Orthographia Portugueza, ou Regras para escrever certo: Ordenadas para uso de quem se quizer applicar

    • Título
    • Orthographia Portugueza, ou Regras para escrever certo: Ordenadas para uso de quem se quizer applicar
    • Subprojeto

    • Corpus Ortográfico do Português

    • Tecnologia

    • Tratado Metaortográfico

    • Língua Objeto
    • Português
    • Metalinguagem
    • Português
    • Autor
    • Sotomaior, Francisco Félix Carneiro (1744-ca.1827)
    • Biografia sucinta do autor
    • Nascido em Lisboa em 1744, Francisco Félix Carneiro Sotomaior era descendente de uma família de nobreza secundária. Em 1746, foi levantado no foro de nobreza para 'Escudeiro-Fidalgo' e para 'Cavaleiro Fidalgo'. Frequentou o curso de Cânones na Universidade de Coimbra desde 1759 até 1761, acabando por não se formar. Para além das receitas a que tinha direito por causa do foro, não se sabe mais nada sobre a vida dele.
    • Editor
    • -
    • Biografia sucinta do editor
    • -
    • Tipos de documentos
    • Impresso
      Manuscrito
    • Local de impressão
    • Lisboa
    • Impressores/Editoras
    • Francisco Luís Ameno (1713-1793)
      João Baptista Reycend, livreiro (fl.1758-1808)
    • Ordem Religiosa
    • -
    • Edição
    • 1.ª ed.
    • Ano
    • 1783
    • Volume de páginas/fólios
    • xxxii, 111 pp.
    • Outras edições conhecidas
    • 1.ª ed.    Orthographia Portugueza, ou Regras para escrever certo, Ordenadas para uso de quem se quizer applicar. por Francisco Felis Carneiro Souto-Maior, Fidalgo da Casa de sua Magestade Fidelissima Nossa Senhora, que Deos guarde, &c. Lisboa: Na Of. Pat. de Francisco Luiz Ameno. Vende-se na Loja de Joaõ Baptista Reycend, e Companhia, Mercadores de livros ao Calhariz. M. DCC. LXXXIII.

      2.ª ed.    Carlos Assunção, Rolf Kemmler, Gonçalo Fernandes, Sónia Coelho, Susana Fontes & Teresa Moura (2022): A Orthographia da Lingua Portugueza, ou regras para escrever certo (1783) de Francisco Félix Carneiro Sotomaior: Estudo introdutório e edição. Vila Real: Centro de Estudos em Letras; Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (= Ortógrafos Portugueses, 9). ISBN: 978-989-704-465-6 / e-ISBN: 978-989-704-466-3.

    • Mencionado em
    • -
    • Descrição sumária
    • -
    • Interesse linguístico
    • Elevação da ortografia à categoria de arte, em paralelo com a gramática. Contributo para a ortografia normativa, unificadora e etimologizante. Tratas-se do mais fiel continuador de Feijó (1734).
    • Inovações metalinguísticas
    • -
    • Influência recebida de
    • Grammatica da lingua portuguesa (1540) de João de Barros

      Orthographia da Lingoa Portvgvesa (1576) de Duarte Nunes de Leão

      Orthographia, ov modo para escrever certo na lingua portuguesa (1631) de Alvaro Ferreira de Vera

      Ortografia da lingua portugueza de João Franco Barreto (1671)

      Regras Gerays (1666) de Bento Pereira

      Orthographia, ou Arte de Escrever e Pronunciar com acerto a Lingua Portugueza (1739) de João de Morais de Madureira Feijó

      «Prosa Grammatonomica Portugueza» (1728) de Rafael Bluteau

      Nova Escola para aprender A ler, escrever, e contar (1722) de Manuel de Andrade Figueiredo;

    • Influência exercida sobre
    • -
    • Índice da obra
    • [rosto] – [i]

      [página em branco] – [ii]

      DEDICATORIA a’ preclarissima senhora DONA ANNA magdalena xavier dos passos mascarenhas, &c. &c. &c.  – iii-vii

      PROLOGO. – viii-xxv

      INTRODUCÇAÕ A’ ORTHOGRAPHIA. Da Origem, Necessidade, Proveitos, e Historia da Orthographia. – [xxvi]-xxvii

      § 1. Da origem da Orthographia. – [xxvi]-xxvii

      § II. Da necessidade da Orthographia. – xxvii-xxix

      § III. Dos proveitos da Orthographia. – xxix-xxxi

      [citação latina] – [xxxii]

      ORTHOGRAPHIA PORTUGUEZA, ou regras para escrever certo. – 1-3

      CAPITULO I. Da Syllaba; definiçaõ da Letra, e explicaçaõ das suas qualidades, differenças, uso, e valor. – 4-65

      § I. Da Syllaba. – 4-5

      § II. Da definiçaõ da Letra. – 5-6

      § III. Qualidade das Letras. – 6-8

      § IV. Da differença das Letras. – 8

      § V. Do uso das Letras. – 8-13

      § VI. Do valor das Letras.13-65

      CAPITULO II. Do que he Accento; quantos saõ, e aonde se devem pôr.66-68

      § I. Do que seja Accento.66-66

      § II. Da quantidade dos Accentos.66-67

      § III. Do uso dos Accentos.67-68

      CAPITULO III. Da diversidade de caracteres da Pontoaçaõ, e do seu uso.69-91

      § I. Dos caracteres da Pontoaçaõ.69-70

      § II. Do Til.70

      § III. Da Cedilha.71

      § IV. Do Apostropho.71

      § V. Da Virgula.72-74

      § VI. Do Ponto e virgula.74-75

      § VII. Dos dois Pontos.75-76

      § VIII. Do Ponto simplex, ou final.77

      § IX. Do Ponto admirativo.78-79

      § X. Do Ponto interrogativo.79-80

      § XI. Dos Pontos de continuaçaõ.80-81

      § XII. Da Linha de separaçaõ, e de seguimento.81-86

      § XIII. Da Parenthesis, e seu uso.86

      § XIV. Do Asterisco, e seu uso.87-89

      § XV. Do Gripho.89-91

      CAPITULO IV. Da formaçaõ dos nomes pluraes pela terminaçaõ dos seus singulares.92-103

      § I. Dos nomes pluraes, que se formaõ dos singulares acabados em vogal.92

      § II. Dos pluraes dos nomes singulares acabados em consoantes mudas.93-95

      § III. Dos pluraes dos nomes singulares acabados em consoantes semivogaes.96-101

      § IV. Dos pluraes dos nomes singulares acabados no duplex X.101

      § V. Dos pluraes dos nomes singulares, que terminaõ em Aõ.102-103

      CAPITULO V. Das Partes da Escrittura.103-106

      § II. Das coizas necessarias, e uteis â Respublica.105-106

      CAPITULO III. Da origem, introducçaõ, e proveitos da Fabula.106-107

      § I. Da origem da Fabula. – 106-107

      LIVRO III. Da Poesia em geral. – 107-108

      CAPITULO I. Da introducçaõ, origem, e proveitos da Fabula. – 107-108

      § I. Da introducçaõ da Fabula. – 107-108

      INDICE. – 109-111

    • Localização nas bibliotecas/proprietários
    • 1. Biblioteca Pessoal Rolf Kemmler / Rolf Kemmler Private Library
      2.
    • Endereços Eletrónicos ou URL
    • 1. -
    • Referências
    • -
    • Autor(es) deste ficha
    • Mónica Sofia Botelho Lima Augusto, Rolf Kemmler & Carlos Assunção
    • Como citar esta ficha
    • Augusto, Mónica Sofia Botelho Lima, Rolf Kemmler & Carlos Assunção. 2023. Francisco Félix Carneiro Sotomaior (1744-ca.1827): Orthographia Portugueza, ou Regras para escrever certo: Ordenadas para uso de quem se quizer applicar. https://pml.cel.utad.pt/ViewEntry.aspx?id_entry=18.

    Edição semidiplomática

    ORTHOGRAPHIA
    PORTUGUEZA,
    OU
    REGRAS PARA ESCREVER CERTO,
    Ordenadas para uso de quem se qui-
    zer applicar,
    POR
    FRANCISCO FELIS CARNEIRO 
    SOUTO-MAIOR,
    FIDALGO DA CASA DE SUA MAGESTA-
    DE FIDELISSIMA NOSSA SENHORA, 
    QUE DEOS GUARDE, &c.

     


    LISBOA
    Na Of. Pat. de FRANCISCO LUIZ AMENO.
    ————————————
    M. DCC. LXXXIII.
    Com licença da Real Mesa Censoria
    Vende-se na Loja de Joaõ Baptista Reycend, 
    e Companhia, Mercadores de livros ao Calhariz.

     

     

    pág. [i]


    pág. [ii]

    DEDICATORIA
    A’ PRECLARISSIMA
    SENHORA
    DONA ANNA
    MAGDALENA XAVIER DOS PASSOS 
    MASCARENHAS, &c. &c. &c.

     


    PRECLARISSIMA SENHORA.


    VACILLANDO por algum 
    tempo na eleiçaõ de Mecenas, para 
    amparo da minha Obra, assentei que 

     

     

     

    pág. iii
    só a V. SENHORIA devia ser dedica-
    da, para que debaixo da sua Pro-
    tecçaõ se faça mais estimavel.
       Desafiar os Alexandres, os Cesa-
    res, os Augustos para as grandes em-
    prezas he fazer-lhes justiça; porém 
    dedicar a V. SENHORIA obra taõ li-
    mitada, seria fazer-lhe injuria, se-
    naõ fosse dar-lhe a conhecer os puros 
    effeitos da minha gratidaõ, e vonta-
    de.
       O Mar, que em si recebe os ar-
    rebatados rios, naõ despresa, com tu-
    do, os pequenos regatos, que a elle 
    se recolhem: O Sol naõ só vigora os 
    robustos troncos, taõbem alenta as 
    tenras plantas: O Fogo tanto abra-
    za os soberbos palacios, como as hu-
    mildes choupanas.
       V. SENHORIA naõ estima as da-
    divas pela sua grandeza, senaõ pe-
    la sinceridade de quem lhas offerece; 
    eu bem desejava offerecer a V. Se-
    NHORIA neste pequeno Trattado to-
    das as producções de. Cicero, e de 
    Demosthenes. Porém, PRECLARIS-

     

     


    pág. iv
    SIMA SENHORA, de hum espiri-
    to taõ debil, como o meu, que mais 
    se podia esperar? Eu me persuado, 
    de que se este meu pequeno volume naõ 
    tiver a felicidade de sair á luz de-
    baixo dos Auxilios de V. SENHO-
    RIA, naõ será attendido, nem ain-
    da pelos pequenos talentos.
       A razaõ, que me obrigou a offe-
    recer a V. SENHORIA esta peque-
    na Obra (pequena, digo, por ser mi-
    nha, mas naõ pela materia, de que 
    trata) foi ver que logo desde o ber-
    ço começáraõ a divisar se em V. SE-
    NHORIA as virtudes dos seus glo-
    riosos Antepassados, que tanto enno-
    brecêraõ a Patria, naõ só com a pen-
    na na maõ, senaõ tambem com a es-
    pada; já nestes Dominios, já nos da 
    India: em cujo Vice-Reinado hum Tio 
    dos Progenitores de V. SENHORIA 
    fez taõ relevantes serviços á Coroa 
    Portugueza, foraõ recompensados em 
    hum Sobrinho seu com o primeiro Con-
    dado de Cucolim da CASA de V. SE-
    NHORIA.

     

     


    pág. v
       Bem quizera demorar-me na ex-
    aggeraçaõ do Heroismo, e Nobreza 
    de taõ ILLUSTRE CASA, porém, 
    nem a minha tosca penna he para as-
    sumpto taõ nobre, nem a rara mo-
    destia de V. SENHORIA mo permi-
    te; fique para as pennas mais apa-
    radas o trattar de materia taõ su-
    blime, que eu me contento com o si-
    lencio.
       V. SENHORIA ama por na-
    tureza, e inclinaçaõ as Sciencias; e 
    ama-as, porque as conhece. A minha 
    composiçaõ dirige-se a ensinar a es-
    crever sem erros; e se as regras, que 
    prescrevo, forem uteis, mereceráõ a 
    attençaõ de muitos; a benignidade de 
    V. SENHORIA lhe desculpará os de-
    feitos, e nem por isso deixará de a re-
    colher debaixo do seu Patrocinio.
       Acceite V. SENHORIA esta li-
    mitada offerta, tributo indispensavel 
    da minha obrigaçaõ; e proteja-a com 
    o seu Respeito: ficará servindo esta 
    acçaõ, para V. SENHORIA, de 
    eterno monumento á sua Generosida-

     

     


    pág. vi
    de; e para mim, de dar quotidiana-
    mente públicas mostras do meu reco-
    nhecimento; confessando com profun-
    do respeito que sou, 


     PRECLARISSIMA SENHORA,

    DE V. SENHORIA

    Humilissimo servo

        Francisco Felis Carneiro Sotomaior.
        

     

     


    pág. vii
    PROLOGO.
    SEMPRE os homens sabios foraõ 
    inimigos de dar á luz as suas Com-
    posições, só por se naõ exporem 
    á mordacidade dos Zoilos: porém se 
    todos se guiassem por estes receios, 
    estava acabada a Respublica das letras. 
    He verdade que naõ ha coiza mais 
    trabalhoza, do que o compor; prin-
    cipalmente em huma materia, que 
    mais he fundada nos principios da boa 
    razaõ, do que na authoridade daquel-
    les, que escrevêraõ sobre o mesmo 
    assumpto: e como eu me hei de afas-
    tar em muitos lugares do que disse-
    raõ os mais a semelhante respeito, 
    naturalmente serei mal-ouvido de mui-
    tos, só pela novidade; ainda que se 
    profundarem bem o negocio, espe-
    ro sejaõ commigo indulgentes: po-
    rém, ou o sejaõ, ou naõ, como o 
    meu intento he ser util á Patria, pres-
    crevendo-lhe, no modo possivel, re-

     

     

     

    pág. viii
    gras certas para se escrever com me-
    nos erros, do que atéqui, pouco se 
    me dá que digaõ bem, ou mal; o 
    caso he que fallem com razaõ.
       Naõ ha coiza mais lastimoza, do 
    que ver as controversias, que padece 
    a nossa Orthographia; andando todos 
    ás escuras em huma coiza de tanta 
    ponderaçaõ.
       Querem alguns A.A. que assim co-
    mo a pronuncia he a verdadeira re-
    gra da Orthographia, se deva escre-
    ver a nossa lingùa, como a pronun-
    ciâmos; e que por esta razaõ se devem 
    desterrar da nossa escrittura todas as 
    letras duplices, menos os RR, quan-
    do a pronuncia he aspera; e todos 
    os HH, quando naõ servem de aspi-
    rar o L, ou o N, e o C, para va-
    ler de X; dizendo que assim como 
    nós naõ damos valor ás duplices, se-
    naõ de huma só letra, assim taõbem 
    devemos escrever huma letra só.
       Todas as lingùas cultas tem letras, 
    que se naõ pronunciaõ, e se conservaõ 
    na escrittura, para mostrar a deriva-
    çaõ das palavras. E por que razaõ naõ 

     

     


    pág. ix
    devemos nós usar o mesmo? A ori-
    gem das palavras, havendo-a, ha de 
    conservar-se; que o mais seria ingra-
    tidaõ; ter-mos nós composto o nosso 
    Dialecto de outras lingùas, e agora 
    querer-mos escurecer isto, dando no-
    va fórma ás palavas, só para que se 
    ignore o donde as adoptámos; quan-
    to mais que todos os homens cultos 
    seguem a Orthographia da origem das palavras.
       Duarte Nunes de Leaõ quer que 
    sempre nos monosyllabos acabados em 
    A, e nas palavras, que terminaõ em 
    Am, se devaõ dobrar os AA, co-
    mo: Máa, Páa, Certãa, Covilhãa. 
    Na pronuncia naõ fazemos caso dos 
    segundos AA, e por que razaõ os 
    devemos escrever? Na origem taõ-
    bem naõ ha semelhantes AA, e com 
    muito mais razaõ naõ devemos usar 
    delles na escritta; e os accentos ti-
    raõ toda a duvida, e ensinaõ a pro-
    nunciar as palavras, como em seu lu-
    gar se dirá.
       Com a mesma razaõ querem ou-
    tros AA. que se dobrem as vogaes 

     

     


    pág. x
    dos outros monosyllabos, como: Fée, 
    Sée, Víi, Líi, Póo, Dóo, Núu, 
    Crúu, &c. Naõ posso perceber em 
    que elles se estribáraõ para estabele-
    cerem regras; para semelhante fim; 
    dizem que se devem escrever, como 
    disse, taes palavras, por se encosta-
    rem a huma pronuncia antiga. Quero 
    que algum dia assim se pronunciassem; 
    porém se com o tempo se foi polin-
    do a lingùa, e já hoje naõ pronun-
    ciâmos as segundas vogaes, por que 
    razaõ as devemos escrever?
       Muitos AA. enxem longas pagi-
    nas para assinarem regras sobre os lu-
    gares, em que deve ter entrada o C 
    com cedilha Ç; e o peor he todos 
    serem discordes. Naõ ha duvida que 
    o ponto he algum tanto controverso, 
    mas nem por isso deixa de sujeitar-se a 
    regras; e me parece que as prescre-
    vo, quando tratto do C.
       O Bluteau nos seus Opusculos quer 
    que sempre o Ch valha de X, e nun-
    ca de K; mas elle mesmo se contra-
    diz no Diccionario, pois quer que se 
    escreva Archanjo, Patriarcha, &c. 

     

     


    pág. xi
    com Ch. Se elle naõ variasse de pro-
    jecto, parece-me que tinha razaõ; 
    porque o Ch quando vale de K he 
    só nas dicções adoptadas das Gregas, 
    onde ha K, ou das Latinas, onde 
    ha Ch: e nestes casos já costumamos 
    escrever semelhantes palavras com Qu; 
    ainda que em Arcanjo, Patriarca naõ 
    se precisa de Qu, porque o simplex 
    C faz a pronuncia verdadeira, como 
    se vio.
       Duarte Nunes de Leaõ quer que 
    todas as vozes, que na origem Latina 
    houver C antes de T, na adopçaõ 
    Portugueza se escreva taõbem; e assim 
    quer que escrevâmos: Docto, Doctri-
    na, Doctor, &c. Naõ me conformo 
    com isto; que nós escrevamos C an-
    tes de T naquellas vozes, ou onde o 
    pronunciâmos, ou onde o omittimos, 
    como: Acto, Projecto, está muito 
    bem; mas que nós os escrevamos na-
    quellas dicções, em que na pronuncia 
    o convertemos em U, I, ou em ou-
    tra alguma letra, assim como em Dou-
    to, Doutor, Doutrina, Effeito, &c. 
    que he como pronunciamos semelhan-
    tes palavras, he sem razaõ.

     

     

    pág. xii
       O Bluteau he do mesmo parecer 
    de que se deve escrever C antes de T, 
    quando as palavras saõ equivocas; po-
    rém o arbitrio taõbem me naõ agrada: 
    porque o equivoco, ou o tira hum ac-
    cento, ou o contexto da oraçaõ.
       Naõ falta quem diga que se deve 
    desterrar o G de Magdalena, e de to-
    das as mais palavras, onde se naõ pro-
    nuncía; e que só se deve conservar, 
    quando fazemos caso delle na pronun-
    cia, como em Magno, Signo, &c. 
    Quem diz isto he pouco amigo da ety-
    mologia das palavras; e naõ adverte 
    que em Magno, Significar, Signo, &c. 
    escrevemos o G por conservar a ori-
    gem das palavras, e que pela mesma 
    razaõ o devemos taõbem escrever em 
    Magdalena, e em outras semelhantes; 
    ainda que o naõ pronunciâmos, por 
    naõ affettar a pronuncia.
       Quando o H he principio de pala-
    vra, diz o Bluteau no seu Dicciona-
    rio, que algumas vezes se póde omit-
    tir, outras naõ: do mesmo parecer he 
    Joaõ Franco Barreto na sua Orthogra-
    phia, e o Padre Bento Pereira na sua 

     

     


    pág. xiii
    Grammatica linguæ Lusitanæ; e nisto 
    naõ dizem mal. Todas as vezes que 
    naõ houver H na origem Latina, naõ 
    o devemos escrever, ou seja no prin-
    cipio, ou no meio das dicções; por 
    cuja razaõ o naõ approvo nas palavras 
    He, Huma, Contheudo, &c. porque 
    o He verbo distingue-se do E conjunc-
    çaõ com o accento agudo; e naõ ha 
    razaõ para se escrever He verbo com 
    H, e Era, Eras, Eramos, &c. in-
    flexões do mesmo verbo, sem elle: 
    porém por seguir-mos o uso invete-
    rado dos Authores cultos, escrevere-
    mos com H He, Huma; em Contheu-
    do, &c. por nenhum modo póde ser 
    admissivel o H. Dizem outros que em 
    Houve, verbo auxiliar, se deve usar 
    de H, para o distinguir de Ouve, ver-
    bo de ouvir: naõ dizem mal, ainda 
    que a razaõ he diversa: No verbo 
    auxiliar usa-se de H por uso, e no 
    verbo ouvir naõ se usa delle porque 
    em Audio o naõ ha; e esta he a razaõ, 
    e naõ o equivoco das palavras; por-
    que, quantas ha com equivocaçaõ? e 
    por ventura põe-se-lhes H para tirar 
    a duvida? Naõ, certamente.

