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Título
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Orthographia da lingua portugueza
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Subprojeto
Corpus Ortográfico do Português
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Tecnologia
Tratado Metaortográfico
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Língua Objeto
Português
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Metalinguagem
Português
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Autor
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Lima, Luís Caetano de (1671-1757)
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Biografia sucinta do autor
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Nasceu em Lisboa em 7 de setembro de 1671. Ainda adolescente ingressou na Ordem dos teatinos. Participou por várias vezes em missões políticas e diplomáticas a Roma, Paris, Londres e Haia, etc. A primeira missão diplomática de Caetano de Lima ocorreu em 1695, quando acompanhou o Marquês de Cascais (D. Luís Alvares de Castro) à corte de Luís XIV. Terá participado nesta missão sob o disfarce de confessor do Marquês, no entanto, na verdade, as suas funções eram de maior relevo: seguiu na qualidade de secretário particular da embaixada nomeado pelo próprio monarca D. Pedro II. Após a conclusão desta missão, dirigiu-se em 1696 para a casa dos teatinos em Santa Anna a Real Sur le Quai Malaquest com o objetivo de se dedicar aos estudos. Aí reencontrou o seu mestre Rafael Bluteau. Em 1713 acompanhou o Conde de Tarouca, D. João Gomes da Silva, ministro plenipotenciário de Portugal e D. Luis da Cunha ao congresso da Paz de Utrecht. Continua ao serviço do Conde Tarouca em Haia onde reencontrou o seu pupilo, Infante D. Manuel de Bragança. De seguida dirigiu-se para França onde, com ordem régia, adquiriu vários livros e manuscritos raros. De regresso a Portugal em 1718, retomou a atividade docente, sendo mestre dos Infantes D. António e D. Francisca e sendo nomeado também Secretário de Línguas na Secretaria de Estado dos Negócios Estrangeiros. Foi chamado a integrar a Real Academia de História, da qual foi cofundador e onde exerceu um papel de revelo, quer pelas sua publicações de cariz histórico, entre as quais há que salientar a Geografia Historica de todos os Estados Soberanos da Europa (1734; 1736, Lisboa), quer pela seleção da sua Orthographia. Em 1721 acompanhou os cardeais portugueses para estes participarem no conclave por óbito do Papa Clemente XI. As várias viagens que faz pela Europa conferem-lhe o carisma do “estrangeirado” e facultam-lhe um conhecimento alargado da realidade e cultura europeias, bem como o conhecimento de línguas estrangeiras, em particular do francês e do italiano, línguas sobre as quais publicou duas gramáticas: Grammatica Franceza, ou arte para aprender o Francez por meyo da lingua Portugueza (1710, Lisboa) e Grammatica Italiana, e arte para aprender a lingua Italiana por meyo da lingua Portugueza (1734, Lisboa). Dominava igualmente o grego, o hebraico e o latim. Dedicou também o seu estudo ao direito canónico, ciências, geografia e medicina. Faleceu em Lisboa em 1757.
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Editor
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Biografia sucinta do editor
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Tipo de documento
Impresso
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Local de impressão
Lisboa
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Impressores/Editoras
António Isidoro da Fonseca (fl.1735-1748)
Joaõ Bautista Lerzo (ca.1710-pós-1752)
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Ordem Religiosa
Ordem dos Clérigos Regulares (C.R) — Teatinos
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Edição
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1.ª ed.
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Ano
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1736
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Volume de páginas/fólios
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[XXIV], 217 [recte 213] pp.
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Outras edições conhecidas
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1.ª ed. Orthographia da Lingua Portugueza. por D. Luis Caetano de Lima, Clerigo Regular, Examinador das tres Ordens Militares. Lisboa Occidental: Na Officina de Antonio Isidoro da Fonseca. Vende-se na Rua larga de S. Roque, em casa de Joaõ Bautista Lerzo. M. DCC. XXXVI.
2.ª ed. To¯ru Maruyama: Keyword in context index of the Orthographia da lingua portugueza (1736) by D. Luis Caetano de Lima. Nagoya: Department of Japanese Studies, Nanzan University.
3.ª ed. Carlos Assunção, Rolf Kemmler, Gonçalo Fernandes, Sónia Coelho, Susana Fontes & Teresa Moura (2022): A Orthographia da Lingua Portugueza (1736) de Luís Caetano de Lima: Estudo introdutório e edição. Vila Real: Centro de Estudos em Letras; Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (= Ortógrafos Portugueses, 7). ISBN: 978-989-704-465-6 / e-ISBN: 978-989-704-466-3.
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Mencionado em
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Descrição sumária
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Interesse linguístico
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Lima foi um representante moderado do sistema etimológico. A obra foi elaborada para ser utilizada pela Real Academia de História, no sentido de uma uniformização da ortografia nas suas publicações. O sistema ortográfico do autor ainda era enaltecido no século XIX (Gonçalves 2003: 41).
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Inovações metalinguísticas
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Influência recebida de
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Grammatica da Lingoagem Portuguesa (1536) de Fernão de Oliveira
Grammatica da Lingua Portuguesa (1540) de João de Barros
Orthographia da Lingoa Portvgvesa (1576) de Duarte Nunes de Leão
Orthographia, ov modo para escrever certo na lingua portuguesa (1631) de Álvaro Ferreira de Vera
Orthographia da lingva portvgveza (1671) de João Franco Barreto
António Vieira (vários volumes dos Sermões do pregador jesuíta)
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Influência exercida sobre
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Índice da obra
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[anterrosto] – [II]
[página em branco] – [II]
[rosto] – [III]
[página em branco] – [IV]
PROLOGO. – [V-XII]
LICENC,AS. – [XIII-XXI]
[página em branco] – [XXII]
INDEX Dos Capitulos. – [XXIII]
Erratas Emendas. – [XXIV]
CAPITULO I. Dos nomes, e numeros das Letras. – 1-2
CAPITULO II. Da pronuncia das Vogaes. – 2-73
CAPITULO III. Da Pronuncia das Consoantes. – 73-110
CAPITULO IV. Dos Ditongos. – 110-145
CAPITULO V. Dos Tritongos. – 146-149
CAPITULO VI. Dos Accentos. – 149- 196 [recte 192]
CAPITULO VII. Das Letras dobradas. – 196 [recte 192]-205 [recte 201]
SUPPLEMENTO I. Sobre o uso particular de algumas Letras. – 205 [recte 201]-211 [recte 207]
SUPPLEMENTO I. Sobre a Letra Z. – 211 [recte 207]-217 [recte 213]
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Localização na biblioteca/proprietário
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Biblioteca Nacional de Portugal
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Endereço Eletrónico ou URL
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https://purl.pt/8
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Referências
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Autor(es) deste ficha
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Mónica Sofia Botelho Lima Augusto, Rolf Kemmler & Carlos Assunção
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Como citar esta ficha
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Augusto, Mónica Sofia Botelho Lima, Rolf Kemmler & Carlos Assunção. 2023. Lima, Luís Caetano de (1671-1757): Orthographia da lingua portugueza. https://pml.cel.utad.pt/ViewEntry.aspx?id_entry=15.
Edição semidiplomática
ORTHOGRAPHIA
DA LINGUA
PORTUGUEZA.pág. [I]
pág. [II]
ORTHOGRAPHIA
DA LINGUA
PORTUGUEZA,
POR
D. LUIS CAETANO
DE LIMA.
Clerigo Regular, Examinador das tres
Ordens Militares.
LISBOA OCCIDENTAL;
Na Officina de ANTONIO ISIDORO
da Fonceca.
______________________________
M.DCC.XXXVI.
Com todas as licenças necessarias.
Vende-se na Rua larga de S. Roque, em casa
de Joaõ Bautista Lerzo.
pág. [III]pág. [IV]
PROLOGO.
ESta he huma das obras, be-
nevolo Leitor, de que cos-
tumava dizer hum Critico
dos nossos dias, que era melhor
achalas feitas do que fazelas. Eu
sou totalmente deste parecer, re-
flectindo no grande trabalho, que
custaõ as ditas obras; mas ao
mesmo tempo digo tambem,
que he muito melhor fazelas,
do que deixalas de fazer.
Tenho em meu favor o ex-
emplo de hum grande numero
de Grammaticos assim antigos,
como modernos, que taõ util-
mente trabalhàraõ sobre as Lin-
guas Grega, e Latina; e mais
que tudo se vé authorisado o meu
pág. [V]
zelo, com o que praticàraõ a res-
peito da Lingua Franceza huns
homens taõ illustres, como saõ
os Vaugelas, os Ménages, os
Furetiéres, e os Corneilles, os
quaes naõ só explicáraõ a natu-
reza das palavras, mas procurà-
raõ regular-lhe a Orthographia,
e os Accentos; e he sem duvida
que todos estes Authores enten-
deraõ que era muito melhor ap-
plicarem-se, ainda que com incri-
vel trabalho, a aperfeiçoar a sua
Lingua, do que deixala na con-
fusaõ, em que alguns delles a
acháraõ no seu tempo.
A vulgar objecçaõ, com que
nesciamente se procura desacre-
ditar este genero de livros, he
dizer que só argúem trabalho,
pág. [VI]
mas naõ engenho nos seus Au-
thores. Eu convenho facilmente,
em que nelles senaõ encontra
nem a sutileza de hum Scoto,
nem a meditaçaõ de hum Des-
Cartes; mas isso nasce da diver-
sidade da materia; e ninguem ha
que desestime a perfeiçaõ de hu-
ma estatua de bronze, porque
naõ iguala o preço de outra de
ouro; nem se desacredita hum
artifice em cortar primorosa-
mente o cristal, por lhe naõ po-
der dar o valor de diamante.
A obrigaçaõ do Author, que
emprende huma obra, he tratar
dignamente a materia, sem ex-
ceder os limites, que lhe pres-
creveo a natureza. Desta sorte se
contenta o mais celebre Pintor
pág. [VII]
com vestir de verde escuro a hum
acipreste, e com pintar de máo
vermelhaõ a hum telhado; por
que a perfeiçaõ de cada huma
destas pinturas naõ requere co-
res nem mais vivas, nem mais
finas.
Se nesta obra me aparto da
opiniaõ de alguns dos nossos
Grammaticos, peço-te, que an-
tes de condenar o meu parecer,
leas com attençaõ as razoens,
em que me fundo; e julgando que
saõ menos solidas do que me pa-
recem, procurarey emendar em
outra ediçaõ tudo, o que estranha-
res judiciosamente neste livro.
Devo tambem advirtir-te,
Benevolo Leitor, que o meu in-
tento naõ querer criticar, nem
pág. [VIII]
emendar a Orthographia usada
por outras pessoas, que talvez
tem para isso fundamentos mui-
to solidos, mas sómente propor
alguns principios certos, e ge-
raes, para que de humas pala-
vras se deduza com facilidade a
escritura das outras.
Dirme-hàs que inutilmente
procuro regular a Orthographia
das palavras Portuguezas, indo-
lhe buscar a sua origem na Lin-
gua Latina; porque ordinaria-
mente as pessoas, que mais neces-
sitaõ destas regras, saõ as que ig-
noraõ de todo aquella Lingua. A
isto respondo em primeiro lugar,
que quando digo que se reccor-
ra à Lingua Latina, para se re-
gular de algum modo a Ortho-
pág. [IX]
graphia das palavras, naõ fallo
senaõ dos que tem algum conhe-
cimento della. Em segundo lu-
gar dou este conselho, por naõ
achar Orthographia mais bem
regulada, que a que se faz por
etymologias, e derivaçoens, ain-
da que seja com alguma altera-
çaõ, conforme o genio das Lin-
guas. Nisto sigo o exemplo dos
Grammaticos Italianos, e Fran-
cezes, que saõ os que mais se
empregáraõ em procurar a pu-
reza das suas Linguas. Por te naõ
cançar com muitos exemplos, te
direi sómente que os Italianos,
conforme a sua Orthographia
moderna, ordenada para uso do
Seminario de Padua, e impressa
no anno de 1721. escrevem v.g.
pág. [X]Affabilità
com 2. ff de
Affabilitas.
Affermare
de
Affirmo.
Affine
de
Affinis.
Tranquillitá com 2. ll de Tranquillitas.
Commendatione com 2. mm de Com-
mendatio.
Sommo
de
Summis.
Infiammazione
de
Inflãmatio.
Applauso
com 2. pp de
Applausus.
Applicazione
de
Applicatio.
Corregere
com 2. rr de
Corrigo.
Letterato
com 2. tt de
Litteratus.Da mesma sorte escrevem os Fran-
cezes conforme a Orthographia dos
Diccionarios da Academia Real, de
Furetiére, e de Richeler:
Affabbe
de
Affabilis.
Affectation
de
Affectatio.
Affection
de
Affectio.
Affluence
de
Affluencia.
Allegorie
de
Allegoria.
Amollir
de
Mollio.
Suffocation
de
Suffocatio.pág. [XI]
Suffisant
de
Sufficiens.
Suggerer
de
Suggero.
Sommaire
de
Summarium.
Lettres
de
Litteras.
pág. [XII]
LICENC,AS
DO SANTO OFFICIO.
APPROVAC,AM DO M.R.P.
M. Frey Manoel de Sequeira, Qua-
lificador do Santo Officio, &c.
EMINENTISSIMO SENHOR.
VI por ordem de V. Eminencia
este livro, cujo titulo he Or-
thographia da Lingua Portu-
gueza, composto pelo M.R.P. Dom
Luis Caetano de Lima, Clerigo Regu-
lar da divina Providencia. Nelle mos-
tra o seu Author grandes noticias das
Linguas Lusitana, Franceza, Holande-
za. e Ingleza; e o grande zelo, e tra-
balho, com que pratica tudo o que
toca à Lusitana; chegando a assinar
casos, em que nella se podem conside-
rar Tritongos; e com muita clareza,
e erudiçaõ tudo o mais, que lhe per-
tence, como materia propria de que
pág. [XIII]
trata. Naõ contém cousa alguma en-
contrada a nossa Santa Fé; e bons cos-
tumes; e assim me parece muito dig-
no da licença que se pede. V. Emi-
nencia mandará o que for servido. Lis-
boa Oriental; em o Convento de N.
Senhora da Graça em 20. de Abril de
1736.
O M. Fr. Manoel de Sequeira.
VIsta a informaçaõ, póde-se impri-
mir o livro intitulado Orthogra-
phia Portugueza, Author o Padre
D. Luis Caetano de Lima; e depois
de impresso tornará para se conferir,
e dar licença que corra, sem a qual
naõ correrá. Lisboa Occidental 20 de
Abril de 1736.
Fr. Rodrigo de Alanc. Teix. Sylva.
Cabed. Soares. Abreu.pág. [XIV]
DO ORDINARIO.
PO‘de-se imprimir o livro, de que se
trata, e depois de impresso tornará
para se conferir, e dar licença para que
corra. Lisboa Occidental 11. de Mayo
de 1736.
Gouvea.
___________________________________
DO PAC,O.
SENHOR.
SEndo os decretos de V. Magestade Ora-
culos para o respeito, e obediencia:
este, pelo qual V. Magestade manda
censurar, e qualificar a Orthographia da Lin-
gua Portugueza, que compoz aquelle Heróe
mayor, que os maximos o Padre Dom Luis
Caetano de Lima, singular ornamento da sem-
pre illustre, e sapientissima Religiaõ dos
Clerigos Regulares da Divina Providencia;
ainda que conserva inviolavel o sagrado do
respeito; faz arduo, e difficultoso, o exer-
cicio da obediencia. Naõ he sacrificio a Ve-
pág. [XV]
neraçaõ; porque he suave o rendimento res-
peitoso a hum Monarcha, que nem vio, nem
verà o Mundo igual, ou semelhante: mas
he penozo holocausto obedecer, cativando
o juizo, a razaõ, e o discurso, por violar
os preceitos da Magestade. O discurso, a ra-
zaõ, e o juizo estaõ dictando, que a alta, e
inaccessivel comprehençaõ de V. Magestade
naõ podia eleger para Mestre de todos os
idiomas, quem se presumisse capaz de censura,
e qualificaçaõ; e exercitando-se estas nas
obras, que pertende dar à Luz publica o
Mestre, jà fica aquella nomeaçaõ escrupulosa
na capacidade, de quem a obteve: so a este
illustre Varaõ julgou V. Magestade digno de
ensinar a fallar bem em todas as linguas; e
agora, quando ordena, se qualifiquem, e
censurem os perceitos, com que se ha de re-
duzir a acto as suas doutrinas, na Portugue-
za; parece duvidar do irrefragavel, e cien-
tifico dos seus egregios dictames: e esta orde-
naçaõ se refunde perplexidade do talento do
Mestre, tambem impoem injuria no sacro cha-
racter do soberano; e para obviar hum, e
outro precipicio, bastava por aprovaçoõ do
livro o nome do seu Author, como quem
era creatura da elevada prespicacia de Vossa
Magestade neste emprego.
Tem empregado os seus grandes estudos
pág. [XVI]
este doutissimo Mestre em nos ensinar com
primor varias linguas estranhas, e agora per-
tende aperfeiçoar a nacional com huma no-
va Arte, na sua mais propria, e genuina Or-
thopraphia e este he o mayor serviço, e
obsequio, que podia fazer à Coroa, e Vassa-
llos de V. Magestade; porque sempre dà gran-
des lustres ao diadema do Soberano a atten-
çaõ ao bem publico. O bem, que facilmen-
te hade alcançar com esta Orthographia a na-
çaõ Portugueza, he ser igual, e uniforme
na pureza de fallar, e no acerto de escrever;
e estas prerogativas, que faltaõ ao idioma
neste seculo o mais estimado, ou seja vicio,
ou indigencia, tem só a lingua Latina, e a
que com pouca corrupçaõ devemos crer,
que tambem o he a Lusitana. Mas para se ex-
ercer com perfeiçaõ, devem-se observar exacta-
mente no fallar, e escrever, os dictames,
os preceitos, e as regras desta Orthographia.
Sem ella será o Portuguez xarro, rustico, bar-
baro, e grosseiro: com ella será polido, acea-
do, e limado; e sendo estes relevantes attri-
butos no Padre Dom Luis Caetano de Li-
ma taõ naturaes, que parece o constitutivo
formal do seu singular genio, e engenho; saõ
tambem o esmalte das boas, e bellas letras
com que se exorna; os quaes com facil ne-
gocio acharáõ, e conseguiraõ todos os Vassal-
pág. [XVII]
los de V. Magestade com esta purissima Or-
thographia.
Até que V. Magestade empunhou o Ce-
tro, cingio a Coroa, e occupou o Trono pa-
ra immortal gloria dos seus Vassallos, assom-
bro dos Principes estrangeiros, e pasmo de
todo o uniuerso, foraõ em Portugal todos os
seculos de ferro na locuçaõ, e escritura;
porém tanto que principiou a moderar as
redeas do Imperio hum Rey taõ Augusto, e
taõ Aureo, como adoramos a V. Magestade,
logo floreceo felizmente nos seus dominios
do fallar, e escrever a idade de ouro, que
possuimos. Naõ saõ adulaçoens lizongeiras,
ou hyperboles chymericos as verdades infalli-
veis, que profiro, pois as testemunhaõ, e
ratificaõ, ver, e comparar os antigos, e
modernos escritos; as velhas, e novas com-
posiçoens; porém para que se immortalise,
e perpetue esta gloria, e felicidade, me pare-
ce deve V. Magestade mandar se estampe em
Laminas de diamantes esta Orthographia;
pois quem a observar, e seguir, em qualquer
estylo, que se empenhe, ha de dizer, e es-
crever com certeza, ornato, e gravidade.
Ficando assim eternamente utilisada a Republi-
ca, e V. Magestade em tudo bem servido:
mas como sempre V. Magestade he o supre-
mo Senhor, mandará o que quizer, e lhe
pág. [XVIII]
parecer, para ser mais que bem servido. Lis-
boa Occidental Convento da Boahora dos
Agostinhos Descalços 4 de Mayo de 1736.
Fr. Antonio de Santa Maria,
pág. [XIX]
QUe se possa imprimir vistas
as licenças do Santo Offi-
cio, e Ordinario, e depois
de impresso tornará a esta Mesa
para se conferir, e taixar, e dar
licença para correr, sem a qual
naõ correrá. Lisboa Occidental.
4. de Mayo de 1736.Pereira. Teixeira.
pág. [XX]
LICENC,AS.
Do Santo Officio.
VIsto estar confórme com o original, póde
correr. Lisboa Occidental. 18. de Mayo
de 1736.
Fr. R. de Alancastre. Teixeira. Sylva.
Cabedo. Soares. Abreu.
_______________________________________
DO ORDINARIO
PO‘de correr. Lisboa Occidental. 19. de
Mayo de 1736.
Gouvea.
_______________________________________
DO PAC,O.
QUe possa correr, e taixaõ em 200. reis.
Lisboa Occidental. 19. de Mayo de 1736.
Pereira. Teixeira.
pág. [XXI]
pág. [II]INDEX
Dos Capitulos.
CAP. I. Dos nomes, e numeros
das Letras.
CAP. II. Da pronuncia das Vogaes.
CAP. III. Da pronuncia das Consoan-
tes.
CAP. IV. Dos Ditongos.
CAP. V. Dos Tritongos.
CAP. VI. Dos Accentos.
CAP. VII. Das Letras Dobradas.
SUP. I. Sobre o uso particular de al-
gumas Letras.
SUP. II. Sobre a Letra Z.
pág. [XXIII]
Erratas
Emendas.pag.37.
Ratiotionor.
Ratiocinor.
pag.41.
Moeha.
Mocha.
pag.64.
Luxembaug.
Luxembourg.
pag.77.
Raciaus.
Mancidus.
pag.85.
Conslrange.
Constrange.
pag.97.
Tequestro.
Sequestro.
pag.118.
Pigneo.
Pigmeo.
pág. [XXIV]CAPITULO I.
Dos nomes, e numeros
das Letras.
O ALPHABETO Portuguez
consta de 22. Letras, 16.
Consoantes, ou Liquidas,
e 6. Vogaes. O modo de
as pronunciar he o se-
guinte.
A bé cê dê é éfe gé agá i éle
éme éne ó pê quê érre ésse tê u
xis ypsilon zê.
Entre as Consoantes contaõ tam-
bem alguns a letra K, supposto que naõ
se usa della senaõ muito raras vezes.
pág. 1
Na mesma fórma contaõ ç que só tem
lugar antes das Vogaes A O U, como
em Traça Braço C,ujo. Finalmente
as letras consoantes J, e V, que tem
differente figura quando saõ Vogaes; e
conforme esta conta seriaõ todas 26.
_______________________________________
CAPITULO II.
Da pronuncia das Vo-
gaes.
ANtes de tratar particularmente
de cada Vogal, daremos huma
explicaçaõ dos termos de que usamos
para melhor intelligencia desta obra.
Em primeiro lugar distinguimos
som ABERTO, e som FECHADO na
pronuncia das Vogaes A E O, a que
só respeita esta differença.
Som Aberto he quando a Vogal
pág. 2
soa muito, ou se abre, e carrega
muito nella, como em Páto, Léme,
Tóga; e para conhecer logo que a Vo-
gal deve ter hum som aberto lhe po-
mos Accento Agudo, como se vé nas
palavras acima.
