    D. Em accusativo da preposição A.

    M. Em que caso está A que?

    [334]

    D. Em dativo do Verbo Tinha feyto.

    M. Que cousa he Hà muyto?

    D. He hum Idiotismo do Verbo Haver.

    M. Póde-se reduzir à Grammatica Latina?

    D. Parece-me que naõ.

    M. Que cousa he Tinha feyto?

    D. He preterito plusquam perfeyto do

    Indicativo do Verbo Fazer.

    M. Em que caso está Exequias?

    D. Em accusativo de Tinha feyto, porque

    he a cousa feyta.

    M. O nome Exequias tem singular?

    D. Naõ.

    M. Dizey o ultimo periodo da Carta.

    D. Nelle porèm vendome taõ favorecido de

    Vossa Eminencia; adoro hoje a imagem,

    que nunca vi, do agradecimento,

    nem por isso arrependido de ter idolatrado

    as estatuas da ingratidaõ, naõ só

    com os fumos do incenso, mas com os

    sacrificios do sangue, e sera a mayor

    gloria do meu amor a Patria, como he

    a mayor fineza, servir aos futuros, pagar

    aos passados, e naõ dever nada aos

    presentes. Deos guarde a Vossa Eminencia.

    Bahia quatorze de Julho de

    [335]

    mil e seiscentos e noventa. Eminentissimo

    Senhor. Antonio Vieyra.

    M. Que cousa he Nelle?

    D. He o pronome relativo Elle com a

    preposiçaõ No, que perde a ultima

    letra por Apostrofe.

    M. Que cousa he Porèm?

    D. Huma conjunçaõ.

    M. Que cousa he Vendome?

    D. He o gerundio em do, Vendo com o

    pronome Me accusativo do pronome

    Eu.

    M. Que cousa he Taõ?

    D. Adverbio.

    M. Que cousa he Favorecido?

    D. He Participio passivo do Verbo Favorecer.

    M. Com quem concorda?

    D. Com o pronome Me.

    M. Em que caso està De Vossa Eminencia?

    D. Em ablativo do participio passivo Favorecido.

    M. Que cousa he Hoje?

    D. Adverbio de tempo.

    M. Que cousa he Nem por isso?

    D. Huma conjunçaõ causal.

    M. Em que caso está Arrependido?

    [336]

    D. Em nominativo.

    M. De quem?

    D. Do Verbo Estou, que por Ellipse se

    lhe entende. Nem por isso estou arrependido.

    M. Que cousa he Ter idolatrado?

    D. He o preterito perfeyto do Infinitivo

    do Verbo Idolatrar.

    M. E esse Infinitivo serve de caso?

    D. Sim. Serve de caso de genitivo ao participio

    Arrependido, porque quem

    está arrependido he nominativo,

    aquillo de que está arrependido genitivo.

    M. Que cousa he Naõ?

    D. Adverbio.

    M. Que cousa he Só?

    D. Adverbio.

    M. Que cousa he Serà?

    D. Futuro do Indicativo do Verbo Ser.

    M. Quem he o seu nominativo de antes?

    D. A mayor gloria.

    M. E qual he o seu nominativo de depois?

    D. Servir aos futuros, &c.

    M. Porque?

    [337]

    D. Porque une o Servir aos futuros com

    A mayor gloria, e os faz a mesma

    cousa. A mayor gloria do meu amor

    será servir aos futuros.

    M. Em que caso está Aos futuros?

    D. Em accusativo do Verbo Servir, porque

    este Verbo na lingua Portugueza

    he activo.

    M. Em que caso está Aos passados?

    D. Em dativo do Verbo Pagar, porque

    he a quem paga.

    M. Pagar he Verbo activo, qual he logo

    aqui o seu accusativo?

    D. Naõ o tem claro, mas entende-selhe

    por Ellipse alguma palavra competente

    ao sentido, v. g. Pagar o ensino

    aos passados, ou Pagar as dividas aos

    passados.

    M. Que cousa he Nada?

    D. Adverbio de quantidade.

    M. E aqui serve de caso?

    D. Sim, serve de accusativo ao Verbo Dever,

    porque he a cousa devida.