     

     

    pág. xiv
       Sobre as duas qualidades de I J taõ-
    bem. ha sua bulha, mas em se sabendo 
    distinguir o I vogal do J consoante, o 
    que he muito necessario, está acaba-
    da toda a duvida. Os II distinguem-se 
    pelo feitio, ou sejaõ grandes, ou pe-
    quenos: O J consoante, quer seja 
    grande, quer pequeno j, sempre he 
    rasgado, e os Ii vogaes naõ. Quan-
    do nas dicções se deva usar de hum, 
    ou de outro, mostrará a pronuncia da 
    palavra: se o I ferir a vogal, que se 
    lhe segue, he consoante; porque es-
    te sempre he principio de syllaba; e 
    se a naõ ferir, he vogal.
       Outra difficuldade maior se en-
    contra no J consoante, seguindo-se-
    lhe E, I, por ter analogia com elle 
    em semelhantes casos o G; porém 
    quando a pronuncia for de J, recor-
    ra-se á origem, e veja-se se ha J, ou 
    G, e o que houver escreva-se; e se 
    naõ houver nem huma, nem outra 
    letra, use-se sempre do J; porque a 
    sua propriedade he ferir a vogal, que 
    se lhe segue, como: Jarro, Jejum, 
    Jogo, Jugo, &c. Quando á pronun-

     

     


    pág. xv
    cia do J consoante se segue I, se de-
    verá pôr G, e naõ J consoante; por-
    que de seguir-se a este, I vogal, ha 
    raros, ou nenhuns exemplos em pa-
    lavra Portugueza, como: Ginja, Gi-
    baõ, Gineta, Gigante, &c. que to-
    das saõ escrittas com G, e naõ com J.
       A respeito das letras dobradas taõ-
    bem ha que dizer. Manuel de Andra-
    de de Figueiredo no seu Trattado ter-
    ceiro da Orthographia Portugueza assi-
    nalla sinco razões, porque se dobraõ 
    as letras, que saõ: Natureza, Sig-
    nificaçaõ, Corrupçaõ, Variaçaõ, e 
    Composiçaõ: porém eu digo que as 
    letras só se dobraõ: Em primeiro lu-
    gar, para mostrar a origem da pala-
    vra, como: Vassallo; onde se do-
    braõ o S, e o L, para mostrar a ori-
    gem Latina Vassallus, donde se adop-
    tou: Em segundo lugar, quando na 
    adopçaõ convertemos huma letra da 
    origem em outra, como: Isso, de Ip-
    sum, Pessoa, de Persona, Trattado, 
    de Tractatus, &c. onde na primeira 
    palavra convertemos o P da raiz La-
    tina em S; na segunda o R em S; 

     

     


    pág. xvi
    e na terceira o C em T: E em tercei-
    ro lugar, quando as palavras saõ com-
    postas de outras com a particula A; 
    principiando suas simpleces por con-
    soante; que, pela maior parte, se 
    accrescenta á particula outra consoan-
    te igual á da voz primitiva, como: 
    Assaltar de Saltar, Aggravar de 
    Gravar, Afferrar de Ferrar, &c.
       Assina mais o dito Manuel de An-
    drade de Figueiredo sexta razaõ por-
    que se dobraõ as consoantes, que he 
    Derivaçaõ. He verdade que as vozes 
    derivadas conservaõ a natureza das 
    suas primitivas, como: Abbade; que 
    desta palavra se fórma Abbadessa, Ab-
    badessado, Abbadia; e em todas se 
    conservaõ os BB: porém quem do-
    bra naõ he o derivado, he o primi-
    tivo.
       Diz mais o dito Manuel de Andra-
    de de Figueiredo, que as consoan-
    tes C, L, M, N, R, S, se conhece 
    que dobraõ na pronuncia, e pelo soí-
    do; e para provar isto traz humas 
    poucas de palavras de duplex C, co-
    mo: Acçaõ, Dicçaõ, Occidente, &c.

     

     


    pág. xvii
    Que esta letra se conhece que dobra, 
    quando se pronuncîa, he certo; po-
    rém dizer que o L se conhece que do-
    bra, quando carregâmos na vogal an-
    tecedente, he engano manifesto: por-
    que aí está em Marmelo, Martelo 
    Bala, Gala, Cola, Bola, que se naõ do-
    bra o L, e mais carrega-se na sua vo-
    gal antecedente; com que a tal regra 
    he fallivel.
       Dizer taõbem que o M se conhe-
    ce que dobra, quando se enxe mais 
    o som, como em Immenso, Immor-
    tal, he galantaria; pois tanto se en-
    xe o som nas duas palavras, como em 
    Imagem, Imaginar, Imitar, que tem 
    hum M só.
       Naõ tem menos graça dizer que o 
    N se conhece que dobra em Anno, 
    Anna; tanta força fazem na pronun-
    cia os dois NN, como só hum.
       Que o R se conhece que dobra na 
    pronuncia, quando ella he aspera, e 
    forte, he certo; mas estabelecer que 
    o S dobra entre vogaes, e nos super-
    lativos, tem que dizer. Muitas vezes 
    entre vogaes se dobra o S; mas ou-

     

     


    pág. xviii
    tras, nem se dobra, nem ha S, ain-
    da que a pronuncia seja delle; como 
    se póde ver em Graça, Paço, Aço, 
    e em muitas outras palavras: Nos su-
    perlativos he certo que ha dois SS; 
    porém ha-os, porque na lingùa La-
    tina, de donde nós derivámos a nossa, 
    quasi todos os superlativos os tem; 
    por isso os escrevemos, ainda que mui-
    tos naõ tenhaõ analogia.
       Affirma o dito Andrade que as con-
    soantes B, D, F, G, P, T, naõ se 
    conhecem na pronuncia pelo soído 
    quando dobraõ. Diz bem: porém o 
    mesmo succede ás outras de que aca-
    bámos de falar: porque as dupleces 
    consoantes na nossa escrittura tem o 
    soído de huma só, á excepçaõ do R; 
    e concorda o mesmo Andrade com Joaõ 
    Franco Barreto na sua Orthographia, 
    que estas consoantes se naõ devem es-
    crever, por se naõ axarem na pronun-
    cia. Se nós naõ escrevermos duplex 
    consoante, senaõ quando a axar-mos 
    na pronuncia, estou certo que nunca 
    dobraremos, senaõ o R; porém se 
    as primeiras consoantes se devem do-

     

     


    pág. xix
    brar pelas razões, que apontei, as se-
    gundas naõ tem menor privilegio; e 
    assim, ou dobremos todas, ou ne-
    nhumas.
       Sobre as terminações em AM, ou 
    em AÕ, ha muita controversia. O Blu-
    teau na sua Prosa Apologetica diz que 
    a terminaçaõ AÕ se deve preferir á 
    terminaçaõ AM, por ser melhor; e 
    que se deve conservar, para se con-
    servarem taõbem as palavras acabadas 
    em AO, como: Máo, Páo, Berim-
    báo, Catimbáo, &c. e que o til sup-
    pre hum N; mas ainda isto naõ he 
    ferir bem o ponto, e profundar bem 
    a materia. O til, he verdade que naõ 
    he risco, como querem alguns, mas 
    sim hum rigoroso M, naõ final, co-
    mo muitos intendem, mas pertencen-
    te á vogal, sobre que elle está, que 
    se naõ escreve, para naõ fazer duvida 
    com que vogal faria syllaba. E que 
    tem a terminaçaõ em AÕ com as pa-
    lavras acabadas em AO, como as do 
    exemplo? Bem podia haver as taes 
    palavras, e naõ haver a terminaçaõ 
    em AO, porque humas tem accento, 

     

     


    pág. xx
    tras til. Por esta razaõ, naõ he que 
    se deve conservar a terminaçaõ em AÕ; 
    agora por ella ser a legitima, isso sim.
       Ha quem diga que o til faz inten-
    der hum M final, e que se póde es-
    crever sem erro Coraçaom; e que es-
    crevendo nós Coraçam, he huma syn-
    cope da outra. Nem o til denota M 
    final, nem ha tal syncope, nem deve 
    haver terminaçaõ em AM em palavra 
    alguma, como largamente tratto em 
    seu lugar desta materia.
       Na terminaçaõ em AN ha quem 
    queira que acabem os nomes femeni-
    nos, cujos masculinos acabaõ em AM, 
    como: Vam, Van, Irmam, Irman, 
    &c. Naõ sou desta opiniaõ; porque 
    semelhantes nomes femeninos he que 
    se devem escrever com M por final, e 
    os masculinos com AÕ, v. g. Irmaõ, 
    Irmam, Vaõ, Vam, &c.
       Duarte Nunes de Leaõ, e Joaõ de 
    Barros nas suas Orthographias assen-
    taõ que se naõ deve escrever PH por 
    F, ainda em nomes de origem estran-
    geira, como: Philostrato, Philoso-
    phia, &c. mas que semelhantes no-

     

     


    pág. xxi
    mes se devem escrever com F, e naõ 
    com PH. He verdade que nós já hoje 
    escrevemos estes nomes com F; mas 
    nem por isso commetterá erro quem os 
    escrever com PH.; principalmente 
    naquelIes nomes, que ainda naõ estaõ 
    bem naturalizados, ou que tem ana-
    logia com as palavras da origem.
       Bluteau na sua Prosa Grammatono-
    mica quer que se escreva S antes de 
    consoante no principio de palavra, 
    quando esta tiver derivaçaõ, e analo-
    gia Latina; e assim quer que escreva-
    mos Sparto, Spirito, Squeleto, Sce-
    na, Scipiaõ, &c. Em semelhantes 
    palavras, como se intende hum E an-
    tes do S, segundo a pronuncia La-
    tina, pozemo-lo claramente na escrit-
    ta; e pronunciâmos taes palavras, 
    como as escrevemos, assim: Espar-
    to, Espirito, Esqueleto, &c. Nas 
    palavras, que principiaõ por P antes 
    de S, perde-se o P, assim como: 
    Psalterio, PsaImo, Psalmista, &c. 
    que escrevemos Salterio, Salmo, Sal-
    mista; porém, quando na pronuncia 
    fazemos caso do P, ou do S, escre-

     

     


    pág. xxii
    vemos entaõ huma, ou outra, de que 
    fazemos caso.
       Quando as palavras, principiaõ por 
    S antes de C, conservâmos o S, e o C; 
    porém perdemos o C na pronuncia, 
    como: Sciencia, Scena, Scipiaõ, que 
    pronunciâmos Siencia, Sena, Sipiaõ. 
    Porém quem teimasse a escrever estas 
    palavras com S antes de outra conso-
    ante, e com P antes de S, ou N, 
    nem por isso o condemnaria; com 
    tanto que pronunciasse, como costu-
    mâmos.
       O P antes de T no meio das dic-
    ções deve escrever-se, ainda que se 
    naõ pronuncie, se na raiz Latina, com 
    quem tiverem analogia, houver o dit-
    to P.
       Alvaro Ferreira de Vera quer que 
    nenhuma dicçaõ Portugueza acabe em 
    X. Porém eu aconselho que se termi-
    nem em X aquelles nomes, que for-
    maõ os seus pluraes em Ces, v. g.: 
    Simplex, Simpleces, Index, Indeces, 
    &c.
       Naõ sei porque regra o U deva em 
    alguns lugares valer de I; o certo he 

     

     


    pág. xxiii
    que este uso foi introduzido sem se es-
    tribar em razaõ. Eu sigo escrever sem-
    pre I, e nunca U, porque desta sor-
    te venho a dar a cada letra o seu valor 
    natural: e assim escrevo taes pala-
    vras, como se pronunciaõ; I sendo a 
    pronuncia de I, e U, sendo a pro-
    nuncia de U, como: Noite, Oito, 
    Agoiro, Dois, Pois, Ouve, Pouco, 
    Outono, Outorga, &c.
       O Y, diz Bluteau, e Bento Pe-
    reira que se deve escrever para mostrar 
    a origem da palavra. Cuido que di-
    zem bem; pois he só nos casos, em que 
    eu o admitto: agora em que eu naõ 
    concordo com elles, he em dizerem 
    que o I vogal naõ he sufficiente pa-
    ra formar diphthongo com as vogaes, 
    e que se deve usar do Y, como: Pay, 
    Rey, Ruy, Eloy, &c., e do mes-
    mo parecer he Manuel de Andrade de 
    Figueiredo. Naõ posso perceber a ra-
    zaõ, em que se fundáraõ estes Escrit-
    tores: porque o Y antigamente tinha 
    hum soído mais de U, do que de I; 
    e nós com o tempo na adopçaõ, que 
    fizemos delle, demos-lhe valor de I 

     

     


    pág. xxiv
    vogal. Ora se elle vale de I vogal, 
    que necessidade temos do tal Y para 
    formar-mos os diphthongos? Por que 
    razaõ naõ os formaremos com o I vo-
    gal? Eu assento, e estabeleço, como 
    regra geral, que em palavras Portu-
    guezas se naõ deve usar nunca do Y; e 
    só se deve escrever naquellas, que ti-
    verem derivaçaõ, e analogia Grega.
       Estas saõ as observações, que te-
    nho feito sobre alguns pontos princi-
    paes da Orthographia, de que per-
    tendo trattar; porém se nellas se des-
    cubrirem erros, taõ longe estou de naõ 
    querer confessa-los, que protesto ser 
    o primeiro, que os emende, tanto 
    que os axar, ou mos advertirem; pois 
    naõ quero comprar os prejuizos alheios 
    a troco da minha contumacia.

     

     

     

     


    pág. xxv
    INTRODUCÇAÕ
    A’ ORTHOGRAPHIA.
    Da Origem, Necessidade, Proveitos, 
    e Historia da Orthographia.
    § I.
    Da origem da Orthographia.
    A ORTHOGRAPHIA, (que traz a 
    sua origem destas duas dicções 
    Gregas Orthos, e Graphe; boa 
    escrittura) teve seu principio logo 
    com a Grammatica. Tanto que os ho-
    mens começáraõ a querer reduzir a 
    methodo o que falavaõ, compoze-
    raõ Grammaticas da sua mesma lin-
    gùa, que os ensinassem a falar sem 
    erros.
       Entre os Antigos, os que mais 
    se avantajáraõ nas Artes de Gramma-
    tica, foraõ os Gregos Athenienses; 
    e delles passou o costume aos Roma-
    nos, com tanto excesso, que chegá-
    raõ a dar nas Escholas a Grammatica 
    da sua propria lingùa. Era forçoso 

     

     


    pág. [xxvi]
    que logo tivesse principio a Ortho-
    graphia: porque se a Grammatica he 
    a Arte de falar sem erros, a Ortho-
    graphia he a Arte de escrever sem de-
    feitos; e tanta necessidade temos nós 
    de falar, como de escrever. Isto se 
    prova com os mesmos Gregos, e Ro-
    manos, que tanto compunhaõ Gram-
    maticas, como Orthographias: que 
    bem ponderada a materia, a Ortho-
    graphia he huma rigorosa parte da 
    Grammatica, a que se chama Proso-
    dia.
    § II.
    Da necessidade da Orthographia.
    A Necessidade, que temos de hu-
    ma boa Orthographia, todos a 
    conhecem. Sem ella tudo saõ confu-
    sões, e desordens na escrittura; sem 
    se poder formar juizo sobre o que 
    vemos escritto. Quem interpretaria 
    muitas palavras equivocas, se naõ fos-
    sem denotadas com algum accento? 
    Quem distinguiria o discurso, se naõ 
    fosse separado pela pontuaçaõ?

     

     

    pág. xxvii
       Logo que os homens inventáraõ a 
    escrittura, começáraõ a escrever con-
    fusamente as palavras; porém, ven-
    do pelo decurso do tempo a equi-
    vocaçaõ, que havia na escrittura, por 
    falta de alguns sinaes, que distinguis-
    sem humas palavras de outras, e se-
    parassem no discurso huns de outros 
    membros; e vendo igualmente que a 
    mesma escrittura estava desfigurada, e 
    sem graça; usando-se de letra peque-
    na em quasi todas as palavras, (inven-
    tada que foi a Grammatica) entraráõ 
    logo a reduzir a methodo a escrittura, 
    inventando os Accentos, e a Pontua-
    çaõ; huns, para tirarem a duvida nas 
    palavras, e a outra, no discurso.
       Era de necessidade que a Gramma-
    tica fosse mais antiga, do que a Or-
    thographia; porque esta requer a ou-
    tra sabida: e sem se saber que coisa 
    he Grammatica, mal se póde saber o 
    como se ha de virgular, e usar dos 
    Accentos; quanto mais, que nós pri-
    meiro pensâmos, e falâmos, do que 
    escrevemos.
       Naõ obstante a invençaõ dos Ac-

     

     


    pág. xxviii
    centos, e Pontuaçaõ, nem por isso 
    entráraõ logo destas duas coisas a fa-
    zer o seu uso devido; e ainda havia 
    na escrittura equivocos, e confusões, 
    até que com o tempo se foraõ polin-
    do de tal fórma as coisas, que tem 
    chegado á sua maior perfeiçaõ a escrit-
    tura.
    § III.
    Dos proveitos da Orthographia.
    A Orthographia he a porta, a que 
    vem bater todas as sciencias, pois 
    ella lhes deve servir de base; e do 
    pouco caso, que muitos fazem della, 
    he que procede axarem-se pessoas nos 
    empregos litterarios sem saberem que 
    coisa seja escrever huma carta perfeita. 
    A Orthographia he, a que põe em or-
    dem as letras do Abcedario para a for-
    matura de qualquer palavra; he a arte 
    de escrever bem; e a alma da escrittura.
       Da Orthographia saõ partes as Le-
    tras, os Accentos, e a Pontuaçaõ: 
    de cada coisa destas trattarei especifi-
    camente em seu lugar.

     

     

    pág. xxix
    § IV.
    Da historia da Orthographia.
    MUitos saõ os Escrittores, que 
    tem trattado de Orthographia: 
    em todos os seculos sempre esta ma-
    teria mereceo a attençaõ dos homens; 
    elles se desveláraõ por assinalarem 
    regras, com que de huma vez se fixas-
    se a nossa Orthographia patria; po-
    rém debalde se cansáraõ; pois tan-
    tas opiniões ha em semelhante mate-
    ria, quantos saõ os AA., que della 
    trattáraõ.
       Bem quizera eu expor aqui os di-
    versos sentimentos, que ha neste ca-
    so; porém temo cair na reprehençaõ 
    dos leitores pelo extenço; e refrean-
    do nesta parte o meu genio, concluo 
    dizendo; que os curiosos, que qui-
    zerem melhor profundar a materia, 
    pódem recorrer á fonte; vendo as Or-
    thographias dos Authores, que se ci-
    taõ neste Prologo, e as de outros 
    muitos, que ha, como saõ: as de 

     

     

     

    pág. xxx
    Aires Barboza; de Amaro de Robo-
    redo; do Padre Antonio Pessoa; de 
    Antonio da Silva Alvares; de Bartho-
    lomeu Rodrigues Chorro; de Bar-
    tholomeu Soares da Fonceca; de Igna-
    cio de Britto Nogueira; de Ignacio 
    Garcez Ferreira; de Joaõ Moraes de 
    Madureira Feijó, &c, e as de outros 
    mais modernos, como Pinheiro, e 
    Madureira, &c.

     

     

     

     

     

     

     


    pág. xxxi
       
       
       
       
       Omnia breviora reddet ordo, & 
    ratio, & modus. Quintilianus Instit. 
    Orator. Lib. 12. cap. 11.
        

     

     

     

     

     

     

    pág. [xxxii]
    ORTHOGRAPHIA 
    PORTUGUEZA, 
    OU 
    REGRAS PARA ESCREVER CERTO.
    NENHUMA coiza he taõ na-
    tural no homem, como o 
    pensar, por ser essencia do 
    principal caracter com que 
    Deos o distinguio, logo apenas o for-
    mou. A necessidade, que temos de 
    communicar aos outros o que pensâ-
    mos, deo causa para a invençaõ das (a) 
    palavras: e como estas, muitas vezes 
    era preciso, ou parteciparem-se a pes-
    soas, que viviaõ em distancia, ou fa-
    zerem-se lembradas na posteridade; 
    vendo os homens que o instrumento da 
    tradiçaõ naõ era sufficiente para conse-
    guir o fim, que desejavaõ, ideáraõ 
    outro admiravel, que foraõ as letras; 
    e com ellas formáraõ as palavras. Por 

    ————————————————

      (a) Palavra, tomada em toda a sua extençaõ, 
    he aquella voz, que significa alguma coiza.

     

     


    pág. 1
    cuja razaõ vem a ser a Escrittura hu-
    ma imagem da palavra: e se para a 
    copia dizer com o original, he preci-
    so que o quadro seja feito debaixo dos 
    preceitos da boa Pintura; para a Es-
    crittura representar a palavra, deve 
    taõbem ser executada, segundo as re-
    gras da melhor Orthographia.
       Esta ensina a escrever sem erro as 
    palavras, tanto nas Letras, como 
    nos Accentos, e Pontuaçaõ. Nas Le-
    tras; mostrando o como devem ser 
    escrittas as (a) dicções, segundo a sua 
    derivaçaõ, (b) analogia, e uso. Nos 
    Accentos; denotando as syllabas com 
    algum sinal, para as eximir de (c) 
    amphibologia. E na Pontuaçaõ; dis-
    tinguindo o discurso por caracteres 
    proprios, que denotem as suas pausas: 
    porque assim como falando, usâmos 
    dellas, para melhor nos intenderem, 
    assim taõbem escrevendo, as devemos 

    ————————————————

      (a)   Dicçaõ, he o mesmo que palavra.
      (b)   Analogia, he semelhança, ou propor-
    çaõ, que huma coiza tem com outra.
      (c)   Amphibologia, he duvida, ou equivo-
    caçaõ, que huma coiza faz, ou tem com outra.