Som Fechado he quando a Vogal
soa pouco, e se fecha, ou carrega
menos nella, como v.g. em Gamo,
Remo, Pomo.
Em segundo lugar distinguimos
as Vogaes em INICIAL, MEDIA, e
FINAL, conforme as syllabas ou luga-
res em que se encontraõ. Chamamos
Inicial aquella Vogal, porque princi-
pîa a palavra, como em Alma, e o
mesmo nome de Inicial lhe damos tam-
bem quando està na syllaba inicial do
nome, como em Pálma, para evitar
tantas classes de palavras. Media,
quando està no meyo do nome, ou seja
de trez, ou de mais syllabas; e Final,
quando se acha no fim das palavras.
pág. 3
Em terceiro lugar distinguimos as
Vogaes em BREVES, e LONGAS, pa-
ra estabelecer a sua pronuncia.
A
A Na primeira syllaba pronuncia-se
humas vezes Aberto, e outras
Fechado, conforme as terminações
das palavras; porem geralmente fal-
lando quasi sempre he Aberto.
As palavras de duas syllabas, que
acabaõ em BA, BO, levaõ A aberto,
como v. gr. Aba, Cábo, Nábo.
Do mesmo modo as que se termi-
naõ em CA, CO. Fáca, Sáca, Frá-
co, Táco.
Em C,A, C,O. Ráça, Tráça,
A‘ço, Máço; e os tempos dos Verbos
Fáça, Fáço.
Em CHA, CHO. Rácha, Fá-
cha, Cácho, Mácho.pág. 4
Em DA, DO. Náda, Fáda, Brá-
do, Prádo. Exceitua-se Cada por
Quisque, onde o A inicial he fechado.
Em FA, FO. Cáfo, C,áfo, Gá-
fo, C,áfa, Gáfa.
Em GA, GO. Bága, Trága,
Brága, Chága, Bágo, Págo, Trá-
go.
Em YA, YO, Fáya, Sáya,
Máyo, Ráyo.
Em JA, JO. Hája, Trajo, ou
Traje.
Em LA, LO, ou LLA, LLO.
Cálla, Fálla, Gála, Cállo, Fállo,
Fálo.
Em LHA, LHO. Grálha, Má-
lha, Pálha, Málho, Rálho, Tálho.
He porem Fechado nas seis se-
guintes terminações. Em MA, MO.
Ama, Dama, Fama, Amo, Gamo,
Ramo, Em NA, NO. Cana, Lhana,
Plana, Cano, Lhano, e Plano. Em
NHA, NHO. Canha, Manha, Ba-
pág. 5
nho, Tanho. Exceytua-se Gánho, que
sempre leva A aberto, ou seja Nome,
ou Verbo.
Torna-se a pronunciar A Aberto
nas terminações em PA, PO. Cápa,
Lápa, Mápa, Guápo, Sápo, Trápo.
Em RA, RO. Ara, Cára, Vá-
ra, A‘ro, Fáro, Ráro.
Em SA, SO, ou ZA, ZO. A‘za,
Bráza, Cása, Cáso, Rázo, Prázo.
Em TA, TO. Dáta, Náta, Fá-
to, Páto.
Em VA, VO. Fáva, Fávo; e
nos Verbos Cávo, Lávo, Trávo.
Em XA, como em Fáxa, Faxo.
As palavras que acabaõ em E, se
pronunciaõ com A aberto, como v. g.
A‘de, Gráde, Cáffre, Cháve, Pá-
dre, Mádre, Gráve, Tráve, e os
Verbos Cábe, Sábe.
Quando a Vogal A he seguida de
alguma das Consoantes L R S na mes-
ma syllaba, tem som Aberto, como
pág. 6
A‘lma, Pálma, A‘rma, Gárfo, Pár-
to, Pásto, Pálmo, Bálde, Cárne,
A‘rte, Tráste.
Porem seguindo-se-lhe M ou N
na mesma syllaba, tem som fechado,
como Campo, Mando, Bando, Gran-
de, Campa, Dança.
Note-se que os compostos de mui-
tas syllabas naõ seguem sempre a Vogal
aberta dos seus simples nas terminações
precedentes; e assim se pronuncîa A
inicial fechado em Artificial, Asmati-
co, Pasmado, Rasgado, ainda que
vem de Arte, Asma, Pásmo, Rásgo,
que tem A inicial aberto.
A regra geral nesta materia he
que nos nomes de trez, e mais sylla-
bas se pronuncîa ordinariamente o A
inicial fechado em todo o genero de
terminações. Adorno, Acerto, Cami-
nho, Cativo, Favorecido, Parecido,
Sabedor, Matador, Paragem, Ra-
bugem, Fadiga, Faisca, Parente,
pág. 7
Tapete. O mesmo nos Verbos Bata-
lhar, Caminhar, Carecer, Parecer,
Amanheço, Anouteço.
Tambem tem A fechado os nomes
em que o dito A inicial he seguido de
R ou S na mesma syllaba. Cartilha,
Pastilha, Barrete, Casquete, Arte-
lho, Aspecto, Castigo, Quartilho,
e os Verbos Martyrisar, Mastigar,
Bastecer, Guarnecer.
Exceytuaõ-se Armada, Arma-
dor, e os nomes que tem breve a syl-
laba Media, como A‘rvore, A‘spide,
Mármore, Bárbaro, Pássaro, que
levaõ A inicial aberto. Note-se que
ainda que em Arvore se pronuncia A
aberto, em Arvoredo he fechado.
Sendo porem o A seguido na mes-
ma syllaba de C ou L, pronuncia-se
Aberto. Accesso, Accessorio, Acci-
dente, Accidental, Alfaya, Alfan-
ge, Alteza, Alguidar, Almazem.
Exceytua-se Accento, onde se perde
pág. 8
hum C, e se pronuncîa o A fechado.
Os nomes, que se terminaõ com
Accento Agudo, tem ordinariamente
o A inicial fechado. Cazál, Fatál,
Caráõ, Varáõ, Galé, Maré, Pa-
ríz, Chafaríz, Faról, Favôr, Ca-
vadôr, Atróz. Incluîmos nesta regra
Favor, e outros semelhantes, ainda
que levem Accento circumflexo, por-
que este substitue ali o Accento agu-
do, que deveraõ ter, se se pronun-
ciasse aberta a vogal.
Sobre a palavra Para se deve no-
tar, que quando he Verbo tem o A
inicial Aberto. Pára. Quando he pro-
posiçaõ tem A fechado Pâra, e quando
he nome de Regiaõ leva no fim accen-
to Agudo. Pará.
A MEDIO se pronuncîa humas
vezes Aberto, e outras Fechado.
Primeiramente he Aberto nas ter-
minações em ABA, ABO. Aldrába,
Diábo.
pág. 9
Do mesmo mode em ACA, ACO.
Barráca, Casáca, Buráco, Opáco.
Em AC,A, AC,O. Almofáça, Fa-
táça, Bagáço, Baráço.
Em A‘CHA, A‘CHO. Granácha,
Penácho.
Em ADA, ADO. Brigáda, Ta-
páda, Bocádo, Criádo. E assim nos
participios Amáda, Amádo, &c.
Em AFA, AFO. Garráfa, e nos
tempos dos Verbos Abáfa, Abáfo.
Em AGA, AGO. Adága, Triá-
ga, Afágo, Tabágo, huma das Anti-
lhas.
Em AYA, AYO. Alfáya, Ata-
láya, Desmáyo, Ensáyo.
Em ALA, ALO. Bengála, Escá-
la, e nos Verbos Entálo, Iguálo.
Em ALHA, ALHO. Batálha,
Canálha, Barálho, Esgálho.
He porem Fechado nas seis termi-
nações seguintes. Em AMA, AMO. Es-
cama, Amalgama, e nos Verbos Der-
pág. 10
ramo, Infamo. Em ANA, ANO. Ca-
bana, Catana, Paysano, Ufano. Em
ANHA, e ANHO. Castanha, Pia-
nha, Façanha, Estranho, Castanho.
Torna a ser Aberto nas termina-
ções em APA, APO. Zurrápa, Far-
rápo, Escápo.
Em ARA, ARO, e ARIA, ARIO.
Apára, Tiára, Appáro, C,afáro, Ca-
nário, Temerário, e nos Verbos Com-
páro, Depáro, Repáro, &c.
Em ASA, ASO, ou AZA, AZO.
Abrázo, Aprázo, Arrázo.
Em ATA, ATO. Baráta, Pata-
ráta, C,apáto, Retráto.
Em AVA, AVO. Aljáva, Cala-
tráva, Aggrávo, Escrávo.
Tambem se pronuncîa A aberto
nas terminações em ADE, AGE, ATE,
AVE. Bondáde, Verdáde, Ventágem,
Viágem, Alicáte, Surráte, Arrátel,
Affável, Admirável, Amável.
Porem as terminações em AME,
pág. 11
ANE, levaõ A fechado. Arame, In-
fame, Baneane.
Os preteritos perfeitos da primeira
conjugaçaõ Amámos, Andámos tem A
aberto na penultima, para differença
dos presentes do Indicativo Amamos,
Andamos, que o levaõ fechado.
O mesmo succede nos Plusquam
perfeitos Amára, Andára, onde se
pronuncia Aberto na penultima para os
distinguir dos Futuros Amará, Andará,
que tem Vogal aberta, e accento Agu-
do na ultima.
Algumas vezes se pronuncîa A fe-
chado no meyo das palavras, por ser
breve a syllaba Media, como em A‘ma-
go, pro medulla arboris, Bárbaro,
Cóncavo, Cóvado, Escándalo, Eva-
no, Fígado, Láparo, Pássaro, Pí-
caro, Cámara, Década, Máscara,
Tamaga, Tamara, Sátrapa, Syllaba.
Quando o A Medio he seguido na
mesma syllaba de alguma das letras
pág. 12
CLRS, pronuncia-se Aberto. Esme-
ralda, Madrasta, Retaguarda, Van-
guarda, Embargo, Encargo, Cadar-
ço, Padrasto, Contracto, Extracto.
Mas sendo seguido da letra N he o
dito A fechado. Barranco, Encanto,
Laranja, Varanda, Alcance, Alfan-
ge, Infante.
A FINAL pronuncia-se Aberto
nos Monosyllabos, e outras palavras,
que acabaõ com Accento Agudo,
como Cá, Já, Lá, Má, Pá, Tá,
Vá, Bachá, Maná, Acolá, Ouxa-
lá, &c.
Da mesma sorte nos Monosylla-
bos, e outras palavras em AL, AR,
e AZ. Cál, Grál, Sál, Tál, Dár,
Már, Fáz, Páz, Tráz, Corál,
Didál, Vogál, Pumár, Solár, Pri-
máz, Efficáz. Da mesma sorte nos In-
finitivos da primeira conjugacaõ Amár,
Estimár, &c.
As palavras Ambar, Assucar, Al-
pág. 13
jofar, e Nectar, levaõ A aberto, ain-
da que carecem de Accento na ultima.
Tambem se pronuncîa A Final
aberto nas segundas, e terceiras pes-
soas dos Futuros, onde levaõ accento
agudo. Amarás, Lerás, Ouvirás,
Porás, Amará, Lerá, Ouvirá, Po-
rá, para se differençarem dos Preteri-
tos Amáras, Léras, Ouvíras, Amá-
ra, Léra, Ouvíra, que em lugar de
Accento Agudo na ultima, o tem na
penultima.
Quanto à terminaçaõ em AM, ou
Aõ, como outros escrevem, e de que
trataremos adiante no Capitulo dos
Ditongos, baste por agora dizer que o
seu A he fechado, assim nos nomes
como nos Verbos.
Os Monosyllabos, que naõ tem
Accento Agudo, levaõ A fechado. Da,
Ma, Na, Das, Mas, Nas. DO mes-
mo modo he tambem fechado nos no-
mes de muitas syllabas, que carecem
pág. 14
de Accento final. Fáca, Séta, Fita,
Rosa, Pluma, Fachada, Vereda,
Ferida, Derrota, Arruda. O mesmo
succede nos tempos dos Amava, Ama-
ra, Amaria, Fazia, Fizera, Fa-
ria, &c.
E
E Na primeira syllaba, humas vezes
se pronuncîa Aberto, e outras Fe-
chado, conforme as differentes termi-
nações.
Nas em EA, EO, ha esta diffe-
rença, que Cea, Pea, Vea, Tea, e
os Verbos Crea, Lea, Mea, naõ só
levaõ E fechado, mas lem-se como se
estivesse escritto: Ceya, Peya, Veya;
Teya, Creya, Leya, Meya. Pello con-
trario os nomes, Céo, Réo, Véo, le-
vaõ E totalmente aberto.
Nas terminações em BA, BO, se
pág. 15
pronuncîa E fechado no Verbo Bebo, e
no nome Gebo. Abre-se porem em Fé-
bo, e nas palavras em que medîa R na
dita terminaçaõ, como em Québra,
Québro.
Nas em CA, CO, se encontra E
aberto em Béca, Méca, e nos Verbos
Pécco, Sécco, Pécca, Sécca. Fecha-se
porem nos nomes Peca, Seca, Beco,
Peco, Seco.
Nas em C,A, C,O, he aberto no
nome Péça, e nos Verbos Féço, Mé-
ço, Péço. Mas fecha-se no nome Pre-
ço, e nos Verbos Creço, Deço, Teço.
Nas em CHA, CHO, levaõ E
aberto os nomes Brécha, Frécha, Mé-
cha, Pécha; pello contrario em Fe-
cho, ou seja nome ou Verbo.
Nas em DA, DO, se pronuncîa
E aberto nos nomes Méda, Quéda,
Crédo, Lédo, Médo (nome de Naçaõ)
e no Verbo Védo. He porem fechado
em Greda, Seda, Bredo, Cedo, De-
pág. 16
do, Medo, Quedo. Mediando R na
dita terminaçaõ abre-se o E em Cédro,
Médro, Médra, Pédra, e fecha-se
em Pedro.
Nas em GA, GO, tem E aberto
Céga, Séga, Cégo, Pégo, a palavra
Prégo, assim nome como Verbo, e os
Verbos Cégo, Régo, Ségo. Exceytuaõ-
se os nomes Pega, e Rego, que tem E
fechado.
Nas em JA, JO, se pronuncîa E
fechado no nome Pejo, e nos Verbos
Seja, Vejo. He porem aberto nos no-
mes Bréjo, Téjo.
Nas em LA, LO, levaõ E aberto
Péla, Tréla, Véla, Prélo, e os Ver-
bos Gélo, Zélo. Pello contrario he fe-
chado, nos substantivos Gelo, Grelo,
Pelo, Zelo, como tambem nos Ver-
bos a que se segue algum Artigo, como
Fela, Vela, Felo, Velo.
Quando a letra L se acha dobra-
da, humas vezes leva E aberto como
pág. 17
em Bélla, Célla, Nélla, Sélla, Béllo,
e no Verbo Séllo; e outras fechado
como em Pella, Pello, e no Substan-
tivo Sello.
Nas em LHA, LHO, se acha E
fechado em Selha, Telha; e Aberto
em Vélha, Vélho.
Nas em MA, MO, se pronuncîa
E fechado em Ema, Gema, Rema,
Tema, Gemo, Remo (tanto nome
como Verbo, Temo, Tremo. He po-
rem aberto no Substantivo Démo.
Nas em NA, NO, he tambem fe-
chado. Pena, Scena, Feno, Peno.
Nas em NHA, NHO, se fecha
da mesma sorte nos nomes Brenha,
Grenha, Lenha, Penha, Lenho; e
nos Verbos Tenho, Venho.
Nas em PA, PO, se pronuncîa E
fechado em Sepa, Cepo; e aberto em
Trépa, Trépo.
Nas em RA, RO, levaõ E aber-
to os nomes Féra, Héra, Méra, Fé-
pág. 18
ro, Méro; e os Verbos E‘ra, Déra,
Géra, Géro, Quéro. He porem fe-
chado nos nomes Cera, Pera, Pero; e
no Verbo Lera.
Quando a letra R se acha dobrada,
humas vezes leva E aberto, como nos
nomes, Guérra, Sérra, Térra, Fér-
ro, Pérro, e no Verbo E‘rro. Outras
vezes leva E fechado, como nos nomes
Cerro, Erro.
Nas em SA, SO, ou ZA, ZO,
tem E aberto os nomes Réza, Léza,
Lézo; e os Verbos Pézo, Rézo; mas
fecha-se nos nomes Peso, Teso.
Nas em TA TO, se pronuncîa
aberto nos nomes Méta, Séta, e em
Créta Ilha, e nos Verbos Gréta, Gré-
to, e Fechado nos nomes Greta, Pe-
ta, Preta, Teta, Preto, Treta.
Nas em VA VO, tem E aberto o
Substantivo Léva, fallando de gente de
guerra, e o Verbo Léva, Lévo. Fe-
cha-se porem no nome Trevo, e nos
Verbos Devo.pág. 19
Entre as palavras, que acabaõ em
E se pronuncîaõ com E inicial aberto
os nomes Bréve, Crépe, Fébre, Lé-
bre, Léme, Léque, Léve, Séte; e os
Verbos Bébe, Céde, Créce, Déve, Fé-
re, Péde, Tréme. Levaõ porem E fe-
chado os nomes Rede Sede; e os Verbos
Lede, Sede, Teve, Vede.
Quando a Vogal E he seguida de
alguma das letras L, R, S, na mesma
syllaba, humas vezes tem som aberto
como nos nomes E‘rra, Fésta, Guél-
ra, Méscla. Pésca, Sérpa, Térra,
Cérto, Déstro, Férro, Gésto, Mélro,
Pérto, Sérvo, Péste, Sérpe, Véste.
Outras vezes tem som fechado
como em Bespa, Cerca, Cesta, Felpa,
Lesma, Resma, Terça, Cerco, Cesto,
Festo, Mesmo, Nervo, Termo, Des-
de, Deste, Neste, Verde.
As palavras em que se segue M ou
N tem sempre E fechado. Crença,
Tença, Genro, Penso, Tempo, Tenro,
pág. 20
Vento, Gente, Quente, Rente, com
os Verbos Mente, Pende, Rende, Ven-
de.
Note-se, que os compostos de
muitas syllabas naõ seguem sempre a
Vogal aberta dos seus simples; e assim
levaõ E fechado os nomes Ervado, Fer-
rado, Festivo, Servido, ainda que ve-
nhaõ de E‘rva, Férro, Fésta, e Sérvo,
que tem E aberto.
Os nomes que se terminaõ com al-
gum accento, tem E inicial fechado.
Leál, Reál, Meláõ, Lezáõ, Relé,
Recêm, Retêm, Febrîl, Perrexîl, Se-
nhôr, Metedôr. Da mesma sorte os In-
finitivos Levar, Deter, Remir, Repor.
Geralmente se póde dizer que to-
do o E inicial nos nomes, e Verbos de
muitas syllabas tem som fechado. De-
tença, Merenda, Espaço, Esqueço,
Repente, Semente, Rebelliaõ Restau-
raçaõ, Remeiro, Thesoureiro. Excei-
tuaõ-se Mésinha, Séteira, Sédiço, e
pág. 21
alguns esdruxulos, como Fétido; Tré-
pido.
E MEDIO se pronuncîa humas ve-
zes Aberto, e outras fechado.
Primeiramente nas terminações
em EA, EO, ha muita variedade; e
ainda que dellas havemos de fallar no
Capitulo dos Ditongos, naõ deixare-
mos de dizer aqui quanto à terminaçaõ
EA, que muitas vezes he o seu E me-
dio Breve, e Fechado, como em Co-
dea, Femea, Gavea, Lendea, Semea,
Chicorea, Serodea, e nos Imperativos
Lede-a, Tende-a, Ponde-a.
Outras vezes he Longo, e Fechado
como em Area, Balea, Cadea, Candea,
Correa, Serea, e nos Verbos Passea,
Ratea, Rodea, Semea; e neste caso se
pronuncîa o E Medio, como se fora
EY. Areya, Baleya.
Finalmente se pronuncîa E aberto
em Idéa, Judéa, como se estivesse es-
crito Idéya, Judéya.
pág. 22
Semelhante variedade se encon-
tra na terminacaõ em EO; porque hu-
mas vezes leva E Breve fechado, como
nos Imperativos Ledeo, Sedeo, Ten-
deo, Pondeo. Outras vezes Longo, e
fechado, como em Hebreo, Judeo,
Orpheo, e nos Preteritos Ardeo, Ba-
teo, se naõ he que antes se devem es-
crever Ardeu, Bateu.
Nos nomes Asseo, Correo, e nos
Verbos Receo, Semeo, se pronuncîa
E fechado como se fora EY. Asseyo,
Correyo, Receyo, Semeyo.
Finalmente succede ser aberto em
Aréo, Chapéo, Mantéo, Boléo, e
nos seus Pluraes.
Nas terminações em EBA, EBO,
se pronuncîa E fechado. Manceba,
Mancebo, Percebo, Recebo. Excey-
tua-se o Verbo Amancébo.
Nas em ACA, ECO, se pronun-
cîa E aberto. Charnéca, Fanéca, Ca-
néca, Rabéca, Taréco, Desséco.
pág. 23
Nas em EC,A, EC,O, se encon-
tra E aberto em Tripéça, e nos Verbos
Coméço, Despéço, Esquéço, Aderéço,
Amanhéço, Arreféço, Arreméço, Tro-
peço.
Outras vezes he fechado como nos no-
mes Appreço, Adereço, Tropeço, Ar-
remeço; e nos Verbos Conheço, Pare-
ço, Pereço, Aborreço, Adormeço,
Anouteço, Amadureço, Encareço.
Nas em ECHA, ECHO, tem E
aberto Esmécho, e fechado Desfecho.
Nas em EDA, EDO, se pronun-
cîa E fechado nos nomes, Azeda,
Lameda, Vereda, Azedo, Arreme-
do, Enredo, Lagedo, Penedo. Po-
rem levaõ E aberto os Verbos Azédo,
Enrédo, Arremédo.
Nas em EFA, EFO, se encontra
E Aberto em Sanéfa, Sinaléfa, Ta-
réfa.
Nas em EGA, EGO, tem E fe-
chado os nomes Despego, Emprego,
pág. 24
Lamego, Morcego, Refego, Socego.
Pello contrario levaõ E aberto os
nomes Colléga, Entréga, Refréga, e
os Verbos Apégo, Despégo, Emprégo,
Entrégo, Esfrégo, Navégo, Socégo.
Nas terminações em EJA, EJO,
se pronuncîa E fechado em Carqueja,
Cereja, Cerveja, Igreja, Bocejo,
Cortejo, Dezejo, Despejo. Do mes-
mo modo nos Verbos Bocejo, Cortejo,
Cotejo, Dezejo, Despejo, Revejo,
Varejo, e nas terminações em A. Ex-
ceytuaõ-se Envéja, e Envéjo.
Nas em ELA, ELO, ou ELLA,
ELLO, se pronuncîa humas vezes E
aberto como em Adéla, Amarélla,
Barréla, Cadéla, Canéla, Fivella,
Janéla, Mazéla, Panéla, Singéla,
Tigéla, Castéllo, Farélo, Marmélo,
Martéllo, Murzélo.