    M. Em que caso està Aos presentes?

    D. Em dativo do Verbo Dever, porque

    he a quem se deve.

    M. Que cousa he Bahia?

    [338]

    D. Aqui he nome proprio, porque significa

    cousa certa. Isto he tal Cidade

    chamada a Bahia.

    M. Em que caso està?

    D. Em ablativo à pergunta Em que lugar.

    M. Ha aqui alguma figura?

    D. Sim. Ha Ellipse de muytas palavras,

    porque a oraçaõ inteyra ha de dizer.

    Esta Carta se escreveu na Bahia.

    M. Que cousa he Quatorze?

    D. Nome numeral cardinal.

    M. Em que caso está?

    D. Está em accusativo da preposiçaõ A

    à pergunta Quando, o que se vè resolvida

    a Ellipse, que aqui ha nesta

    forma. Escreveu-se esta Carta na Bahia

    aos quatorze dias do mez de Julho.

    M. Que cousa he Julho?

    D. Nome proprio de hum certo mez.

    M. Que cousa he Antonio?

    D. Nome proprio.

    M. Que cousa he Vieyra?

    D. Nome proprio.

    M. Em que caso està?

    D. Em nominativo continuado.

    [339]

    M. De quem?

    D. Do Verbo Assinar, que aqui se entende

    por Ellipse nesta forma. Eu Antonio

    Vieyra assino esta Carta.

    [340]

    [341]

    TRATADO BREVE

    DA

    ORTHOGRAFIA

    DA LINGUA PORTUGUEZA.

    Pareceume fazer aqui no fim

    desta Grammatica menção

    da Orthografia Portugueza,

    para que os meninos tenhaõ

    alguma noticia della.

    CAPITULO I.

    Que cousa seja Orthografia, e das propriedades

    das letras.

    Mestre. Que cousa he Orthografia?

    D. He a arte de escrever as palavras,

    e Oraçoens com acerto.

    [342]

    M. E que cousa he isso?

    D. He escrever as palavras, e Oraçoens

    com as letras, e pontuaçaõ, com que

    se devem escrever.

    M. E que cousa he letra?

    D. He huma figura, que representa o

    som, que devemos fazer com a boca

    para a pronunciar.

    M. Dizey exemplo.

    D. Vejo a figura A, e representame que

    para a pronunciar hey de fazer com

    a boca o som A.

    M. Quantas letras ha na lingua Portugueza?

    D. Isso aprende-se na escola quando decoramos

    o Abecedario.

    M. E quantas saõ as propriedades das letras?

    D. Tres.

    M. Quaes saõ?

    D. Figura, Nome, e Poder.

    M. Que cousa he Figura?

    D. He o debuxo da letra, que se faz com

    tinta, ou outra qualquer cousa.

    M. Dizey exemplo.

    D. O debuxo de hum circulo he a figura

    da letra O, o debuxo de hum meyo

    [343]

    circulo he a da letra C.

    M. E quantas figuras tem as letras?

    D. Duas: huma grande, outra pequena,

    segundo nos ensinaõ na escola quando

    aprendemos o ABC.

    M. Pois algumas letras pequenas naõ tem

    muytas castas de figuras?

    D. Sim, e tambem algumas grandes tem

    muytas castas de figuras, mas as figuras

    pequenas todas saõ pequenas, e as figuras grandes

    todas saõ grandes, e por isso dizemos que só tem

    duas figuras grande, e pequena.

    M. E que cousa he nome de letra?

    D. He aquella palavra, que dizemos para

    significar a figura, ou letra.

    M. Dizey exemplo.

    D. Xis he palavra, que dizemos para significar

    a figura, e letra X. Be he a

    palavra, que dizemos para significar

    a letra B.

    M. E que cousa he o poder da letra?

    D. He o som, que lhe damos quando a

    pronunciamos.

    M. Explicay isso.

    D. O som, que faço com a boca quando

    pronuncio a letra A, he o poder da

    [344]

    letra A. O som, com que pronuncio

    as letras Bo, he o poder das letras

    B, e O.

    M. E a mesma letra tem sempre o mesmo

    poder.

    D. Naõ.

    M. Porque?

    D. Porque a mesma letra humas vezes

    faz hum som, outras vezes outro.