     

     

    pág. 2
    assinalar; para que o leitor, obser-
    vando-as, distinga o sentido, e o faça 
    distinguir aos que o ouvem.
       Para executarmos o que fica ditto, 
    me propuz a compor este pequeno 
    Trattado, que dividirei em sinco Ca-
    pitulos. No primeiro mostrarei que 
    coisa seja Syllaba; darei a definiçaõ da 
    Letra; explicando as suas qualidades, 
    differenças, uso, e valor. No segun-
    do mostrarei que coiza seja Accento, 
    de quantos se usa, e aonde se devem 
    applicar. No terceiro mostrarei as di-
    versidades de caracteres, de que se 
    compõe a Pontuaçaõ, e o como se de-
    ve usar della. No quarto estabelecerei 
    algumas regras para a formaçaõ dos 
    nomes pluraes, pela sua terminaçaõ 
    singular. E no quinto darei huma bre-
    ve noticia das partes; de que se com-
    põe a Escrittura.

     

     

     


    pág. 3
    ————————————————

    CAPITULO I.
    Da Syllaba; definiçaõ da Letra, e ex-
    plicaçaõ das suas qualidades, diffe-
    renças, uso, e valor.
    § I.
    Da Syllaba.
    TOda a palavra consta de syllabas, 
    e estas de letras. A syllaba he 
    hum som perfeitamente formado, ou 
    por huma vogal sómente, ou por hum 
    diphthongo, ou por huma vogal uni-
    da com huma, duas, ou mais conso-
    antes, as quaes lhe precedaõ, ou se 
    lhe sigaõ, assim como: A-man-te. Es-
    ta palavra tem trez syllabas; a primei-
    ra consta só da vogal A; a segunda 
    da mesma vogal com M, N; e a ter-
    ceira da vogal E com T. E assim di-
    remos que huma palavra consta de tan-
    tas syllabas, quantas vogaes, ou di-
    phthongos tem. Os Accentos se assi-
    nálaõ sobre a vogal da syllaba. Al-

     

     


    pág. 4
    guns naõ querem que a syllaba; que 
    consta só de huma vogal, seja syllaba, 
    e lhe daõ o titulo de * Monogramma: 
    porém chamem-lhe o que quizerem, 
    he huma perfeitissima syllaba.
    § II.
    Da definiçaõ da Letra.
    A Letra he hum caracter, ou figu-
    ra, em que se comprehende hum 
    som individuo; e se compõe o nosso 
    Alphabeto puramente Portuguez de 
    vinte e huma letras, ou caracteres, 
    distinctos huns dos outros, que saõ: 
    A, B, C, D, E, F, G, H, I, L, 
    M, N, O, P, Q, R, S, T, U, X, 
    Z. Dezoito das quaes, segundo di-
    zem os AA. inventou Nestor, e as 
    trez o Capitaõ Diomedes axando-se 
    na guerra de Troya. Além das vinte 
    e huma, usâmos mais das quatro Gre-

    ————————————————

      *   Monogramma, he deliniaçaõ; por isso daõ 
    tal nome ás syllabas de huma vogal só, porque 
    serve de deliniar a palavra: porém todas as syl-
    labas tem o mesmo prestimo.

     

     

    pág. 5
    gas: J, ou Jod, J consoante; V, 
    ou Vau, V consoante; K, e Y. As 
    primeiras duas J, e V, saõ-nos mui-
    tos precisas, as segundas K, e Y, 
    naõ. O som, que tem cada letra des-
    tas, quando se nomeia, he este: A’, 
    Bê, Cê, Dê, E’, êFè, Gê, àgá, 
    I, J, éLè, éMè, éNè, O’, Pê, 
    Quê, érRè, ésSè, Tê, U, V, Xis,
    Zê, Ká, Ypsilon.
    § III.
    Da Qualidade das Letras.
    DEstas Letras se chamaõ vogaes: 
    A, E, I, O, U, Y; porque ca-
    da huma por si só póde fazer som ou 
    syllaba. Com estas se fazem os diph-
    thongos ai, au, ei, eu, oi, ou, ui; 
    e alguns assinalaõ mais dois, que saõ: 
    aõ, eo.
       Diphthongo he palavra Grega, 
    composta destas duas dicções Di, que 
    quer dizer dois, e Thongos, que sig-
    nifica voz; por cuja razaõ o Diph-
    thongo he huma syllaba formada por 
    duas vogaes, que se pronunciaõ de 

     

     


    pág. 6
    hum só respiro, dando-se valor a am-
    bas, como: Parai. A ultima syllaba, 
    que he o rai, deixa perceber na pro-
    nuncia o A, e o I.
       Todas as mais Letras saõ consoan-
    tes, porque por si só naõ pódem fa-
    zer syllaba, sem soccorro de vogal. 
    Exemplo: A-mor, Sil-va.
       Das letras consoantes, humas saõ 
    Mudas, B, C, D, G, J, K, P, 
    Q, T, V, Z; porque além de terem 
    hum som obscuro, quando saõ sinaes 
    de dicçaõ, e ainda de syllaba, se Ihes 
    intende a vogal E: Outras saõ Semi-
    vogaes, como: F, L, M, N, R, S; 
    porque naõ, só tem hum som mais cla-
    ro, do que as Mudas, mas sendo fi-
    naes de dicçaõ, naõ se lhes intende a 
    vogal E na pronuncia, como nas Mu-
    das: E outra he dobrada, como: X; 
    porque em muitos lugares vale de mais 
    de huma letra, como se dirá, quan-
    do se tratar do seu valor.
       Das Semivogaes se fazem Liquidas 
    na nossa lingùa sómmente o L, e o 
    R, quando saõ precedidas de Mudas, 
    com quem façaõ syllabas; porque em

     

     


    pág. 7
    taes casos perdem muita parte da sua 
    força, e som natural, como: Clero, 
    Droga, &c.
    § IV.
    Da differença das Letras.
    AS Letras tem duas differenças, ou 
    figuras, ainda que o valor he 
    o mesmo; porque humas saõ grandes, 
    ou mayusculas, como: A, B, C, &c. 
    outras saõ pequenas, ou minusculas, 
    como: a, b, c, d, e, f, g, h, i, 
    j, k, l, m, n, o, p, q, r, s, t, u, 
    v, x, z, y.
    § V.
    Do uso das Letras.
    PAra perfeiçaõ da Escrittura he ne-
    cessario sabermos em que lugar se 
    lhe applicará letra grande, ou peque-
    na. Porém antes que demos regras pa-
    ra isto, advirta-se, que quando usar-
    mos de letra grande, só a primeira 
    letra da palavra he que o deve ser; 
    ainda que ás vezes o sejaõ todas, co-
    mo mais abaixo se dirá.
       Advertido o que disse: principia-

     

     


    pág. 1
    remos com letra grande a Escrittura.
       Poremos letra grande depois de 
    ponto final, de ponto interrogativo, 
    e admirativo; quando estes dois fi-
    zerem sentido perfeito, e indepen-
    dente.
       Poremos letra grande no princi-
    pio dos (a) nomes proprios, sobre-
    nomes, appellidos, e alcunhas de pes-
    soas.
       No principio dos nomes proprios 
    de todas as coizas (b) animadas, ou 
    inanimadas, sensitivas, ou insensiti-
    vas, como: (c) Bucephalo, (d) Ida, 
    &c.
       No principio dos nomes (e) appel-

    ————————————————

      (a)   Nome proprio he aquelle, que significa 
    huma pessoa, ou coiza certa, sem equivocaçaõ 
    com outra, como: Anna, Norte.
      (b)   Animadas, ou sensitivas, se chamaõ a-
    quellas coizas, que sentem, ou saõ capazes de 
    nutriçaõ. As inanimadas, ou insensitivas saõ 
    pelo contrario.
      (c)   Bucephalo era hum cavallo de Alexandre 
    Magno, que tinha cabeça de boi.
      (c)   Ida, he hum monte de Creta.
      (e)   Os nomes appellativos saõ o contrario 
    dos nomes proprios substantivos; saõ os que 

     

     


    pág. 9
    lativos tomados por substantivos pro-
    prios de pessoa, ou coiza, ou por 
    coiza particular como: O Orador Gre-
    go, por Demosthenes: A Mãi das scien-
    cias, por Athenas. A Mestra universal 
    das gentes, pela Experiencia, &c.
       No principio dos nomes (a) adje-
    ctivos tomados por substantivos pro-
    prios, como: O Divino pertence a 
    Deos, por Divindade.
       No principio dos attributos, ou 
    predicados, (isto he, o que se affir-
    ma, ou nega de algum sujeito) que se 
    daõ a grandes pessoas, como Salva-
    dor, a Deos: Legislador, ao Rei; 
    liberal, ao Princepe; &c. E ás ve-
    zes, por excellencia, saõ grandes to-
    das as letras, tanto do predicado, co-

    ————————————————

    significaõ huma pessoa, ou coiza indetermina-
    da, e que se póde applicar a outra, como: 
    Rei, Senhor; &c.
      (a)   Os nomes adjectivos saõ aquelles, que 
    declaraõ as qualidades dos substantivos com de-
    pendencia dos mesmos. E os nomes substanti-
    vos saõ aquelIes, que naõ dependem dos adje-
    ctivos para significar alguma coiza, como; Pe-
    dro he bom: o primeiro he substantivo, o se-
    gundo adjectivo.
     

     


    pág. 10
    mo do sujeito. V. g. CLEMENTE 
    REI, &c.
       No principio dos nomes (a) con-
    cretos, e abstractos de dignidade, oc-
    cupaçaõ, emprego, ou officio nobre, 
    como: Rei, Reinado, Provedor, Pro-
    vedoria, &c.
       No principio dos nomes (b) gen-
    tilicos; e patrios, como: Portugue-
    zes, os de Portugal: Eborenses, os 
    d’ Evora, &c.
       No principio dos que significaõ ge-
    nero, ou especie, tomados em toda 
    a sua extençaõ, como: O Fogo abra-
    za; a Religiaõ he util, &c.
       No principio dos nomes, ou coi-
    zas, que fazem a principal figura no 
    discurso, a respeito da materia, de 
    que se tratta, como: A Colera incita; 

    ————————————————

      (a)   Nome concreto, he aquelle, que dá a 
    denominaçaõ ao abstracto, e este he o que a 
    recebe do concreto, como: Rei, Reinado: o 
    primeiro he concreto, o segundo abstracto, &c.
      (b)   Nomes gentilicos saõ os que significaõ a 
    gente de huma Naçaõ; e patrios a de huma Pro-
    vincia, ou Cidade, como: Romanos, Algar-
    vios: os primeiros saõ gentilicos, os segundos 
    patrios, &c.
     

     


    pág. 11
    o Vencer agrada; o A he a primeira 
    letra do Alphabeto, &c.
       No principio dos nomes, que sig-
    nificaõ sciencias, ou artes liberaes, e 
    os seus professores, como: Philoso-
    phia, Pintura, Poeta, &c.
       No principio dos nomes, que sig-
    nificaõ coizas assinadas pelo Rei, ou 
    pessoas de authoridade, como: Lei, 
    Avizo, Sentença, &c.
       No principio dos nomes, que 
    contém em si misterio, ou excellen-
    cia, como: A Missa he dos maiores 
    sacrificios, a Prudencia regula os ho-
    mens, &c.
       No principio dos nomes, que per-
    tencem a grandes pessoas, como: O 
    Braço de Deos, o Poder do Rei, &c.
       No principio dos versos.
       Quando huma só letra significa hu-
    ma palavra inteira, taõbem deve ser 
    grande, como: A. por Antonio, &c. 
    as quaes se chamaõ iniciaes.
       Nos titulos dos livros, e em quasi 
    todo o frontespicio delles, costumaõ 
    escrever-se as palavras todas com le-
    tra grande; como taõbem se costu-

     

     


    pág. 12
    ma escrever com letra grande a pri-
    meira palavra toda, com que se prin-
    cipia a trattar qualquer materia.
       A’ excepçaõ do que fica ditto, tu-
    do o mais se deve escrever com letras 
    pequenas.
    § VI.
    Do valor das Letras.
    A.
    A Letra A tem trez sons differentes, 
    que saõ os que denotaõ os trez 
    accentos, como: Amârgurádà. Nes-
    ta palavra estaõ todos os trez sons, 
    que tem a letra A, denotados pelos 
    accentos.
       Quando esta letra he final dos (a) 
    monosyllabos longos, costumaõ mui-
    tos denotalla com o accento agudo, 
    como: Má, Pá; o que naõ sigo, se-
    naõ fazendo amphibologia: e o mes-
    mo uso nos monosyllabos das outras 
    vogaes, pela regra geral dos accen-

    ————————————————

      (a)   Monosyllabos, saõ as palavras de huma 
    só syllaba.

     


    pág. 13
    tos, que só se devem pôr para tirar a 
    duvida. Outros dobraõ a ditta letra 
    nos monosyllabos, como: Máa, Páa; 
    o que taõbem me parece mal; por-
    que naõ axo lei, que dê faculdade a 
    huma letra para carregar outra: o que 
    se póde fazer com o accento, que he 
    o seu officio.
    B
       A letra B seguida de consoante, 
    ou sendo final de dicçaõ, pronuncia-
    se, como se depois de si tivera hum 
    E mudo, como Bredo, Abdicaçaõ, 
    Jacob. As quaes palavras se pronun-
    ciaõ, como se fossem escrittas: Be-
    redo, Abedicaçaõ Jacobe adoçando 
    o E, e pronunciando-o taõ rápido, 
    que mal se deixe perceber. O mesmo 
    succede a todas as Mudas. Dobra-se 
    esta letra pela (a) etymologia da pa-

    ————————————————

      (a)   Etymologia he a origem das palavras: e 
    as nossas quasi todas saõ derivadas da lingua Lati-
    na: por isso devemos escrever: Abbade, Abba-
    dessa, Abbreviar, &c.: porque saõ derivadas 
    das palavras Latinas Abbas, Abbatissa, Ab-
    brevio, &c.

     

     

    pág. 14
    lavra; e pela mesma razaõ se lhe naõ 
    põe o E nos casos, que assima disse-
    mos; e quando for duplex, isto he 
    dobrada, vale de huma só letra; e per-
    tence huma para a syllaba precedente, 
    outra para a seguinte. A razaõ disto 
    he, porque nenhuma syllaba principia 
    por consoante dobrada, como se disse 
    na syllaba. O mesmo se observa nas 
    mais consoantes dobradas. Nesta letra 
    nunca termina palavra Portugueza, e 
    só he final de alguns nomes Hebraicos, 
    como: Jacob, Job, Moab, &c.
    C
       A letra C, sendo seguida de A, O, 
    U, vale de K; tendo cedilha, e se-
    guindo-se-lhe as mesmas letras, vale 
    de S; e taõbem vale de S, antes de 
    E, I. Quando esta letra for seguida 
    de consoante, ou final de dicçaõ, 
    vale da palavra Que, como Clemen-
    te, Alcmena, Halec, &c. As quaes 
    palavras se pronunciaõ, como se fos-
    sem escrittas Quelemente, Alqueme-
    ena, Aleque, &c.

     

     

    pág. 15
       Dobra-se esta letra, para mostrar 
    a derivaçaõ da palavra; e quando he 
    dobrada, ou está antes de T, muitos 
    pronunciaõ a primeira, dando-lhe va-
    lor de Que mudo, como já se disse, 
    outros naõ; como: Acçaõ, Affecto, 
    &c. que muitos pronunciaõ, como se 
    fossem escrittas: Aqueçaõ Affequeto; 
    outros: Açaõ, Affeto, &c. A pri-
    meira pronuncia he affectada, a se-
    gunda he melhor; mas ambas se pó-
    dem usar.
       Quando o ditto C he seguido de 
    H, e depois deste houver E, I, va-
    le de Qu naquellas palavras adopta-
    das da lingùa Latina, onde ha o Ch, 
    ou da lingua Grega, aonde ha K. Ex-
    emplos: Chimica, Cherubim, Chi-
    rios; de Chimica, Cherubim, Kirios. 
    As quaes palavras se pronunciaõ, co-
    mo se fossem escrittas: Quimica, Que-
    rubim, Quirios; fazendo-se liquido, 
    o U depois do Q, como muitas ve-
    zes se faz. E muitas palavras, que no 
    Latim tem Ch, escrevemos já hoje 
    com Qu, como: Monarquia, de Mo-
    narchia, &c.

     

     

    pág. 16
       Outras vezes o ditto Ch vale de 
    X; e ainda que he quasi impossivel 
    querer reduzir a regras o uso do C, 
    quando vale de S, e do Ch, quando 
    vale de X; com tudo, guiado por mui-
    tas observações, que fiz a este respei-
    to, direi os lugares, em que se deve 
    usar do ditto C, quando for analogo, 
    com o S, e do Ch, quando valer de 
    X.
       Ninguem duvîda, que as lingùas saõ 
    derivadas, humas das outras; princi-
    palmente da Latina, e Grega, como 
    mãis, e origem de todas as mais: isto 
    se prova pela semelhança, que muitas 
    palavras das lingùas da Europa ainda 
    hoje conservaõ da lingùa Latina. En-
    tre as nações, que deriváraõ, e adop-
    táraõ palavras da lingùa Latina, pa-
    ra compor o seu dialecto particular, 
    foi a Portugueza huma: e tanto se 
    namorou da Latinidade, que lhe fi-
    cou conservando palavras inteiras; 
    destas, pela quantidade, se podiaõ 
    enxer paginas; porém apontarei só 
    algumas, para provar, o que perten-
    do. Conservaõ toda a analogia Latina 

     

     


    pág. 17
    as palavras seguintes: Amo, Amas, 
    Ama, Ames, Amor, Amores, Ap-
    pello, Appellas, Baba, Baculo, Bap-
    tizo, Barba, Ceremonia, Callos, 
    Carta, Declaro, Delator, Diade-
    ma, Dionysio, &c.
       Ora quem he taõ apaixonado de hu-
    ma lingùa, que lhe conserva palavras 
    inteiras, naõ se envergonha taõbem 
    de a imitar em quasi tudo. O que sup-
    posto: começáraõ os Portuguezes a 
    dar valor de S ao C, (tirando-o fó-
    ra do seu natural, que he valer de K, 
    com qualquer vogal; por terem des-
    terrado do Alphabeto o ditto K, e 
    supprirem o seu lugar com o C, ou 
    Q.) seguido de E, I, naquellas dic-
    ções, que na Latina o tinhaõ; ainda 
    que a analogia seja pequena, ou ne-
    nhuma com as dittas dicções Latinas; 
    mostrando com isto que se lhe perdiaõ 
    a semelhança, lhe conservavaõ a ety-
    mologia. E assim entráraõ a escrever 
    Sem, (a) preposiçaõ, com S, por se 

    ————————————————

      (a)   Preposiçaõ he huma das nove partes, de 
    que se compõe a nossa oraçaõ Portugueza, isto 

     

     


    pág. 18
    derivar de Sine; e Cem, numero, por 
    se derivar de Centum; Cera, nome, 
    por se derivar de Cera, e Será, ver-
    bo, por se derivar de Sum; Ceda ver-
    bo, e Seda nome; por serem deri-
    vadas, aquella de Cedo, e esta de Se-
    ricum: Cilicio, de Cilicium; Sine-
    te, de Sigillum, &c.
    ————————————————

    he, qualquer periodo, que saõ: Nome, Pro-
    nome, Partecipio, Particula, Verbo, Preposi-
    çaõ, Adverbio, Interjeiçaõ, e Conjuncçaõ.
       Nome he huma palavra, com que as coizas se 
    nomeaõ, como: Pedro, Dado.
       Pronome he huma palavra, que se põe em 
    lugar do substantivo, para o significar, como: 
    Falei a Pedro, e elle me abraçou. Onde elle, 
    significa o mesmo que Pedro.
       Partecipio he huma palavra, ou nome adje-
    ctivo, que significa com tempo as qualidades do 
    nome substantivo, como: Pedro he amante. On-
    de amante declara que Pedro agora he que tem 
    amor.
       Particula he huma voz que denota a pessoa, 
    em quem se emprega a acçaõ do verbo; ou a 
    pessoa, a que huma coiza pertence, como: 
    Amo a Pedro, Dei livros aos estudantes.
       Verbo he huma palavra, que significa com 
    tempo alguma acçaõ, como: Tenho dinheiro.
    Onde o verbo Tenho naõ só declara a acçaõ de 

     

     

     

    pág. 19
       Para podermos fazer verdadeiro 
    uso do ditto C, he necessario advertir 
    que os Latinos davaõ valor de C ao 
    T; ou quando estava entre duas vo-
    gaes, ou seguido de I, e outra vo-
    gal, como: Obreptitius, Subrepti-
    tius, Clementia, Prudentia, Patien-
    tia, &c. As quaes palavras se pro-
    nunciaõ, como: Officium, Indicium, 
    Sacrificium, que saõ escrittas com C: 
    e por esta razaõ, quando adoptámos 
    estas palavras para a nossa lingùa, lhe 

    ————————————————

    ter, mas declara-a com o tempo prezente, que 
    já tenho.
       Preposiçaõ he huma palavra, que se põe an-
    tes de hum nome, para significar o modo da 
    acçaõ do verbo, como: Estou sem armas.
       Adverbio he huma palavra, que se ajunta a 
    hum nome, ou verbo, para lhe augmentar a 
    sua significaçaõ, como: Muito rico.
       Interjeiçaõ he huma palavra, que se põe de-
    pois de hum nome, ou verbo, para declarar as 
    paixões do animo, com que se está, como: Ai 
    de mim:
       Conjuncçaõ he huma voz, que serve de li-
    gar os nomes, ou verbos regidos pela mesma 
    pessoa, ou coiza, como: Pedro, e Paulo, e 
    Joaõ, saõ bons. Amar, ou seguir as virtudes, 
    he util.