Outras yezes he fechado como em
Estrella, Cabello, Camelo, Capello,
Ourelo; e nos Verbos a que se segue
pág. 25
algum artigo, como Bebela, Fazela,
Dizelo, Trazelo.
Nas em ELHA, ELHO, se pro-
nuncîa E fechado em Abelha, Azelha,
Gadelha, Ovelha, Parelha, Segure-
lha, Artelho, Coelho, Espelho, Fran-
celho, Vermelho.
Tambem he fechado em EMA,
EMO. Algema, Alfazema, Diade-
ma, Extremo, Supremo, e no Verbo
Espremo.
DO mesmo modo em ENA, ENO.
Açucena, Cayena, Camena, Ameno,
Aceno, e nos Verbos Aceno, Apeno,
Condeno.
Igualmente se fecha em ENHA,
ENHO. Estamenha, Jurumenha, Re-
senha, Sardenha, Engenho, Ferre-
nho; e os Verbos Contenho, Convenho,
Mantenho, Retenho.
Nas em EPA, EPO, se pronun-
cîa E Aberto. Carépa, Atrépo, De-
cépo.
pág. 26
Nas em ERA, ERO, levaõ E
aberto os nomes Esféra, Espéra, Se-
véro; e os Verbos Espéro, Impéro,
Tempéro, Desespéro, Considéro, Exas-
péro, Exagéro, Recupéro, Vitupéro,
com os Preteritos Disséra, Houvéra,
Fizéra, Tivéra, Puzéra.
He porem fechado nos nomes Es-
mero, Tempero, e nos Preteritos Me-
tera, Soffrera, Retera, Revera,
Tresleva.
Nas em ESA, ESO, ou EZA,
EZO, se pronuncîa E fechado. Destre-
za, Duqueza, Empreza, Grande-
za, Largueza, Limpeza, Aceso,
Desprezo. Exceytua-se o Verbo Des-
prézo.
Nas em ETA, ETO, tem E aber-
to o nome Facéto, e o Verbo Acarré-
to. He porem fechado nos nomes Bayo-
neta, Carreta, Cometa, Galheta,
Mareta, Planeta, Carreto, Espeto,
e nos Verbos Cometo, Arremeto.
pág. 27
Nas em EVA, EVO, se pronun-
cîa E fechado no Verbo Atrevo.
Nas palavras que acabaõ em E se
encontra humas vezes E aberto, como
em Estrépe, Guruméte, Maméde,
Mafaméde, Topéte; e nos Verbos
Confére, Prefére, Refére, Acométe,
Compéte, Prométte, Repéte, Ama-
nhéce, Arreféce, Esquéce.
Outras vezes he fechado como
nos nomes Banquete, Bofete, pro
Mensa, Ferrete, Parede, Ramalhete,
Sinete, Tamborete, Tapete. E nos
Verbos Anoutece, Resplandece, Escu-
rece, Carece, Parece, Adormece.
Quando ao E medio se segue na
mesma syllaba alguma das letras C R S,
humas vezes he aberto como em Affé-
cto, Insécto, Intérno, Inférno, In-
césto, Excésso, Catérva, Cavérna.
Da mesma sorte nos Verbos Apérto,
Despérto, Enxérto, Entérro, Infé-
sto, Resérvo, Refrésco.
pág. 28
Outras vezes se pronuncîa fecha-
do, principalmente nos Substantivos,
cujos Verbos tem E aberto. Acerto,
Aperto, Apresto, Concerto, Enterro,
Enxerto, Desterro, Governo, Refres-
co. Alem disto se fecha tambem em
Enferma Enfermo, Esquerda, Esquer-
do, Soberba, Soberbo.
Geralmente fallando os nomes, e
Verbos, em cuja syllaba Media se en-
contra M ou N, levaõ E fechado. Co-
menda, Fazenda, Merenda, Tormen-
ta, Coentro, Exemplo, Accendo, As-
sento, Pretendo; e nos Gerundios Fa-
zendo, Querendo.
Muitas vezes succede ser fechado
o E Medio, porque he breve a sylla-
ba, como em A‘spero, Célebre, Cé-
rebro, Cónego, I‘ngreme, Pécego,
Próspero, Sóffrego, Néspera, Témpe-
ra, &c. Advirta-se que Próspera, e
Témpera tem E breve, quando saõ no-
mes, e longo quando saõ Verbos.
Prospéra, Tempéra.pág. 29
E Final, pronuncia-se aberto nos
Monosyllabos que levaõ Accento agu-
do. Fé, Pé, Sé, Thé.
He fechado nos Verbos Dè, Lè,
Sè, Vè, que levaõ Accento Grave;
e nas Particulas De Me Se Te, e no
Relativo Que onde naõ ha Accento.
Da mesma maneira se fecha nos
Monosyllabos que acabaõ em M. Bèm
Cèm, Dèm, Lèm, Nèm, Quèm Sèm,
Tèm, Vèm, onde tambem se poem
Accento Grave.
E pella mesma razaõ nos que se
terminaõ em S ou Z. Dès, Lès, Fèz,
Mèz, Pèz, Rèz, Très, Vèz. Ex-
ceytua-se o nome Numeral Déz, e o
Verbo Quéz que tem Accento Agudo
com E aberto.
Nos nomes de mais syllabas, que
acabaõ em Agudo se pronuncîa E aber-
to. Caffé, Galé, Libré, Maré, Po-
lé. Exceytua-se Porque, onde he fe-
chado.
pág. 30
Tambem se abre na terminaçaõ
em EL. Broquél, Burél, Coronél,
Cayrél, Papél, Paynél, Pincél, Tro-
pél.
Na terminaçaõ em EM naõ se pro-
nuncîa E fechado, mas este soa como
se fora EI. Bellem, Porem, Santarem,
como se estivesse escrito Belleim, Pe-
reim, Santareim.
Torna a ser aberto na terminaçaõ
em ER. Culhér, Mulhér, Talhér,
Sumilhér. Exceytua-se Prazer, Des-
prazer, e os Infinitivos da segunda
Conjugaçaõ Arder, Bater, com al-
guns outros Verbos, em que se sup-
poem Accento Circumflexo.
O nome Caracter ainda que naõ
tem no fim Accento Agudo, naõ dei-
xa de levar E aberto.
Na terminaçaõ em ES, ou EZ, se
pronuncîa E fechado nos nomes Nacio-
naes Francez, Inglez, &c. Da mes-
ma sorte nos nomes Arnez, Entre-
pág. 31
mez, Torquez, Tremez, e nos Pre-
teritos, Desfez, Prefez, Refez.
Exceytuaõ-se os nomes Convéz, e Re-
véz, que levaõ E aberto com Accen-
to Agudo.
Finalmente se pronuncîa E fecha-
do Final, em todas as palavras que naõ
acabaõ em E Agudo. Trave, Leme,
Vide, Bosque, Rude, Bondade, Ta-
pete, Semide, Pagode, Virtude, &c.
I
FAz-se differença de i Vogal a j
Consoante; porem o J grande tem
sempre a mesma figura, ou seja Con-
soante ou Vogal.
Ainda que no I naõ haja a diffe-
rença de Som Aberto, ou Fechado,
com tudo naõ falta que observar sobre
a sua Accentuaçaõ, e quantidade das
syllabas.pág. 32
Quando á Accentuaçaõ as pala-
vras que acabaõ em ID, e IL, levaõ
Accento Circumflexo, como mais lar-
gamente diremos adiante. Davîd, Ma-
drîd, Brazîl, Burîl, Ceytîl, Gentîl,
&c.
Exceytuaõ-se desta regra os Adje-
ctivos Dócil, Fácil, Fértil, Hábil,
Estéril, que levaõ Accento Agudo na
primeira, ou penultima.
As palavras que se terminaõ em
IM tambem levaõ Accento Grave, ou
Circumflexo. Fìm, Mìm, Rìm, Sìm,
Chapîm, Jasmîm, Motîm, Cheru-
bîm, Seraphîm.
Do mesmo modo os nomes em
IR. Nadîr, Ophîr; e os Infinitivos
Rìr, Caîr, Medîr, Ouvîr, Repetîr,
&c.
Assim tambem os nomes em IS,
ou IZ. Matrîz, Perdîz, Vernîz.
Exceytua-se Cáliz, ou Calix, que
tem Accento Agudo na penultima.
pág. 33
Quanto à quantidade das syllabas
he a Vogal I breve ou longa conforme
a natureza das palavras, de que senaõ
póde dar regra certa; pois que achan-
do-se entre as mesmas letras tem mui-
tas vezes differente quantidade, se-
gundo a diversa significaçaõ; como v.
gr. Pánico, de Panicus, e Paníco,
sorte de Pano de linho. Do mesmo
modo Exército de Exercitus, e Exer-
cíto, de Exerceo. Séria, de Serius,
e Sería, de Ser.
Nos nomes que se derivaõ da Lin-
gua Latina, se deve reccorrer á dita
Lingua, para se pronunciarem confor-
me a quantidade que lá tem as pala-
vras. Deste modo pronunciamos Amí-
go, com I longo, porque vem de A-
micus; e Pállido com I breve, porque
vem de Pállidus.
Porem ainda esta mesma regra es-
tá sogeita a muitas exceições, tanto a
respeito dos nomes, como dos Ver-
pág. 34
bos; pois dizemos Gemído com I lon-
go, ainda que venha de Gémitus, e
Destíno com a penultima tambem lon-
ga, ainda que venha de Déstino.
Quanto aos Verbos se póde dizer
que sempre saõ longos em Portuguez,
ainda que sejaõ breves no Latim, como
se verá da lista, que se segue.
VERBOSVERBOS
Portuguezes.
Latinos.
Agíto
de
Agito.
Allucíno
de
Allúcino.
Amplifíco
de
Amplífico.
Anímo
de
A‘nimo.
Annuncío
de
Annúntio.
Anticípo
de
Antícipo.
Applíco
de
A‘pplico.
Arbítro
de
A‘rbitror.
Calumnío
de
Calúmnior.
Comunîco
de
Comúnico.
pág. 35
Comprímo
de
Cómprimo.
Concilío
de
Concílio.
Concíto
de
Cóncito.
Contamíno
de
Contámino.
Dedíco
de
Dédico.
Denuncío
de
Denúntio.
Destíno
de
Déstino.
Dissípo
de
Díssipo.
Domíno
de
Dominor.
Examíno
de
Exámino.
Excíto
de
E‘xcito.
Exímo
de
E‘ximo.
Explíco
de
E‘xplico.
Exprímo
de
E‘xprimo.
Fabríco
de
Fábrico.
Fulmíno
de
Fúlmino.
Glorío
de
Glórior.
Gratifíco
de
Gratificor.
Habíto
de
Hábito.
Hesíto
de
Hésito.
Implíco
de
I‘mplico.
Incíto
de
I‘ncito.
Limíto
de
Límito.
pág. 36
Litígo
de
Lítigo.
Maquíno
de
Máchinor.
Medíto
de
Méditor.
Milíto
de
Mílito.
Mutílo
de
Mútilo.
Negocío
de
Negótior.
Obstíno
de
O‘bstino.
Opprímo
de
Opprimo.
Pacifíco
de
Pacífico.
Palpíto
de
Pálpito.
Particípo
de
Partícipo.
Precipíto
de
Praecípito.
Predestíno
de
Praedéstino.
Prejudíco
de
Praejúdico.
Pronuncío
de
Pronúntio.
Raciocíno
de
Ratíotinor.
Reedifíco
de
Reedífico.
Recíto
de
Récito.
Reconcilío
de
Reconcílio.
Renuncîo
de
Renuntio.
Reprímo
de
Réprimo.
Sacrifíco
de
Sacrífico.
Signifíco
de
Signífico.
pág. 37
Sollicíto
de
Sollícito.
Supplíco
de
Súpplico.
Supprímo
de
Súpprimo.
Termíno
de
Término.
Varío
de
Vário.
Vicío
de
Vítio.
Vomíto
de
Vómito.
O que naõ padece duvida he terem a
penultima longa todos os Participios
da segunda, e terceira conjugaçaõ.
Querído, Sabído, Ouvído, Vestído.
Da mesma sorte tem sempre I lon-
go os Preteritos Fogíra, Sentíra, para
differença dos Futuros Fogirá, Senti-
rá, que tem no fim Accento Agudo.
Tambem he longa a penultima nos
mais tempos. Fogía, Fogiría, Sentía,
Sentiría.
Com a occasiaõ da lista preceden-
te apontaremos tambem aqui alguns
Verbos com as penultimas em A e E,
que sendo breves em Latim, saõ lon-
pág. 38
gos no Portuguez, visto que os naõ
apontamos tratando das ditas Vogaes.
PORT.
LAT.
Aggrávo
de
A‘ggravo.
Altéro
de
A‘ltero.
Celébro
de
Célebro.
Compáro
de
Cómparo.
Considéro
de
Consídero.
Contráho
de
Cóntraho.
Degenéro
de
Degénero.
Delibéro
de
Delíbero.
Exaggéro
de
Exággero.
Exaspéro
de
Exáspero.
Impéro
de
I‘mpero.
Impétro
de
I‘mpetro.
Modéro
de
Módero.
Numéro
de
Número.
Penétro
de
Pénetro.
Prepáro
de
Préparo.
Recupéro
de
Recúpero.
Refrigéro
de
Refrígero.
pág. 39
Regenéro
de
Regénero.
Remunéro
de
Remúnero.
Reverbéro
de
Revérbero.
Repáro
de
Réparo.
Sepáro
de
Séparo.
Supéro
de
Súpero.
Toléro
de
Tólero.
Venéro
de
Véneror.
Vitupéro
de
Vitúpero.
Os Verbos com as penultimas em
O, e U se apontaraõ quando tratar-
mos destas Vogaes.
O
O Na primeira syllaba humas vezes
he fechado, e outras aberto,
conforme as differentes terminações.
Primeiramente he fechado nas ter-
minações em OA, OO, ou sejaõ No-
mes, ou Verbos. Boa, Broa, Doa,
pág. 40
Goa, Loa, Moa, Noa, Roa, Soa, Toa, Voa,
Do-o, Mo-o, Ro-o, So-o, To-o, Vo-o.
Tambem he fechado nas termina-
ções em BA, BO. Loba, Lobo, Bobo.
Exceytua-se o Verbo Dóbo. Mediando
R nas ditas terminações abre-se a Vo-
gal O nos Nomes O‘bra, Cóbra, Dó-
bra, Sóbra, e nos Verbos O‘bro, Có-
bro, Dóbro, Sóbro; màs fecha-se nos
Substantivos Cobro, Dobro, Sobro; e
na proposiçaõ Sobre.
Nas em CA, CO, levaõ O aber-
to os nomes Chóca, Róca, Tróca, Fró-
co; e os Verbos Tóco, Tróco. Excey-
tuaõ-se os nomes Coco, Choco, Troco.
Nas em C,A, C,O, se pronuncîa
O aberto em Cóça, Móça, Róça. Fe-
cha-se porem em Moça, pro Juvencu-
la, Poça, Moço, Poço, Troço.
Do mesmo modo se abre nas em
CHA, CHO. Rócha, Tócha. Tiraõ-
se Mocha, Mocho.
Nas em DA, DO, se encontra O
pág. 41
aberto em Móda, Póda, Róda, Módo,
e nos Verbos Pódo, Ródo. Fecha-se po-
rem em Voda, Rodo, Todo.
Nas em FA, FO, se abre em Mó-
fa; e se fecha em Fofo, Mofo.
Nas em GA, GO, pronuncîa-se
aberto em Bóga, Dróga, Tóga, e nos
Verbos Jógo, Rógo, Vógo. Da mesma
sorte se abre tambem nos Pluraes como
v. g. Fógos, Jógos, Rógos, ainda que
os Singulares Fogo, Jogo, Rogo, te-
nhaõ O fechado.
Mediando a letra R nas ditas ter-
minações leva O aberto Sógra; mas fe-
cha-se em Sogro, e Logro, sendo Sub-
stantivo, porque quando Lógro, he
Verbo, tem O aberto.
Nas em JA, JO, levaõ O fecha-
do Nojo, Tojo.
Pello contrario se abre nas em LA,
LO. Bóla, Cóla, Sóla, Dólo, Pólo.
Tiraõ-se os nomes Bolo, Rolo, Tolo,
Rola.
pág. 42
He fechado nas em LHA, LHO.
Olha, Folha, Polha, Rolha, Olho,
Molho, Solho; e nos Verbos Colho,
Tolho. Exceytuaõ-se os nomes Mólho,
pro Manipulus, e O‘lhos, e Mólhos,
no Plural, com os Verbos O‘lho, Mó-
lho.
Nas terminações em MA, MO,
se fecha esta Vogal em Broma, Goma,
Roma, Gomo, Pomo, Tomo, e em
Como, ou seja Verbo, ou Adverbio.
Abre-se porem no Verbo Tómo.
Nas em NA, NO, se pronuncîa
O fechado em Nona, Tona, Mono,
Nono.
Nas em NHA, NHO, tem O fe-
chado Cronha, Fronha, Ronha, e os
Verbos Ponha, Sonha, Ponho, So-
nho, assim Verbo, como Substantivo.
Nas em PA, PO, se pronuncîa
O aberto em O‘pa, Cópa, Trópa, Có-
po, e no Verbo Tópo. Exceytua-se So-
pa.
pág. 43
Tambem se abre em RA, RO,
nos nomes Hóra, Nóra, e no Adver-
bio Fóra; como tambem nos Verbos
Córo, Chóro, Móro, Chóra, Móra.
Tem porem O fechado o Verbo
Fora, e os nomes Choro, Coro, Go-
ro, Soro, ainda que se abra em alguns
pluraes, como Córos, Góros, Póros,
Tóros, estes dous tambem no Singular
tem O aberto.
Nas em SA, SO, ou ZA, ZO,
he aberto no Verbo Gózo, porem no
Substantivo Gozo, se pronuncîa o O
fechado.
Nas em TA, TO, levaõ O aber-
to os nomes Bóta, Cóta, Nóta, Ró-
ta, quando he hum Tribunal de Ro-
ma, Sóta, e os Verbos Bóto, Cóto,
Nóto, Fróto, e Vóto, ou seja Verbo,
ou Nome. Pello contrario he fechado
em Gota, Goto, e no Adjectivo Rota,
Roto.
Nas em VA, VO, tem O aberto
pág. 44
Cóva, Nóva, Próva, Sóva, Tróva;
e o Verbo Próvo. Levaõ porem O fe-
chado os Singulares Ovo, Novo, Po-
vo, ainda que os Pluraes o tenhaõ
aberto O‘vos, Nóvos, Póvos. Tam-
bem se fecha no Verbo Movo.
Nas em XA, XO, se pronuncîa
O fechado em Coxa, Froxa, Roxa,
Coxo, Froxo, Roxo.
Quanto à terminaçaõ em E tem
primeiramente O aberto os nomes Bó-
de, Bófe, Bróche, Cóffre, Dóte,
Fóme, Lóte, Móte, Nóbre, Póbre,
Póte, Róque, Tópe, Tóque, Tróte,
Zóte. E os Verbos Cólhe, Cóme, Mó-
ve, Tóme, Pòde, sendo presente que
no Preterito tem O aberto.
Da mesma sorte aquelles nomes,
em que a Vogal O he seguida de algu-
ma Consoante na mesma syllaba. Bósque,
Cóldre, Córte de animaes, Fólle, Gólpe,
Mólde, Mólle, Mórte, Nórte, Pór-
te, Pósse, Sórte, Tósse.
pág. 45
Exceytuaõ-se Corte de Principe,
Torpe; como tambem Coche, Odre,
Podre, e a Proposiçaõ Sobre, que le-
vaõ O fechado. Na mesma exceiçaõ
se comprehendem os Nomes, e Ver-
bos em que se segue M, ou N. Conde,
Donde, Ponte, Compre, Ponde, Rom-
pe, Monde, Sonde.
Nas terminações que naõ saõ em
E, sendo a Vogal O da primeira sylla-
ba acompanhada de alguma das letras
L R S, tem som aberto nos nomes Bór-
la, Córda, Cósta, Fórma, Fósca,
Mórna, O‘rta, Pórta, Pósta, Sólfa,
Tórta, e nos Verbos Córto, Fórmo,
Gósto, Móstro, Póstro, Tórno.
Levaõ porem O fechado os nomes
Masculinos Corpo, Corvo, Corro, For-
no, Forro, Golfo, Gosto, Horto,
Mosto, Poldro, Polvo, Porco, Por-
to, Rostro, Soldo, Sorvo, Toldo,
Tordo, Torto. Os Adjectivos Morno,
Morto, Posto: e os Verbos Corro,
pág. 46
Morro, Sorvo. Exceytua-se Bórdo,
que ou seja Verbo, ou Nome, sem-
pre leva O aberto.
Da mesma sorte tem O fechado al-
guns Femininos, como Bolça, Colcha,
Forca, Força, Forma de official, Mos-
ca, Polpa, Rosca, Sorva.
Finalmente se a letra, que se se-
guir à Vogal O na mesma syllaba, for
M, ou N, tambem se pronuncîa O
fechado. Onda, Pomba, Sonda; e as-
sim nos Nomes Masculinos, e nos Ver-
bos.
Geralmente se póde dizer que O
na primeira syllaba he fechado nos No-
mes que tem mais de duas syllabas.
Morada, Cobarde, Corisco, Roteiro,
Sobrado.
Exceytuaõ-se as palavras Córádo,
Mórgádo, Sómente, Cónesia, e pou-
cas outras, que tem Accento Agudo
na primeira syllaba.
Tambem se fecha nas que acabaõ
pág. 47
em algum Accento. Corál, Forál;
Broquél, Tropél, Gomîl, Motîm,
Bolôr, Mogôr, Foráõ, Coraçáõ. Do
mesmo modo nos Verbos Morar, Mo-
tejar, Doer, Promover, Bolir, Pro-
duzir.
O Medio, humas vezes he fecha-
do, e outras aberto, conforme a dif-
ferença das terminações.
Primeiramente nas terminações
em OA, OO, levaõ O fechado, e bre-
ve os nomes E‘goa, Légoa, Mágoa,
Névoa, Nódoa, Póvoa, Régoa, Tá-
boa, Trégoa. Da mesma sorte os Ver-
bos, a que se segue algum artigo. Po-
nho-a, Tenho-o; e os Gerundios Sen-
do-a, Sendo-o.
He porem longo, ainda que fe-
chado, nos nomes Canôa, Forôa, Lei-
tôa, Lisbôa, Podôa; e assim nos Ver-
bos Magôo, Arrezôo, Magôa, Arre-
zôa, e outros semelhantes.
Nas terminações em OBA, OBO,
pág. 48
levaõ O fechado Alcoba, Arroba, Al-
farroba.
Nas em OCA, OCO, se pronun-
cîa O fechado em Bioco, Descoco, e
nos seus Pluraes. He porem aberto em
Barróca, Mandióca, Massaróca; e
nos Verbos Convóco, Deslóco, Destró-
co, Provóco, Retóco Revóco.
Nas em OC,A, OC,O, tem O fe-
chado os nomes Caroço, Destroço, Pes-
coço, Tramoço, Alvoroço, e em al-
guns destes Pluraes, como Destroços,
Alvoroços. Mas abre-se em Caróços,
Pescóços, Tramóços, e no Verbo Des-
tróço.