    M. Dizey exemplo.

    D. A letra V, quando he consoante, tem

    hum som, assim como na palavra

    Vinha; quando he vogal, tem outro

    som, assim como na palavra Unha.

    M. E quaes saõ as letras, que humas vezes

    tem hum som, outras vezes outro?

    D. C, G, I, N, S, V, Z.

    M. Explicay isso, e dizey exemplos.

    D. A letra C quando pega com a letra E,

    ou I, tem som da letra S, assim como

    Ceo, Cinto; quando pega com a

    letra A, O, V, tem som diverso da

    letra S, assim como Camelo, Coco,

    Cura.

    M. E quando a letra C pega com A, O, V,

    e tem por bayxo huma plica?

    [345]

    D. Entaõ conserva o som da letra S, assim

    como Moço, Moça, Doçura.

    M. Explicay a letra G.

    D. A letra G quando pega com a letra

    A, O, V, tem hum som, assim como

    Gato, Gosto, Magusto; quando pega

    com a letra E, I, tem outro som, assim

    como Gesto, Gizar.

    M. Explicay a letra I.

    D. A letra I quando he vogal tem hum

    som, assim como em Tio, quando he

    consoante, tem outro, assim como

    em Joaõ.

    M. Explicay a letra N.

    D. A letra N quando vem antes de letra,

    que naõ seja vogal, tem quasi o som

    da letra M, assim como Anno, Antonio,

    onde a letra N primeyra tem o

    som de M.

    M. Explicay a letra S.

    D. A letra S em muytas palavras tem o

    som da letra Z, assim como Fermoso,

    Rosa.

    M. Explicay a letra Z.

    D. Z no fim das palavras tem o som da

    letra S, assim como Voz, Noz, Foz.

    M. E ha mais algumas letras, que mudem

    [346]

    o poder, e som?

    D. Sim: as letras vogaes nos dithongos,

    assim como Outo, onde a letra V tem

    o som da letra I; mas isto pertence

    ao tratado dos dithongos, de que

    aqui naõ fallaremos, por ser de

    muyta extensaõ.

    M. E as palavras tem às vezes alguma letra,

    que naõ faça som, isto he, que

    se naõ pronuncie?

    D. Sim.

    M. Dizey exemplo.

    D. Quando na palavra vem dous BB

    juntos, como em Abbade, o segundo

    B naõ se pronuncia, e perde o som.

    Isto mesmo succede ás letras D, F,

    G, L, P, T, S, quando vem dobradas,

    e juntas na palavra.

    M. E de que serve entaõ dobrar as letras,

    se ellas se naõ pronunciaõ, e lhes falta

    o poder?

    D. Serve humas vezes de mostrar donde

    se deriva a palavra, outras serve de

    mostrar a significaçaõ.

    M. Dizey exemplo.

    D. Escritto escreve-se com dous TT para

    mostrar que se deriva do adjectivo

    [347]

    Latino Scriptus. Amasse escreve-se

    com dous SS, e mostra que significa

    no preterito plusquam perfeyto,

    e naõ no presente Ama se.

    M. E pronuncia-se alguma letra as vezes

    se~ q~ a tal letra se escreva na palavra?

    D. Sim.

    M. Dizey exemplo.

    D. Idea se pronuncîa como se tivera a letra

    I, e fora Ideia, mas isto só succede

    nos dithongos, de que aqui naõ

    tratamos, e propriamente nunca se

    pronuncia letra, que naõ venha na

    Oraçaõ, porque a verdade he que as

    letras E A, que fazem dithongo,

    muytas vezes tem o poder de EIA.

    M. Tendes mais que dizer da propriedade

    das letras?

    D. Mais ha que dizer, mas isto basta.

    CAPITULO II.

    Dos modos, com que se erra a Orthografia, e

    como se haõ de evitar os erros.

    Mestre. De quantos modos se erra a

    Orthografia?

    [248]

    D. De quatro.

    M. Quaes saõ?

    D. Por diminuiçaõ, por augmento, por

    mudança, e por transposiçaõ.

    M. Qual he o erro por diminuiçaõ?

    D. He quando se escreve a palavra com

    menos letras das que deve ter.