     

     


    pág. 20
    ficámos conservando o ditto C; e as-
    sim devemos escrever: Obrepticio, 
    Subrepticio, Clemencia, Prudencia, 
    Paciencia; e outras de semelhante de-
    rivaçaõ.
       Pelos mesmos motivos da etymo-
    logia, se introduzio este uso do Ç, 
    seguido de A, O, U, naquellas vozes, 
    que na raiz Latina tem C; ainda que 
    na adopçaõ perdessem a sua analogia, 
    pela pronuncia ser de S; e assim es-
    crevemos Çapato, Aço, Açor, Açou-
    gue, &c. por serem derivadas de 
    Calceus, Chalybs, Accipiter, Carni-
    ficina, &c.
       Com o mesmo fundamento escre-
    vemos com Ç aquellas vozes, que 
    tem a terminaçaõ em AÕ, sendo de-
    rivadas das Latinas acabadas em TIO, 
    pelo T valer de C, como: Abdi-
    caçaõ de Abdicatio, Soluçaõ de So-
    lutio, Acçaõ de Actio, Percepçaõ 
    de Perceptio, &c. E escrevemos com 
    S as que na raiz o tem., como: Con-
    versaõ de Conversio, Expulsaõ de 
    Expulsio, Summersaõ de Submer-
    sio, &c. E com dois SS aquellas vo-

     

     


    pág. 21
    zes, que na raiz os conservaõ, co-
    mo: Oppressaõ de Oppressio, Sum-
    missaõ de Submissio, Remissaõ, de 
    Remissio, &c. E finalmente com S, 
    valendo de Z, escrevemos aquellas 
    dicções, que na raiz Latina tem o S 
    com valor de Z, (que he quando o 
    ditto S está entre vogaes) como: 
    Provisaõ de Provisio, Lesaõ de Læ-
    sio, &c. Advirta-se que nenhuma pa-
    lavra Portugueza principia por Ç se-
    guindo-se-lhe O; á excepçaõ de bem 
    poucas desusadas, como: Çorda, 
    Çorça, Çotea, &c.
       O querer conservar a origem das 
    palavras, introduzio o uso de Ch por 
    X naquellas vozes adoptadas das La-
    tinas, aonde ha C, naõ obstante per-
    derem a analogia com a pronuncia de 
    X: e assim escrevemos: Bacharel, 
    por vir de Baccalarus, Sacho, por 
    vir de Sarculum, Bucho, (pelo ven-
    tre, que pela arvore he com X, por 
    vir de Buxus,) de Ventriculus, &c.
       E escrevemos com X as dicções, 
    que o tem na raiz Latina, como: 
    Convexo de Convexus, Sexo de 

     

     


    pág. 22
    Sexus, Xantho de Xantho, Xeno-
    phonte de Xenophon, Taxa de Ta-
    xa, &c.
       Nas mais palavras, ou puramente 
    Portuguezas, ou adoptadas das Lati-
    nas, aonde naõ houver C, ou X, se 
    usará sempre de X; como; Baixe-
    za de Vilitas, Baixo de Infimus, 
    Axe, Enxotar, Enxorrada, &c.
       Esta regra do Ç valer de S, e 
    do Ch valer de X, tem suas ano-
    malias. I. Vale o Ç de S nos no-
    mes, que terminaõ em Ça, como: 
    Esquivança, Doença, Lembrança, 
    &c., e com tudo naõ vem de dicções 
    Latinas acabadas em Tia, aonde o T 
    vale de C: porém a razaõ disto creio 
    que procede de ficarem com amor ao 
    C, quando fizeraõ a adopçaõ das pa-
    lavras Latinas acabadas em Tia, por 
    lhes ser a pronuncia muito semelhan-
    te; ou porque, para differençarem 
    aquellas destas, lhes contrahiraõ a 
    vogal I, pela figura (a) Crasis ll, 

    ————————————————

      (a)   Crasis he huma figura, pela qual se sup-
    prime huma vogal, fazendo de duas syllabas hu-

     

     


    pág. 23
    Vale o C de S, seguindo-se-lhe as vo-
    gaes A, O, U, tanto nas syllabas ini-
    ciaes, como nas medias, e finaes; 
    ainda naquellas palavras aonde naõ 
    ha C na raiz Latina, ou que saõ pu-
    ramente Portuguezas: e para isto naõ 
    ha mais lei, do que o uso inveterado. 
    Outras vezes vale o Ç de S, seguin-
    do-se-lhe as trez vogaes assima dittas, 
    em palavras, que naõ só saõ derivadas 
    das Latinas, aonde ha S, mas taõ-
    bem que lhe conservaõ toda a analo-
    gia, como: Çumo, Apreçar, &c.; e 
    persuado-me que a razaõ disto he fun-
    dada em querer tirar por este modo o 
    equivoco, que as taes palavras tem com 
    outras suas analogas de diversa signi-
    ficaçaõ, como: Çumo, succo de qual-
    quer arvore, com Summo, grande; 
    Apreçar, fazer preço, com Apres-
    sar, adiantar os passos, &c. Porém 
    ainda que esta seja a razaõ, nunca he 
    bem fundada; porque muitas se es-
    crevem, como digo, sem serem ana-

    ————————————————

    ma na mesma dicçaõ, como: Antoni, por An-
    tonii, &c.

     

     

    pág. 24
    logas, nem terem equivoco com ou-
    tras, como: Çafira, de Saphyrus, 
    Çanfonina, de Symphonia, &c. Com 
    que, naõ approvo semelhante uso; 
    antes escreverei taes palavras com a 
    letra da raiz Latina, tendo analogia, 
    e naõ a tendo, sempre com S; por 
    ser propriedade desta letra o ter som 
    sibilante. III. Escreve-se Razaõ com 
    Z, ou com S, sendo derivada de 
    Ratio, que termina em Tio: mas dis-
    to percebe-se o fundamento. O C com 
    cedilha, Ç, vale de S, e naõ de Z; 
    e para escrevermos Raçaõ, formava-
    mos idéa falsa da palavra; e por isso 
    muitos a escrevem com S, e pronun-
    ciaõ com o Z, por estar entre vogaes, 
    aonde o S Latino vale de Z. IV. Taõ-
    bem se escreve Coraçaõ com Ç, naõ 
    sendo derivada de dicçaõ Latina aca-
    bada em Tio; mas a razaõ disto creio 
    que procede, ou da generalidade das 
    outras palavras acabadas em Çaõ, ou 
    da analogia, que as mesmas tem com 
    as palavras Hespanholas acabadas em 
    On, aonde ha o ditto Ç, como: Co-
    raçon: das quaes derivámos a pro-

     

     


    pág. 25
    nuncia de Aõ. V. Vale o Ch de X 
    nas palavras puramente Portuguezas; 
    ou que na raiz Latina naõ tem C, 
    nem X: e taõbem lhe naõ descubro 
    fundamento mais, do que, ou a ge-
    neralidade de outras, ou a analogia, 
    que muitas dellas tem com outras lin-
    gùas, aonde ha Ch. v. g. Chapeo, 
    com a palavra Franceza Chapeau; de 
    donde parece que foi adoptada esta, 
    e outras muitas: ainda que o escre-
    ver-se Chapeo com Ch, e naõ com X, 
    póde proceder da muita semelhança, 
    que entre os antigos Romanos tinha 
    o C, com o G; pois escreviaõ Le-
    ciones, Pucnare, &c. em lugar de 
    Legiones, Pugnare, &c. e assim ven-
    do escritto Galerus, ou Calerus, 
    quando adoptáraõ a palavra Chapeo, 
    escreveraõ-na com Ch, para conser-
    var o C da raiz Latina, ainda que 
    naõ haja analogia. Com que, quem 
    quizer fazer verdadeira applicaçaõ do 
    C com cedilha, ou do Ch, se naõ 
    approvar este methodo, recorra ao 
    uso, que sendo practicado por homens 
    doutos, deve servir de lei.

     

     

    pág. 26
       Para se extinguir de huma vez a 
    confusaõ, que o uso de algumas letras 
    faz na nossa Orthographia, bastava 
    porem-se em praxe as regras seguintes.
       I. Nunca usar de C cedilhado, senaõ 
    de S.
       II. Antes das vogaes E, I, pôr 
    sempre S, e naõ C; para lhe tirar a 
    analogia, que este tem com o S em 
    semelhantes casos.
       III. Ou nunca usar de Ch por X, 
    ou usar sempre; menos naquellas dic-
    ções, que tivessem analogia com as 
    Latinas, aonde houvesse X, e naõ Ch.
       IV. Denotar com hum accento com-
    petente o U illiquido depois de G, 
    e Q, para o distinguir do U liquido, 
    e mostrar que em taes casos o U fazia 
    syllaba com o G, ou Q; e que a vo-
    gal seguinte do U fazia syllaba com a 
    letra, ou letras, que se seguissem á 
    ditta vogal. Exemplo Agùa, Lingùa, 
    Pingùe, Qùalidade, Qùanto, Qùal, 
    &c. E em Sangue, Guiné, Guindar, 
    Quero, Questaõ, Quinze, &c, naõ 
    usar de accento. Em Gusmaõ, Gut-
    tural, &c. naõ necessitâmos de ac-

     

     


    pág. 27
    cento, porque depois do U, naõ ha 
    vogal, que o faça ser liquido.
       V. Nunca usar de H, senaõ quan-
    do elle serve de aspirar as trez letras 
    L, N, e C, como: Molho, Minha, 
    Chave, &c. ou naquellas vozes de-
    rivadas das Latinas, aonde o houver; 
    como em Homem, Honestidade, Ha-
    via, &c. de Homo, Honestas, Ha-
    beo, &c. Por cuja razaõ o naõ appro-
    vo em Hum, He, &c. porque na raiz 
    Unus, Sum, naõ vemos tal H.
       VI. Nunca usar de S por Z, senaõ 
    nas palavras, que derivadas dos Lati-
    nos, aonde o S vale de Z, lhes con-
    servaõ a analogia, como: Uso de 
    Usus, Usura, de Usura, Causa, de 
    Causa, Visivel, de Visibilis, &c. 
    Em Coiza, Caza, &c. nunca usa-
    ria de S, porque em Res, Domus, 
    o S final naõ vale de Z.
       VII. Nunca o U depois de O va-
    ler de I, como: v. g. nas palavras 
    Ouro, Agouro, Outo, &c. que se 
    pronunciaõ Oiro, Agoiro, Oito; e 
    sempre em taes casos se devia escre-
    ver I; porque em Ouvia, Outro, 

     

     


    pág. 28
    Ouvidor, Ouvidoria, Passou, Pou-
    co, &c. tem o U toda a sua força; 
    e naõ ha mais razaõ em humas, do 
    que nas outras, senaõ o uso; porque 
    ainda que se queira dizer que o U nos 
    primeiros casos se conserva, ainda 
    que se pronuncia I, para mostrar o 
    U, que tem a raiz Latina, v. g. Ou-
    ro, de Aurum, Agouro, Augurium; 
    responde-se que taõbem Outo se escre-
    ve com U, e na raiz Latina Octo,
    naõ ha U.
       VIII. Finalmente naõ usar de Z 
    por S, senaõ no final daquelles no-
    mes, que com a syllaba ES formaõ 
    os seus pluraes perfeitos, como Juiz, 
    Juizes, Perdiz, Perdizes, &c. e 
    naquellas vozes, de que se formaõ 
    outras com a pronuncia de Z, co-
    mo: Diz, Dizemos, Dizem, Fiz, 
    Fizeste, Fizemos, &c.
       Os escrupulosos poriaõ algumas 
    objeições a este modo de escrever, 
    dizendo: Que semelhante methodo 
    era innovar costumes; era perder a 
    belleza da nossa escrittura; sujeitalla 
    a amphibologias com o uso do S por 

     

     


    pág. 29
    C, e naõ fazer caso da origem das 
    palavras. Porém nada disto conclue: 
    porque quando o costume, que se in-
    nova, he fundado na razaõ, e tende 
    a livrar de duvidas os escrittores, de-
    ve abraçar-se. Taõbem em nada se es-
    tragava a belleza da escrittura com o 
    uso dos accentos; porque estes só ser-
    vem para abbreviar, ou allongar as 
    syllabas, e para as tirar de duvida; e 
    com elles se tirava a amphibologia, 
    gue podesse causar o uso de S por C; 
    e quando naõ, o contexto do senti-
    do eximiria a oraçaõ de duvida. Pouco 
    emportava taõbem que Cesta, por vir 
    de Cista, se escrevesse com S, e ou-
    tras semelhantes: porque ainda que 
    tenha analogia, está primeiro assinar 
    regras certas para a escrittura, do que 
    mostrar cegamente a derivaçaõ Latina 
    em humas palavras, que pela anti-
    guidade da adopçaõ, já lograõ os pri-
    vilegios de naturaes. Só as palavras 
    Hebraicas terminaõ em C.

     

     

     

    pág. 30
    D
       A letra D segue em tudo o mesmo 
    que o B, e só as palavras perigrinas 
    acabaõ em D, como: David, Ma-
    drid, Arad, &c.
    E
       A letra E segue em tudo as re-
    gras do A; e só com a differença de 
    que quando he breve, tem semelhan-
    ça de I; o que se póde observar no E 
    final da palavra Mamede. Nos mono-
    syllabos acabados nesta letra, sendo 
    longos, dobraõ alguns o E, como: 
    Fee, See, &c. o que naõ approvo, 
    pelo que disse no A.
    F
       A letra F segue a regra do B; e 
    nella só terminaõ algumas palavras pe-
    rigrinas; mas se as adoptâmos, per-
    dem o F.

     

     

     

    pág. 31
    G
       A letra G, estando antes de con-
    soante, ou sendo final de dicçaõ, 
    pronuncia-se, como se tivera depois 
    de si U, E; o U muito liquido, e o 
    E, muito mudo. Exemplo: Agna-
    çaõ, Anglicano, Glicerio, &c. Agog, 
    Mogog, &c. as quaes palavras se pro-
    nunciaõ, como se fossem escrittas: Ague-
    naçaõ, Anguelicano, Guelicerio, Ago-
    gue, Mogogue, &c. E para me ex-
    plicar melhor; o nosso G antes das 
    consoantes, e das vogaes A, O, U, 
    tem a força do G Castelhano; e a mes-
    ma tem, quando se lhe segue U liqui-
    do, como: Gueto, Guia; cuja pro-
    nuncia he guttural, e semelhante á 
    Castelhana, quando pronunciaõ Gen-
    te, Giro, &c. Quando he seguido 
    de E, I, tem analogia com o J con-
    soante, como: Gero, Giesta; que sen-
    do escrittas Jero, Jiesta, se haviaõ 
    pronunciar da mesma fórma; porém 
    usa-se em semelhantes de G, e naõ 
    de J, para mostrar a derivaçaõ La-

     

     


    pág. 32
    tina aonde ha o ditto G; como em 
    Gero, por vir de Gigno, ou Genero; 
    Giesta, por vir de Genista: porém 
    escrevemos: Jejum, Jesuitas, por 
    se derivarem de Jejunium, Jesuitæ. 
    Nos casos porém em que, ou na raiz 
    Latina naõ ha G, ou J, ou as pala-
    vras saõ puramente Portuguezas, se 
    usará sempre de J, e naõ de G; por 
    cuja razaõ naõ approvo escreverem-se 
    Geito, Gerselim, &c. porque em 
    Modus, Sesamum, naõ ha J, nem 
    G. E para tirar a confusaõ, que o G 
    faz na Orthographia, quando he se-
    guido das vogaes E, I, pela analo-
    gia, que tem com o J consoante, naõ 
    seria máo usar em semelhantes casos 
    sempre de J, e nunca de G: sem que 
    obstasse a etymologia das palavras; 
    porque taõbem nós escrevemos Geira, 
    naõ obstante vir de Jugerum: porém 
    naõ deixo de approvar o uso de G, e 
    naõ de J, quando na raiz Latina hou-
    ver o ditto G; porque esta letra naõ 
    causa tanta confusaõ, como o C.
       Quando o ditto G está antes de D, 
    e N, humas vezes naõ se pronuncia, 

     

     


    pág. 33
    como: Magdalena, Ignacio; outras 
    sim, como: Magno, Magnifico: po-
    rém, ou se pronuncie, ou naõ, sem-
    pre se deve escrever, para se conser-
    var a etymologia das palavras; e pe-
    la mesma razaõ se dobra o ditto G, 
    ainda que vale só de hum; seguindo 
    a regra geral, de que as consoantes 
    dupleces sempre valem de huma só 
    letra; menos o C, como já se disse, 
    e o R, como se dirá. O uso mostrará 
    quando o G deve, ou naõ pronunci-
    ar-se. Nesta letra se acabaõ alguns no-
    mes proprios dos Hebreos, como os 
    do exemplo, e outros semelhantes.
    H
       He ponto muito controverso, se 
    o H he, ou naõ letra; porque unin-
    do-se a huma vogal naõ tem som pro-
    prio, mas serve de aspirar, (isto he, 
    dar diversa pronuncia,) o L, e o 
    N, quando lhe precedem, como: 
    Alho, Ninho. Usa-se desta letra, naõ 
    servindo de aspiraçaõ, para conser-
    var a origem das palavras, como: 

     

     


    pág. 34
    Homem por vir de Homo, Honra, por 
    vir de Honor, &c. Veja-se o mais 
    que se disse a este respeito, quando 
    se trattou do C. Esta letra nunca cos-
    tuma dobrar-se, nem ser final de pa-
    lavra, senaõ em algumas perigrinas, 
    como: Judith, Goliath, Japheth, 
    Zenith, &c.
    I
       A letra I vogal tem sómente o 
    som, que denotaõ os accentos, gra-
    ve, e agudo; como: Antonìo, Des-
    varío: e quando o ditto I tiver al-
    gum accento, naõ se porá ponto; 
    porque aquelle suppre este.
    J
       O J consoante nunca, ou rarissi-
    mas vezes he duplex, nem final de 
    dicçaõ; porque sempre principia a 
    syllaba, como: Ad-juncto, Per-ju-
    ro, &c. Em tudo o mais he como 
    no B: e veja-se o que se disse desta 
    letra, quando se trattou do G.

     

     


    pág. 35
    K
       O K he letra Grega; e por isso 
    naõ usâmos della na nossa escrittura, 
    porque a supprimos com o C, seguin-
    do-se-lhe A, O, U, e com Qu, seguin-
    do-se-lhe E, I, quando o I he liqui-
    do. Exemplos: Monarca, Monar-
    quia; que vale o mesmo que Monarka, 
    Monarkia, &c. Veja-se o mais que 
    se disse a este respeito, quando se trat-
    tou do C; e se alguma vez se encon-
    trar na nossa escrittura, será em pa-
    lavra estrangeira, a quem queiramos 
    conservar toda a sua analogia: e en-
    taõ sujeitar-se-ha á regra das conso-
    antes mudas, como o B; porque nas 
    mais palavras, ainda que adoptadas 
    da lingùa Grega, a supprimos com o 
    que disse.
    L
       A letra L, sendo final de dicçaõ, 
    ou de syllaba, ainda que se lhe siga 
    consoante, naõ se lhe intende E, co-
    mo no B; porque sempre he prece-

     

     


    pág. 36
    dida, ou seguida de vogal, (que este 
    he o privilegio das Semivogaes, e só 
    o S tem suas anomalias, como em seu 
    lugar se diráõ) como: Episcopal, Bal-
    duino, &c. Dobra-se esta letra, ou 
    para conservar a analogia Latina, 
    quando a raiz a tem dobrada, como: 
    Elle, IIleso; alli, &c. de Ille, Il-
    læsus, Illic, &c., ou quado huma 
    particula, ou pronome (a) relativo se 
    pospõe ao (b) infinito de hum ver-
    bo, ou á terceira (c) pessoa do (d) 

    ————————————————

      (a)   Pronome relativo, he aquelle, que se 
    põe em lugar de hum nome, que já lhe fica 
    atrás, ou em que já se falou no discurso, co-
    mo: Vi a Pedro, e disse-lhe, &c.
      (b)   Infinito, he o modo de explicar a acçaõ 
    de hum verbo sem tempo, ou limite certo, co-
    mo: Amar as virtudes: aonde o verbo Amar, 
    nem tem limite, nem declara o tempo certo, 
    em que se ama, nem a pessoa, que ama.
      (c)   Pessoas, saõ trez em cada numero: Eu, 
    tu, elle, nós, vós, elles.
      (d)   Singular: Dois saõ os numeros: Singu-
    lar, e Plural. Singular, serve para huma coiza, 
    ou pessoa só, e o Plural para o mais que passar 
    de hum, como: O amor, as virtudes: aonde 
    diremos que a primeira palavra he do numero 
    singular, e a segunda do plural.