Nas em OCHA, OCHO, he
aberto em Carócha, Garrócha, e no
Verbo Arrócho, ainda que se feche no
Substantivo.
Nas em ODA, ODO, tem O fe-
chado o Substantivo Engodo; porem
abre-se nos Verbos Engódo, Accomódo,
Desacomódo.
pág. 49
Nas em OFA, OFO, se encon-
tra O fechado em Estofo, e aberto em
Galhófa.
Nas em OGA, OGO, he aberto
em Synagóga, e nos Verbos Affógo,
Desafógo, Revógo; mas fecha-se no
Substantivo Desafogo.
Nas em OYA, OYO, se pronun-
cîa aberto no nome Tramóya, e nos
Verbos Apóyo, Combóyo; fecha-se po-
rem nos nomes Apoyo, Saloyo.
Nas em OJA, OJO, levaõ O fe-
chado os nomes Arrojo, Despojo, En-
tojo; e aberto os Verbos Anójo, Ar-
rójo, Despójo, Entójo.
Nas em OLA, OLO, tem O fe-
chado Cebola, Miolo, Rebolo, Tejolo.
Pello contrario se abre nos nomes An-
góla, Argóla, Bandeyróla, Gali-
nhóla, Santóla, Vióla; e nos Verbos
Assólo, Atólo, Consólo, Viólo. Quan-
to aos Pluraes pronuncia-se O aberto
em Miólos, e fechado em Rebolos,
Tejolos.pág. 50
Nas em OLHA, OLHO, se en-
contra O fechado nos nomes Ferrolho,
Refolho, Repolho; no Feminino Es-
colha, e nos Verbos Escolho, Reco-
lho, &c. Entre os Pluraes levaõ O
aberto Abrólhos, Antólhos, e fecha-
do Ferrolhos, Refolhos, Repolhos.
Nas em OMA, OMO, tem O fe-
chado, Mafoma, Maroma, Redoma,
e o Verbo Engomo.
Nas em ONA, ONO, se fecha a
Vogal O em Atafona, Azeitona,
Mangerona, e Cidade de Ancona.
Tambem he fechado nas em
ONHA, ONHO. Peçonha, Bolonha,
Vergonha, Medonho, Medronho; e
nos Verbos Componho, Deponho, Pro-
ponho, Reponho, Supponho.
Nas em OPA, OPO, leva O fe-
chado Estopa, Cachopo, e aberto no
Plural Cachópos.
Nas em ORA, ORO, se abre nos
nomes Amóra, Demóra, C,amóra,
pág. 51
Espóra: No Adverbio Agóra; e nos
Verbos Aaóro, Descóro, Devóro, De-
móro, Namóro. Fecha-se porem em Se-
nhora, e nos tempos dos Verbos Com-
pora, Propora, Dispora, em lugar
de Compusera. Assim tambem se fecha
nos Femininos de alguns nomes em OR,
fechado, v. g. Falladora, Gritadora,
Contendora, Gastadora, de Fallador,
Grittador, &c.
Do mesmo modo nos Adjectivos
Masculinos Fermoso, Forçozo, Ma-
nhozo, Medrozo, Teimoso, Viçozo.
Porem os Adjectivos Femininos
tem O aberto. Formósa, Forçóza, Me-
dróza, &c. com os seus Pluraes,
como tambem os Pluraes Masculinos
Fermósos, Forçósos, &c. Do mesmo
modo se abre nos Verbos Despózo,
Espózo.
Nas em OTA, OTO, levaõ O fe-
chado os nomes Gafanhoto, Minhoto,
Arroto, Escota. Pello contrario he
pág. 52
aberto em Bolóta, Derróta, Devóta,
Gaivóta; e nos Verbos Denóto, Der-
róto, Arróto, Desbóto, Embóto,
Enxóto, Esgóto.
Nas em OVA, OVO, tem O fe-
chado os nomes Enxova, Escova, e
os Verbos Commovo, Promovo. He po-
rem aberto nos Verbos Appróvo, Com-
próvo, Repróvo, Renóvo.
Nas em OXA, OXO, se encon-
tra O fechado no Nome Pintarroxo, e
no Verbo Afroxo.
Nas palavras que acabaõ em E
humas vezes se acha O aberto, como
em Batoque, Bigóde, Capóte, Galó-
pe, Garróte, Magóte, Pagóde, Estó-
que, Remóque.
Outras vezes fechado como em
Adobe, Arrobe.
Tambem se fecha nos Pluraes dos
Nomes em OR, com O fechado no Sin-
gular, como Assores, ou Açores,
Horrores, Lavores, Tambores, Ter-
pág. 53
rores, de Açôr, Horrôr, Lavôr,
Tambôr, e Terrôr.
Porem nos Pluraes dos nomes em
OR, com O aberto, se abre tambem
a dita Vogal. Mayóres, Menóres, Suó-
res, de Mayór, Menór, Suór.
Quando a Vogal O Media he se-
guida de alguma das letras L R S, na
mesma syllaba, pronuncîa-se aberta
nos Nomes Amóstra, Apósta, Bigór-
na, Escólta, Escórva, Refórma,
Albórque, Confórme, Consórte, Enór-
me, Desórdem.
Da mesma sorte nos Verbos Abór-
do, Apórto, Apósto, Confórto, De-
zembólço, Desgósto, Embólço, En-
fórco, Confórto, Confórmo, Engólfo,
Entórno, Esfórço, Escórvo, Estór-
vo, Refórço, Refórmo, Tresbórdo.
He porem fechado nos nomes Ca-
chorra, Lagosta, Madorna, Mas-
morra, Pachorra, Aborto, Absolto,
Absorto, Cachorro, Composto, Con-
pág. 54
forto, Contorno, Dezembolço, Des-
gosto, Disposto, Embolço, Encosto,
Esforço, Estorvo, Reforço, Reposto,
Soccorro.
Da mesma sorte se fecha em al-
guns Verbos, como Absolvo, Dis-
solvo, Resolvo, Reccorro, Soccorro.
Tambem he fechado se a letra que se
seguir à Vogal O na mesma syllaba,
for M, ou N, Confronto, Engonço,
Encontro, Escondo, Esconço, Re-
dondo.
Algumas vezes succede ser fecha-
da a Vogal O Media, porque he bre-
ve a tal syllaba, como em A‘ncora,
A‘rvore, A‘tomo, Apóstolo, Bácoro,
Cómmodo, Góndola, Pérola, Pólvo-
ra, Rémora, Tábola, Témporas, Vés-
poras, Sy‘mbolo, Sy‘nodo.
No particular da Quantidade da Vo-
gal O se deve observar, q? ha varios Ver-
bos em Portuguez, a tem longa, ainda
que no Latim, donde se derivaõ, a te-
pág. 55
nhaõ breve, como succede entre ou-
tros nos seguintes.PORT.
LAT.
Accomódo
de
Accómodo.
Arrógo
de
A‘rrogo.
Avóco
de
A‘voco.
Collóco
de
Cólloco.
Convóco
de
Cónvoco.
Denóto
de
Dénoto.
Immólo
de
I‘mmolo.
Incommódo
de
Incómmodo.
Incorpóro
de
Incórporo.
Innóvo
de
I‘nnovo.
Interrógo
de
Intérrogo.
Prorógo
de
Prórogo.
Provóco
de
Próvoco.
Revóco
de
Révoco.
Viólo
de
Víolo.
O Final pronuncîa-se aberto nos
Monosyllabos que levaõ Accento Agu-
do, como Dó, Ló, Mó, Nó, Pó, Só.pág. 56
Da mesma sorte nos que acabaõ
em Consoante, com tanto que tenhaõ
o mesmo Accento Agudo. Cór pro Me-
moria, Cóz, Fóz, Ról, Sól, Vóz:
nos Pronomes Nós, Vós, no Compa-
rativo Mór, e finalmente nos Pluraes
dos nomes acima.
Naõ levando Accento Agudo se
pronuncîa O fechado, como nas par-
ticulas Do, No, To, Dos, Nos, Tos:
em Bom, Dom, Som, Tom: em Cor
pro Colore, Dor, Flor; e nos Ver-
bos For, Por, Poz.
Nos Nomes de mais syllabas ha-
vendo Accento Agudo se pronuncîa O
aberto. Filhó, Pharaó, Teiró, Ventó.
Tambem se abre nos Nomes em
OL. Caracól, Faról, Girasól, Lan-
çól, Rouxinól, Tiról.
Pello contrario os que acabaõ em
OR, tem ordinariamente O fechado.
Amôr, Ardôr, Pudôr, Pendôr, Ca-
lôr, Favôr, Sabôr, Lavôr, Pavôr,
pág. 57
Senhôr, Directôr, &c. Assim tambem
os Infinitivos Compôr, Depôr, Oppôr,
Suppôr, Repôr, Transpôr.
Exceytuaõ-se desta regra os Com-
parativos Mayór, Menór, Peór, e o
Nome Suór, que levaõ O aberto.
Nas terminações em OS, ou OZ,
tem O aberto os nomes Atróz, Cadóz,
Feróz, Retróz, Albernóz, Badajós.
He porem fechado em Algôz, Arrôz,
e nos Preteritos Compôz, Depôz,
Dispôz, Expôz, Suppôz, &c.
Finalmente se pronuncîa O fecha-
do no fim de todas as palavras que naõ
levaõ algum Accento. Fado, Perto,
Fisco, Porto, Rumo, Estado, Espe-
lho, Vestido, Despojo, Repuxo.pág. 58
U
A Vogal U, tem differente figura
do V Consoante, excepto nas le-
tras Maiusculas, em que sempre se
uza de V. Advirtaõ os Francezes, que
o som desta Vogal he o mesmo que el-
les daõ ao seu Ditongo OU.
Quanto á Accentuaçaõ, naõ ad-
mitte Accento Agudo, por naõ poder
pronuncîar-se com tom aberto, como
tambem succede à Vogal I; e assim leva
Accento Grave, ou Circumflexo,
conforme a natureza das syllabas.
Tem lugar primeiramente nos
Monosyllabos Cru, Mu, Tu, Cruz,
Crus, Hum, Huns, Luz, Mus,
Nus, Puz, Sul.
Nos nomes de mais syllabas que
acabaõ em U puro, como Pégû, Pe-
rû.pág. 59
Na terminaçaõ em UL, como
Azûl, Báûl, Paûl, Tafûl. Exceytua-
se Consul, que carece totalmente de
Accento na ultima syllaba.
Na terminaçaõ em UM, Algûm,
Jejûm, Nenhûm, e nos seus Pluraes.
Na em US, ou UZ, Alcaçûz,
Alcatrûz, Arcabûz, Capûz, Ormûz.
Da mesma sorte nos Preteritos da
quarta Conjugaçaõ: Compûz, Dis-
pûz, Repûz, Pospûz, Transpûz.
Quanto à quantidade a Vogal U
he quasi sempre longa, excepto nas
palavras, que vem do Grego, ou do
Latim, e nellas succede serem breves,
como as seguintes.
Angulo
Arduo
Assiduo
Capitulo
Circulo
Credulo
Cumulo
Fatuo
Lugubre
Obstaculo
Oculo
Oraculo
Posthumo
Purpura
Regulo
Seculo
Vestibulo
Vocabulo.
pág. 60
Deve-se porem observar nesta
exceyçaõ, que ainda muitas vezes suc-
cede terem syllaba longa em Portu-
guez algumas palavras, que a tinhaõ
breve em Latim. Assim se pronuncîa
Refúgo, e Regúlo, com a penultima
longa, ainda que venhaõ de Refugus,
e de Regula, que a tem breve. Sobre
tudo se pronuncîaõ longos em Portu-
guez varios Verbos, que em Latim
tem a Penultima breve, sem alguma
alteraçaõ de letras, como se vè da li-
sta seguinte.
PORT.
LAT.
Accumúlo
de
Accúmulo.
Attenúo
de
Atténuo.
Attribúo
de
Attríbuo.
Argúo
de
A‘rguo.
Augúro
de
A‘uguro.
Coagúlo
de
Coágulo.
Compúto
de
Computo.
pág. 61
Congratúlo
de
Congratulor
Constitúo
de
Constituo.
Constrúo
de
Cónstruo.
Continúo
de
Contínuo.
Contribúo
de
Contríbuo.
Cumúlo
de
Cumulo.
Depúto
de
Députo.
Destrúo
de
Déstruo.
Dispúto
de
Dísputo.
Dissimúlo
de
Dissímulo.
Distribúo
de
Distríbuo.
Edúco
de
E‘duco.
Especúlo
de
Spéculor.
Estimúlo
de
Stímulo.
Extenúo
de
Exténuo.
Insinúo
de
Insínuo.
Institúo
de
Instítuo.
Instrúo
de
ínstruo.
Macúlo
de
Máculo.
Occúpo
de
O‘ccupo.
Perpetúo
de
Perpétuo.
Postúlo
de
Póstulo.
Preoccúpo
de
Preóccupo.
pág. 62
Repúto
de
Réputo.
Restitúo
de
Restítuo.
Suppúto
de
Súpputo.
Y
ESta Vogal he tomada dos Gregos,
entre os quaes tinha o mesmo tom
que a Vogal U dos Francezes; porem
tanto no Latim, como na mayor parte
das Linguas vulgares se lhe dá o som
da vogal I.
Tem toda a força de letra Vogal
nas palavras tiradas do Grego, como
Abysmo, Estylo, Mysterio, Symbolo,
Synodo, Syllaba. Em outros lugares
naõ tem bastante força para formar
syllaba á parte; e por isso se poem
antes ou depois de outra Vogal.
Y Inicial servindo de primeira le-
tra nos nomes, ainda que se encon-
tre muitas vezes nas Linguas France-
pág. 63
za, e Ingleza, naõ tem lugar na Por-
tugueza, salvo em alguns Nomes Es-
trangeiros Geographicos, como Ye-
pes em Castella a Nova, Ygualada
em Catalunha, YorcK em Inglaterra,
Yviça no Mediterraneo, e Yvoix no
Luxembaug Francez.
Y Medio se encontra primeira-
mente no meyo de muitos nomes aca-
bados em A, como Faya, Raya, Al-
faya, Meya, Teya, Alheya, Boya,
Troya, Tramoya, Tapuya.
Da mesma sorte nos Nomes em O.
Mayo, Rayo, Balayo, Freyo, Meyo,
Alheyo, Moyo, Apoyo, Saloyo. E
nos Verbos Cayo, Sayo, Veyo, Con-
veyo, Apóyo, Combóyo; como tam-
bem nos tempos a que se segue algum
Artigo: Day-o, Dey-o, Foy-o, Fuy-o,
Callay-o, Dizey-o, &c.
Finalmente em muitos outros No-
mes, e Verbos de differentes termi-
nações. Alfayate, Alvayade, Payol,
pág. 64
Mayor, Mayores, Cayado, Cayar,
Rayar, Comboyar, Desmayar.
Algumas vezes uza tambem o Pa-
dre Vieira de Y no comparativo Peyor,
Peyores; supposto que em outras oc-
casiões escreve Peór, Peóres.
Varios Autores se servem tambem
de Y medio nas palavras Almeyda,
Ferreyra, Parreyra, Roseyra, Cra-
veyro, Primeyro, Terceyro, Feyçaõ,
Eleyçaõ, Gayta, Rayva, Heytor,
Eleytor; Fleyma, Peyta, Teyma,
Coyma, Noyva, Aypo, Rayvo, Say-
bo, Geyto, Pleyto, Ceytil, &c. Mas
o Padre Vieira usa nestas palavras de I
latino.
Mayor necessidade ha da Vogal Y
para estabelecer algumas regras em or-
dem á Orthographia de varias palavras
em EA, e EO, a fim de saber quando
saõ Verbos, e quando saõ Nomes; e
ainda para distinguir os tempos dos
mesmos Verbos, e evitar por este mo-
pág. 65
do muitos equivocos na Lingua.
Em primeiro lugar parece preciso
o uso do Y Grego no meyo das pala-
vras em EA, ou sejaõ de duas sylla-
bas, como Cea, Mea, Pea, ou de
trez, como Area, para se conhecer
quando saõ Nomes, e quando saõ ter-
ceiras pessoas dos Indicativos.
Em segundo lugar nas palavras em
EO, ou tambem sejaõ de duas sylla-
bas, como Creo, Leo, ou de trez,
como Passeo, Receo, para evitar dif-
ferentes equivocos,
Supposta a necessidade que ha de
usar da Vogal Y para o effeito que
dissemos, entra a grande difficulda-
de de saber quando he que se deve
usar da dita Vogal, se na escrittura
dos Nomes, se na dos Verbos; e esta
he tanto mayor, quanto he varia a
Orthographia de que se servem os nos-
sos Authores.
Havendo de dar alguma regra ne-
pág. 66
sta materia, fora de parecer, que em
ambas as sobreditas terminações se pu-
zesse Y nos Verbos, e se supprimisse
nos Nomes; e que nesta forma se es-
crevesse Elle ceya, Elle peya, Elle
areya; e pello contrario Huma cea,
Huma pea, Huma area.
Da mesma sorte Eu creyo, Eu
leyo, para differença dos Preteritos
Elle creo, Elle leo: como tambem
Eu galanteyo, Eu passeyo, Eu rodeyo,
para differença dos nomes Hum galan-
teo, Hum passeo, Hum rodeo.
Com esta Orthographia se pode-
raõ distinguir facilmente os Verbos em
EO, naõ só dos Nomes acima aponta-
dos, para evitar equivocos, mas de
outros Substantivos, que levaõ diton-
go de EO, com E fechado, como saõ
Borneo, Hebreo, Orpheo, Phariseo,
Theseo; e daquelles em que o E se pro-
nuncîa aberto, como em Arpéo, Cha-
péo, Mantéo, Pygméo.
pág. 67
Tambem se differençaráõ facil-
mente dos preteritos Ardeo, Morreo,
Escureceo, Estendeo; Supposto que os
ditos Preteritos se poderiaõ tambem
distinguir escrevendo-se com U no fim,
visto que o som da Vogal O he nelles
muy escuro: Ardeu, Morreu, Escu-
receu, Estendeu.
As razões que me persuadem a se-
guir o methodo proposto, saõ as que
aqui aponto.
A primeira para observar o mais
que he possivel a mesma ordem de Or-
thographia; porque se na terminaçaõ
em EA senaõ escrevem os nomes com
Y Grego; ainda que levem algum I na
pronuncia, como Balea, Cadea, que
se lem Baleya, Cadeya: que razaõ pó-
de haver para que na terminaçaõ em
EO, que lhe he taõ semelhante, naõ
tenhaõ os nomes a mesma Orthogra-
phia? Por este modo devem ser os no-
mes Passeo, Rodeo, os que careçaõ
pág. 68
de Y na escrittura, deixando-o para
os Verbos Eu passeyo, Eu rodeyo.
A segunda porque parece indis-
pensavel uzar-se de Y nos presentes
dos Verbos Eu creyo, Eu leyo; para
differença dos Preteritos Elle creo,
Elle leo, senaõ he que se escrevaõ
Creu, Leu. Da mesma sorte he preci-
so no Preterito Veyo (como escreve o
Padre Vieira) para differença do Sub-
stantivo Véo. Nestes termos para ob-
servar a mesma Orthographia se de-
vem tambem escrever com Y os pre-
sentes dos Verbos Eu passeyo, Eu ro-
deyo, tirando-o dos Nomes Hum pas-
seo, Hum rodeo.
A terceira particularmente em or-
dem aos Nomes de duas syllabas em
EA; porque com esta Orthographia
se assemelhaõ mais ao Latim de que se
derivaõ; como v. g. Cea, Tea, Vea,
que ficaõ mais semelhantes a Cœna,
Tela, Vena, do que se tivessem Y
pág. 69
no meyo: Ceya, Teya, Veya.
Porem assim como ha estes fun-
damentos para se usar de Y nos Ver-
bos, tambem se offerecem razões
muy fortes em contrario.
Huma he que naõ só nas Linguas
Primitivas, como a Hebraica, e a
Grega, mas ainda nas Vulgares saõ os
Verbos de ordinario compostos de me-
nos syllabas do que os nomes, pois lhe
servem de raizes; logo parece ser
contra esta regra taõ geral escreve-
rem-se os Verbos com mais letras do
que os nomes; e assim se deverá sup-
primir o Y nos Verbos.
Esta objecçaõ que he de muita
força, naõ deixa de ter reposta; e he
que supposto que pello uso geral faõ
os Verbos mais simples do que os No-
mes, e por isso levaõ menos letras;
com tudo por huma exceiçaõ de re-
gra succede algumas vezes o contra-
rio, como vemos nos nomes Desdem,
pág. 70
Feiçaõ, Tom, Sabaõ, os quaes tem
menos letras, e syllabas do que os
Verbos, Desdenhar, Afeiçoar, En-
toar, Ensaboar. O mesmo póde tam-
bem succeder por particular excei-
çaõ de regra nos Nomes Passeo, Ro-
deo, levando mais letras os Verbos
Eu passeyo, Eu rodeyo, ainda que naõ
tenhaõ mais syllabas.
A outra objecçaõ he, que escre-
vendo-se os Nomes Passeo, Rodeo,
sem ypsilon, se confundem com a ter-
minaçaõ de outros Nomes, como Bor-
neo, Judeo; mas a isto respondemos
que he muito mais necessario distin-
guir os Nomes dos Verbos, do que
huns Nomes dos outros Nomes; e as-
sim he melhor escrever Eu rodeyo,
do que Eu rodeo, porque se evita hu-
ma mayor equivocaçaõ.
Desta regra geral se devem excei-
tuar os dous Nomes Meyo, e Meya,
os quaes pódem ser escrîtos com Y,
pág. 71
visto que se derivaõ de Medium, e
Media, em que se encontra hum I,
ainda que Latino; o qual conforme o
que acima dissemos, se muda em Y Gre-
go no meyo de outras Vogaes.
Tambem se póde exceituar o No-
me Correo pro Tabellarius, escreven-
do-se Correyo, para differença do Pre-
terito Correo Cucurrit, no caso que
senaõ escreva antes Correu.
Y Final, usa-se nos Monosyllabos
Pay, Mãy, Grey, Ley, Rey, Boy,
Muy, Tuy. Do mesmo modo no Pro-
nome Sy, na Interjeiçaõ Ay, e nos
Pluraes dos nomes acima: Pays, Mãys,
Reys, &c. Tambem serve nos Verbos
de huma só syllaba: Day, Vay, Dey,
Foy, Fuy.
Deve-se usar do mesmo modo de-
sta Vogal em alguns Nomes de mais
syllabas, como Comboy: nos Preteri-
tos da primeira Conjugaçaõ: Amey,
Falley: nos Futuros de todas as Con-
pág. 72
jugações: Amarey, Lerey, Ouvirey,
Porey; e em varios Imperativos, A-
may, Fallay, Dizey, Fazey.
_______________________________________
CAPITULO III.
Da Pronuncia das Con-
soantes.
ADvirta-se em primeiro lugar, que
na pronuncia Portugueza senaõ
supprimem Consoantes simples, mas
lem-se os Nomes com todas as letras
com que se escrevem; o que he muy
necessario aos Inglezes, e Francezes,
que apprendem o Portuguez.