    M. Dizey exemplo.

    D. Quando escrevemos Eclise ha erro por

    diminuiçaõ, porque falta na palavra

    a letra P, e se deve escrever

    Eclipse.

    M. Qual he o erro por accrecentamento?

    D. He quando se escreve a palavra com

    mais letras das que deve ter.

    M. Dizey exemplo.

    D. Quando escrevemos Metter ha erro

    por accrecentamento, porque tem

    dous TT, devendo só ter hum, e

    escreverse Meter.

    M. Qual he o erro por mudança?

    D. He quando na palavra em lugar de

    huma letra pomos outra, ou quando

    em lugar de letra grande pomos

    letra pequena, ou quando em lugar

    de letra pequena pomos letra grãde.

    M. Dizey exemplos.

    [349]

    D. Quando escrevemos Cazo em lugar de

    Caso, mudando o S em Z, antonio

    em lugar de Antonio, LInho em lugar

    de Linho.

    M. E qual he o erro por transposiçaõ?

    D. He quando mudamos o lugar da letra.

    M. Dizey exemplo.

    D. Quando em lugar de Flor escrevemos

    Frol, pondo o L no fim, devendo

    estar antes, e pondo o R antes do

    O, devendo este estar antes do R.

    M. E como se haõ de evitar esses erros?

    D. Escrevendo as palavras sem mais, nem

    menos letras do que lhe competem,

    e no lugar, que lhe convem.

    M. E como se sabe isso?

    S. Sabe-se pelos livros da Orthografia

    Portugueza, e tambem com o uso,

    e liçaõ dos livros, attentando o como

    se escrevem as palavras.

    M. Dizey algumas dessas regras.

    D. As regras da Orthografia Portugueza

    a mayor parte depende de alguma

    noticia da lingua Latina, e como

    este tratadinho se faz para os que

    ainda naõ sabem a lingua Latina, he

    escusado repetir essas regras.

    [350]

    M. Dizey algumas, para que naõ he necessaria

    a noticia da lingua Latina.

    D. Primeyra regra. Todo o nome proprio

    se deve escrever com letra grande

    no principio, assim como Antonio,

    Lisboa.

    Segunda regra. Todas as vezes que

    acaba a Oraçaõ, e faz ponto, e começa

    outra Oraçaõ, deve a Oraçaõ,

    que começa, principiar por letra

    grande.

    Terceyra regra. A letra C quando vem

    antes de A, O, U, e se pronuncia como

    S, poem-selhe huma plica em

    bayxo, assim como Caça, Corço, Çumo.

    Quarta regra. Antes das letras B, P, M,

    nunca se poem immediatamente a

    letra N, mas a letra: M em seu lugar,

    assim como Amparo, Emmagrecer,

    Ambiçaõ.

    Quinta regra. Depois da letra Q sempre

    se poem a letra U, assim como

    Quem, Quando.

    Sexta regra. Nenhuma letra consoante

    no principio da palavra se poem

    dobrada.

    [351]

    Setima regra. Nenhuma letra consoante

    se poem dobrada se naõ entre

    duas vogaes, assim como escritto,

    &c. Honra escreve-se com R singelo,

    porque naõ vem entre duas vogaes,

    Corra com R dobrado, porque

    vem entre duas vogaes, e o requere

    a pronuncia.

    M. Tendes mais que dizer dos erros da

    Orthografia?

    D. Mais ha que dizer, mas isto basta.

    CAPITULO III.

    Da Pontuaçaõ da Orthografia Portugueza.

    Mestre. Dissestes que o escrever com

    acerto consistia tambem na Pontuaçaõ.

    Que cousa he Pontuaçaõ?

    D. Pontuaçaõ saõ huns risquinhos, ou

    pontos, com que se apartaõ entre si

    as palavras, e mostraõ que casta de

    sentido fazem.

    M. Quantas castas ha desses risquinhos,

    ou pontos?

    D. Sete.

    [352]

    M. Quaes saõ?

    D. Saõ os seguintes. Virgula, Ponto, e

    virgula, dous pontos, Ponto, Ponto

    admiraçaõ, Ponto interrogaçaõ,

    Parenthesis.