     

     

    pág. 37
    singular dos verbos do (a) modo (b) 
    finito, formando só huma palavra, 
    como: Fazella, Obrigalla, Dizel-
    lo, Fello, Dillo, &c. que val o mes-
    mo que Fazer-a, Obrigar-a, Dizer-o, 
    o Fez, o Diz: cujo R se converte 
    em dois ll, por ficar melhor a pro-
    nuncia. E se a particula O, ou A se 
    ajunta á terceira pessoa do plural dos 
    verbos do modo finito, se lhes ac-
    crescenta hum N antes das particulas, 
    e se separa dos verbos pela linha de 
    separaçaõ, assim: Dizem-no, Fazem-
    no, Levaraõ-no, &c. que he o mes-
    mo que: o Dizem, o Fazem, o Le-

    ————————————————

      (a)   Modo, he a diversa fórma de significar a 
    acçaõ dos verbos: e quatro saõ os Modos: In-
    dicativo, Imperativo, Conjunctivo, Infinito, 
    Indicativo, que mostra como eu amo: Impe-
    rativo, que mostra a acçaõ do verbo, mandan-
    do, como: Ama tu, Conjunctivo, que mos-
    tra condicionalmente a acçaõ do verbo, como: 
    Eu ame; e Infinito, que mostra sem tempo, 
    ou limite a acçaõ do verbo, como: Amar.
      (b)   Finito he o modo de explicar a acçaõ de 
    hum verbo com tempo, ou limite certo, como: 
    Eu amo, tu amas, elle ama, &c.

     

     


    pág. 38
       
    M, N.
       Estas duas Semivogaes M, N, 
    sendo finaes de syllaba, seguidas de 
    consoante, tem hum som analogo, 
    como: Ambrosio, Antonio; cuja pro-
    nuncia naõ tem differença: mas naõ 
    succede assim, sendo finaes de dicçaõ; 
    aonde o M tem hum som mais mudo, 
    do que o N. E para fazermos o uso 
    devido destas duas letras, direi em 
    que lugares se deve pôr huma, ou ou-
    tra.
       Antes de B, P, se porá sempre 
    M, como: Ambos, Campa; nos de 
    mais casos será sempre N, como: An-
    tigo, Anselmo, Andar, &c. muitas 
    vezes se põe M antes de N; mas he 
    naquellas vozes, que tem derivaçaõ, 
    e analogia Latina, como: Calumnia 
    de Calumnia, Calumniador de Ca-
    lumniator, &c. e entaõ a ambas se 
    dá o seu valor. Dobra-se o M, naõ 
    só pela ditta razaõ, mas taõbem quan-
    do na raiz Latina ha outra letra antes 
    delle, que nós naõ pronunciâmos, e 

     

     


    pág. 39
    na adopçaõ convertemos em M, co-
    mo: Summisso de Submissus, Sum-
    mergir de Submergo, &c.
       Dobra-se o N, naõ só para mostrar 
    a etymologia da palavra, mas taõbem 
    quando antes delle ha M na raiz Lati-
    na, que na adopçaõ convertemos em 
    N, como: Solenne de Solemnis, &c. 
    ainda que muitos escrevem Solemne; 
    o que tudo he admissivel.
       Na nossa escrittura poucas, ou ne-
    nhumas palavras se devem escrever 
    com N no fim; porque as dicções, 
    que tem a terminaçaõ em Am, Em, 
    Im, Om, Um, sempre devem ter o 
    M por final, como: Covilham, San-
    tarem, Malsim, Bom, Algum; por-
    que a pronuncia do M final, he mais 
    muda, do que a do N: ainda que 
    alguns usaõ deste, principalmente nas 
    terminações em Am, para distinguirem 
    as terminações em Aõ, aonde põem 
    M em lugar do O; e taõbem porque 
    dizem que nos pluraes de semelhan-
    tes nomes lhes basta pôr hum S, 
    para ficarem perfeitos: nada disto ap-
    provo. Porque a terminaçaõ em Aõ, 

     

     


    pág. 40
    nunca deve ter M, como logo direi; 
    e os pluraes dos nomes, que acabaõ 
    em M, he regra geral da sua forma-
    çaõ, converterse o M do singular em 
    N, S, no plural; como em seu lugar 
    se mostrará: outros põem na ditta ter-
    minaçaõ em Am hum A em lugar do 
    M, ou N, e hum til por sima de 
    hum dos AA; esta moda taõbem me 
    parece esquipatica. Porque o til deno-
    ta hum M supprimido, a quem se dá 
    valor na pronuncia; e assim deveria-
    mos pronunciar Golega-am, ou Go-
    legam-a; conforme o A, a que per-
    tencesse o M: cuja pronuncia naõ me 
    toa. Finalmente escrevem outros a dit-
    ta terminaçaõ em Am supprimindo o 
    M, e pondo hum til por sima do A; 
    o que me naõ desagrada: porque faz 
    intender o M o til.
       A’ classe da terminaçaõ em Am per-
    tence a palavra Mãi, que na nossa lin-
    gùa tem modo particular de escrever-
    se: porque tendo a pronuncia, que 
    faria, Mam-i, pertencendo o M para 
    a syllaba do A, se escreve, como vi-
    mos; mas a razaõ disto está clara: 

     

     


    pág. 41
    Na palavra Mãi naõ se põe o M, pa-
    ra evitar a duvida, que causava, so-
    bre a que vogal pertenceria; e assim 
    usando do til por sima do A, se dá a 
    conhecer que o M lhe pertence. O 
    mesmo succede nas terceiras pessoas 
    do singular do (a) presente do indica-
    tivo do vebo Ponho, e seus compos-
    tos; Põe, Suppõe , Antepõe, &c. aon-
    o til denota o M, que se supprime 
    na escritta, mas a que se dá valor na 
    pronuncia, depois do O: e taõbem 
    se usa de similhante escritta, para se 
    saber a que vogal pertence o M; pois 
    quando naõ, podia-mos pronunciar: 

    ————————————————

      (a)   Presente: Trez saõ os tempos, em que 
    se executa a acçaõ do verbo: Presente, Prete-
    rito, e Futuro, como Amo, Amei, Amarei. 
    O Preterito divide-se em trez, que saõ: Per-
    feito, Imperfeito: e mais que Perfeito, como: 
    Amei, Amava, Já tinha amado: e o Futuro 
    divide-se em dois, que saõ: Perfeito, e Imper-
    feito. O Preterito perfeito denota a acçaõ do 
    verbo executada perfeitamente no tempo passa-
    do: O Imperfeito denota-a taõbem no tempo 
    passado, porém incompleta: E o mais que per-
    feito, denota-a com mais tempo, que o Per-
    feito. A respeito do Futuro, he o mesmo; a 
    differença está no tempo.

     

     

    pág. 42
    Po-me, Suppo-me, Antepo-me, &c.
       As palavras, que tem a termina-
    çaõ em Em, se pronunciaõ na nossa 
    lingùa com modo particular; porque 
    depois do M pronunciâmos hum I, 
    assim como em Mãi. Exemplo: Pa-
    rabem; pronunciâmos esta palavra, 
    como se fora escritta, Parabem-i: 
    porém naõ pomos o I, para nos li-
    vrarmos de duvidas, se elle faria syl-
    laba só por si, ou se pertenceria para 
    o M: e poderiamos pronunciar en-
    taõ: Parabe-mi. Com que esta pro-
    nuncia he particular da nossa lingùa.
       Que se intende I nas dittas pala-
    vras, se prova taõbem pelos seus plu-
    raes, que ficaõ perfeitos, accrescen-
    tando-lhes hum S; pela regra geral 
    dos pluraes dos nomes singulares aca-
    bados em vogal, que se formaõ só 
    com hum S, como se dirá: e se es-
    crevessemos: Parabem-is, era como 
    o pronunciâmos; mas naõ se lhe vê 
    I, pelo que já disse: e supprimos os 
    pluraes de semelhantes nomes, con-
    vertendo o M do singular em NS; 
    em que naõ corresponde a pronuncia 

     

     


    pág. 43
    á escritta: porque a syllaba final Ens 
    de semelhantes nomes tem huma pro-
    nuncia igual ao Ens dos Latinos.
       O M da preposiçaõ Com muitas 
    vezes he liquido, principiando a dic-
    çaõ pelas vogaes A, E, I; e se con-
    trahe o M pela vogal da dicçaõ se-
    guinte, (a que se chama Synalepha) 
    denotando a contracçaõ hum apostro-
    pho, que se põe no alto do O, co-
    mo: Co’ altura, Co’ esta, Co’ isto, 
    &c. as quaes palavras saõ: Com al-
    tura, Com esta, Com isto, &c. E 
    quando ao ditto M da preposiçaõ Com 
    se segue dicçaõ, que principia por O, 
    U, naõ só se contrahe o M, mas taõ-
    bem o O; e se põe o apostropho no 
    alto do C, como: C’o andar, C’un-
    tura, &c. que naõ tendo o apostro-
    pho, se escreveriaõ: Com o andar, 
    Com untura, &c. Na pronuncia usâ-
    mos disto; porém na escritta, só no 
    verso.
    O
       A letra O he capaz de todos os 
    trez accentos, e consequentemente tem 

     

     


    pág. 44
    os trez sons, que elles denotaõ; e só 
    quando he breve, he analogo com o 
    U, como: Donato, que se pronun-
    cia como se se escrevera Dunatu. Pa-
    ra se assinarem regras ao uso do O, 
    quando he semelhante ao U, seria 
    preciso enxer longas paginas; e o mes-
    mo succederia ao E, quando tem se-
    melhança de I: porém direi alguns 
    casos, em que forçosamente devemos 
    usar de O, ou de I. Commummente 
    convertemos o U da raiz Latina em O, 
    na adopcaõ das palavras; principal-
    mente nas primeiras pessoas do plural 
    dos verbos, como: Amâmos, Lê-
    mos, Estudâmos, &c. de Amamus, 
    Legimus, Studemus, &c. Nas pri-
    meiras pessoas do singular do presen-
    te do indicativo dos verbos conservâ-
    mos o O da raiz Latina; como: Ce-
    do, Ponho, Amo, &c. de Cedo, Po-
    no, Amo, &c. Convertemos em O o 
    U das syllabas finaes dos nomes da 
    raiz Latina, como: Antonio, Mar-
    cos, Affectos, &c. de Antonius, 
    Marcus, Affectus, &c. O mais mos-
    trará o uso.

     

     

    pág. 45
       Na letra I, precedendo-lhe con-
    soante, terminaõ bem poucas pala-
    vras na nossa lingùa, à excepçaõ dos 
    preteritos dos verbos da segunda, e 
    terceira (a) conjugaçaõ, na primeira 
    pessoa do singular do modo indicati-
    vo, como: Vi, Li, Ouvi, &c. e 
    de alguns adverbios, como: Alli, 
    &c.
       Todas as vezes, que a pronuncia 
    parecer de I breve, será sempre E;
    menos naquellas vozes, aonde hou-
    ver I na raiz Latina, porque entaõ 
    conserva-se o I, como: Clemente, 
    Prudente, Cosine, &c. mas dizemos: 
    Diacono de Diaconus, Digerir de Di-
    gero, &c. nos mais casos se conser-
    vaõ, pela maior parte, as letras da 

    ————————————————

      (a)   Conjugaçaõ; he aquella regra geral, que 
    os verbos regulares seguem, para a derivaçaõ das 
    suas vozes, como Amo, Amas, Ama, &c. 
    Trez saõ as conjugações dos verbos regulares: a 
    primeira faz o infinitivo em Ar: a segunda em 
    Er: e a terceiro em Ir: como: Amar, Ler, 
    Ouvir, &c. Alguns querem que na nossa lingùa 
    haja quarta conjugaçaõ, que he a que faz o infi-
    nitivo em Or, como: Pôr, e todos seus com-
    postos.

     

     

    pág. 46
    origem Latina, como E, havendo-o; 
    e I, da mesma fórma. Quem quizer 
    maior exacçaõ nesta materia, recorra 
    ao uso.
       Continuando, pois, a falar do O; 
    muitos dobraõ esta letra nos monosyl-
    labos longos; outros lhes põe accen-
    to; o que naõ sigo, pelo que disse na 
    letra A.
       Nas palavras, que terminaõ em Aõ; 
    como: Coraçaõ, Sujeiçaõ, &c. se 
    deverá sempre usar do diphthongo de 
    Aõ: ainda que muitos doutos usaõ de 
    M em lugar de O, til, principalmen-
    te nos verbos, como: Possaõ, Fa-
    çaõ, Fizeraõ; que escrevem: Possam, 
    Façam, Fizeram, &c. o que naõ ap-
    provo, e dou a razaõ. Esta termina-
    çaõ em Aõ taõbem he particular da 
    nossa lingùa; porque na pronuncia, 
    depois do A, damos valor a hum M 
    unido ao A, e valor de U ao O muito 
    liquido, por lhe ser analogo, quan-
    do he breve, como já disse. Exem-
    plo: Affeiçam-u. Eisaqui a pronun-
    cia, que faz a palavra Affeiçaõ, e ou-
    tras semelhantes; e se naõ usâmos na 

     

     


    pág. 47
    escrittura do ditto M, he porque se 
    naõ entrasse em duvida, para que vo-
    gal pertenceria, se a vissemos escrit-
    ta: Affeiçam-o: porque podia haver 
    alguem, que a pronunciasse assim: Af-
    feiça-mo, o que seria erro; e com o 
    til, de que usâmos por sima do A, se 
    dá valor ao M supprimido, para fa-
    zermos caso delle na pronuncia; de-
    notando o mesmo til que o M perten-
    ce ao A, com quem faz syllaba. Com-
    prova-se mais esta opiniaõ com os plu-
    raes regulares de semelhantes nomes, 
    que accrescentando hum S ao O dos 
    singulares, ficaõ perfeitos, como: 
    Maõ, Maõs, Christaõ, Christaõs, 
    Irmaõ, Irmaõs, &c. O mesmo di-
    go que se deve observar nos verbos, 
    e nas syllabas medias das palavras, 
    quando houver a desinencia em Aõ, 
    como: Digaõ, Ouçaõ, Faraõ, Taõ-
    bem, &c., cuja desinencia he rigo-
    rosamente de Aõ.
    P
       A letra P seguida de H vale de F, 
    naquellas dicções, que adoptámos da 

     

     


    pág. 48
    lingùa Latina, ou Grega, cuja ana-
    logia conservâmos, aonde ha o ditto 
    Ph com valor de F, como: Philoso-
    phia, Philippe, Phleimaõ, &c, de 
    Philosophia, Philippus, Phlegmon, 
    &c. com que, huma, e outra coiza 
    se póde seguir.
       Quando o ditto P he principio de 
    syllaba, e se lhe segue S, commum-
    mente naõ se pronuncîa o P, como: 
    Psalmo, Psalterio, &c. que pronun-
    ciâmos: Salmo, Salterio; e muitos 
    escrevem semelhantes palavras já sem 
    o P: mas quando se queira pronunciar 
    o P, se lhe intenderá hum E mudo 
    antes do S; pela regra geral de huma 
    consoante antes de outra, como se dis-
    se no B.
       Sendo o P final de syllaba, e se-
    guindo-se-lhe F, humas vezes naõ se 
    pronuncîa, outras sim, como: Apto, 
    Escripto, &c. que humas vezes se 
    pronuncîaõ, como se fossem escrittas: 
    Atto, Escritto, &c. outras: Apeto, 
    Escripeto: suppondo o E depois do 
    P, pelo que se disse assima. Porém 
    nos casos de fazerem estas palavras 
                                          [am-]

     

     

    pág. 49
    phibologia com outras, como: Apto, 
    com Acto; se deve pronunciar sempre 
    o P, antes do F; nos mais casos he 
    arbitrario. Na escrittura devemos usar 
    sempre de P antes de S, e T, ou de 
    outra consoante, para mostrar a deri-
    vaçaõ das palavras; e pela mesma ra-
    zaõ se dobra taõbem o ditto P.
    Q
       A letra Q principiando syllaba 
    sempre se lhe segue U; porque de ou-
    tra fórma naõ une com as vogaes: e se 
    este U naõ for liquido, tem o Q ana-
    logia com o C, como: Qualidade, 
    Quanto, &c. que se fossem escrittas 
    com C: Cualidade, Cuanto, &c. fa-
    ziaõ a mesma pronuncia. Taõbem he 
    analogo com o C, quando o U for 
    liquido, e a este se seguir A, O, U, co-
    mo Quatorze, Quoto, &c. De se-
    guir-se ao U depois de Q outro U, 
    naõ temos exemplo em palavra Portu-
    gueza.
       Quando ao U depois do Q se se-
    gue E, ou I, quasi sempre o ditto U 

     

     


    pág. 50
    he liquido; e entaõ tem o Q analogia 
    com o K, como: Quero, Quinto, 
    &c. que se fossem escrittas: Kero, 
    Kinto, davaõ a mesma pronuncia.
       Nenhuma palavra puramente do 
    nosso idioma acaba em consoante mu-
    da; á excepçaõ do Z, quando vale 
    de S: mas se algumas vezes o Q for 
    final de dicçaõ, ou de syllaba, seguido 
    de outra consoante, se pronunciará 
    intendendo-lhe U, E: o U liquido, e 
    o E mudo. Taõbem quasi nunca na 
    nossa escrittura he esta letra dobrada; 
    mas se o for, segue o mesmo, que fi-
    ca ditto no B.
    R
       Esta letra R tem duas fórmas de 
    pronunciar-se; huma doce, e branda, 
    a outra aspera, e forte, como: Ca-
    ro, Carro, &c. Quando a sua pro-
    nuncia he forte, dobra-se o R; me-
    nos em principio de palavra, ou no 
    meio della, se preceder ao ditto R ou-
    tra consoante, como: Rancor, Hon-
    ra. No primeiro caso, he pela regra 
    geral, de que nenhuma syllaba prin-

     

     


    pág. 51
    cipia por duplex consoante; e no se-
    gundo, he porque o consoante prece-
    dente faz aspera a pronuncia do R se-
    guinte; e taõbem por naõ principiar 
    syllaba por consoante dobrada. Nos 
    mais casos sempre a pronuncia do R 
    he branda, ou seja principio, ou fim 
    de syllaba, como: Amaro, Amor.
    S
       A letra S, sendo principio de syl-
    laba seguida de vogal, tem o seu som 
    sibilante, como: Santo, Perseverar, 
    &c. Sendo final de syllaba tem algu-
    ma analogia com o X, quando a es-
    te se segue E mudo, como: Basta, 
    Antunes: as quaes palavras se pro-
    nunciaõ, como se fossem escrittas: Ba-
    xeta, Antune-xe; ligando na pro-
    nuncia a vogal precedente ao X, com 
    o mesmo, e pronunciando-lhe o E se-
    guinte muito mudo; da mesma fórma, 
    que se pronuncia na palavra Xequita. 
    Quando he principio de palavra, e se 
    lhe segue consoante, pronuncia-se, co-
    mo se antes de si tivera hum E breve, 

     

     


    pág. 52
    como: Spirito, Scriptura, &c. E já 
    hoje escrevemos o E naquellas vozes 
    derivadas das Latinas, que com ellas 
    tem analogia; aonde ha S antes de 
    consoante, como: Esparto de Spar-
    tum, Espaço de Spatium, Estatua 
    de Statua, &c. E quem escreve se-
    melhantes palavras com SP, ou ST, 
    he para mostrar a etymologia dellas.
       Seguindo-se ao S CI, E, perde-
    se o C na pronuncia, como: Scien-
    cia, Scena, Scipiaõ, &c. que pro-
    nunciâmos: Siencia, Sena, Sipiaõ, 
    &c. A mesma pronuncia nos daria o 
    C sem o S; mas conservâmos este, pa-
    ra mostrar a origem Latina, como: 
    Sei, por vir de Scio, &c. e nas in-
    flexões, e derivações deste verbo, nem 
    se escreve o C, seguindo-se outra le-
    tra, que naõ seja I como: Soube, Sa-
    berei, &c. porque em taes casos ha 
    pouca analogia com a raiz Latina.
       Das Letras semivogaes, só o S he 
    que sofre o naõ ser seguido, ou pre-
    cedido immediatamente de vogal; por-
    que ás vezes he final de syllaba prece-
    dido de N, como em Trans-gres-

     

     


    pág. 53
    saõ, &c. e em taes casos se dá valor 
    ao S de X, como se disse assima; ou-
    tras vezes he precedido, sendo final 
    de syllaba, de huma muda, como: 
    Abs-tençaõ, Ads-tringente, &c. e se-
    gue taõbem a mesma regra assima; 
    dando valor na pronuncia a hum E de-
    pois do B, por ser seguido de conso-
    ante. Exemplo: A-bexetençaõ, A-de-
    xetringente, &c. que he a pronuncia, 
    que fazem as duas palavras.
       Vale o S de Z naquellas dicções 
    adoptadas das Latinas, aonde o mes-
    mo S tem valor de Z, como: Visi-
    vel, Caso, &c. de Visibilis, Casus, 
    &c. Em todas as mais dicções se de-
    vêra pôr sempre Z, e naõ S.
       O uso, que adoptámos dos Lati-
    nos de dar valor de Z ao S, he que me 
    parece foi a causa da introducçaõ do 
    C com cedilha Ç naquellas palavras, 
    aonde na raiz Latina naõ ha C, co-
    mo: Poço de Puteus, Braça de Ul-
    na, Corça de Dama, &c. porque 
    como nós damos valor de Z ao S, 
    ainda em palavras puramente Portu-
    guezas, e que naõ tem analogia com 

     