Advirta-se em segundo lugar que
as Letras Dobradas senaõ pronunciaõ
com mais força do que as Singelas, ex-
pág. 73
cepto os dous CC, dous RR, e dous
SS, que requerem dobrada força,
como v. g. Accesso, Accessorio, Amar-
ra, Catarro, Assalto, Amasso, que
senaõ devem pronunciar Aceso, Aceso-
rio, Amara, Cataro, Asalto, Ama-
so. Sendo porem geral esta regra para
os RR, e SS, dobrados, senaõ veri-
fica sempre nos CC, antes fora viciosa
affectaçaõ carregar nelles em varias pa-
lavras.
Advirta-se em terceiro lugar que
as letras Consoantes, em que compre-
hendemos as Liquidas, tomadas sepa-
radamente, tem quasi a mesma força,
que nas outras Linguas; e assim neste
Capitulo só trataremos daquellas que
tem alguma differença essencial, e da
uniaõ de algumas Consoantes entre si.
pág. 74
Ç
ESta letra tem força de dous SS, e
só se poem antes das Vogaes
A O U, tanto no principio, como no
meyo das palavras. C,afra, C,arça,
Moço, Poço, C,ujo, Açulo.
A grande difficuldade consiste em
saber quando devemos usar de C, ou de
dous SS, e ainda de hum só S, visto te-
rem estas letras muitas vezes a mesma
força. Nesta materia nos parece, que
devemos reccorrer ás régras seguintes,
considerando as palavras, ou como de-
rivadas do Latim, ou como Portugue-
zas de natureza.
Se as palavras forem derivadas do
Latim, e ali tiverem dous SS, escre-
verse-haõ tambem com dous SS no Por-
tuguez, e naõ com C,. Deste modo
pág. 75
escrevemos Massa, e naõ Maça, por-
que vem do Latim Massa: Passo, e naõ
Paço, porque vem do Latim Passus:
Posso, e naõ Poço, porque vem do
Latim Possum.
A mesma regra se terá para saber
quando se deve usar de S singelo, ou
de C,. Escreva-se Consul, e naõ Conçul;
Satisfazer, e naõ C,atisfazer; Ver-
so, e naõ Verço, porque vem do La-
tim Consul, Satisfacio, e Versus.
Da mesma sorte se escreveráõ
com S as palavras Sabáõ, Saber, Sa-
cerdocio, Sacramento, Sacrificio, Sa-
lario, Salto, Salvo, Sangrar, San-
to, Saude, Sermaõ, Serviço, Sétta,
Singular, Simples, Somno, Sorte,
Suggestaõ, Supplicar, e outras mui-
tas, visto que se derivaõ do Latim.
Quando as palavras se escrevem
em Latim com C, tambem conservaõ
C ou C, no Portuguez; ou seja no prin-
cipio, ou no meyo das ditas palavras.
pág. 76
Cebola de Cepa: Cegonha de Ciconia:
Cereja de Cerasus: Certeza de Certi-
tudo: Creço de Cresco: Cisne de Cig-
nus: Façanha de Facinus: Faço de
Facio: Lança de Lancea: Rançoso de
Ranciàus: Recebo de Recipio, &c.
Escrevendo-se em Latim com CP,
levaõ C, no Portuguez; porem com
esta differença, que humas vezes per-
dem o P como v. g. Conceyçaõ de Con-
ceptio, transformando-o em Y; e ou-
tras vezes o conservaõ, como em Adop-
çaõ de Adoptio, e Percepçaõ de Percep-
tio.
Tendo em Latim CT, tomaõ C, no
Portuguez: Affeyçaõ de Affectio; Con-
feyçaõ de Confectio; Exacçaõ de Exa-
ctio; Dicçaõ de Dictio; Ficçaõ de Fi-
ctio; e Protecçaõ de Protectio.
Algumas vezes succede mudarse o
Q Latino em C, no Portuguez: Laço
de Laqueus: outras vezes em C: Cin-
co de Quinque; Licor de Liquor.
pág. 77
Muy ordinariamente se converte
tambem o T Latino em C, no Portu-
guez. Destroço de Destructus; Graça
de Gratia; Espaço de Spatium; Mar-
ço de Martius; Peço de Peto; Poço de
Puteus; Preço de Pretium; Presença
de Praesentia; Opposiçaõ de Oppositio;
Preparaçaõ de Praeparatio; Paço de
Palatium; Soluçaõ de Solutio; Traí-
çaõ de Traditio.
Se as palavras forem originaria-
mente Portuguezas, ou ao menos esti-
ver remota a sua dirivaçaõ do Latim,
levaõ C, e naõ dous SS em varias ter-
minações.
Nas em AC,A, EC,A, IC,A,
OC,A, UC,A. Ameaça, Cabeça, Se-
diça, Carroça, Carapuça.
Nas em AC,O, EC,O, IC,O,
OC,O, UC,O. Engaço, Tropeço, Car-
riço, Pescoço, Rebuço.
Nas em ANC,A, ENC,A, IN-
C,A, ONC,A, UNC,A. Fiança, A-
pág. 78
vença, Desinça, Gerigonça, Junça.
Nas em ANC,O, ENC,O, IN-
C,O, ONC,O, UNC,O. Descanço,
Lenço, Painço, Esconço.
Nas em ARC,A, ERC,A, IRC,A,
ORC,A, URC,A. Farça, Verça, Cor-
ça, Camurça.
Finalmente nas em ARC,O, e
ORC,O. Cadarço, Camarço, Esforço,
Reforço.
A difficuldade que ha na Ortho-
graphia da letra C, nos obriga a por
aqui duas Listas, huma das palavras
mais commuas, que começaõ por C,
e outra das que o tem no meyo.
Palavras com C, inicial.
C,abujo
C,afar
C,afaro
C,afo
C,afra
C,anefa
C,apato
C,apo
C,arapatel
C,arça
C,ujar
C,ujo
C,umagre
C,umarento
C,umo
pág. 79
C,urra
C,urraõ
C,urriada.
Palavras com C, medio, ou
Final.
Abafadiço
Abraçar
Aço
Acoçar
Açougue
Açoute
Açude
Açular
Adelgaço
Adereço
Adormeço
Alagadiço
Alçada
Alcançar
Almofaça
Alvoroço
Amanheço
Ameaço
Anouteço
Appareço
Apreço
Arrefeço
Atiço.
Baço
Bagaço
Baraço
Boçal
Bolça.
Cabeça
Caça
Caçar
Camurça
Caniço
Careço
Caroço
Castiçal
Castiço
Chaça
Chouriço
Cobiça
Coça
Coçar
Condeça
Corço
Corrediça
Crença.
Derriçar
Disfarçar
Devaça.
Doença.
Eça
pág. 80
Embaçar
Embaraçar
Emboçar
Embolçar
Embuçar
Encabeçar
Encareço
Engaço
Engonço
Enguiço
Escaço
Esconço
Esforço.
Fataça
Feitiço
Feneço
Ferçura
Força
Forçado.
Garça.
Inchaço.
Laçada
Lançado
Lançar
Louça.
Maçãa
Maço
Madraço
Meço
Moça
Moço.
Ouriço.
Painço,
Pareço
Passadiço
Peça
Peçonha
Pedaço
Pescoço
Pigarça.
Poça
Praça.
Raça
Ranço
Roça
Roçar
Rebuço
Rechaçar
Reforço
Regaço.
Sédiço
Serviçal
Soçobrar
Sumiço.
Taça
Traçado
Tramoço
Traça
Teço
Terçaã
Troço
Tropeço.
Viçoso.
Accrescentaremos às listas prece-
pág. 81
dentes outra (como exceiçaõ de Re-
gra) de varias palavras, as quaes por
naõ serem derivadas do Latim, ou por
estarem muy alteradas, parecia que
deviaõ levar C, , com tudo o uso as
faz escrever com S.
Sacar
Sacada
Sair
Saida,
Sacudir
Sala
Salpicar
Salpico
Saloyo
Sapo
Saquear
Sarayva
Saudade
Savel
Saya
Sédiço
Sigano
Siza
Sizo
Soldado
Solho
Sombra
Sombrio
Sonda
Sondar
Sumilher, &c.
G
NEsta letra ha alguma difficuldade
a respeito da syllaba GE, que
se equivóca com JE formando o mes-
mo som.pág. 82
A regra será reccorrer aos nomes
Latinos, ou Gregos, quando delles
se derivarem as palavras Portuguezas;
e tendo G nas dittas linguas, o leva-
ráõ tambem na nossa.
Deste modo escrevemos com G
Confranger, Congelar, Constranger,
Degenerar, Engenho, Gemer, Gemi-
do, Genero, Genro, Gente, Géraçaõ
Gesto, Regelo, Tanger, porque vem
de Confringo, Congelo, Constringo,
Degenero, Ingenium, Gemo, Gemi-
tus, Generalis, Gener, Gens, Ge-
neratio, Gestus, ???????, e Tango.
Pello contrario levando as pala-
vras I ou J no Latim se escreveraõ
em Portuguez na mesma forma. Adje-
ctivo, Conjectura, Jejum, Jenella,
ou Janella, Interjeiçaõ, Projecçaõ,
Projecto, Rejeito; porque vem de Ad-
jectivus, Conjectura, Jejunium, Ja-
nua, Interjectio, Projectio, Proje-
ctus, e Rejicio.
pág. 83
Naõ deixa porém de haver algu-
mas palavras puramente Portuguezas,
que tambem se escrevem com GE,
como v. g. Engeitar, Geada, Geito,
Gema de Ovo, Gerigonça, Lagedo,
Lagem, Ligeiro, Ligeireza. Nestes
termos o fim da regra acima naõ he re-
gular todas as palavras, que devem le-
var GE, se naõ advertir, que aquel-
las, que em Latim tiverem G, se haõ
de escrever tambem com elle no Por-
tuguez.
Como tambem póde haver algu-
ma duvida sobre as syllabas GI, e JI,
ainda que mais facil de resolver, naõ
deixaremos de apontar a regra seguin-
te.
Todas as vezes que as Palavras ti-
verem GI no Latim, se haõ de escre-
ver em Portuguez com as mesmas le-
tras, e naõ com JI. Agilidade, Agi-
taçaõ, Fragil, Fugitivo, Legiaõ, Le-
gitimo, Logica, Magica, Pagina, Re-
pág. 84
giaõ, Tragico, Vigiar; porque vem de
Agilitas, Agitatio, Fragilis, Fugitivus,
Legio, Legitimus, Logica, Magica,
Pagina, Regio, &c.
Da mesma sorte os Verbos, Cin-
gir, Fingir, Frigir, Tingir, Ungir,
porque vem de Cingo, Fingo, Frigo,
Tingo, Ungo.
Finalmente o G he proprio da
terminaçaõ em GE puro, como v. g.
nos nomes Monge, Alfange, Orange;
e nos Verbos Tange, Frege, Finge,
Vnge, Confrange, Constrange.
Assim tambem das terminaçoens
em AGEM, IGEM, UGEM. Baga-
gem, Ferragem, Impigem, Verti-
gem, Ferrugem, Penugem.
Quanto ao encontro da letra G
com a vogal U, humas vezes fere a
ditta vogal, e outras se perde de to-
do.
Fére a Vogal U na syllaba GUA,
soando estas vogaes ambas assim no
pág. 85
principio, como no meyo das palavras
Gualde, Guarda, Guarnecer, Guare-
cer, Agua, Aguada, Igual, Desigual.
Nas syllabas GUE, GUI, GUO
ordinariamente se perde o U, como
em Guerra, Guerreiro, Guia, Guin-
dar, Alguidar, Extinguir. Excei-
tuaõ-se Pingue, Sanguinidade, San-
guinolento, Contiguo, e algumas ou-
tras.
H
O H na lingua Portugueza naõ he
Aspiraçaõ aspera, como em va-
rias linguas do Norte, e ainda na Fran-
ceza nas palavras Hardes, Hardy, Ha-
zard, e outras; antes sempre he sua-
ve, naõ pondo força alguma na vogal,
que se lhe segue.
Deixando a Joaõ Franco Barreto a
gloria de copiar com cançada curiosi-
pág. 86
dade tudo, o que Diomedes, Aulo Gel-
lio, Quintiliano, e Prisciano differaõ
do H, de que se naõ segue utilidade
alguma para a lingua Portugueza, as-
sentamos que o ditto H tem dous usos
nesta lingua; pois humas vezes serve
de Simplez Aspiraçaõ, e outras de le-
tra.
Serve o H de Aspiraçaõ branda
nos principios dos nomes Harpa, He-
rança, Herdade, Historia, Hombro,
Homicidio, Honesto: nos verbos Ha-
ver, Honrar, Hospedar; nos adver-
bios Hoje, Hontem; e em muitas ou-
tras palavras, tiradas do Grego, ou do
Latim. Nellas se deve usar da tal As-
piraçaõ, ainda que seja contra o pare-
cer de Joaõ Franco Barreto, que nos
prohibe escrever Homem, Humilde,
Humor, senaõ Omem, Umilde, Umor.
O mesmo se ha de guardar em Hum,
e Huma; porque supposto que Unus
em Latim naõ tenha a dita aspiraçaõ;
pág. 87
com tudo o mesmo Vnus vem do Gre-
go ????, que leva hum espirito as-
pero, como se vè na tal palavra.
Usa-se tambem da Aspiraçaõ H
no meyo de muitas palavras, como
Deshonra, Deshonesto, Exhalar, Ex-
hibir, Inhibir, Prohibir, Compre-
hender, Reprehender, Vehemente,
Vehiculo.
Confirma-se esta Orthographia
com os exemplos de muitos Manus-
crittos Originaes antigos, e dos li-
vros de mais antiga impressaõ, como
v. g. varios Regimentos delRey Dom
Manoel, impressos em Lisboa no an-
no de 1514. As nossas Ordenaçoens im-
pressas no anno de 1521. As Consti-
tuiçoens de Lisboa do Cardeal Dom
Affonso, impressas em 1537. A infor-
maçaõ das terras do Preste Joaõ por
Francisco Alvares em Lisboa no anno
de 1540. Os Commentarios de Affon-
so de Albuquerque em 1576. Final-
pág. 88
mente esta mesma Orthographia segui-
raõ Joaõ de Barros nas suas Decadas:
Fr. Bernardo de Brito nas suas Monar-
quias, e o P. Antonio Vieira em todas
as suas obras.
A‘lem disto serve o H de Aspira-
çaõ nos nomes, que levaõ CH,
PH, RH, e TH; como v. g. Christo,
Chronica, Archanjo, Phrase, Phre-
nesì, Physica, Philosophia, Ortho-
graphia, Rhetorica, Rheumatismo,
Rhodes, Theatro, Thema, Thesouro,
Theologia, Mathematica, &c. Os
quaes nomes saõ originariamente Gre-
gos; e nelles sustenta o H naõ a for-
ça das letras ? ch, ? ph, ? rh,
? th, mas a differença da Escrittura
por letras simples. He bem verdade,
que entre os nomes, que levaõ CH ha
muitos, em que o H naõ he Aspiraçaõ,
senaõ Letra, como logo veremos.
A força da derivaçaõ pede, que to-
dos estes nomes se escrevaõ com le-
pág. 89
tras aspiradas; naõ deixa porém de ha-
ver exemplos de bons Autores, que
saõ de parecer differente.
O mais que pude observar nas
obras do Padre Antonio Vieira he, que
elle pella mayor parte usa de letras
com aspiraçaõ, e se serve do H.
No tocante a CH escreve Ar-
chanjo, Cherubim, Chimera, Choro-
graphia, Christo, Chronica, Machi-
na, Monarchia, Sepulchro; e ainda
Anchora, como se vè na 3. Parte dos
seus Sermoens, pag. 14.
Quanto a PH naõ usa tanto de
Aspiraçaõ; e muitas vezes escreve:
Anfiteatro, Blasfemia, Filippe, Fi-
losofo, Proféta, Triunfo.
A respeito de RH, e TH usa
muito da Aspiraçaõ, e assim escreve
Rhetorica, Rhodes, Authoridade, Bar-
tholomeu, Catherina, Matheos, Ma-
thias, Thomàs, Thomè, Theologia,
Thesouro, Throno.
pág. 90
A alguns parece, que se deve usar
da Aspiraçaõ H no meyo de certos
tempos de varios Verbos, para mostrar
que alli se forma alguma syllaba à
parte, como v. g. em Cahia, Cahiria,
Dohia, Dohiria, Concluhia, Conclu-
hiria, Mohia, Mohiria; porque
achando-se tres Vogaes juntas, póde
haver algum equivoco, principal-
mente em Caia ignorando-se se he o
Imperfeito do Indicativo Cadebat,
se a terceira pessoa do Imperativo Ca-
dat.
Porém o verdadeiro modo de pre-
venir este inconveniente seria usar de
dous pontos sobre a Vogal, que deve
fazer syllaba à parte, como costumaõ
os Francezes nas palavras, em que se
evîta o Ditongo, v. g. em Païsant,
que fica de tres syllabas, e em Païsa-
ge, que fica de quatro. Por este modo
se devem escrever Caîa, Doîa, fa-
zendo estes Imperfeitos de tres sylla-
pág. 91
bas por meio dos dous pontos sobre a
Vogal I. Esta Orthographia nos pa-
rece melhor, do que usar de algum
Accento, como se acha em alguns
Authores, que escrevem Caía, Do-
ía, pro Cadebat, Dolebat.
Tem o H força de letra na com-
posiçaõ, quando se junta com alguma
Consoante, ou Liquida, como succe-
de nas syllabas CH, LH, e NH.
CH
Requere tanta força na lingua
Portugueza, como na Ingleza v. g. em
Cheeks faces, e Church Igreja; e mui-
ta mais que em Francez. Nesta forma
erraráõ os Francezes, que pronuncia-
rem Chapeo em Portuguez taõ branda-
mente, como elles dizem Chapeau.
Com esta força se faz soar o CH
no principio das palavras Chave, Che-,
fe, China, Choque, Chuva: no meyo
pág. 92
em Machado, Rochedo, Machinho,
Cachorro, Machuco: no fim em Pe-
nacho, Esmícho, Esguicho, Garro-
cha, Capucho. Finalmente o CH se
deve differençar muito da letra X,
dandose-lhe dobrada força.
Tiraõ-se desta regra alguns nomes
pella mayor parte derivados do Gre-
go, nos quaes o CH substituhe a le-
tra X, e se pronuncîa com Q, ou
C, v. g. Chiromancia, Chorographia,
Christo, Christandade, Chronica, Chro-
nologia, Cherubim, Archanjo, Ge-
rarchia, Monarchia; como se fora
Quiromancia, Quorographia, Queru-
bim, Arcanjo, Gerarquia, Monar-
quia.
LH
Tem a mesma força, que os dous
LL dos Castelhanos, que ILL dos
Francezes, e GLI dos Italianos. A
palavra Castelhano se pronuncia da
pág. 93
mesma maneira, que Castellano em
Hespanhol, que Castillan em Fran-
cez, e que Castigliano em Italiano.
Da mesma sorte as mais palavras,
em que concorrem as duas letras LH.
Malha, Velha, Milha, Folha, Bu-
lha, Baralho, Espelho, Sarilho, Es-
colho, Debulho.
NH
Val o mesmo que o GN dos Ita-
lianos, e dos Francezes; e que o ñ
dos Castelhanos. Senhor como Signor
em Italiano, Seigneur em Francez, e
Señor em Castelhano.
Da mesma sorte em varias outras
palavras: Banha, Lenha, Linha, Fro-
nha, Cunha, Estranho, Engenho,
Caminho, Medonho, Rascunho.
pág. 94J
ESta letra he consoante no principio
de muitas palavras, ou legitima-
mente Portuguezas, ou tiradas de ou-
tras linguas. Jâ, Jáz, Jardim, Jar-
ro, Jaspe, Jogo, Jugo, Jazigo,
Jejuar, Jornada, Justiça.
Da mesma sorte no meyo de mui-
tas palavras em varias terminaçoens.
Tejo, Rijo, Tojo, C,ujo, Enveja,
Laranja, Esponja, Despejo, Des-
pojo.
A syllaba JE serve de substituir o
HIE dos Latinos nas palavras, que el-
les tomáraõ do Grego, ou do He-
braico. Jericò, Jerusalem, Jerosoly-
mitano, Jerapolis em lugar de Hie-
ricus, Hierusalem, &c.
Quanto à differença entre as syl-
labas GE, e JE veja-se o que temos
pág. 95
apontado sobre a letra G.
Finalmente quanto ao uso dos
Verbos podemos dizer em geral, que
os tempos em A e O se escrevem
com JA, JO; e os tempos em E com
GE. Haja, Cinja, Frija, Tinja, Un-
ja, Cinjo, Frijo, Tinjo, Vnjo, Cin-
ge, Frege, Tange, Tinge, Unge.
Q
ESta letra substitue muitas vezes
o C dos Latinos, e o K dos Gre-
gos.
Na syllaba QUA fere a vogal U,
e se faz soar juntamente com o A,
da mesma sorte que nas mais linguas.
Qual, Quaõ, Quadro Quando, Qua-
tro, &c. como se fora Cuando, Cua-
tro, pronunciando-se porém todas as
letras juntas.
Naõ fere porém o U nas syllabas
pág. 96
QUE, QUI, QUO, antes supprimin-
dose de todo, fica a letra Q com a
força de C, ou de K.
Em 1. lugar no principio das pa-
lavras Quebrar, Quéda, Questaõ,
Quintal, Quotidiano, que se lèm co-
mo se estivesse escritto: Kebrar, Ké-
da, Cotidiano.
Em 2. lugar no meyo de varios
nomes, e verbos. Aquentar, Esque-
cer, Esquerdo, Esquivo, Mosquete,
Pasquim, Sequidaõ, &c.
Exceituaõ-se desta ultima regra as
palavras tiradas proximamente do La-
tim, nas quaes fere o U como em
QUA, v. g. Extorquir, Frequente,
Frequencia, Frequentar, Propinquo,
Propinquidade, Tranquillo, Tranquil-
lidade, Sequestrar, Tequestro, Quin-
quagenario, Quinquagesima.
Esta exceiçaõ porém naõ deixa
ainda de ter outra; pois entre os no-
mes derivados proximamente do La-
pág. 97
tim se encontraõ alguns, em que o
U naõ fere, como nos nomes acima;
e assim tornaõ a ficar sogeitos à regra
geral. Estes saõ entre outros Extin-
guir de Extinguere, Inquieto de In-
quietus, Quinze de Quindecimo, e
Requerer de Requiro.
R
ESta letra no principio das pala-
vras requere tanta força, como
se fora dobrada, e nisto differe muito
a nossa pronuncia da Franceza. De-
ve-se pois carregar muito em Raya,
Regra, Rima, Rosa, Ruma, Razo,
Rego, Riso, Rogo, Ruço; e assim nas
palavras de mais syllabas, ou sejaõ
Verbos, ou Nomes.
No meyo das palavras, naõ sen-
do o R dobrado, pronuncia-se muy
suavemente. Cara, Pera, Mira, No-
pág. 98
ra, Pura, Caro, Pero, Giro, Lóro,
Duro; e nas palavras de mais syllabas.
Tiára, Espéra, Hegyra, Espóra, Ven-
tura.