    M. Que cousa he virgula?

    D. He huma figurinha desta sorte ,

    M. Que cousa he ponto, e virgula?

    D. He huma figura desta sorte ;

    M. Que cousa saõ dous pontos?

    D. He huma figura desta sorte :

    M. Que cousa he ponto?

    D. He huma figura desta sorte .

    M. Que cousa he ponto, admiraçaõ?

    D. He huma figura desta sorte !

    M. Que cousa he ponto interrogaçaõ?

    D. He huma figura desta sorte ?

    M. Que cousa he Parenthesis?

    D. He huma figura desta sorte

    M. Dizey as regras, que ensinaõ quando

    se haõ de pòr as virgulas.

    D. Primeyra regra. Todas as vezes que

    na Oraçaõ vem palavras, que per

    si fazem algum sentido, mas muyto

    imperfeyto, se poem virgula.

    M. Dizey exemplo.

    D. Se hoje fizer Sol, será bom dia. Nesta

    [353]

    Oraçaõ as palavras Se hoje fizer Sol,

    fazem per si algum sentido, mas

    muyto imperfeyto, e por isso entre

    ellas, e as palavras Sera bom dia pomos

    virgula.

    Segunda regra. Antes dos nomes relativos

    sempre se poem virgula.

    M. Dizey exemplo.

    D. Aos Soldados, que saõ valerozos, se lhes

    daõ premios. Onde antes do relativo

    Que está virgula.

    Terceyra regra. Antes das conjunçoens

    copulativas, e disjunctivas sempre

    se poem virgula.

    M. Dizey exemplo.

    D. Pedro, e Paulo aqui estaõ. Onde antes

    da conjunçaõ copulativa E està virgula.

    Da mesma sorte Pedro, ou

    Paulo chegou de França, onde antes

    da conjunçaõ disjunctiva Ou està

    virgula.

    Quarta regra. Todas as vezes que na

    Oraçaõ vem nominativo absoluto,

    depois delle se poem virgula.

    M. Dizey exemplo.

    D. Posto eu à menza, me deraõ as cartas. Onde

    depois do nominativo absoluto

    [354]

    Posto eu à menza està virgula.

    Quinta regra. Quando na Oraçaõ vem

    muytos nomes, ou Verbos por modo

    de differença, ainda que per si

    naõ façaõ sentido, se poem virgula

    em cada hum.

    M. Dizey exemplo.

    D. Os Portuguezes venceraõ Indios, Mouros,

    Turcos, Francezes, Castelhanos,

    e outras naçoens. Onde entre os nomes

    Indios, Mouros, &c. se poem

    virgula. Da mesma sorte nesta Oraçaõ

    Os Portuguezes descobriraõ, domaraõ,

    conquistaraõ as Indias. Onde

    entre os Verbos Descobriraõ, Domaraõ,

    &c. se poem virgula.

    M. E quando se deve pòr na Oraçaõ ponto,

    e virgula?

    D. Quando as palavras naõ fazem sentido

    perfeyto, mas tambem naõ o fazem

    de todo imperfeyto.

    M. Dizey exemplo.

    D. Pedro foy para Roma com grande fausto;

    como se fora muyto rico. Nesta Oraçaõ

    as palavras Pedro foy para Roma,

    &c. fazem bastante sentido, mas

    naõ perfeyto a respeyto das palavras,

    [355]

    que se seguem.

    M. Quando se devem pòr dous pontos?

    D. Quando a Oraçaõ he grande, e huma

    parte della faz sentido quasi perfeyto.

    Os exemplos se podem ver em

    qualquer livro.

    M. Quando se deve pòr ponto?

    D. Quando a Oraçaõ faz inteyramente

    sentido perfeyto sem dependencia

    do que vay adiante. Os exemplos

    se pòdem ver em qualquer livro a

    cada passo.

    M. Quando se deve por ponto, e admiraçaõ?

    D. Quando dizemos alguma cousa por

    módo de quem se admira.

    M. Dizey exemplo.

    D. Oh que grande batalha venceo Portugal!

    Onde ponos ponto, e admiraçaõ

    no fim, porque falamos como quem

    se admira da grandeza da batalha,

    ou vitoria.