     


    pág. 54
    as Latinas, como: Peso de Pondero; 
    se pozessemos S em semelhantes pala-
    vras, pronunciariamos: Pozo, Bra-
    za, Corza: (ainda que esta ultima, 
    sendo escritta com S, naõ se lhe ha-
    via de dar valor de Z; por naõ estar 
    o S entre vogaes, que he quando va-
    le de Z:) e usando de Ç, que tem 
    valor de S; se tira a amphibologia, 
    que as dittas palavras fariaõ com ou-
    tras suas analogas, como: Poço no-
    me, com Posso verbo; Braça medi-
    da, com Braza lume, &c. Porém 
    usando-se do S, e do Z nos seus lu-
    gares, estava tirada a duvida.
       Taõbem seria empreza difficultoza 
    querer reduzir a principios certos o 
    verdadeiro uso do S; tanto quando 
    vale de Z, como quando tem o seu 
    som natural de S, sendo principio 
    de syllaba. Porque muitas vezes se usa 
    de S por Z, ainda sem o haver na 
    raiz Latina, como já se disse; outras 
    vezes de Ç por S, sem taõbem haver 
    C, o que taõbem fica ditto; e outras 
    vezes de dois SS, naõ os tendo taõ-
    bem a origem, como: Assinar de Sig-

     

     


    pág. 55
    no, Passar de Transeo, &c. Porém 
    por naõ deixar de dizer alguma coiza 
    nesta materia, estabelecerei as obser-
    vações seguintes.
       I. Nunca se põe S por Z, senaõ 
    entre vogaes; e por esta razaõ se naõ 
    põe entre duas vogaes hum S só, quan-
    do tem o seu valor natural, para lhe 
    naõ darmos valor de Z; mas se a raiz 
    Latina tiver hum S só, o conservâ-
    mos taõbem na adopçaõ com força de 
    S; ainda que esteja entre vogaes, as-
    sim como: Proseguir de Prosequor, 
    &c. que naõ pronunciâmos: Proze-
    guir.
       II. Quando as palavras, que tem 
    pronuncia de Z, saõ equivocas com 
    outras, que tem pronuncia de S, se 
    deve pôr sempre este em lugar daquel-
    le; isto he, naõ tendo analogia com 
    as Latinas. Exemplo: Casa com Ca-
    ça, Brasa com Braça, Teso com Te-
    ço, Preso com Preço, Asar com Assar, 
    Mesa com Meça, &c. Mas quando 
    as palavras de pronuncia de Z naõ saõ 
    equivocas com outras de pronuncia de 
    S, se deverá pôr sempre Z, como: 

     

     


    pág. 56
    Certeza, Nobreza, Menezes, Pe-
    zar, Alteza, Coiza, &c. naõ ha-
    vendo taõbem analogia Latina, por-
    que entaõ se deve seguir a sua nature-
    za.
       Taõbem o S vale de Z naquellas 
    vozes, que se formáraõ de outras com 
    a syllaba Des, sem que sejaõ equivo-
    cas com as que tem pronuncia de S, 
    como: Amor, Desamor, Ordenado, 
    Desordenado, Andar, Desandar, O-
    bediente, Desobediente, &c.
       III. Quando as palavras tem pro-
    nuncia de S, se põe C com cedilha Ç, 
    estando entre vogaes: porque o S, 
    em semelhantes lugares, naõ póde ter 
    entrada, senaõ como Z; o que fica 
    ditto. Exemplo: Baraço, Graça, 
    Maça, Maçaõ, Madraço, Pescoço, 
    &c. isto se intende, naõ havendo ana-
    logia com dicções Latinas: porque en-
    taõ deve-se seguir a origem; como já 
    se advertio: por cuja razaõ se põe dois 
    SS em Posso, Passo, &c. por virem 
    de Possum, Passus, &c.
       Usa-se tambem de Ç, seguindo-se-
    lhe sómente vogal, naõ sendo as pa-

     

     


    pág. 57
    lavras analogas com as Latinas, aon-
    de haja S, ou dois SS: como: Ber-
    ço, Garça, Lembrança, Lanço, &c.
       IV. Dobra-se esta letra S; naõ só 
    por seguir a etymologia das palavras, 
    como se disse, mas taõbem nos imper-
    feitos dos verbos do conjunctivo, co-
    mo: Amasse, Fizesse, Lesse, Ser-
    vissem, &c. mas quando o Se he par-
    ticula relativa, ou pronome, se põe 
    hum S só, separando-o do verbo pela 
    linha de separaçaõ.
       Taõbem se dobra o S naquellas vo-
    zes, que parece se formáraõ de outras, 
    pela semelhança, accrescentando-lhe 
    hum A, como: Assaltar de Saltar, 
    Assim de Sim, Assem de Sem; Asse-
    gurar de Segurar, Asserenar de Se-
    renar, Assocegar de Socegar, &c.
       Dobra-se taõbem esta letra em Tra-
    vessa, Traspasso, e em outras muitas; 
    sem que se possa saber a razaõ, mais 
    do que o uso; a quem pódem recor-
    rer os que axarem anomalias, que saõ 
    algumas, nestas observações

     

     

     

    pág. 58

    T
       A letra T segue em tudo as regras 
    do B. Dobra-se, quando na raiz La-
    tina he dobrada, como: Attrahir de 
    Attraho, Attribuir de Attribuo, &c. 
    Porém advirta-se que na nossa escrittu-
    ra naõ se usa de ajuntamento de trez 
    consoantes, sendo huma duplex; se-
    naõ em dicções analogas com as Lati-
    nas, como as do exemplo. Na nossa 
    lingùa se formaõ as palavras, humas 
    das outras, com as particulas A, Des, 
    Dis, In, Re, Se: e quando as pa-
    lavras, a que ellas se ajuntaõ, princi-
    piaõ por vogal, vale o S de Z, como 
    já se disse; e se por consoante, ac-
    crescenta-se á particula A outra conso-
    ante igual á da dicçaõ; naõ fazendo 
    trez consoantes com a duplex, o que 
    naõ deve ser, como se advertio: e em 
    todas as vozes, que dellas se deriva-
    rem, se conservaõ as dupleces; isto se 
    intende nas palavras, que naõ tiverem 
    analogia com as Latinas; porque en-
    taõ devemos buscar a fonte. Dobra-se 

     

     


    pág. 59
    taõbem, quando na raiz Latina ha le-
    tra, que nós naõ conservâmos na pro-
    nuncia, e que convertemos em T, co-
    mo: Ditto de Dictus, &c. outras 
    vezes se converte o C em I, como: 
    Effeito de Effectus, &c. outras em 
    U, como: Douto de Doctus, &c. e 
    entaõ em taes casos naõ se dobra o T; 
    porque o C da raiz se converteo em 
    outra letra. Taõbem convertemos em 
    T o P de Septem; e assim escrevemos: 
    Sette; e conservâmos o T duplex em 
    todas as vozes derivadas desta, como: 
    Settenta, Settuagesima, Settima, Set-
    teno, &c.
    U
       A letra U vogal sofre os mesmos 
    accentos, que o I vogal: o U depois 
    de G, e Q, seguido de vogal, humas 
    vezes he liquido, outras naõ. Exem-
    plos; do liquido: Quinto, Sangue; 
    do illiquido: Pingùe, Qùanto. O uso 
    mostrará quando he, ou naõ liquido.
       O diphthongo de Ou nos finaes de 
    dicçaõ conserva a sua força, como: 
    Ficou, Paçou, &c. porém em outros 

     

     


    pág. 60
    lugares se converte na pronuncia o U 
    em I, algumas vezes, outras naõ. Ex-
    emplos; do primeiro caso: Outava, 
    Ouro, &c. que pronunciâmos: Oi-
    tava, Oiro, &c. do segundo caso: 
    Outra, Ouvi, &c. Taõbem os mo-
    nosyllabos Dous, Pous, &c. pronun-
    ciâmos: Dois, Pois, &c. e eu segui-
    ra escrever sempre I, quando a pro-
    nuncia fosse de I; U, quando a pro-
    nuncia fosse de U; como em outro lu-
    gar se disse.
       Quando huma dicçaõ acaba em vo-
    gal breve, e outra principia por vo-
    gal longa, ou breve, se contrahe a vo-
    gal precedente pela vogal seguinte; 
    denotando a contracçaõ hum apostro-
    pho, como se disse no M. Exemplo: 
    Grand’ altura, Fort’ honestidade, &c. 
    e naõ faça duvida contrahir-se o E da 
    palavra Forte, principiando a outra 
    por H; porque como este em taes ca-
    sos naõ serve de letra, taõbem naõ im-
    pede a contracçaõ. Esta escritta só no 
    verso se usa; se bem que os Italianos 
    tanto a usaõ na prosa, como no ver-
    so.

     

     

    pág. 61
    V
       A letra V consoante tem as mesmas 
    regras, que o J consoante; menos na 
    analogia, que nem a tem com outra 
    letra, nem outra letra com ella.
       Algumas nações, principalmente 
    do Norte, usaõ desta letra duplex W; 
    e quem quizer conservar as taes pala-
    vras a sua origem, naõ fará mal em 
    escrevellos.
    X
       A letra X tem diversas pronuncias; 
    porque humas vezes vale de CS, ou-
    tras de IS, outras de S final, e outras 
    tem o seu valor natural de X: darei 
    algumas regras para prova do que di-
    go.
       Vale o X de CS, sendo principio 
    de syllaba, como nas palavras: Flu-
    xo, Refluxo, Reflexaõ, &c. que se 
    pronunciaõ como se fossem escrittas: 
    Fluc-so, Refluc-so, Reflec-saõ, &c. 
    fazendo valer o dito C de Que mudo, 
    por estar antes de consoante; como se 

     

     


    pág. 62
    disse, quando se trattou do mesmo C: 
    pois quando pronuncîo as dittas pala-
    vras, parece que as vejo escrittas: Flu-
    queso, Refluqueso, Reflequesaõ, &c. 
    porém quando valer de CS, taõbem 
    se lhe póde dar a sua pronuncia ver-
    dadeira de X; o que eu approvo.
       Vale o X de IS, sendo final de 
    syllaba em huma mesma dicçaõ, co-
    mo: Explico, Exceder, Excellen-
    cia, &c. que fazem a pronuncia, que 
    fariaõ: Eis-plico, Eis-ceder, Eis-
    cellencia, &c. Mas advirta-se que se-
    guindo-se ao X vogal, da-se ao S va-
    lor de Z; por estar. entre duas vogaes. 
    Exemplo: Ei-zacçaõ, Ei-zordio, Ei-
    zequias, &c. que he a pronuncia, que 
    fazem as palavras Exacçaõ, Exordio, 
    Exequias, &c.
       Vale de S, sendo final de dicçaõ, 
    precedido de vogal, como: Simplex, 
    Index, &c. as quaes palavras se pro-
    nunciaõ, como se fossem escrittas: 
    Simples, Indes, &c. Muitos em taes 
    casos usaõ já do S, e naõ do X; po-
    rém quem quizer usar deste, o porá 
    naquelles nomes, cujos pluraes fiquem 

     

     


    pág. 63
    perfeitos, mudando o X em Ces, co-
    mo: Simpleces, Indeces, &c. Esta 
    letra nunca se dobra, e sendo prin-
    cipio de dicçaõ tem o seu som natural 
    de X: e o mesmo tem em Taxa, Ca-
    xa, &c. Veja-se o mais que disse a 
    respeito desta letra, quando se trattou 
    do C.
    Z
       A letra Z segue as regras do J con-
    soante: e só vale de S nos finaes da-
    quelles nomes, cujos pluraes ficaõ 
    perfeitos com a syllaba Es, como: 
    Juiz, Juizes, Perdiz, Perdizes, 
    Cruz, Cruzes, &c. Taõbem vale de 
    S naquellas vozes, de que se formaõ 
    outras com a dezinencia de Z, como: 
    Diz, Dizemos, Dizem, Fiz, Fi-
    zeste, Fizeraõ, &c. as quaes pala-
    vras, e outras semelhantes devem ser 
    escrittas com Z por final. He letra, 
    que taõbem se naõ dobra.
    Y
       A letra Y taõbem he Grega; por 

     

     


    pág. 64
    isso naõ usâmos della, senaõ naquellas 
    palavras, que tem analogia com as 
    Latinas, ou Gregas, de donde as adop-
    támos, em cujas o ha, como: Hy-
    perbole de Hyperbole, Lyra de Lyra, 
    &c. Em todos os mais casos suppri-
    mos o Y com o I vogal; ainda que 
    muitos usaõ do dito Y em dicções, ou 
    puramente Portuguezas, ou aonde o 
    naõ ha na origem das palavras, prin-
    cipalmente depois das vogaes, sendo 
    as palavras nomes, como: Rey, Ley, 
    Sinay, Ruy, Eloy, &c. o que naõ 
    approvo; porque em todas estas pa-
    lavras, e em outras semelhantes se de-
    ve usar sempre do I vogal, e naõ do 
    Y; por ser letra estrangeira, que pe-
    la mesma razaõ naõ usâmos do K, que 
    nos era mais necessaria.

     

     

     

     


    pág. 65
    CAPITULO II.
    Do que he Accento; quantos saõ, e 
    aonde se devem pôr.
    § I.
    Do que seja Accento.
    ACcento he hum sinal, que se põe 
    por sima das vogaes das syllabas, 
    para as abbreviar, ou allongar na pro-
    nuncia, conforme o pedir a natureza 
    da palavra.
       § II.
       Da quantidade dos Accentos.
    OS Accentos, de que usâmos na 
    nossa escrittura saõ trez; grave (`), 
    circumflexo (^), e agudo (´); o Ac-
    cento grave denota rapidez de tempo 
    na pronuncia da vogal da syllaba, 
    sobre que elle está; dando-lhe hum 
    som breve, ou mudo: o Accento cir-
    cumflexo denota demora de mais tem-

     

     

     

    pág. 66
    po, do que o Accento grave, e hum 
    som mais claro na vogal da syllaba: 
    e o Accento agudo ainda denota mais 
    tempo, do que o circumflexo, e hum 
    som muito claro na vogal da syllaba, 
    que por essa razaõ he longa. Exem-
    plo: Abrândádà. Nesta palavra estaõ 
    todos os trez Accentos.
    § III.
    Do uso dos Accentos.
    SAõ precisissimos os Accentos na es-
    crittura, para tirar a amphibolo-
    gia, que sem elles, muitas palavras 
    fariaõ com outras; por serem escrit-
    tas com as mesmas letras, e terem di-
    versa significaçaõ, conforme o Accen-
    to, que se lhes applicar; v. g. Fica-
    ra: esta palavra, naõ sendo denota-
    da com algum Accento, faz o senti-
    do duvidozo; por ter duas significa-
    ções: huma de futuro; outra de pre-
    terito. Porém se nós lhe assinalarmos 
    o primeiro A com o Accento agudo, 
    assim: Ficára; já naõ temos duvida 

     

     


    pág. 67
    na sua significaçaõ: porque o Accen-
    to, que faz carregar o ditto A, nos 
    mostra que esta voz falla no preterito; 
    e se nós assinalarmos só o segundo A 
    com o ditto Accento, v. g. Ficará, 
    nos dá a conhecer que falla do futuro: 
    o mesmo he com o Accento circumfle-
    xo, v. g. Amâmos. Esta palavra, se 
    naõ tivera o segundo A denotado com 
    o Accento circumflexo, podia-nos dar 
    significaçaõ de preterito, Amámos.
       Para naõ haver duvida na escrittu-
    ra, se inventáraõ os Accentos; e por 
    esta razaõ os devemos pôr, quando as 
    palavras tiverem dois sentidos, como 
    as do exemplo; e naõ fazendo duvi-
    da as palavras, naõ se deve usar de 
    Accento algum, como: Pato. Nesta 
    palavra naõ devemos usar de Accento; 
    porque como naõ ha outra coiza, que 
    ella signifique, senaõ huma ave, he 
    desnecessario o Accento, ainda que 
    carregâmos no A; e usallo, seria su-
    perfluidade.

     

     

     

    pág. 68
    ————————————————

    CAPITULO III.
    Da diversidade de caracteres da Pon-
    toaçaõ, e do seu uso.
    § I.
    Dos caracteres da Pontoaçaõ.
    NAõ he menos precisa na ecrittu-
    ra a Pontoaçaõ, do que os Ac-
    centos: estes tiraõ a duvida nas pala-
    vras; aquella exime de confusões o 
    discurso.
       A Pontoaçaõ he o ornato da escrit-
    tura; he a que aperfeiçoa o quadro, 
    que deliniáraõ as palavras; e finalmen-
    te a que o pinta com cores taõ vivas, 
    que em nada differe do original. Sem 
    a Pontoaçaõ naõ podiamos conhecer 
    o discurso, que representavaõ as pa-
    lavras, nem dar-lhe graça na pronun-
    cia. Serve pois a Pontoaçaõ de mos-
    trar-nos o lugar, em que devemos fa-
    zer pausa na escrittura, para melhor 
    percebermos a materia, de que se trat-

     

     


    pág. 69
    ta; e o como devem ser lidas as pa-
    lavras, para mostrarmos as paixões, 
    de quem as ecreveo.
       Compõe-se a Pontoaçaõ de quator-
    ze notas, ou sinaes differentes huns 
    dos outros, que saõ: Til ( ˜ ), Cedilha 
    ( ¸ ), Apostropho ( ’ ), Virgula ( , ), Ponto 
    e virgula ( ; ), Dois pontos ( : ), Ponto sim-
    plex, ou final ( . ), Ponto admirativo ( ! ), 
    Ponto interrogativo ( ? ), Pontos de con-
    tinuaçaõ ( .... ), Linha de separaçaõ, 
    e de seguimento ( — ), Parenthesis ( ), 
    Asterisco ( * ), Gripho ( » ).
       Destas notas as primeiras trez ser-
    vem de dar valor ás palavras, e as 
    mais ao discurso.
    § II.
    Do Til.
    O Til he huma nota, que se põe 
    por sima de huma vogal perpen-
    dicularmente, para denotar hum M 
    supprimido na escritta, mas a que se 
    dá valor na pronuncia; unindo-o á vo-
    gal sobre que estiver o ditto Til, co-
    mo: Tostaõ, Tostões, &c.

     

     

    pág. 70
    § III.
    Da Cedilha.
    A Cedilha he huma nota com a fi-
    gura de virgula, ou de C mais 
    pequeno as vessas, que se põe logo 
    por baixo de um C perpendicular-
    mente, para o fazer valer de S, co-
    mo: Çapato, &c.
    § IV.
    Do Apostropho.
    O Apostropho, que he um sinal em 
    fórma de virgula posto no alto 
    de huma consoante, e ás vezes de hu-
    ma vogal, denota vogal supprimida 
    na palavra, ou particula sobre que el-
    le estiver; da qual se naõ faz caso na 
    pronuncia; e taõbem ás vezes denota 
    huma consoante, como se disse, quan-
    do se trattou do M. Exemplos: Sant’ 
    Antonio, Reliqui’ antiga, Co’ isto, 
    &c. Santo Antonio, Reliquia anti-
    ga, Com isto, &c.

     

     


    pág. 71
    § V.
    Da Virgula.
    A Virgula serve para distinguir os 
    nomes, os verbos, os adver-
    bios, e as differentes orações de hum 
    discurso regidas pela mesma pessoa, 
    ou coiza, e que servem para a mes-
    ma concluzaõ. Exemplos: Daniel, 
    Jeremias, Jonatas, foraõ Prophe-
    tas. Amar, seguir, e exercitar as 
    virtudes he acçaõ de Catholico. Teme-
    raria, indiscreta, e loucamente se 
    commettem os vicios. O amor das coi-
    zas mundanas, a pouca lembrança 
    das eternas, faz com que se quebran-
    te a Lei, para sermos de todo infeli-
    zes. Porém advirta-se que se houver 
    muitos nomes proprios pertencentes 
    a hum sujeito, naõ teráõ virgula en-
    tre si, como: Pedro Antonio Manuel 
    da Silva he homem de mericimento. 
    Porém se os nomes forem predicados, 
    ainda que pertençaõ ao mesmo sujeito, 
    devem ter virgulas entre si, como: 
    Pedro sabio, temerario, e dadivozo, 

     

     


    pág. 72
    venceo a batalha; e só naõ devem ter 
    virgulas, se os predicados forem (a) 
    sinonimos, como: Pedro sabio dis-
    creto, atrevido e temerario, venceo 
    a batalha.
       Deve-se pôr virgula antes das con-
    juncções copulativas, adversativas, e 
    disjunctivas, como: Paulo, e Anto-
    nio: Nem Paulo, nem Antonio: Ou 
    Paulo, ou Antonio, &c. Porém se as 
    conjuncções estiverem entre sinonimos, 
    naõ se usará entaõ da virgula, como: 
    Pedro he discreto e sabio. Mas deve-
    se pôr entre proposições sinonimas, 
    como: Nem amar, nem ser affeiçoado 
    aos vicios, póde ser bom.
       Deve-se pôr virgula antes, e de-
    pois da interrupçaõ, que se faz no dis-
    curso, como: A Ira, paixaõ abomi-
    navel, perturba os animos: Vós bem 
    sabeis, Grande Deos, a fragilidade 
    dos homens. Antes da palavra: Que, 
    quando esta he nome, que se refere á 
    oraçaõ, que lhe precede, taõbem se 

    ————————————————

      (a)   Sinonimos saõ aquellas palavras, que sig-
    nificaõ o mesmo humas, que outras, como: 
    Amor, Affecto, &c.