Da mesma sorte em varios tem-
pos de Verbos: Amára, Fizéra, Ou-
vira, Amaría, Faria, Ouviria, Ama-
rá, Fará, Ouvirá.
Exceituaõ- se desta regra as pala-
vras, que levaõ L ou N na syllaba pre-
cedente v. g. Bilro, Melro, Chalrar,
Chilrar, Palrar, Abalroar, Escal-
racho, Genro, Tenro, Honra, Des-
honra, Enramar, Enredar, Enrique-
cer, Enrolar, Enroupar, Enroccar,
Enramado, Enredado, &c. Nestas pa-
lavras tem o R aspereza de dobrado,
ainda que seja singelo.
R dobrado pronuncia-se com do-
brada força. Barro, Ferro, Cirro,
Corro, Murro, Amarra, Desterra,
Espirra, Arroba, Arruda, Catar-
ro, Enterro, Arrimo, Arroto, Em-
purro.pág. 99
S
ESta consoante no principio das
palavras pronuncia-se com tanta
força, como se fora C, ou dous SS.
Só, Sal, Saõ, Sim, Salvo, Servo,
Sino, Somno, Susto.
No meyo das palavras entre duas
Vogaes pronuncia-se taõ suavemente,
como se fora Z. Desastre, Desejo,
Desigual, Desordem, Confuso.
Exceituaõ- se os Verbos, a que se
segue a particula SE, porque nelles
se pronuncîa o S com aspereza, ou
seja no Indicativo Ama-se, Perde-se,
Ouve-se, Póde-se; ou seja no Impera-
tivo Ame-se, Diga-se, Ouça-se, Po-
nha-se; ou nos Gerundios, Amando-se,
Lendo-se, Ouvindo-se, Pondo-se.
Deve-se por grande cuidado na
Orthographia dos Indicativos acima,
pág. 100
escrevendo-os com hum só S, ainda
que o tal S se pronuncie com força
de dobrado: Ama-se, Perde-se, Ou-
ve:se, Póde-se, para que a syllaba Me-
dia seja breve, a fim de se differen-
çarem dos Conjunctivos, que a tem
longa, por se escreverem com dous
SS. Amasse, Perdesse, Houvesse, Po-
desse.
Naõ estando o S entre duas Vo-
gaes no meyo das palavras, e ha-
vendo alguma das letras L N R na
syllaba precedente, pronuncia-se o
ditto S com muita força. Balsamo,
Conseguir, Conselho, Consentir, Con-
sultar Denso, Ensino, Malsim, Mal-
sinar, Manso, Penso, Perseguir,
Perseverar, Persistir, Sensivel, Ver-
saõ, Verso.
S dobrado requere tambem do-
brada força. Passa, Cessa, Missa, Nos-
sa, Tusso, Assalto, Espesso, Remisso,
Colosso, &c.
pág. 101
Ha muita difficuldade em averi-
guar, quando se deve escrever S, ou
Z entre duas Vogaes, pois que a pro-
nuncia he a mesma.
A regra mais certa, que póde ha-
ver nesta materia, he escrever com
S as palavras, que se derivarem do
Latim, e tiverem S na ditta lingua,
como entre outras as seguintes.
Aceso
Base
Caso
Causa
Conclusaõ
Concluso
Confusaõ
Confuso
Contusaõ
Decisaõ
Defesa
Defensa
Desejo
Desejar
Diffusaõ
Diffuso
Divisaõ
Effusaõ
Escuso
Esposo
Fermoso
Fuso
Leproso
Léso
Miseria
Musa
Occasiaõ
Occaso
Opposiçaõ
Parafuso,
Pausa
Raso
Recuso
Reserva
Resina
Riso
Rosa
Rosal
Teso
pág. 102
Thesouro
Viçoso
Uso.
Naõ sendo as palavras derivadas
do Latim, se escreveráõ com Z, prin-
cipalmente nas terminaçoens AZA,
EZA, IZA, OZA, UZA, AZO,
EZO, IZO, OZO, UZO, por se-
rem muy proprias da lingua Portu-
gueza; e em outras occasiões como
se vè da lista seguinte.
Abrazo
Agudeza
Alfazema
Aprazo
Avizo
Braza
Camiza
Catorze
Caza
Cazar
Couza
Cruzado
Desprezo
Destreza
Divizar
Empreza
Estranheza,
Forçozo
Franzido
Fraqueza,
Fuzilar
Gazear
Gazeta
Gazûa
Gozar
Gozo
Grandeza
Largueza,
Leveza
Limpeza
Manhozo
Matizar
Pezar
Pezo
Pouzada
Prazo
pág. 103
Prezar
Prezo
Pureza
Rapoza
Réza
Rezar
Sizo
Sizudo
Sutileza
Teimozo
Trazer
Vaidozo.
Quando digo que naõ sendo as
palavras derivadas do Latim, se es-
creveraõ com Z, fallo das que naõ
saõ derivadas immediatamente, como
he Thesouro de Thesaurus, ou que naõ
tem S no Latim, como succede em
Agudeza de Acutus, em Catorze de
Quatuordecim; e outras semelhan-
tes.
Desta regra se devem exceituar
as palavras, e principalmente os Ver-
bos compostos da particula DES, em
que se ha de conservar a mesma par-
ticula; pois facilmente se conhece que
saõ palavras compostas. Entre outras
se offerecem as seguintes.
Desabafar
Desabitar
pág. 104
Desabituar
Desabrigar
Desabrir
Desacompanhar
Desacostumar
Desadorar
Desaffeiçoar
Desafiar
Desafogar
Desaforar
Desaguar
Desarmar
Desamuar
Desancorar
Desandar
Desassombrar
Desatacar
Desatar
Desatinar
Desembaraçar
Desembargar
Desembrulhar
Desamparar
Desempedir
Desencalmar
Desencaminhar
Desencantar
Desencarregar
Desenfadar
Desencostar
Desenganar
Desenrolar
Desentoar
Desherdar
Deshonrar
Desesperar
Desinçar
Desinchar
Desobedecer
Desobrigar
Desoccupar
Desordenar
Desorelhar
Desusar, &c.
pág. 105
Todos os verbos precedentes se
devem escrever com S, e naõ com
Z, por serem compostos da particu-
la DES, ainda que alguns delles se-
jaõ originariamente Portuguezes. O
mesmo se deve tambem praticar com
os nomes, em que se acha a sobredita
particula, como Desafio, Desamor,
Desatino, Desembaraço, Desembar-
go, Desengano, Deshonra, Desigual,
Desordem.
Para se saber quando devemos
usar de dous SS, ou de C, veja-se a
letra C;.
X
ESta letra tem a mesma pronuncia,
que o CH dos Francezes, tanto
no principio, como no meyo das pa-
lavras; e assim pronunciamos Xadrez,
Xarópe, Deixar, Paixaõ, do mesmo mo-
pág. 106
do que os Francezes pronuncîaõ Cha-
peau, Cheval, Achever, Acheter.
Com esta occasiaõ naõ podemos
deixar de condenar a falsa reflexaõ,
com que Joaõ Franco Barreto assenta
na sua Orthographia pag. 173. que os
Francezes carecem da letra X no seu
Alphabeto; porque se o Autor falla
da figura desta letra, naõ he neces-
sario mais que lançar os olhos sobre
huma pagina de qualquer livro Fran-
cez, para ficar convencido, de que
o X he muy commum naquella lin-
gua: Se falla da sua força, basta tam-
bem ouvir dizer a hum Francez Cha-
peau, Cheval, para ver que a sua
pronuncia do CH he a mesma, que a
do X Portuguez.
Tornando ao uso desta letra, tem
lugar no meyo das palavras legitima-
mente Portuguezas, como Bruxa,
Cartuxa, Froxo, Lixo, Peixe, Ro-
xo, Rouxinol, Afroxar, Debuxar,
pág. 107
Deixar, Queixar. Conto por palavras
legitimamente Portuguezas naõ só a-
quellas, que se naõ derivaõ de outras
linguas, mas tambem outras, cuja de-
rivaçaõ he já muy afastada em razaõ
da alteraçaõ, que nellas ha de letras,
ou de syllabas. Neste ultimo numero
ponho a palavra Deixar, porque ain-
da que a sua etymologia possa ser de
Linquo, de que ao principio se fez
Leixar, e depois deixar, como os Ita-
lianos fizeraõ Lasciare, os Francezes
Laisser, e os Castelhanos Dexar; com
tudo está já nella muy afastada a so-
bredita derivaçaõ.
Da mesma sorte tem lugar o X
nas palavras derivadas do Latim, em
que se encontra a mesma letra, co-
mo em Buxo, Connexaõ, Convexo,
Flexivel, Perplexo, Reflexo, Seixo,
que vem de Buxum, Connexio, Con-
vexus, Perplexus, Flexibilis, Refle-
xus, Saxum.
pág. 108
Ha porèm alguma differença na
pronuncia destas palavras; porque nas
de duas syllabas, como Buxo, Seixo
se pronuncia o X como se fora CH
Francez em Boucher, Sécher; e nas
outras quasi como CSS: Connecssaõ,
Convecsso, Flecssivel, Perplecsso, es-
crevendo-se Connexaõ, Convexo, &c.
Z
ESta consoante leva sempre Ac-
cento no fim das palavras, ou se-
ja Grave, ou Circumflexo, ou Agudo.
Páz, Capáz, Mèz, Convéz, Gìz,
Matîz, Vóz, Algôz, Crùz, Ca-
pûz.
Do mesmo modo em varios Ver-
bos, e nos nomes Nacionaes Inglêz,
Hollandêz, Portuguêz, Andalûz.
Exceituaõ-se da regra acima os
nomes Patronimicos, que naõ levaõ
pág. 109
Accento no fim, como Alvarez, An-
tunez, Bernardez, Fernandez, Nu-
nez, Perez, Tellez, &c. Porêm
Garcêz, ainda que venha de Garcia,
leva no fim o seu Accento.
Quanto à differença entre Z e S,
veja-se o que temos dito na letra S.
_______________________________________
CAPITULO IV.
Dos Ditongos.
DItongo, ou Diphtongo, conforme
os Gregos, he o som de duas Vo-
gaes unidas em huma só syllaba.
Podemos dizer em geral, que os
Ditongos Portuguezes differem dos
mais das outras Naçoens, em que el-
las de tal modo altéraõ a natureza das
pág. 110
Vogaes, que muitas vezes pronun-
cîaõ os seus Ditongos com letras, que
nelles se naõ achaõ. Deste modo pro-
nunciaõ os Francezes Otél, e Méson
escrevendo Autel e Maison: os Ingle-
zes Blid e Piple escrevendo Bleed e
People; e os Hollandezes Gut, Sut, es-
crevendo Goet, Soet.
Porêm nos Ditongos Portuguezes
quasi sempre retem as Vogaes a sua
força, e só servem de fazer pronun-
ciar com velocidade as ditas Vogaes
unidas, excepto o Ditongo Aõ, em
que se altéra mais a natureza das Vo-
gaes, de que he composto.
Podemse dividir os Ditongos em
Proprios e Improprios. Os Proprios
saõ 23. a saber: ae ai ao au ay ea
ei eo eu ey ia ie io oa oe oi ou
oy ua ue ui uo uy.
Os Ditongos Improprios, que cha-
mamos assim, porque senaõ formaõ
como os Proprios, saõ aquelles que
pág. 111
levaõ o sinal ~ chamado til sobre as Vo-
gaes, e se contaõ até nove. ãa ãe ão
ãy ?e ?j õe õo ?u. No ditto numero
de Ditongos variaõ muito os nossos
Grammaticos.
Ditongos Proprios.
AE
ACha-se nos Verbos Cae, Sae, e
nos seus pluraes Caem, Saem, co-
mo tambem nos Compostos dos ditos
Verbos Descae, Recae, Sobresae. Da
mesma sorte nos pluraes dos nomes
em AL: Quaes, Taes, Animaes, Hos-
pitaes, Mortaes, Naturaes, Princi-
paes.
Neste Ditongo se pronunciaõ am-
bas as Vogaes, como em quasi todos
os outros, com muita velocidade, e
a Vogal A tem hum tom Aberto.pág. 112
AI
Usa-se em muitas palavras, como
v. g. Baixo, Saibo, Raiva, Taipa, Cai-
rel, Painel, Airoso, Raivoso, Sarai-
va, Vaivem, &c.
Nos presentes dos Verbos da pri-
meira Conjugaçaõ: Amais, Buscais,
Estimais; e em outros tempos da se-
gunda Conjugaçaõ: Digais, Façais;
e na 3. e 4. Ouçais, Ponhais.
Esta he a Orthographia, que se ob-
serva nas Obras do Padre Antonio
Vieira, assim a respeito do presente Di-
tongo de AI, como do Ditongo de
AE; supposto que commummente se
confundaõ os Ditongos em Naturaes,
Estimais, escrevendo-se Naturais,
Estimaes. O mesmo Autor escreve sem-
pre Mais com I Latino, e naõ Mays
com Y Grego; e muito menos Maes
com E, pois se naõ funda em regra
pág. 113
alguma. Neste Ditongo se pronuncîa
tambem a Vogal A muito aberta.
AO
Este Ditongo se acha em Gráo,
Máo, Náo por Navio, Páo, Váo, e
em nomes de mais syllabas: Calháo, De-
gráo, Saráo; e nos pluraes de todos
estes nomes: Gráos, Náos, Degráos,
Saráos.
Nelles se pronuncîa a Vogal A taõ
aberta, como se levára Accento Agu-
do; antes os Monosyllabos necessitaõ
do tal accento, para se evitar melhor
a equivocaçaõ de Gráo gradus com
Grão grandis: de Máo malus com
Mão manus: de Náo Navis com Não
non: de Páo lignum com Pão Panis:
finalmense de Váo vadum com Vão
vanus.
pág. 114AU
Com este Ditongo se escrevem os
nomes Causa, Frauta, Pausa, Au-
sencia, Audiencia, Author, Ausen-
tar, Centauro, Defraudo.
Os nomes Alaude, Ataude, Sau-
de, e outros semelhantes deveraõ ter
dous pontos sobre a vogal U?: Alaü-
de, Ataûde, Saüde, para mostrar que
nelles naõ ha Ditongo, e que cada
Vogal faz syllaba à parte, da maneira
que usaõ os Francezes nas palavras v.
g. Batüe, Rompüe, Réüssir, Reünir.
Note-se que o Ditongo AU dos
Latinos se muda ordinariamente no
Ditongo Portuguez de OU; e assim de
Aurum, Laurus, Taurus se faz Ou-
ro, Louro, Touro.pág. 115
AY
Tem lugar nos Monosyllabos Ay,
Pay, e no Indicativo Vay. Da mes-
ma sorte nos Imperativos da primeira
Conjugaçao Amay, Anday, Estimay.
Muitos Authores escrevem com
este Ditongo Bayxo, Saybo, Rayva,
Taypa, Cayxaõ, Payxaõ; porèm o
Padre Antonio Vieira usa nelles pela
maior parte de I latino. Neste Di-
tongo se fazem soar ambas as vogaes;
e o A he muito aberto.
EA
Concorre nas palavras Chicorea,
Cerulea, Cesarea, Herculea, Femea,
Gavea, Lendea, Semea, e póde-se
dizer que só he Poetico.
As palavras Cea, Tea, Vea, Area,
Balea, Cadea, Serea taõ longe estaõ
de terem Ditongo, que antes nellas se
pág. 116
pronuncîa a vogal E como se fora EY,
em prova de que faz syllaba à parte:
Ceya, Teya, Veya, Areya, Baleya,
Cadeya, Sereya.
O mesmo succede ainda quando
a Vogal E he aberta, e leva Accento
Agudo: Idéa, Judéa, Medéa, que
se lem Idéya, Judéya, Medéya.
EI
Encontra-se nos nomes Feira,
Geira, Peita, Beiço, Geito, Peito,
Confeiçaõ, Eleiçaõ, Parreira, Rosei-
ra, Primeiro, Terceiro. Muitos Au-
thores escrevem estes nomes com Y;
mas tem contra si a Authoridade do
Padre Antonio Vieira, que pela mayor
parte usa nelles de I latino.
Usa-se tambem nos Pluraes dos
nomes em EL, Coronéis, Borquéis,
Papéis, Pincéis, e nelles se pronun-
cîa E aberto.pág. 117
Serve do mesmo modo no Ver-
bo Substantivo Ereis: nos presentes
dos Indicativos da segunda Conjuga-
çaõ: Dizeis, Fazeis, Escreveis. Em
todos as Futuros das 4. Conjugações
Amareis, Lereis, Ouvireis, Poreis,
e em todos estes Verbos se pronuncîa
o E fechado.
EO
Neste Ditongo se fazem tambem
sentir as duas Vogaes, como nos ou-
tros, porem com esta differença, que
em Céo, Réo, Véo, Arpéo, Chapéo,
Mantéo, Pignéo a Vogal E he taõ
aberta, que parece que leva accento
Agudo.
Pelo contrario nos Nomes Bor-
neo, Hebreo, Phariseo, Orpheo, Te-
seo a Vogal E se pronuncîa muy fe-
chada.
O mesmo succede nos Preteritos
pág. 118
da segunda Conjugaçaõ: Cometeo, Es-
tendeo, Fendeo, Mereceo, Rendeo; e
nos mais Monosyllabos Deo, Leo, se
he que se naõ devem escrever antes
com U: Deu, Leu, de que tratare-
mos abaixo.
Ha outros nomes, em que o E naõ
só se pronuncîa fechado, mas breve;
como Ceruleo, Cesareo, Herculeo.
Nos nomes Correo, Enleo, Ga-
lanteo, Receo, Rodeo naõ póde o E
formar Ditongo, pois se pronuncia
como EY. Correyo, Enleyo, Galan-
teyo, Receyo, Rodeyo. Da mesma sor-
te nos presentes de alguns Verbos,
como Mareo, Semeo, Rodeo, que an-
tes se deveraõ escrever Mareyo, Se-
meyo, Rodeyo.
Aqui seria o lugar de estabelecer
a Orthographia dos Pronomes Meo,
Seo, Teo, e dos Preteritos, de que aci-
ma fallamos, Creo, Deo, Leo, Co-
meteo, Estendeo, Rendeo, que muitos
pág. 119
escrevem com o Ditongo de EU Meu
Seu Teu, Creu, Deu, Leu, &c.
Esta materia he muy difficil de as-
sentar, pois que entre os nossos Au-
thores reina huma grande variedade
de Orthographia; e por cada parte se
offerecem razoens de muita força.
Para que estes Verbos se escrevaõ
com o Ditongo EU, póde haver a ra-
zaõ de querer evitar equivocos; por-
que assim se distinguem melhor os Pre-
teritos Creu, Leu dos presentes Creo,
Leo; como tambem os Preteritos, Co-
meteu, Escondeu, Rendeu dos presen-
tes do Indicativo, a que se segue o Re-
lativo O: Comette-o, Esconde-o, Ren-
de-o.
E para que nos pronomes se use do
mesmo Ditongo, se póde allegar, com
que ficaõ mais semelhantes ao Latim;
como na verdade se parecem mais
Meu, Seu, Teu com Meus, Suus,
Tuus, do que Meo, Seo, Teo.
pág. 120
Por outra parte parece, que os di-
tos Preteritos se devem antes escrever
com o Ditongo EO. porque esta he a
Orthographia, de que usáraõ os nossos
primeiros Authores, como consta dos
Manuscritos primitivos, e dos livros
da mais antiga impressaõ; e della usa
tambem commumente o Padre Anto-
nio Vieira, ainda que naõ duvido, se
possaõ achar alguns exemplos em con-
trario.
Querendo tomar algum partido ne-
sta materia, me inclinára antes a usar
do Ditongo EO nos sobreditos Preteri-
tos.
Esta Orthographia, alem de ser au-
thorizada com o uso dos primeiros Ma-
nuscriptos, e livros Portuguezes, he
muy propria da nossa lingua, como se
vè nos Nomes Borneo, Hebreo, Or-
pheo, Phariseo, Theseo; e assim pa-
rece se naõ deve desterrar na termi-
naçaõ dos Verbos. A mesma Escrittu-
pág. 121
ra se observa nos nomes Arpéo, Cha-
péo, Mantéo, Pigméo; supposto leva-
rem Accento Agudo, por terem a Vo-
gal E muito aberta.
Quanto a dizerse, que o uso do Di-
tongo EU nestes preteritos tira haver
equivocos, póde-se responder, que ba-
stantemente se evitaõ os ditos Equivo-
cos escrevendo os Presentes dos Ver-
bos Credo, Lego, com Y: Eu creyo,
Eu leyo, conforme o que temos as-
sentado fallando do Y Medio; por-
que assim ninguem os tomará pelos Pre-
teritos Elle creo, Elle leo. Da mesma
sorte para differençar os Preteritos
Cometeo, Escondeo, Rendeo dos Pre-
sentes, que levaõ o Relativo O, basta
escrever os ditos Presentes com huma
separaçaõ entre o Verbo, e o Relati-
vo, como v. g. Comete-o, Esconde-o,
Rende-o, como faz o Padre Antonio
Vieira em casos semelhantes; e parti-
cularmente no XIV. volume pag. 118.
pág. 122
onde escreve Ouvi-a Audite illam, pa-
ra differença de Ouvia Audiebat.
Sobre os Pronomes Meu, Seu, Teu,
veja-se o que dizemos no Ditongo abai-
xo.
EU
Os Pronomes Meus, Tuus, Suus
se deviaõ escrever em Portuguez com
EO Meo, Seo, Teo para seguir a mes-
ma Orthographia dos outros nomes, e
dos Verbos, de que trattamos no Di-
tongo precedente; porem o uso com-
mum lhes dá o Ditongo EU; e assim
até o mesmo Padre Antonio Vieira es-
creve ordinariamente Meu, Seu, Teu;
e da mesma sorte os Pluraes, Meus,
Seus, Teus.
Note-se porem que escrevendo
o Padre Vieira os ditos pronomes com
U, sempre usa de O no nome DEOS,
o que devemos chamar exceiçaõ de
regra; pois, derivando-se Deos e Meu
pág. 124
igualmente do Latim Deus, Meus, pa-
rece que em Portuguez deviaõ levar
ambos as mesmas letras.
Acha-se tambem este Ditongo no
pronome Eu, e em varios nomes, v.
g. Breu, Cacheu, Eunuco, Feudo,
Rheumatismo, &c. onde se pronun-
ciaõ ambas as Vogaes em hum mesmo
tempo.
Nos nomes Ceume, Meudo, Con-
teudo, se naõ forma Ditongo, pois
que a Vogal U faz syllaba à parte; e
devia levar dous pontos em cima.
Ceûme, Meûdo, Conteûdo, como tam-
bem he necessario algumas vezes no
Ditongo de AU.
EY
Forma-se este Ditongo nos Mo-
nosyllabos Grey, Ley, Rey, e nos
seus Pluraes: Greys, Leys, Reys.
Usa-se tambem delle no Preterito
pág. 124
Dey, e no Presente Sey. Da mesma
sorte nos Preteritos da primeira Con-
jugaçaõ: Amey, Estimey: nos Impe-
rativos da segunda Conjugaçaõ: Di-
zey, Fazey, Metey, Recebey; e em
todos os Futuros: Amarey, Lerey,
Ouvirey, Porey.