    M. Quando se deve pòr ponto interrogaçaõ?

    D. Quando se pergunta alguma cousa.

    M. Dizey exemplo.

    D. Quem venceo? Onde depois das palavras

    [356]

    Quem venceo ponho ponto interrogaçaõ,

    porque incluem em si

    pergunta.

    M. Quando se deve pòr Parenthesis?

    D. Quando na Oraçaõ se interpoem algumas

    palavras, que interrompem

    o sentido della, e logo torna a continuar.

    M. Dizey exemplo.

    D. Tityro, em quanto torno, (o caminho he

    breve) guarda as minhas ovelhas.

    Onde as palavras O caminho he breve

    estaõ postas com a figura Parenthesis,

    porque interrompem o sentido

    da Oraçaõ.

    M. Tendes mais que dizer da Orthografia

    Portugueza?

    D. Mais ha que dizer, mas isto basta.

    FINIS, LAUS DEO,

    Virginique Matri.

    [1]

    INDEX

    DOS CAPITULOS, QUE

    contèm esta Grammatica.

    PRIMEYRA PARTE.

    CAP. I. Dos nomes, artigos,

    terminaçoens, e casos, pag. 1.

    CAP. II. Das castas, e diversidades

    dos nomes, pag. 20.

    CAP. III. Dos Pronomes, pag. 36.

    CAP. IV. Dos Verbos, e das suas pessoas,

    modos, e tempos, pag. 49.

    CAP. V. Das Conjugaçoens dos Verbos

    Auxiliares, pag. 62.

    CAP. VI. Das Conjugaçoens dos

    Verbos Regulares pag. 82.

    CAP. VII. Das formaçoens dos Verbos

    Regulares, pag. 131.

    CAP. VIII. Das formaçoens dos

    [2]

    Verbos, pagina 132.

    CAP. IX. Das castas dos Verbos,

    pag. 146.

    CAP. X. Dos Adverbios, Preposiçoens,

    e Conjunçoens, pag. 169.

    CAP. XI. Dos generos dos nomes, e

    dos Preteritos dos Verbos, pag. 178.

    SEGUNDA PARTE.

    CAP. I. Da Syntaxe, e de suas

    castas, pag. 184.

    CAP. II. Da Syntaxe de reger, e das

    regras do Nominativo, pag. 194.

    CAP. III. Da Syntaxe do Genitivo,

    pag. 200.

    CAP. IV. Da Syntaxe, e regras de

    Dativo, pag. 212.

    CAP. V. Da Syntaxe do Accusativo,

    e das suas regras, pag. 217.

    CAP. VI. Da Syntaxe do Ablativo,

    e das suas regras, pag. 224.

    CAP. VII. Da Syntaxe dos Verbos,

    pag. 233.

    [3]

    CAP. VIII. Do resolver das Oraçoens,

    pag. 237.

    TERCEYRA PARTE.

    CAP. I. Da Syntaxe figurada, e

    da primeyra figura, pag. 241.

    CAP. II. Da figura Pleonasmo, p. 250.

    CAP. III. Da figura Syllepse, pagina

    252.

    CAP. IV. Da figura Hyperbaton,

    pag. 255.

    CAP. V. Dos Idiotismos, pag. 260.

    CAP. VI. Das figuras, da Dicçaõ,

    pag. 275.

    CAP. VII. Das palavras Encliticas,

    pag. 287.

    QUARTA PARTE.

    CAP. I. Dos Dialectos da lingua

    Portugueza, pag. 291.

    CAP. II. Da Construiçaõ da lingua

    [4]

    Portugueza pag. 301.

    Pratica da regencia da lingua Portugueza,

    pag. 310.

    Carta do Padre Antonio Vieyra, pagina

    311.

    TRATADO BREVE

    da Orthografia.

    CAP. I. Que cousa seja Orthografia,

    e das propriedades das

    letras, pag. 341.

    CAP. II. Dos modos, com que se erra

    a Orthografia, e como se haõ de evitar

    os erros, pag. 347.

    CAP. III. Da Pontuaçaõ da Orthografia

    Portugueza, pag. 351.

    FIM.