     

     

    pág. 73
    deve pôr virgula; e depois da oraçaõ,
    ou sentido, que fórma a ditta palavra 
    Que, como: Os vicios, que os ho-
    mens commettem, saõ odiosos a Deos.
       Usa-se da virgula nos referidos ca-
    sos, para denotar a pausa, que deve-
    mos fazer no lugar, em que ella esti-
    ver, tomando a respiraçaõ; e para 
    fazer mais claro o discurso, ou a ora-
    çaõ.
    § VI.
    Do Ponto e virgula.
    O Ponto e virgula denota huma 
    pausa maior, do que a virgula, 
    e menor, do que os dois pontos; e 
    se deve usar delle, quando houver já 
    sentido perfeito, porém dependente 
    do que se segue, para inteligencia do 
    discurso, como: Indigno he de cle-
    mencia aquelle homem, que sendo in-
    grato ao seu bem feitor, lhe naõ pede 
    perdaõ; pois dá indicios de que naõ 
    tem arrependimento do peccado mais 
    abominavel. Porém se os periodos fo-
    rem curtos, por-se-ha só virgula, e se 

     

     


    pág. 74
    forem muito extenços, dois pontos, 
    ou ponto final; conforme o pedir o 
    sentido do discurso.
       Deve-se usar de ponto e virgula, 
    quando no discurso ha enumeraçaõ de 
    partes, e todas se especificaõ. V. g. 
    Por dois principios devemos amar a 
    Deos: O primeiro, por sermos crea-
    turas suas; o segundo, pelo premio 
    da Bemaventurança. Taõbem deve 
    haver ponto e virgula, quando se trat-
    taõ extremos oppostos, como: Amou 
    as virtudes; aborreceo os vìcios; ma-
    tou os inimigos; e deo vida aos seus.
    § VII.
    Dos dois Pontos.

    OS dois Pontos denotaõ huma pau-
    sa maior, do que o ponto e vir-
    gula, e menor, do que o ponto fi-
    nal.
       Devem-se pôr depois de hum sen-
    tido completo, em quanto á oraçaõ, 
    mas que ainda se continûa a dizer mais 
    alguma coiza a respeito da materia, 

     

     


    pág. 75
    de que se tratta; ou para melhor se 
    comprovar o discurso, ou para lhe de-
    clarar algumas circunstancias. Exem-
    plos: Muitas coizas contribuem pa-
    ra a felicidade dos homens: a uniaõ, 
    a saude, e mais que tudo a sabedoria. 
    E quando estas comprovações saõ ex-
    tenças, depois dos dois pontos se de-
    ve pôr letra grande, como: Grecia, 
    e Roma tiveraõ homens muito gran-
    des na Respublica das letras. A pri-
    meira contou entre os heroes do seu 
    tempo Demosthenes; aquelle Princepe 
    da eloquencia: A segunda, além de 
    muitos outros, teve Cicero, que tan-
    to enobreceo a Patria pelo seu talento. 
    E nestes casos sempre se deve pôr le-
    tra grande depois dos dois pontos; 
    por serem extenças as proposições. Pó-
    dem repetir-se succecivamente os dois 
    pontos: porém o melhor uso he, quan-
    do o discurso for extenço, pôr dois 
    pontos, e ponto e virgula alternativa-
    mente, antes do ponto final.

     

     

     

    pág. 76
    § VIII.
    Do Ponto simplex, ou final.
    O Ponto final denota hum sentido 
    inteiramente acabado, e sem de-
    pendencia do que se lhe segue, por 
    cuja razaõ se deve fazer, aonde elle 
    estiver, huma pausa grande; toman-
    do a respiraçaõ, e mediando algum 
    espaço de tempo na continuaçaõ da lei-
    tura. Deve-se pôr no fim de hum dis-
    curso sem dependencia, como disse, 
    ainda que seja no meio da linha das le-
    tras, como: Naõ ha coiza mais in-
    constante, do que a fortuna da guer-
    ra. Sempre assim pensáraõ os homens 
    sabios. Deve-se pôr no fim de hum dis-
    curso acabado sem admiraçaõ, ou in-
    terrogaçaõ; cuja materia se concluio. 
    Deve-se pôr depois de huma letra ini-
    cial; depois de huma palavra em bre-
    ve; e por sima dos i, j, pequenos, 
    vogal, e consoante.

     

     

     


    pág. 77
    § IX.
    Do Ponto admirativo.
    O Ponto admirativo denota admi-
    raçaõ, (a) ironîa, e exclamaçaõ; 
    e se deve pôr depois destas trez coi-
    zas, ou o sentido seja completo, ou 
    naõ: se o sentido for completo, de-
    pois do dito ponto se porá letra gran-
    de, e se fará huma pausa igual á do 
    ponto simplex; e se naõ for completo, 
    depois delle se porá letra pequena, 
    e se fará huma pausa semelhante á do 
    ponto e virgula. Exemplos; de admi-
    raçaõ: Quem dissera que hum conquis-
    tador taõ grande, como Scipiaõ, ha-
    via de ser odiado do seu mesmo povo 
    Romano! Elle venceo em Africa qua-
    tro Generaes Carthagineses: Desba-
    ratou em Hispanha quatro formida-
    veis exercitos: Triunfou de Syphax, 
    Annibal, e Antiocho, &c. De excla-
    maçaõ: O’ Bom Deos, tende compai-

    ————————————————

      (a)   Ironia he huma figura, porque se fala, 
    quando se diz o contrario do que se pensa.

     

     

    pág. 78
    xaõ de mim! Eu sou, Senhor, o que 
    mais vos tem offendido, por isso im-
    ploro a Vossa Misericordia, &c. De 
    ironia: Que gentil presença tens! 
    (falando de huma pessoa enorme:) 
    Naõ posso deixar de me admirar de ti, 
    &c. De sentido incompleto: Que es-
    malte! que côres! que delicioso xeiro 
    se naõ encontra em hum jardim florí-
    do! Ah! que me succede!
    § X.
    Do Ponto interrogativo.
    O Ponto interrogativo denota per-
    gunta; e se deve pôr depois da 
    interrogaçaõ, isto he pergunta, ou 
    o sentido seja completo, ou naõ, co-
    mo: Que fazes neste sitio? Donde 
    vindes a taes horas? Que travessuras? 
    que desordens? que insultos commet-
    tes, Pedro? E nestes ultimos casos 
    naõ se põe letra grande depois do pon-
    to interrogativo; porque humas pro-
    posições saõ dependentes das outras; 
    por serem regidas pela mesma pessoa, 

     

     


    pág. 79
    ou coiza: e taõbem se faz entaõ huma 
    pequena pausa. Deve-se pôr ponto in-
    terrogativo depois de hum sentido for-
    mado por interrogaçaõ; ainda que naõ 
    esteja presente pessoa com quem fale, 
    mas que de algum modo pareça que ha 
    alguem, a quem eu applico a pergun-
    ta. Exemplos: Dizei-me, homens per-
    versos, quando haveis de pôr freio aos 
    vossos appetites? Donde procede, in-
    nocentes avesinhas, a melodia do vosso 
    canto? A verdadeira sabedoria he o 
    temor de Deos. De que authoridades 
    me naõ podia eu servir para provar o 
    que digo? Mas para que? Ninguem 
    ignora huma verdade taõ sabida.
    § XI.
    Dos Pontos de continuaçaõ.
    OS Pontos de continuaçaõ denotaõ 
    imperfeiçaõ de sentido; e deve-
    se fazer nelles huma pausa, como sus-
    pensa, e dependente do resto das pa-
    lavras, que faltaõ á oraçaõ: deve-se 
    usar delles, logo que no periodo co-

     

     


    pág. 80
    meçaõ a faltar palavras para a sua in-
    teligencia, como: A vossa benevolen-
    cia fez com que eu...... bem quize-
    ra.... porém.... &c. Os pontos, 
    que estaõ depois das palavras, eu, qui-
    zera, porém, denotaõ que ao sentido 
    faltaõ palavras para a sua inteligencia; 
    e que o discurso se deve acabar assim: 
    A vossa benevolencia fez com que eu 
    apertasse mais a cadeia da minha gra-
    tidaõ. Bem quizera exaggerar as vos-
    sas virtudes, porém a falta de elo-
    quencia, &c. ou de outra fórma se-
    melhante.
    § XII.
    Da Linha de separaçaõ, e de se-
    guimento.
    COmo estas duas Linhas tem a mes-
    ma figura, trattarei dellas neste 
    mesmo paragrafo. A Linha de separa-
    çaõ serve para denotar que na pronun-
    cia se deve unir hum verbo á parti-
    cula, ou pronome relativo seguinte; 
    fazendo de tudo huma voz, e naõ pa-
    rando, senaõ depois da particula. Ex-

     

     


    pág. 81
    emplo: Pedro fallou a Joaõ, e dis-
    se-lhe naõ sei o que; e ouvindo-o Joaõ, 
    lhe naõ deo resposta. A Linha, que 
    está entre o verbo disse, e a particu-
    la lhe; e entre o verbo ouvindo, e a 
    particula, ou pronome o, denota que 
    as duas palavras devem ser lidas assim: 
    Disselhe, Ouvindoo: formando de ca-
    da coiza destas huma voz. Deve-se 
    pôr a ditta Linha sempre depois do 
    verbo, entre este, e a particula; e 
    naõ antes do verbo, como: Pedro lhe-
    disse, Antonio se-queixou, &c. Ain-
    da que alguns seguem esta segunda re-
    gra, dizendo: Que assim como o ver-
    bo se une á particula, e esta áquelle; 
    taõbem em ambos os casos se deve usar 
    da ditta Linha; o que naõ approvo. 
    A razaõ he, porque a Linha põe-se 
    para naõ pararmos nos verbos; e quan-
    do as particulas estaõ antes delles, 
    nunca fazemos nellas pausa; porque 
    a pronuncia o naõ consente.
       Quando a particula, ou pronome 
    Se está depois do verbo, e lhe denota 
    voz (a) passiva, antes della taõbem de-

    ————————————————

      (a)   Duas saõ as vozes: Activa, e Passiva.

     


    pág. 82
    ve haver Linha, como: Amaraõ-se, 
    Nega-se, &c. E quando depois desta 
    particula ha outra, ou hum relativo, 
    entre ella taõbem deve haver Linha, 
    como: Nega-se-lhes, Ouvio-se-lhes, 
    Fizeraõ-se-lhes, &c.
       As particulas A, O, depois dos ver-
    bos no infinito, naõ só naõ tem Linha, 
    mas o R do infinito se converte em 
    dois LL, fazendo syllaba com o A, 
    ou O, como: Amalla, Fazello; que 
    he o mesmo que: Amar-a, Fazer o: 
    cuja pronuncia he dura. Porém se as 
    duas particulas precederem aos ver-
    bos, nem haverá mudança de letras, 
    nem Linha, como já disse; e se sepa-
    raõ dos verbos com hum pequeno in-
    tervalo na linha das letras. V. g. a 
    amar, o fazer, &c. Se depois dos 
    verbos houverem os pronomes Nós, 
    Vós, taõbem devem ter Linha, co-
    mo: Disse-nos, Deo-nos, Ama-nos; 

    ————————————————

    Activa he a que denota a acçaõ do verbo, para 
    se empregar em outrem. Passiva he a que deno-
    ta a acçaõ do verbo já empregada em outrem, 
    como: Eu amei a Pedro. Pedro foi amado por 
    mim, &c.

     

     

    pág. 83
    sendo (a) casos dos verbos. A parti-
    cula De, antes dos pronomes relati-
    vos, que principiaõ por vogal, se 
    une com elles, naõ só na pronuncia, 
    mas taõbem na escritta; contrahindo-
    se o E da particula pela vogal seguin-
    te do pronome, com huma (b) syna-
    lepha, como: Deste, Daquelle, Dis-

    ————————————————

      (a)   Todo o nome tem seis casos em cada nu-
    mero, que saõ: Nominativo, Genitivo, Da-
    tivo, Accusativo, Vocativo, e Ablativo. No-
    minativo, que denota o agente do verbo, co-
    mo: Pedro ama: Genitivo, que denota a pos-
    sessaõ de qualquer coiza, e sempre tem antes de 
    si a particula De, como: Livro de Pedro. Da-
    tivo, que denota a perda, ou proveito de qual-
    quer coiza, como: Dei dinheiro a Pedro. Ac-
    cusativo, que denota a pessoa, ou coiza, em 
    quem se emprega a acçaõ do verbo, como: Amo 
    as virtudes. Vocativo, que denota chamamento, 
    como: O’ Antonio. E Ablativo, que denota 
    materia, de que alguma coiza he feita: lugar 
    em que se está: instrumento, com que huma 
    coiza se faz: causa, porque se faz: e modo, por-
    que se faz. Exemplos: Cópo de oiro. Estou na 
    Cidade. Matei a Pedro com a minha espada. Ba-
    nho-me de alegria. Com o estudo se fazem os ho-
    mens sabios.
      (b)   Synalepha he huma figura, pela qual se 
    contrahe a vogal final de huma dicçaõ pela vogal 

     

     


    pág. 84
    to, Daquillo, &c. as quaes palavras 
    saõ; De este, De aquelle, De isto, 
    De aquillo, &c.
       A preposiçaõ Em, com os dittos 
    pronomes, se converte na preposiçaõ 
    Na; contrahindo-se o A, e seguindo 
    o mais da particula De, como: Nes-
    te, Naquelle, Nisto, &c. as quaes 
    palavras saõ: Em este, Em aquelle, 
    Em isto: cuja pronuncia he aspera.
       A Linha de seguimento denota fal-
    ta de syllaba, ou syllabas na palavra; 
    e que as syllabas seguintes do princi-
    pio da linha das letras se devem unir 
    com a syllaba, ou syllabas, que pre-
    cedem á ditta linha. Exemplo: Abs-
    ten-do-se. Deve-se pôr a ditta Linha 
    de seguimento no fim da linha das le-
    tras depois de huma syllaba completa; 
    de sorte que na palavra Abstendo-se naõ 
    se pódem dividir as syllabas, senaõ no 
    lugar do exemplo. Quando no meio 

    ————————————————

    inicial de outra seguinte, naõ se fazendo caso da 
    vogal precedente, tanto na escritta, como na 
    pronuncia, como: Nov’ annos: Estudant’ obsti-
    nado, &c. Nove annos: Estudante obstinado, 
    &c.

     

     

    pág. 85
    das dicções houver duplex consoante, 
    e for necessario nesse lugar dividir as 
    syllabas, por-se-ha a Linha de segui-
    mento no meio da duplex, como: 
    Vassal-los, Ec-clesiasticos, Ac-çaõ.
    § XIII.
    Da Parenthesis, e seu uso.
    A Parenthesis denota interrupçaõ 
    no discurso, por causa de algu-
    ma proposiçaõ separada do sentido, 
    que se lhe mete de permeio; ou para 
    excepçaõ, ou para declaraçaõ de al-
    guma coiza. Exemplos: Todas as ci-
    dades (naõ fallando em Numancia) se 
    renderaõ a Scipiaõ. O amor (como di-
    zem as Sagradas Letras) póde tanto, 
    como a morte. Porém se a interrupçaõ 
    he breve, bastaõ duas virgulas, co-
    mo: Ser grato, principalmente a 
    Deos, he util.
       Deve-se usar da Parenthesis no prin-
    cipio, e fim da interrupçaõ; como se 
    vio nos exemplos.

     

     


    pág. 86
    § XIV.
    Do Asterisco, e seu uso.
    O Asterisco he huma senha, que se 
    põe na linha das letras, para por 
    outra igual se procurar a authoridade, 
    ou declaraçaõ, que se allega, ou faz, 
    para melhor se provar o argumento do 
    discurso.
       Para se naõ perturbar a materia, 
    que se tratta, com sentidos alheios, 
    escrevendo-os seguidamente, se deo uso 
    ao Asterisco. Deve pôr-se, assim que no 
    discurso se allega authoridade alheia, 
    para o comprovar, ou se precisa de 
    alguma declaraçaõ, para melhor in-
    teligencia. No principio da authori-
    dade, ou declaraçaõ, se deve pôr ou-
    tro Asterisco igual ao da linha das le-
    tras; para por hum se procurar o 
    outro: e a authoridade póde pôr-se, 
    ou nas margens da escrittura, ou no 
    fim della; como melhor parecer a 
    quem escreve. Exemplos: A Gentili-
    dade do Paganismo tinha Deozes desti-
    nados para os Campos, para os Mon-

     

     


    pág. 87
    tes, para os Valles, &c. e além da 
    immensidade de Deozes empregados em 
    semelhantes redicularias tinha outros, 
    diz Santo Agostinho, * ainda mais 
    elevados, e de huma ordem mais con-
    sideravel. Os Tribunos do Povo Roma-
    no, conspirando-se contra Scipiaõ, o 
    accuzávaõ (diz hum Historiador **) 
    de que elle se jactava de que hum só 
    homem era a columna do Imperio; que 
    Roma, Senhora do Universo, devia a 
    sua gloria, e a sua segurança a Sci-
    piaõ.
       Quando se allegaõ segunda, tercei-
    ra, ou mais authoridades, ou se faz 
    mais de huma declaraçaõ, dobraõ-se 
    os asteriscos á proporçaõ das authori-
    dades, e declarações; tanto na linha 
    das letras, como nas margens, ou 
    fim da escrittura, como se vio nos ex-
    emplos. Em lugar do Asterisco, póde-

    ————————————————

      *   Numina selecta dicuntur: quia opera ma-
    jora ab his administrantur in mundo.
      **   Unum hominem caput, columenque Im-
    perii Romani esse: sub umbra Scipionis civita-
    tem dominam orbis terrarum latere. Liv. lib. 
    38. n. 51.

     

     

    pág. 88
    se usar de numeros, como: (1), (2), 
    (3), &c. entre parenthesis; ou de le-
    tras mais pequenas sem parenthesis, 
    como: a, b, c, d, &c.
    § XV.
    Do Gripho.
    O Gripho denota discurso alheio, 
    que se insere no corpo do perio-
    do; ou para mostrar o como outros 
    pensáraõ na mesma materia, transcre-
    vendo as suas proprias palavras; ou 
    para fazer declaraçaõ de quem he a 
    sentenca, ou ditto, quando se narra, 
    ou expõe algum facto. Exemplos: 
    Muitas vezes se obráraõ acções famo-
    sas por quem se naõ esperava: » Os 
    » grandes effeitos, diz Balzac, nem 
    » sempre procedem das grandes cau-
    » sas: as moles saõ occultas, as ma-
    » quinas apparecem; e quando se che-
    » gaõ a descubrir essas moles, ficâ-
    » mos admirados de as ver taõ peque-
    » nas, e taõ debeis. »
       Cataõ o Censor naõ deixava de re-

     

     


    pág. 89
    presentar no Senado as consequencias 
    funestas do luxo, que principiava no 
    seu tempo a introduzir-se na Respu-
    blica. » Eu temo, dizia elle, que nós 
    » fiquemos escravos das riquezas, em 
    » lugar de sermos senhores dellas. » 
    Deve pôr-se o ditto gripho antes, e de-
    pois do discurso alheio; e continuallo 
    nas margens do principio das regras, 
    até se concluir, como se vio nos ex-
    emplos. Muitas vezes se acompanha o 
    discurso alheio naõ só com o gripho, 
    mas taõbem se escreve em letra diver-
    sa, a que os impressores chamaõ letra 
    cursiva: Outras vezes se escreve o dis-
    curso alheio só em letra cursiva sem 
    gripho; quando elle se expõe em di-
    versa lingùa, ou quando serve de au-
    thoridade para provar o que se per-
    tende, sem declarar o seu author; ou 
    declarando-o nas margens da escrittu-
    ra; porque entaõ basta a letra cursiva 
    para domonstrar a sentença alheia. Ex-
    emplos: Nada ha taõ pernecioso a 
    hum Estado, como a injustiça. Naõ 
    póde subsistir, nem ser bem governa-
    da huma Respublica, sem a inteireza 

     

     


    pág. 90
    da Justiça: Nihil tam inimicum quam 
    injustitiam civitati, nec omnino nisi 
    magna justitia geri, aut stare posse 
    rempublicam.
       Que ingratos, e loucos saõ aquel-
    les homens, que só attribuem a sua 
    existencia á natureza, e naõ a Deos; 
    porque: Que outra coiza he a natu-
    reza, senaõ Deos?
       Os mais famosos Legisladores, e 
    os mais sabios Politicos sempre con-
    cordáraõ que a melhor lei era, a que 
    tendia á utilidade publica: A saude 
    do povo he lei suprema. *
       Quando quizermos que na impres-
    saõ se ponhaõ algumas palavras, ou 
    regras em letra cursiva, poremos hu-
    ma linha parallela ás palavras, ou re-
    gras por baixo das mesmas. V. g. Na 
    guerra pódem mais as subtilezas, do 
    que as forças. Taõbem se usa da letra 
    cursiva nos exemplos, que se escreve-
    rem, para provar alguma coiza, ou 
    nas palavras, que fazem a principal 
    figura no periodo, a respeito da ma-
    teria, de que se tracta.
    ————————————————

      *   Cic. Lib, 3. de Ieg. n. 18.

     


    pág. 91
    ————————————————

    CAPITULO IV.
    Da formaçaõ dos nomes pluraes pela 
    terminaçaõ dos seus singulares.
    AInda que pareça que o trattar da 
    formaçaõ dos pluraes dos nomes 
    mais pertence á Grammatica, do que 
    á Orthographia; com tudo, como ha 
    muita variedade nas letras com que se
    escrevem, axei que era conveniente 
    assinar regras certas para os escrever-
    mos.
    § I.

    Dos nomes pluraes, que se formaõ dos 
    singulares acabados em vogal.
    OS nomes singulares, que termi-
    naõ em vogal, formaõ os seus 
    pluraes, accrescentando-se hum S á 
    vogal da terminaçaõ singular, como: 
    Coroa, Coroas, Trempe, Trempes, 
    Rei, Reis, Canto, Cantos, Nu, 
    Nus, &c.