O Padre Antonio Vieira usa deste
Ditongo em Reyno, Reynar, Reyna-
do, talvez porque se compoem do no-
me Rey.
Outros Authores escrevem Geyto,
Peyto, &c. Veja-se o que dizemos so-
bre o Ditongo de EI.
IA
Este Ditongo he poetico; e acha-
se nas palavras Asia, Gloria, Grecia,
Essencia, Paciencia, Babylonia, Pro-
sodia; e assim se forma huma só sylla-
ba das letras Cia Dia Nia Ria Sîa.
pág. 125
IE
Acha-se em poucas palavras, co-
mo v. g. em Clicie, Effigie, Especie,
onde estas Vogaes se pronuncîaõ ve-
lozmente. Nas palavras Sciencia, Pa-
ciencia, e outras semelhantes se faz
mayor separaçaõ destas letras.
IO
Este Ditongo se encontra em Ar-
tificio, Beneficio, Contrario, Impe-
rio, Remedio, Prodigio, Principio,
e em muitos outros nomes, onde se
pronuncîaõ ambas as Vogaes com ve-
locidade.
Acha-se tambem nos preteritos da
terceira Conjugaçaõ Abrio, Ferio, Ou-
vio, Persuadio; supposto que algumas
pessoas escrevem Abriu, Feriu, Ou-
viu, Persuadiu, o que parece sum-
pág. 126
mamente duro na nossa pronuncia.
OA
Encontra-se nos nomes Frágoa,
Lêgoa, Mágoa, Nódoa, Táboa, Tré-
goa, em que a Vogal O he breve.
Nos nomes Corôa, Lagôa, Podôa,
Pessôa, em que a Vogal O he longa,
mas fechada.
Da mesma sorte nos Verbos, Coa,
Doa, Roa, Soa, Toa, Voa, e nos
de mais syllabas, como Abalrôa, Aben-
çôa, Atrôa, Entôa, Magôa, Per-
dôa; nas quaes tambem a Vogal O he
longa, e fechada.
OE
Tem lugar no nome Leucotohoe,
ainda que Camoens faz alguma vez
tho-e de 2. syllabas.
Nos presentes dos Verbos Dóe,
pág. 127
Móe, Róe, Sóe, Constróe, Destróe,
Esmóe, Remóe, que levaõ O aberto.
Nos presentes dos Verbos Poem, Com-
poem, Dispoem, e mais compostos,
em que a Vogal O tem som fechado.
Nos Imperativos Soe do Verbo soar;
Abençôe, Amontôe, Arresôe, Atrôe,
Magôe, Perdôe, em que tambem a
Vogal O he fechada e longa.
Nos pluraes dos Nomes em OL:
Róes, Sóes, Anzóes, Caracóes, Rou-
xinóes, Espanhóes, que levaõ O aber-
to.
OI
Acha-se em Pois, Depois, con-
forme a Orthographia do Padre An-
tonio Vieira; e no Verbo substantivo
Sois. O mesmo Author se serve deste
Ditongo em Foice, Noite, Tresnoitar,
Anoitecer, &c.
pág. 128OU
Tem lugar em muitas palavras,
como v. g. Ouro, Mouro, Thesouro,
Cousa, Pousada, &c. Este Ditongo
se equivóca com o de OI no discurso
familiar, em que alguns dizem Dois,
Oiro, Moiro; ainda que se escreva,
e se deva pronunciar Dous, Ouro,
Mouro.
Acha-se tambem nos Presentes dos
Verbos Dou, Estou, Sou, Vou: nas
terceiras pessoas dos Preteritos da pri-
meira Conjugaçaõ Amou, Estimou,
&c.
Nelle se pronuncîaõ ambas as Vo-
gaes velozmente, e sem formar hum
som diverso, como fazem os France-
zes, que convertem OU em U, e de
Boulet, Soulier pronuncîaõ Bulet, Su-
lier, segundo o nosso Alphabeto; nem
como os Inglezes, que transformaõ OU
pág. 129
em AU, e de Eybrous sobrancelhas,
e Mouth Boca, lem Eibraus, e Mauth;
o que tambem fazem os Hollandezes
escrevendo Hout lenha, Sout sal, e
pronunciando Haut e Saut.
OY
Acha-se nos nomes Boy com O fe-
chado, Comboy com O aberto, e no
Verbo substantivo Foy. Alguns Autho-
res escrevem Foyce, Noyte, mas o P.
Antonio Vieira he de opiniaõ differen-
te.
UA
Encontraõ-se estas Vogaes nos no-
mes Agua, Lingua, Mingua, e seus
compostos Aguada, Aguar, Lingua-
do, Linguagem, Minguante, Minguar,
e em Igual. Desigual.
Da mesma sorte nas syllabas GUA,
e QUA nos principios das palavras:
pág. 130
Gualde, Guarda, Guardar, Guarni-
çaõ, Guarecer; Quadro, Quatro,
Qual, Qualidade, Quantidade, Quan-
tia, &c.
Alguns Authores escrevem Agoa,
Lingoa, e pello contrario Legua, Ma-
gua; mas tem contra si a Orthogra-
phia do Padre Antonio Vieira.
UE
Concorrem estas letras nos nomes
Cruel, Crueza, Crueldade, Samuel,
onde duvidaõ alguns que formem Di-
tongo.
Tambem se achaõ varias vezes nas
syllabas GUE, QUE, nas quaes, ou
fere a Vogal U, como em Pingue, Se-
questro, ou se perde de todo, como
em Guerra, Questaõ.pág. 131
UI
Nota-se este Ditongo em Muito,
Ruivo, Cuidado, Cuidar, Descuido,
Descuidar, onde se pronuncîaõ juntas
as Vogaes.
UO
Forma-se nos nomes Assiduo, Con-
tiguo, Mellifluo, Residuo, Ociduo,
Triduo.
UY
Usa o P. Antonio Vieira deste Di-
tongo na palavra Muy, ainda que
naõ escreva Muyto, senaõ Muito.
Tambem se acha no Verbo substanti-
vo Fuy, e em Tuy nome de Cidade.
pág. 132Ditongos Improprios.
ÃA
USa-se deste Ditongo nos Mono-
syllabos Grãa, Lãa, Rãa, Sãa,
Vãa, e nos nomes Alemãa, Christãa,
Irmãa, Maçãa, Manhãa, Terçãa.
Esta he a Orthographia de Duarte
Nunes de Leão, authorizada com mil
exemplos do Padre Antonio Vieira, a
quem antes se deve seguir, do que a
Joaõ Franco Barreto, que com hum
capricho mal fundado quer que se es-
ereva Lan, San, Van, Maçan, Ma-
nhan, Terçan.
Quanto aos pluraes destes nomes,
huns escrevem Lãas, Vãas, Ma-
çãas, seguindo a Orthographia do sin-
gular; e outros Lans, Vans, Ma-
çans.pág. 133
ÃE
Poem-se este Ditongo em alguns
Pluraes dos nomes em ÃO, como
Alemães, Capitães, Cães, Pães, em
lugar de Alemaens, Capitaens, Caens,
Paens.
ÃY
Acha-se sómente na palavra Mãy,
e no seu plural Mãys.
ÃO
Este Ditongo he muy difficultoso
para os Estrangeiros, e naõ se póde dar
regra certa para a sua pronuncia. En-
contra-se em grande numero de pa-
lavras, ou sejaõ Monosyllabos, como
v. g. Caõ, Grão, Mão, Não, Pão,
São, Tão, Vão: ou nomes de mui-
pág. 134
tas syllabas, como Acção, Feição,
Occasiaõ, Uniaõ.
Quanto aos Pluraes dos nomes em
ÃO, humas vezes levaõ o Ditongo
ÃOS, como v. g. Grãos, Mãos, Sãos,
Christãos, Cidadãos, Pagãos.
Outras vezes se formaõ com o Di-
tongo ÕES, ou OENS, Açcões, Fei-
ções, Occasiões, ou Acçoens, Fei-
çoens, Occasioens.
O mesmo Ditongo ÃO se acha em
varios tempos de Verbos, como Dão,
São, Amão, Amavão, Amáraõ, Ama-
rão, Amarião; e assim das mais Con-
jugaçoens. Advirta-se porèm, que os
Verbos naõ levaõ accento no fim, sal-
vo os futuros de todas as Conjugações
Amaráõ, Leráõ, Ouviráõ, Poráõ,
para se differençarem dos Preteritos
Amáraõ, Léraõ, Ouvíraõ, que tem
accento na Penultima.
Grande difficuldade ha entre os
nossos Authores sobre assentar quan-
pág. 135
do he, que estes nomes se devem es-
crever com o Ditongo ÃO, ou com
a syllaba AM; porque até o P. Anto-
nio Vieira na mesma pagina escreve
humas vezes Salamaõ, Sansaõ, Ser-
maõ, e outras Salamam, Sansam, Ser-
mam.
Naõ obstante a variedade de exem-
plos, que ha por huma, e outra par-
te, fora de parecer que antes se usas-
se geralmente do Ditongo ÃO, do
que da syllaba AM; e isto por duas
razoens.
A primeira, porque o Ditongo ÃO
he mais conforme à nossa pronuncia,
em que fazemos soar de algum modo
a Vogal O; e assim devemos escrever
as letras mais conformes ao som, que
queremos dar às syllabas.
A segunda, porque assim o pede a
primeira Orthographia, e pronuncia
destas palavras; pois como confessa
Bento Pereira in Arte Grammaticæ
pág. 136
pag. 316. o til~que se poem sobre o Di-
tongo ÃO, tem lugar de M; e anti-
gamente se escrevia Razaom em lu-
gar de Razão; e no Reynado delRey
D. Diniz se punha ainda Razom: co-
mo se vê na Monarc. Lusit. t. 5. pag. 332.
logo mais se conforma o Ditongo ÃO
com a Escrittura antiga; pois conserva
a Vogal O, que he a mais dominante
na syllaba; e assim se deve antes es-
crever Occasião, do que Occasiam. Fi-
nalmente he tanto mais natural a es-
crittura do Ditongo ÃO, que os mes-
mos Estrangeiros dezejando imitalo, es-
crevem antes Razaon do que Razan.
Nem obsta o dizer o mesmo Bento
Pereira no lugar citado, que a escrit-
tura dos Nomes em AM he mais che-
gada ao Latim, como se vè nos accu-
sativos Musam, Palmam, e nos Ver-
bos Legebam, Audiebam; porque se
o uso teve bastante poder para alte-
rar naõ só as letras, mas as syllabas,
pág. 137
porque o naõ terá tambem para lhe
mudar a terminaçaõ?
Alem de que no tocante aos no-
mes, se lhes quizermos buscar esta se-
melhança, mais se parecem na escrit-
tura Occasiaõ com Occasio, do que
Occasiam, pois conserva a vogal O,
que ha na palavra Latina. Do mesmo
modo mais se parece Naõ com Non do
que Nam; pois em Naõ só se altera hu-
ma letra, que he o A; e em Nam duas,
que saõ A e M.
No que toca aos Verbos parece
analogia muy perluxa o dizer Roga-
vam, porque os Latinos diziaõ Roga-
bant; deste modo melhor seria dei-
xarlhe o N, e dizer Rogavan, como
os Castelhanos; e muito melhor ainda
o conservarlhe o B, e dizer Rogaban,
como os Galegos em lugar de Roga-
vaõ, no que certamente naõ convirá
algum Autor.
Nas linguas, que se derivaõ humas
pág. 138
das outras naõ se observaõ taõ miuda-
mente as analogias; antes as termina-
çoens differentes foraõ sempre, as que
fizeraõ a diversidade dos Dialectos.
Deste modo nem Herodoto se atreve-
ria a dizer ?????? no Dialecto Joni-
co, nem Pindaro ???? no Dorico,
porque o Genitivo da terceira Decli-
naçaõ simples na lingua commua era
????. Da mesma sorte naõ haveria taõ
dîversas contracçoens nos verbos Cir-
cumflexos, e particularmente naõ di-
riaõ os Eolicos ?????? em lugar de
??????; nem os Atticos ??????
em lugar de ????????, ou ??????
nos Verbos ???? e ?????.
Nem obsta em segundo lugar di-
zer o mesmo Autor que o Ditongo ÃO
será causa de se naõ distinguîrem os
Preteritos, e os Futuros dos Verbos,
naõ se fazendo differença de Amárão
Amaverunt, e de Amarão Amabunt,
o que elle pretende fazer por meyo da
pág. 139
terminaçaõ em Am, dizendo no Prete-
rito Amáraõ, e no futuro Amarâõ; por-
que esta mesma differença se póde fa-
zer com o Ditongo de ÃO, pondo o me-
smo Accento Agudo na penultima do
Preterito Amáraõ, e mudando-o para a
ultima no Futuro Amaráõ. Com effeito
assim o observa o Padre Antonio Vieira
muitas vezes, e particularmente na Set-
tima Parte dos seus Sermoens pag. 244.
onde escreve com Accento Agudo os
Futuros Diráõ, Cuidaráõ, e pag. 373.
Seráõ, e Arderáõ. E na Terceira Parte
pag. 427. Pediráõ, Estaráõ.
Finalmente naõ digaõ os de opi-
niaõ contraria, que esta Orthographia
he impropria, porque se naõ podem
por 2. accentos na mesma syllaba; por-
que o til naõ he Accento, que abra,
ou feche a Vogal, senaõ hum substitu-
to da Consoante M.
Supposto que o Ditongo ÃO seja
de sua natureza longo, como os maes
pág. 140
Ditongos das outras linguas; com tu-
do em algumas occasioens faz syllaba
breve, seguindose-lhe qualguer das
particulas ma me mo, ta te to, lha
lhe lho, na no, mas mos, nas nos, tas
tos lhas lhes lhos, e se. Trágaõ-ma,
Digaõ-me, Fáçaõ-mo, Ponhaõ-se, &c.
Falta-nos ainda satisfazer a dous
defeitos, que os Estrangeiros preten-
dem achar no Ditongo ÃO, ou na syl-
laba AM, visto fazer o mesmo som.
O primeiro defeito, que allegaõ
contra este Ditongo he, que fórma hum
som aspero ao ouvido; pois ninguem
póde duvidar, de que a Terminaçaõ
Castelhana em Ocasion seja mais suave,
do que a Portugueza em Occasiaõ. Po-
rem nesta mesma reprovada dureza
se enserra huma grande ventagem,
qual he ser o ÃO huma terminaçaõ,
que distingue o Portuguez totalmente
das mais linguas; e em todas ellas se de-
ve estimar particularmente aquillo,
pág. 141
que as differença melhor humas das ou-
tras. Esta singularidade naõ logra a ter-
minaçaõ Castelhana em ION, ainda
que seja mais suave do que a Portu-
gueza em ÃO; pois que os Francezes
tem tambem muitas palavras na mes-
ma terminaçaõ, como Aspiration,
Prétention, ainda que no som do N
haja alguma differença.
O II. defeito, que se allega con-
tra este Ditongo, he o ser muy difficil
de aprender aos Estrangeiros; mas in-
justamente se chama imperfeiçaõ em
huma lingua aquillo, que nella he diffi-
cultozo de alcançar ás outras naçoens.
Deste modo se diria, que a pronuncia
Ingleza nas palavras Lord, Mylord he
hum defeito na lingua, pois naõ ha Es-
trangeiro, que possa vencer aquella dif-
ficuldade, e que chegue a imitar o som
entre O e A, que alli formaõ os Ingle-
zes. Da mesma sorte se attribuhiria a
imperfeiçaõ a pronuncia do U Fran-
pág. 142
cez, que tambem naõ conseguem fa-
cilmente as outras naçoens: Se pois naõ
he defeito para as mais linguas o te-
rem pronuncias difficultozas, ou impos-
siveis de imitar aos Estrangeiros; tam-
bem o naõ serà a pronuncia do Diton-
go ÃO a respeito da lingua Portugue-
za.
E?
Parece que este Ditongo devia
ter lugar nos pluraes dos Agudos da
terminaçaõ EM, como B?es, Desd?es,
Ningu?s, Vint?es; e tambem nos plu-
raes dos nomes em AGEM, IGEM,
UGEM, como Ventag?es, Vertig?es,
Penug?s; mas o P. Antonio Vieira co-
stuma escrever Bens, Desdens, Venta-
gens, Penugens.
No que toca ao singular destes no-
mes sempre o mesmo Author escreve
Bem, Ninguem, e naõ B? Ningu?,
pág. 143
como quer Joaõ Franco Barreto; e do
mesmo modo os Verbos Dem, Tem,
Vem, Contem, Detem, Retem, a que
muitas vezes poem Accento.
?J
Duarte Nunes de Leaõ quer, que
se use deste Ditongo nos Pluraes dos
nomes em IM, como v. g. Jasmîjs Mal-
sîjs; porem o P. Antonio Vieira es-
creve Jasmins, Malsins.
O?
Tem seu lugar em muitos dos
Pluraes dos nomes em ÃO, Acço?s
Coraço?s, Occasio?s; mas o P. Anto-
nio Vieira ordinariamente Acçoens,
Coraçoens &c.pág. 144
OÕ
Tambem Duarte Nunes de Leaõ usa
deste Ditongo nos pluraes dos nomes
em OM: Boõs, Doõs, Soõs, porèm
o Padre Antonio Vieira se serve de N
escrevendo: Bons, Dons, Sons, Tons.
U?
O mesmo Duarte Nunes usa do pre-
sente Ditongo nos pluraes dos nomes
em UM, como Hu?s, Algu?s, Ne-
nhu?s, os quaes o P. Antonio Vieira es-
creve com N Huns, Alguns, Ne-
nhuns.pág. 145
CAPITULO V.
Dos Tritongos.
TRitongo he o som de tres vo-
gaes pronunciadas juntamente,
como se estivessem em huma mesma
syllaba. Nas linguas vulgares saõ muy
frequentes os Tritongos: na Ingleza
entre outros se encontraõ os de Yeard
Vara, Youth mocidade, Wound chaga:
na Franceza os de Vaisseau navio, Saou-
ler fartar, Yeux olhos: na Hollande-
za os de Kraay, gralha, Leevu Leaõ,
Moeite pena. Alguns delles formaõ
som totalmente differente das Vo-
gaes de que se compoem, como v. g.
Vaisseau, Vessó; outros tomaõ o som
dos Ditongos: Saouler Souler. Apon-
tamos estes Tritongos nas outras lin-
guas, naõ para affectar noticia dellas;
mas a fim de mostrar os que se podem
formar na nossa.pág. 146
A‘ vista destes exemplos podemos
dizer que no Portuguez naõ ha Tri-
tongos que formem som diverso das
Vogaes de que saõ compostos: só se
encontraõ alguns que participaõ do
som de alguma das suas Vogaes; e as
mais das vezes se pronunciaõ estas se-
paradamente. Com tudo naõ deixare-
mos de apontar os casos, em que de
algum modo se fórma Tritongo.
AIA, ou AYA.
Alfaya, Atalaya, Azagaya, Al-
fayate, Alvayade, Cayar, Rayar,
Desmayar, Cayado, Rayado, Des-
mayado.
AIO, ou AYO
Ayo, Mayo, Payo, Rayo, Ba-
layo, Payol, Mayor, Mayores, Ga-
yola.pág. 147
EIA, ou EYA.
Meya, Alheya, Enleya, Passeya,
Rodeya, Galanteya.
EIO, ou EYO.
Meyo, Arreyo, Enleyo, Passeyo,
Redeyo, Galanteyo.
IEI, ou IEY.
Amieiro, Cirieiro, Vimieyro.
OIA, ou OYA.
Boya, Troya, Saloya, Tramoya,
Boyaõ, Boyada, Apoyar, Comboyar.
OEI, ou OEY.
Limoeyro, Padroeyro, Tanoeyro,
Poeira, Aroeira.pág. 148
OIO, ou OYO.
Moyo, Apoyo, Saloyo.
UIA, ou UYA.
Tapuya.
_______________________________________
CAPITULO VI.
Dos Accentos.
ACcento na lingua Portugueza he
o sinal que se poem sobre alguma
syllaba, para carregar na Vogal della,
abrindo-a, ou fechando-a, conforme
a sua natureza, ou situaçaõ.
Commumente se dividem os Ac-
centos em Agudo ´, Grave `, e cir-
cumflexo ^. O Accento Agudo ge-
pág. 149
ralmente fallando faz soar mais a Vo-
gal, sobre que está. O Accento Grave
abaixa a Vogal, sobre que se poem. O
Accento Circumflexo assim como par-
ticipa na figura dos Accentos Agudo,
e Grave, assim no effeito participa
tambem do som dos taes Accentos.
Fora facil o determinar o lugar de
cada hum destes accentos, se na nossa
lingua concorressem as mesmas circun-
stancias que na Latina, e Grega; po-
rèm sendo a differença taõ grande, naõ
podemos seguir as mesmas regras. Ain-
da assim procuraremos conformarnos
o mais que for possivel com a nature-
za de cada Accento em particular.
Note-se primeiro que tudo, que o
uso dos accentos na nossa lingua he
principalmente nas palavras equivo-
cas, a quem a differença, ou falta de
accento faz mudar de significaçaõ, co-
mo v. g. em Amára Amaverat, e Ama-
rá Amabit em Gósto Gaudeo, e Gosto
Gaudium.pág. 150
Muitas vezes se poem tambem Ac-
cento só para saber se a Vogal he Aber-
ta, ou Fechada, como v. g. em Vióla,
para mostrar, que a Vogal O se abre
no meyo desta palavra, ao contrario
de Cebola, onde se fecha.
Tambem se usa delle sobre Vo-
gaes que se naõ podem abrir ou fechar,
como saõ I e U, a fim de carregar na
ditta syllaba, de que se segue secun-
dariamente saberse se he longa, co-
mo faz o Padre Antonio Vieira nos Ver-
bos Excíta, Particípa. O mesmo Au-
thor poem Accento nos Adjectivos
Abstraído, Arguído, Concluído, e Pro-
movído, e nos tres primeiros ha ainda
mayor necessidade de Accento, pa-
ra mostrar que nelles naõ ha Diton-
go.
Accento Agudo póde ter tres lu-
gares, Antepenultima, Penultima, e
Ultima. O fim principal deste Accento
na Antepenultima he abrir muito a Vo-
pág. 151
gal sobre que se poem, e fazer que fi-
que como Dominante entre as mais
syllabas, sem attender à Quantidade
de Breve, ou Longa na syllaba em que
està. Isto observáraõ os Latinos; por-
que o mesmo Accento Agudo se attri-
bue à Antepenultima de Maximus com
a primeira longa, do que a Homines
que tem a primeira Breve. Os Gregos
guardáraõ tambem a ditta regra escre-
vendo com o mesmo Accento ????????
Deúteron, que ???????, Thánatos, naõ
obstante que o primeiro nome tem a
primeira syllaba longa, e o segundo a
tem breve.