     

     


    pág. 92
    § II.
    Dos pluraes dos nomes singulares aca-
    bados em consoantes mudas.
    NEnhum nome puramente Portu-
    guez, seja do (a) genero que 
    for, termina em consoante muda; me-
    nos no Z, quando serve de S, que 
    terminaõ aquelles nomes singulares, 
    cujos pluraes ficaõ perfeitos, accres-
    centando a syllaba Es ao Z da termi-

    ————————————————

      (a)   Genero, he aquelle sexo, a que perten-
    cem as coizas. Trez saõ os generos dos nomes: 
    Masculino; Femenino; e Neutro.
       Masculino, que pertence a homem, ou suas 
    qualidades, e attributos: ou a varaõ, como Pe-
    dro, Livro, &c. E se conhece este genero, 
    quando se lhe póde accommodar o pronome Es-
    te, como: Este Pedro, Este Livro, &c.
       Femenino, que pertence a mulher, ou suas 
    qualidades, e attributos; ou a femea, como: 
    Anna, Palma, &c., e se conhece este genero, 
    quando se lhe póde accommodar o pronome Es-
    ta, como: Esta Anna, Esta Palma, &c.
       E Neutro, que nem pertence a varaõ, nem 
    a femea, nem se lhe póde accommodar nenhum 
    dos pronomes, como: Isto, Aquillo, &c. que 
    naõ dizemos: Este Isto, Esta Isto, &c.

     

     


    pág. 93
    naçaõ singular, e aquellas vozes, de 
    que se formaõ outras com a desinencia 
    de Z. Exemplos: Juiz, Juizes, 
    Francez, Francezes, Diz, Dize-
    mos, Dizem, Faz, Fazes, Fazem, 
    &c.
       Porém caso que haja alguma pala-
    vra adoptada de outras lingùas, a quem 
    (por se lhe querer conservar a sua ety-
    mologia) dêmos a terminaçaõ em con-
    soante muda, formará o seu plural, 
    accrescentando a syllaba Es á muda 
    da terminaçaõ singular. Exemplos: Da-
    vid, Davides, Jacob, Jacobes, &c.
       Esta regra parece que mais per-
    tence á terminaçaõ vogal, do que 
    consoante: porque, como fica ditto, 
    ás mudas, sendo finaes de dicçaõ, in-
    tende-se-Ihes hum E na pronuncia; e 
    vem só a accrescentar-se hum S ás dit-
    tas mudas da terminaçaõ singular, e a 
    pôr-se claro o E, de que se faz caso 
    na pronuncia.
       Tiraõ-se da regra assima os nomes, 
    que terminarem em C; o qual se con-
    verte nos pluraes em Ques; e segue a 
    mesma regra já ponderada no valor do 
                                        [dit-]

     

     

    pág. 94
    to C, que he valer de Que, quando 
    for final de dicçaõ; e assim vem só a 
    accrescentar-se-lhe hum S, e a escre-
    verem-se as letras, que pronunciâmos 
    no singular, pelo valor, que damos 
    ao ditto C.
       Taõbem se tiraõ da mesma regra 
    assima os nomes terminados em G, e 
    Q; ás quaes letras, antes da syllaba 
    Es (com que formaõ os pluraes) se 
    deve pôr U, que se pronunciará liqui-
    do; e taõbem seguem a mesma regra, 
    que se advertio, quando se trattou das 
    dittas duas letras, que vem a ser: in-
    tender-se-lhes depois dellas UE na 
    pronuncia; e vem sómente a accres-
    centar-se hum S ás dittas duas letras, 
    e a pôrem-se claras UE, de que fa-
    zemos caso na terminaçaõ singular, 
    quando pronunciâmos dicções, que 
    tenhaõ por finaes ao Q, e G.

     

     

     

     

    pág. 95
    § III.
    Dos pluraes dos nomes singulares aca-
    bados em consoantes semivogaes.
    OS nomes singulares acabados em 
    Al, Ol, formaõ os seus pluraes, 
    mudando-se o L em Es, como: Ani-
    mal, Animaes, Sinal, Sinaes, Fa-
    rol, Faroes, Caracol, Caracoes, &c. 
    Muitos querem que o L se converta 
    em Is, porque na pronuncia se deixa 
    perceber mais o I, do que o E; to-
    talmente naõ condemno esta opiniaõ, 
    mas só digo: Que o E, sendo bre-
    ve, ou mudo, he semelhante ao I; e 
    como mais vezes se formaõ os pluraes 
    com Es, do que com Is, parece que 
    devemos seguir a generalidade: além 
    de que nas escritturas dos homens mais 
    cultos se axaõ semelhantes pluraes 
    formados mais vezes com Es, do que 
    com Is.
       Dos nomes acabados em Al tira-
    se Mal, e naõ sei se mais algum, 
    que faz Males, e naõ Maes; e naõ 
    sei qual seja a razaõ, porque em lu-

     

     


    pág. 96
    gar de seguir a regra geral, dobre o 
    L, e se lhe accrescente a syllaba Es, 
    como se faz ás mudas. Porque se me 
    dizem, que por tirar a equivocaçaõ, 
    que poderia fazer com o adverbio 
    Mais, se deve escrever Males, e naõ 
    Maes; a isto respondo: I. Que taõ-
    bem Sal, faz Saes, e naõ Sales; e 
    com tudo Saes faz amphibologia com 
    Saes, segunda pessoa do singular do 
    presente do indicativo do verbo Sair: 
    Cal faz Caes, e naõ Cales; e he 
    equivoco taõbem com a segunda pes-
    soa do singular do verbo Cair: II. Que 
    Mais adverbio se escreve com I, e 
    isto basta para se tirar a duvida. E se 
    me respondem que os dois verbos Cair, 
    e Sair (para evitar a duvida, que as 
    suas inflexões possaõ fazer com outras 
    palavras,) se devem escrever com H 
    depois do A; digo que tal naõ ad-
    mitto: porque na raiz Latina naõ se 
    vê tal H, nem semelhantes vozes tem 
    analogia com ella; e por isso se naõ 
    deve escrever o H, como se disse, 
    quando se trattou desta letra. Com que 
    o uso he que disculpa tal escritta, e 
    naõ a razaõ.

     

     

    pág. 97
       Os nomes acabados em El formaõ 
    os seus pluraes, mudando-se o L em 
    Is, e naõ em Es; porque a pronun-
    cia de dois EE seguidos he mal so-
    ante, e languida, como Bacharel, 
    Bachareis, e naõ Bacharees, Aran-
    zel, Aranzeis, e naõ Aranzees, &c.
       Os nomes acabados em Il, sen-
    do o I breve, formaõ os seus pluraes, 
    convertendo-se o Il em Eis, como: 
    Facil, Faceis, Habil, Habeis, Fu-
    til, Futeis, &c. Porém, sendo o I 
    longo, converte-se o L em S: Civíl, 
    Civís, Subtíl, Subtís, Fuzíl, Fuzís, 
    &c. Porém eu dissera que em ambos 
    estes dois ultimos casos o L se muda 
    em Is, assim como nos nomes acaba-
    dos em El, e que só está a differen-
    ça: Que no primeiro caso, sendo o 
    I breve, se converte em E: E no 
    segundo caso, sendo o I longo, se 
    muda o L em Is; mas como a pro-
    nuncia de dois II he intoleravel, e 
    naõ a temos na nossa lingùa, pronun-
    ciâmos hum I só, contrahindo o ou-
    tro pela figura Syncope. *
    ————————————————

      *   Syncope he huma figura, pela qual se tira 
    huma syllaba, ou letra no meio da dicçaõ.

     


    pág. 98
       Os nomes acabados em Ul, sendo 
    o U longo, formaõ os seus pluraes, 
    mudando-se o L em Is, como: Paul, 
    Paúis, Azul, Azúis, &c. Porém 
    sendo o U breve, accrescenta-se a syl-
    laba Es ao L da terminaçaõ singular, 
    como: Consul, Consules, &c.
       Os nomes acabados em Am, Em, 
    Im, Om, Um, formaõ os seus plu-
    raes, mudando o M em N, e accres-
    centando-lhe hum S, como: Romam, 
    Romans, Parabem, Parabens, Mal-
    sim, Malsins, Bom, Bons, Nenhum, 
    Nenhuns, &c.
       Nenhum nome Portuguez deve ter-
    minar em N; ainda que muitos que-
    rem que terminem, os que tem soído 
    de Am, como: Maçam, Maçan; 
    dizendo: que para a formaçaõ dos 
    seus pluraes, basta accrescentar-lhes 
    hum S, para ficarem perfeitos; po-
    rém esta razaõ naõ conclue: Porque 
    taõbem nós convertemos o M de Som, e 
    e de Algum em NS no plural, e 
    com tudo naõ escrevemos Son, Al-
    gun: Quanto mais, que accrescentar 
    só hum S á terminaçaõ singular, para 

     

     


    pág. 99
    formar os pluraes, he só privilegio 
    dos nomes acabados em vogal.
       Os nomes acabados em Ar, Er, 
    Ir, Or, Ur, formaõ os seus pluraes, 
    accrescentando-se a syllaba Es, ao R 
    da terminaçaõ singular, como Am-
    bar, Ambares, Chanceller, Chancel-
    leres, Visir, Visires, Pandur, Pan-
    dures, &c.
       Na nossa escrittura nenhuma pala-
    vra deve terminar em S no singular, 
    á excepçaõ dos appellidos das pes-
    soas; como: Lopes, Antunes, San-
    ches, &c. porque os que tiverem a 
    sua desinencia, seráõ escrittos com Z; 
    para formarem os seus pluraes, ac-
    crescentando-se a syllaba Es ao ditto 
    Z da terminaçaõ singular. Exemplos: 
    Rapaz, Rapazes, Convez, Conve-
    zes, Aprendiz, Aprendizes, Noz, 
    Nozes, Cruz, Cruzes, &c. E o mes-
    mo se pratticará naquellas vozes de 
    que se formaõ outras, como se disse 
    no §. II. do Capitulo IV. Porém os 
    que quizerem pôr S na terminaçaõ sin-
    gular, por naõ usarem de Z, aug-
    mentaráõ ao S a mesma syllaba Es, e 

     

     


    pág. 100
    mudaráõ o dito S em Z; que por evi-
    tar esta mudança he melhor pôr logo o 
    Z no singular, porque fica já servin-
    do para o plural. Alguns adverbios 
    taõbem acabaõ em S, como: Mais, 
    Pois, &c.
    § IV.
    Dos pluraes dos nomes singulares 
    acabados no duplex X.
    OS nomes acabados em X, prece-
    dendo-lhe vogal, formaõ os seus 
    pluraes, mudando o X em Ces, co-
    mo: Index, Indeces, Felix, Feli-
    ces, Apendix, Apendices, &c. Mui-
    tos terminaõ semelhantes nomes no sin-
    gular com S; porém naõ approvo o 
    uso, porque entaõ he preciso perder 
    o S do singular, convertendo-o em 
    C; aliás teria pronuncia de Z, por 
    estar entre vogaes.
       Os nomes, que saõ puramente Por-
    tuguezes, antes do X final sempre 
    tem vogal; porém em alguns estra-
    nhos conservar-se-lhe-ha a sua analo-
    gia.

     

     


    pág. 101
    § V.
    Dos pluraes dos nomes singulares, que 
    terminaõ em Aõ.
    OS nomes singulares, que tem a 
    desinencia final em Aõ, tem mui-
    tas anomalias na formaçaõ dos seus plu-
    raes. Os pluraes regulares se formaõ 
    accrescentando hum S ao O da termi-
    naçaõ singular; seguindo a regra ge-
    ral dos nomes singulares acabados em 
    vogal. Exemplo: Christaõ, Christaõs, 
    Maõ, Maõs, Graõ, Graõs, &c. 
    Os pluraes irregulares formaõ-se de 
    duas sortes: I. convertendo o O do 
    singular em Es no plural, como: 
    Capellaõ, Capellães, Capitaõ, Ca-
    pitães, Alemaõ, Alemães, &c. II. 
    perdendo o A do singular, e accres-
    centando ao O a syllaba Es, como: 
    Coraçaõ, Corações, Acçaõ, Acções, 
    Perdaõ, Perdões, &c.
       Naõ se póde reduzir a regras o 
    quando semelhantes pluraes se formaõ 
    de huma, ou de outra sorte; e só o 
    uso he neste particular o melhor mestre.

     

     


    pág. 102
       Muitos escrevem semelhantes plu-
    raes com N antes de S assim: Maons, 
    Capellaens, Coraçoens, &c. o que 
    inteiramente desapprovo; porque na 
    pronuncia naõ se percebe NS na syl-
    laba final, mas sim Es, ou Os; pro-
    nunciando-se o E, e o O, como I, e 
    U, por lhes serem analogos, quando 
    saõ breves; e o til denotando o M 
    supprimido na escritta, porém com 
    valor na pronnucia, pertencente á vo-
    gal sobre que estiver o ditto til. Ex-
    emplos: Mam-us, Limom-is, Capi-
    tam-is, &c. que he a pronuncia, que 
    nos daõ os pluraes Maõs, Limões, 
    Capitães, &c. Veja-se o mais que 
    se disse a este respeito no § VI. do Ca-
    pit. I. quando se trattou do O.
    ————————————————

    CAPITULO V.
    Das Partes da Escrittura.
      1 A Escrittura consta de pala-
    vras; e como fique mostra-
    do que coiza seja palavra, passarei a 

     

     


    pág. 103
    trattar com brevidade do que se com-
    põe com ellas.
      2 Com a palavra se compõe a Ora-
    çaõ, o Periodo, o Paragrafo, o Ca-
    pitulo, o Livro, e o Volume.
      3 A Oraçaõ he huma uniaõ de pa-
    lavras com sentido perfeito, pelo qual 
    possamos formar juizo sobre alguma 
    coiza. V. g. Pedro he douto: Nesta 
    oraçaõ ha sentido perfeito, pois me 
    declara que Pedro naõ he ignorante, 
    e daqui formo juizo sobre o seu talen-
    to.
      4 Periodo he huma uniaõ de ora-
    ções dependentes humas das outras, 
    com que se completa parte de hum 
    discurso. V. g. Sendo o amor sinal de 
    perfeiçaõ, aquelle homem, que for 
    capaz de mais amor, será mais per-
    feito. Neste periodo estaõ trez orações, 
    porém todas com dependencia humas 
    das outras, para concluir que hum 
    homem he perfeito, quando tem a-
    mor; e estas proposições saõ parte de 
    hum dicurso, porque ainda havia que 
    dizer na materia.
      5 O Paragrafo, que em breve se 

     

     


    pág. 104
    denota com este sinal ( § ) he huma 
    uniaõ de periodos dependentes huns 
    dos outros, com que se completa hum 
    discurso.
       O Paragrafo sempre se começa no 
    principio de linha, immediatamente 
    á outra, em que se acabou o para-
    grafo antecedente: Começa-se com 
    letra grande, e quando se acabou de 
    trattar toda huma materia, e se passa 
    a trattar outra diversa. Antes que se 
    comece o paragrafo, se põe em bre-
    ve §, por titulo no centro da colum-
    na, com o seu numero, em huma li-
    nha immediata á antecedente; e logo 
    por baixo do ditto §, em outra linha 
    immediata se põe taõbem por titulo a 
    materia de que ha de trattar; e de-
    pois se começa o paragrafo, como 
    disse. Exemplo.
    § II.
    Das coizas necessarias, e uteis â Respublica.
       Para a Respublica ser bem gover-
    nada, primeiro que tudo, &c.
       Porém advirta-se que em cartas nun-

     

     


    pág. 105
    ca se põe o paragrafo por titulo, as-
    sim: §.
       6 O Capitulo he huma uniaõ de §§, 
    com os quaes se acabou de trattar o 
    que se prometteo nelle. Escreve-se 
    taõbem no centro, ou meio da colum-
    na, como o §, e depois delle as ma-
    terias, de que se promette trattar, 
    como no §, e assim tudo o mais; e 
    depois entraõ a dividir-se os §§ por 
    seu numero. Exemplo.
        CAPITULO III.
    Da origem, introducçaõ, e proveitos da Fabula.
        § I.
        Da origem da Fabula.
       A necessidade de reformar os costu-
    mes, que a perversidade dos homens, 
    &c.
       Muitos daõ diversos epithetos ao 
    Capitulo, como: Artigo, Titulo, 
    &c. e dividem-lhe os seus §§, só 
    com hum numero na margem das li-
    nhas, como se póde ver em todos os 
    deste Capitulo V.

     

     

    pág. 106
      7 O Livro he huma uniaõ de capi-
    tulos, com os quaes se concluio a ma-
    teria, que se prometteo trattar nelle. 
    Escreve-se taõbem no centro, ou meio 
    da columna, como o capitulo; logo 
    depois a materia, de que se ha de trat-
    tar, e daí entra-se a dividir a ditta 
    materia em capitulos, e a subdividir 
    em §§. Exemplo:
       LIVRO III.
       Da Poesia em geral.
        CAPITULO I.
        Da introducçaõ, origem, e proveitos 
    da Fabula.
        § I.
        Da introducçaõ da Fabula.
       A necessidade, em que o mundo es-
    tava, &c.
       8 O Volume, ou Tomo (a que vul-
    garmente se chama taõbem Livro) he 
    huma uniaõ de livros, com os quaes 
    se acabáraõ de trattar todas as mate-
    rias, que se prometteraõ no principio 

     

     

    pág. 107
    da Obra. A esta da-se o titulo, que 
    cada hum quer, com tanto que lhe se-
    ja adaptado. Depois do titulo da obra 
    seguem-se varias declarações, como 
    saõ: O nome do Auctor, seus predi-
    cados, querendo: O fim, a que se 
    dirige, taõbem se quizer: Numero da 
    Ediçaõ, que taõbem naõ he da essen-
    cia: Lugar de impressaõ, anno da 
    mesma, e licenças para ella; que tu-
    do he indispensavel, como taõbem o 
    nome da Officina, ou do Impressor, 
    que a imprimio.
       Todas estas declarações se devem 
    ir fazendo em titulos pelo meio da 
    columna; dispondo-se por tal fórma, 
    que se enxa a columna, ficando agra-
    davel á vista; o que se póde ver no 
    principio deste Trattado.

     

     

     

     


    pág. 108
    INDICE.
    INTRODUCÇAÕ á Ortbogra-
    phia, pag. xxvi.
    §   I. Da origem da Orthographia, 
    xxvi.
    §   II. Da necessidade da Orthogra-
    phia, xxvii.
    §   III. Dos proveitos da Orthogra-
    phia, xxix.
    §   IV. Da historia da Orthographia, 
    xxx.
    Cap. I. Da Syllaba, definiçaõ da Le-
    tra, e explicaçaõ das suas qua-
    lidades, differenças, uso, e va-
    lor, pag. 4.
    §   I. Da Syllaba, 4.
    §   II. Da definiçaõ da Letra, 5.
    §   III. Da qualidade das Letras, 6.
    §   IV. Da differença das Letras, 8.
    §   V. Do uso das Letras, ibid.
    §   VI. Do valor das Letras, 13. Da 
    Letra A, 13. B, 14. C, 15. D, 
    E, F, 31. G, 32. H, 34. I, J, 
    35. K, L, 36. M, N, 39. O, 

     

     


    pág. 109
    44. P, 48. Q, 50. R, 51. S, 52. 
    T, 59. U, 60. V, X, 62. Z, Y, 64.
    Cap. II. Do que he Accento, quan-
    tos saõ, e aonde se devem pôr, 66.
    §   I. Do que seja Accento, ibid.
    §   II. Da quantidade dos Accentos, 
    ibid.
    §   III. Do uso dos Accentos, 67.
    Cap. III. Da diversidade de Caracte-
    res da Pontoaçaõ, e do seu uso, 
    69.
    §   I. Dos Caracteres da Pontoaçaõ, 
    ibid.
    §   II. Do Til, 70.
    §   III. Da Cedilha, 71.
    §   IV. Do Apostropho, ibid.
    §   V. Da Virgula, 72.
    §   VI. Do Ponto e virgula, 74.
    §   VII. Dos dois Pontos, 75.
    §   VIII. Do Ponto simplex, ou final, 
    77.
    §   IX. Do Ponto admirativo, 78.
    §   X. Do Ponto interrogativo, 79.
    §   XI. Dos Pontos de continuaçaõ, 
    80.
    §   XII. Da Linha de separaçaõ, e 
    de seguimento, 81.

     

     

    pág. 110
    §   XIII. Da Parenthesis, e seu uso, 
    86.
    §   XIV. Do Asterisco, e seu uso, 87.
    §   XV. Do Gripho, 89.
    Cap. IV. Da formaçaõ dos nomes plu-
    raes pela terminaçaõ dos seus sin-
    gulares, 92.
    §   I. Dos nomes pluraes, que se for-
    maõ dos singulares acabados em 
    vogal, ibid.
    §   II. Dos pluraes dos nomes singu-
    lares acabados em consoantes mu-
    das, 93.
    §   III. Dos pluraes dos nomes singu-
    lares acabados em consoantes se-
    mivogaes, 96.
    §   VI. Dos pluraes dos nomes singu-
    lares acabados no duplex X, 101.
    §   V. Dos pluraes dos nomes singula-
    res, que terminaõ em Aõ, 102.
    Cap. V. Das partes da Escrittura, 103.
      Da Oraçaõ, 104.
      Do Periodo, ibid.
      Do Paragrafo.
      Do Capitulo, 106.
      Do Livro, 107.
      Do Volume, ou Tomo, ibid.
    FIM.

     

     

    pág. 111