Alem do fim principal do Accento
Agudo na Antepenultima, que he abrir
a Vogal, sobre que se poem, como
se vè nos nomes Dádiva, Máquina,
Pállido, Rápido, onde o A da primei-
ra syllaba he muito Aberto: Serve tam-
bem para carregar na Vogal da mes-
ma syllaba Antepenultima, para fazer
pág. 152
a Penultima Breve, ainda que muitas
vezes naõ possa dar à dita Vogal hum
som claro, como tem os nomes acima,
ou porque ella o naõ receba de sua
mesma natureza, como succede nas
Vogaes I e U, v. g. em Mínimo, Ví-
cio, Júbilo, Público; ou porque se
lhe segue alguma consoante nesta syl-
laba, que impede o som claro da Vo-
gal, como em An‘cora, Góndola, Cóm-
puto, Sándalo.
Estes saõ os dous fins do Accento
Agudo na Antepenultima: o primeiro
abrir a Vogal sobre que se poem, e o
segundo carregar nella para fazer a Pe-
nultima Breve.
Porèm ainda se offerece huma re-
flexaõ, que póde servir de exceiçaõ
de regra; e he que muitas vezes suc-
cede porse Accento Agudo na Ante-
penultima, sobre Vogaes capazes de
som aberto; que com tudo ficaõ com
som escuro, como se vè em A‘mago,
pág. 153
A‘nimo, Cámara, Támara; onde o
A da ditta Antepenultima podéra soar
claramente, pois he Vogal capaz de
abrirse de sua natureza, e naõ tem o
embaraço de consóante, que se lhe si-
ga na mesma syllaba. Neste caso só
serve o ditto Accento Agudo de fazer
breve a Penultima.
Do Accento Agudo na Antepenul-
tima naõ fallaõ os nossos Grammatî-
cos; porém observa-se muitas vezes
nas Obras do P. Antonio Vieira; e parti-
cularmente na Terceira Parte dos seus
Sermoens pag. 338. e 342. onde diz:
Sómente, Póde-se.
A‘vista destes exemplos se devia
tambem usar de Accento Agudo nas
Antepenultimas de outras palavras,
como em Frécheiro, Mézinha, Sé-
diço, Séteira; pois tem a mesma neces-
sidade de Accento, para nellas se abri-
rem as Vogaes das primeiras syllabas.
Sobre tudo he necessario o ditto
pág. 154
Accento nas palavras, que pela sua falta
ficaõ equivocas. Estas se pòdem redu-
zir a duas classes, huma de palavras,
em que o Equivoco só respeita o abrir
ou fechar da Vogal, deixando a Pe-
nultima, ou syllaba Media com a mes-
ma quantidade, como succede nas se-
guintes.
Pégada
Pegada
Pésame
Pesame.
Prégado
Pregado.
A outra classe he de palavras em
que o Equivoco altéra a quantidade
da syllaba Media, ou Penultima, e a
faz ser breve, ou longa, como se vè
da lista presente.
Abóbora
Abobóra
Adúltera
Adultéra.
A‘goa
Agôa,
Alívio
Alivîo
pág. 155
A‘ncora
Ancóra
A‘nimo
Anímo
Artículo
Articúlo
A‘rvore
Arvóre
Beatífico
Beatifíco
Annúncio
Annuncîo
Cándea
Candêa
Circunstáncia
Circunstãcîa
Cómputo
Compûto
Contínuo
Continûo
Contrário
Contrarîo
Depósito
Deposîto
Dísimo
Disîmo
Dúvida
Duvîda
Equívoco
Equivóco
Específico
Espicifîco
Exército
Exercîto
Gázeo,
Gazêo
Glória
Glorîa
Hábito
Habîto
Idólatra
Idolátra
Injúria
Injurîa
I‘ntimo
Intîmo
pág. 156
Júbilo
Jubîlo
Lástima
Lastîma
Legítimo
Legitîmo
Máquina
Maquîna
Malícia
Malicîa
Mágoa
Magôa
Officío
Officîo
Pánico
Panîco
Páteo
Patêo
Prática
Pratîca
Princípio
Principîo
Pronóstico
Pronostîco
Pronúncia
Pronuncîa
Próspero
Prospéro
Provido
Provîdo
Público
Publîco
Régulo
Regûlo
Renúncia
Renuncîa
Sábia
Sabîa
Séria
Serîa
Témpera
Tempéra
Vária
Varîa
Válido
Valîdo
pág. 157
Vómito
Vomîto.
Em todas estas palavras he neces-
sario Accento Agudo na Antepenulti-
ma (fallando das da primeira columna)
humas vezes para abrir a Vogal sobre
que vay posto; e outras para que car-
regando nella fique Breve a Penulti-
ma.
Note-se que os nomes postos na pri-
meira columna, saõ sempre os que tem
a Penultima Breve ao contrario dos
Verbos da segunda columna, em que
sempre he Longa.
Accento Agudo na Penultima tem
lugar em varias palavras a fim de abrir
a Vogal sobre que se puzer, como Mó-
ta, Séta para differença de Greta Se-
pa: Amóra, Espóra para differença
de Senhora, Gritadora.
A principal necessidade deste Ac-
cento he a respeito das palavras que
sem elle ficariaõ equivocas. Primeira-
pág. 158
mente levaõ Accento Agudo varios
tempos dos Verbos, v. g. os Preteri-
tos da primeira Conjugaçaõ Amámos,
Fallámos, Levámos, para differença
dos presentes Amamos, Fallamos, Le-
vamos. Da mesma sorte os Preteritos
Plusquam perfeitos Amára, Fallára,
Levára para differença dos Futuros,
que tem no fim Accento Agudo: Ama-
rá, Fallará, Levará.
Igual necessidade ha tambem para
differençar varios Verbos dos nomes,
e alguns nomes entre si, de que dare-
mos duas listas, huma das palavras de
duas syllabas, e outras das de 3. e mais
syllabas.
Bésta
Besta.
Bólo v.
Bolo n.
Bórra v.
Borra. n.
Cérco v.
Cerco n.
Chóro v.
Choro n.
Cóbro v.
Cobro n.
pág. 159
Córte
Corte
Cóva
Cova
Désse
Desse
E‘rro v.
Erro n.
Fóra
Fora
Fórça v.
Força n.
Fórma v.
Forma n.
Gósto v.
Gosto n.
Gózo v.
Gozo n.
Jògo v.
Jogo n.
Móça
Moça
Mólho v.
Molho n.
O‘lho v.
Olho n.
Péga v.
Pega n.
Pézo v.
Pezo n.
Póde pres.
Pode pret.
Prégar
Pregar
Régo v.
Rego n.
Ródo v.
Rodo n.
Rógo v.
Rogo v.
Sóbre v.
Sobre prep.
Sóldo v.
Soldo n.
Tópo v.
Topo n.
pág. 160
Tórno v.
Torno n.
Vérga v.
Verga n.
Zélo v.
Zelo. n.
Abórto v.
Aborto n. &c.
Accórdo v.
Accordo
Acérto v.
Acerto
Apérto v.
Aperto
Apóyo v.
Apoyo
Aprésto v.
Apresto
Arreméço v.
Arremeço
Arrócho v.
Arrocho
Arrójo v.
Arrojo
Arróto v.
Arroto n. &c.
Azédo
Azedo
Boféte
Bofete
Concérto
Concerto
Confórto
Conforto
Desafógo
Desafogo
Desafóro
Desaforo
Desapégo
Desapego
Desembólço
Desembolço
Despójo
Despojo
pág. 165 [recte pág. 161]
Desprézo
Desprezo
Destempéro
Destempero
Emprégo
Emprego
Engódo
Engodo
Entérro
Enterro
Entójo
Entojo
Enxérto v.
Enxerto n. &c.
Equivóco
Equivoco
Escóva
Escova
Esfórço
Esforço
Espóso
Esposo
Govérno
Governo
Refórço
Reforço
Socégo
Socego
Tempéro
Tempero
Tropéço
Tropeço
Alvoróço
Alvoroço
Aderéço
Adereço
Apréço
Apreço
Arremédo
Arremedo
Desgósto
Desgosto
Encósto
Encosto
pág. 166 [recte pág. 162]
Espéto
Espeto
Enrédo
Enredo
Estórvo
Estorvo.
A‘lem da necessidade, que ha de
Accento Agudo nas penultimas das pa-
lavras das listas precedentes, parece
indispensavel o ditto Accento em mui-
tas outras occasioens.
Em primeiro lugar nos Adjectivos
em OSA OSO, ou OZA OZO, para
distinguir nelles a vogal O fechada da
Vogal O aberta; he bem verdade que
nesta materia se póde dar huma regra
geral, a saber, que a Terminaçaõ Fe-
minina sempre leva O aberto, e a Mas-
culina fechado, como se vè na lista
seguinte.
Airóza
Airozo
Aleivóza
Aleivozo
Ditóza
Ditozo
Engenhóza
Engenhozo
pág. 167 [recte pág. 163]
Façanhósa
Façanhoso
Fermósa
Fermoso
Forçóza
Forçoso
Furiósa
Furioso
Golósa
Goloso
Gostóza
Gostozo
Grandiósa
Grandioso
Leprósa
Leproso
Maliciósa
Malicioso
Manhóza
Manhozo
Mavióza
Maviozo
Medróza
Medrozo
Pasmóza
Pasmozo
Queixóza
Queixozo
Ruidóza
Ruidozo
Saboróza
Saborozo
Teimóza
Teimozo
Vaidóza
Vaidozo
Viçóza
Viçozo
Vistóza
Vistozo
Victorióza
Victoriozo
Zelóza
Zeloso.
pág. 168 [recte pág. 164]
Esta mesma regra póde tambem
servir para os Adjectivos em OSTA
OSTO, em que os Femininos se pro-
nuncîaõ com O aberto. Compósta,
Expósta, Repósta, Suppósta, ao con-
trario dos Masculinos, que levaõ O fe-
chado: Composto, Exposto, Reposto,
Supposto.
Em segundo lugar nos Adjectivos
de duas syllabas em varias termina-
çoens, onde os Femininos tem O aber-
to, como Mórna, Mórta, Nóva,
Tórta, para differença dos Masculinos,
que o tem fechado. Morno, Morto,
Novo, Torto.
Esta regra porèm naõ deixa de es-
tar sogeita a varias exceiçoens; por-
que muitas vezes levaõ O fechado as-
sim os Masculinos, como os Femini-
nos v. g. Forra, Forro, Gorda Gor-
do, Moça Moço, Nona Nono, Preza
Prezo, Solta Solto, Teza Tezo, To-
da Todo, Tola Tolo, Roxa Roxo,
Vesga Vesgo.pág. 169 [recte pág. 165]
Outras vezes tem todos O aberto,
como v. g. Lérda Lérdo, Lésa Lé-
zo, Méra Mêro, Cérta Cérto, Féra
Féro, Nóssa Nósso, Vóssa Vósso.
Semelhante variedade se experi-
menta nos Adjectivos de tres syllabas;
porque Devóto Devóta, Sevéra Se-
véro tem sempre a Vogal Media aber-
ta; e pello contrario he fechada em
Amena Ameno, Azeda Azedo, Es-
querda Esquerdo.
Em terceiro lugar nos substanti-
vos de duas e tres syllabas, compostos
das mesmas letras, mas differentes no
Genero, dos quaes os Femininos tem
o E aberto, e os Masculinos fechado.
Bóla
Bolo
Fólga
Folgo
Fórra
Forro
Méda
Medo
Mófa
Mofo
Pórca
Porco
pág. 170 [recte pág. 166]
Pórta
Porto
Pósta
Posto
Róda
Rodo
Sólda
Soldo
Tólda
Toldo
Canéla
Canelo
Capélla
Capello
Ouréla
Ourelo.
Exceituaõ-se desta regra alguns
substantivos, em que ambos os Ge-
neros levaõ a Penultima aberta, como
Cópa Cópo, Móda Módo, Pérra Pér-
ro, Sérva Sérvo.
Tambem se exceituaõ outros, que
sempre a tem fechada. Goma Gomo,
Loba Lobo, Pera Pero, Sorva, Sor-
vo, Carreta Carreto, Esposa Espo-
so, Rapoza Rapozo, Saloya Saloyo.
Em quarto lugar he necessario Ac-
cento Agudo na penultima para mos-
trar, que varios nomes levaõ O aber-
to no plural, tendo-o fechado no sin-
pág. 171 [recte pág. 167]
gular, como se vé na lista seguinte.
Coro
Córos
Corpo
Córpos
Corvo
Córvos
Forno
Fórnos
Olho
O‘lhos
Osso
O‘ssos
Ovo
O‘vos
Poço
Póços
Porco
Pórcos
Rogo
Rógos
Tojo
Tójos
Tordo
Tórdos
Torno
Tórnos
Troço
Tróços
Abrolho
Abrólhos
Caroço
Caróços
Despojo
Despójos
Gafanhoto
Gafanhótos
Minhoto
Minhótos
Miolo
Miólos
pág. 172 [recte pág. 168]
Perdigoto
Perdigótos
Pescoço
Pescóços
Tramoço
Tramóços
Exceituaõ-se desta regra varios
Pluraes, que levaõ a Penultima fecha-
da do mesmo modo que os singulares.
Bobo
Bobos
Bolo
Bolos
Gomo
Gomos
Lobo
Lobos
Lodo
Lodos
Moço
Moços
Nojo
Nojos
Sorvo
Sorvos
Tolo
Tolos
Troco
Trocos
Engodo
Engodos
Esposo
Esposos
Ferrolho
Ferrolhos
Rapozo
Rapozos
pág. 173 [recte pág. 169]
Refolho
Refolhos
Rebolo
Rebolos
Repolho
Repolhos
Tijolo
Tijolos.
Quanto aos Substantivos, que se
terminaõ em A basta dizer, que con-
servaõ geralmente na penultima dos
pluraes a Vogal aberta, ou fechada que
tinhaõ no singular. Assim se pronuncîa
O aberto em ambos os numeros dos
substantivos seguintes:
Bóla
Bólas
Cóva
Cóvas
Pósta
Póstas
Róda
Ródas.
Pello contrario se pronuncîa O fe-
chado em:
Coca
Cocas
Folha
Folhas
pág. 174 [recte pág. 170]
Goma
Gomas
Rolha
Rolhas
Voda
Vodas.
Semelhante regra geral se póde dar
para os nomes de 2. syllabas, que tem
E na Antepenultima, a saber que re-
tem nas pluraes a mesma Vogal aber-
ta, ou fechada do singular. Nesta fór-
ma levaõ E Aberto.
Férro
Férros
Mélro
Mélros
Prégo
Prégos
Prélo
Prélos
Sérvo
Sérvos
Térno
Térnos.
Béca
Bécas
Féra
Féras
Frécha
Fréchas
Mécha
Méchas
Méta
Métas
pág. 175 [recte pág. 171]
Térra
Térras
Vélha
Vélhas.
Pello contrario se pronuncîa E fe-
chado em:
Dedo
Dedos
Feno
Fenos
Rego
Regos
Remo
Remos
Trevo
Trevos
Zelo
Zelos
Greta
Gretas
Letra
Letras
Pena
Penas
Penha
Penhas
Resma
Resmas
Telha
Telhas.
Finalmente he necessario Accento
Agudo nas penultimas dos Presentes
dos Verbos, que se seguem, para os
differençar dos nomes.
pág. 176 [recte pág. 172]
Verbos.
Nomes.
Bàixaõ
Baixàõ
Bástaõ
Bastàõ
Bórdaõ
Bordàõ
Bórraõ
Borràõ
Bótaõ
Botàõ
Cálçaõ
Calçàõ
Cánçaõ
Cançàõ
Cátaõ
Catàõ
Chóraõ
Choràõ
Chóutaõ
Choutàõ
C,úrraõ
C,urràõ
Dóbraõ
Dobràõ
Férraõ
Ferràõ
Fórmaõ
Formàõ
Fúndaõ
Fundàõ
Guíaõ
Guiàõ
Límaõ
Limàõ
Málhaõ
Malhàõ
Móntaõ
Montàõ
pág. 177 [recte pág. 173]
Pícaõ
Picàõ
Pízaõ
Pizàõ
Pénsaõ
Pensàõ
Pódaõ
Podàõ
Rásgaõ
Rasgàõ
Rézaõ
Rezàõ
Sérraõ
Serràõ
Tórraõ
Torràõ
Tóstaõ
Tostàõ
Trávaõ
Travàõ
Tróvaõ
Trovàõ
Alégraõ
Alegràõ
Arreméçaõ
Arremeçàõ
Empúrraõ
Empurràõ
Reméndaõ
Remendàõ
Accento Agudo na Ultima syllaba
tem lugar nos Monosyllabos, que se fór-
maõ com Vogal pura aberta, como Cá
Já Lá Pá Fé Pé Sé Dó Nó Pó Só.
Da mesma sorte nos que levaõ al-
guma consoante com a mesma Vogal
aberta, como os Verbos Dáz Fáz
pág. 178 [recte pág. 174]
Tráz, Váz nos Pronomes Nós Vós;
e em outras palavras, como Ar, Páz,
Más, Déz, Féz, Pés, Cór, Pós,
Fóz, Vóz.
Sobre tudo he necessario muitas
vezes para evitar equivocos, como
entre Cór memoria, e Cor color: en-
tre Féz Reyno e Fez fecit: entre
Más de Malus, e Mas adverbio: Entre
Gráo gradus, e Graõ Granum: entre
Máo Malus, e Mão Manus: entre Náo
Navis, e Naõ non: entre Páo lignum,
e Paõ Panis: entre Váo vadum, e
Vaõ vanus.
Tambem se poem Accento Agudo
no fim de nomes de muitas syllabas,
ou acabem por Vogal, ou por con-
soante. Manná, Tafetá, Galé, Ma-
ré, Teiró, Guardapó, Finál, Morál,
Primáz, Culhér, Mulhér, Convéz,
Revéz, Faról, Lançól, Mayór, Me-
nór, Peór, Suór, Feróz, Retròz.
Finalmente nos futuros dos Ver-
pág. 179 [recte pág. 175]
bos de todas as Conjugaçoens: Será
Dará, Lerá, Rirá, Porá, e nos de
mais syllabas, para os differençar dos
Preteritos Plusquam perfeitos.
Até aqui se consorma a lingua Por-
tugueza com outras linguas no uso do
Accento agudo; mas ainda tem duas
singularidades, que merecem particu-
lar reflexaõ.
A pimeira he admittir Accento
Agudo na primeira syllaba de alguns
nomes, e Verbos, que tem quatro,
ou mais syllabas; se nelles se houver
de pronunciar a ditta primeira syllaba
com Vogal aberta. Esta singularidade
he contra as regras do Accento Agu-
do, que tanto no Grego, como no
Latim naõ póde preceder a Antepe-
nultima. Quando digo que he contra
as regras da lingua Grega, fallo do
Grego Primitivo; porque no vulgar de
hoje tem introduzido a barbaridade
recuar o Accento Agudo mais que à
pág. 180 [recte pág. 176]
Antepenultima, e polo na primeira
syllaba de nomes, que às vezes tem
quatro e cinco.
Com effeito usa o Padre Antonio
Vieira de Accento Agudo na primeira
syllaba de Prégadores, e isto repetidas
vezes no Sermaõ do Espirito Santo na
sua terceira parte. Assim tambem se de-
ve usar em Prócuraçaõ, e Prócura-
dores, mas naõ no verbo Procuro,
Procurar, que alguns pronuncîaõ im-
propriamente com O aberto, como
fazem em certas Provincias. Dessa sor-
te porque se diz Sérvo com E aberto,
quereráõ tambem dizer Sérvidor, e
Sérvir, que o levaõ fechado; e de A‘r-
vore, Mártir, Bóla, Róda, em que
se abrem as Vogaes A e O, diraõ A‘r-
voredo, Mártirio, Bólar, e Ródar,
em que se fechaõ.
A mesma Accentuaçaõ pratîca es-
te Autor nos Verbos, que vaõ unidos
com alguns Pronomes, ou Particulas,
pág. 181 [recte pág. 177]
como v. g. Fizérao-volo, Mostráraõ-
se-nos, Tiráraõ-sevos, Puzéraõ-sete,
Acabáraõ seme; e este ultimo exem-
plo he da terceira Parte pag. 343. Isto
deve tambem ter lugar nos singulares:
Fizéra-volo, Mostrára-senos, Tirá-
ra-sevos, Puzéra-sete, Acabára-seme.
Igual necessidade concorre na pa-
lavra Mésinheiro, e algumas outras,
pois sem accento Agudo se naõ leria
aberta a Vogal E da primeira syllaba.
A segunda singularidade he admit-
tir 2. accentos Agudos na mesma pala-
vra, o que tambem he tanto contra as
regras geraes da Lingua Grega, como
da Latina; porque o Accento Agudo se
deve pôr sobre a Vogal dominante; e
esta naõ costuma ser nas dittas linguas
mais que huma em cada nome.
Esta Accentuaçaõ porèm he neces-
saria nos Preteritos Brádáraõ, Córá-
raõ, Géráraõ, Prégáraõ, Pádejáraõ;
Vózeáraõ, naõ só para os differençar
pág. 182 [recte pág. 178]
dos Futuros, mas para tirar Equivocos.
Se o Preterito Prégáraõ naõ levar Ac-
cento Agudo na syllaba GA‘, equivo-
carseha com o futuro Prégaraõ. Se
naõ tiver outro Accento Agudo na syl-
laba Pré, quando significa Praedicave-
runt, naõ se distinguirâ de Prégáraõ
clavo confixerunt.
Do mesmo modo he necessario do-
brado Accento Agudo nos Participios
Brádádo, Córádo, Gérádo, Entré-
vádo, Enfézádo, &c. nos Infinitivos
Pádejár, Vózeár; e nos substantivos
Cálçádo, Mórgádo, Cálçáda, Pégáda,
Báchá, Cázamáta, Espálhafáto, A‘l-
fayáte, A‘ljabébe, &c.
O ser esta Orthographia contra o
uso do Accento Agudo se salva com
dizer, que o fim principal do ditto
Accento na nossa lingua he abrir mui-
to as Vogaes: logo se no mesmo no-
me concorrerem muitas Vogaes aber-
tas, muitos devem tambem ser os Ac-
centos Agudos.pág. 183 [recte pág. 179]
Na mesma lingua Grega temos de
algum modo, com que desculpar esta
irregularidade; porque supposto que
cada nome naõ possa ter mais que
hum Accento Agudo; comtudo a uniaõ
das Encliticas altéra esta regra geral,
e faz que muitos nomes, que já tinhaõ
hum Accento Agudo, recebaõ outro
por causa da tal Enclitica, como se
encontra muitas vezes, e particular-
mente duas no mesmo verso 157. do
primeiro livro da Iliada de Home-
ro ??????? ???????? ?????????
???????? E os montes sombrios, e o
már sonoro.
Accento grave naõ deve ter lugar
senaõ na ultima syllaba, como só teve
entre os Gregos; e na tal syllaba faz
pronunciar a Vogal com hum som fe-
chado, e escuro. He taõ proprio o
Accento Grave da ultima syllaba, que
quando na Lingua Grega se ajuntaõ as
Encliticas a nomes, que levaõ o tal Ac-
pág. 184 [recte pág. 180]
cento, no qual caso se pronuncîa o
nome, e a Enclitica tudo seguido; mu-
da-se entaõ o Accento Grave em Agu-
do, visto que jà o nome naõ acaba como
antes. Assim se vè v. g. em ??????s????
e em ?????s???? que por causa das
Encliticas se escrevem, e lèm com
Accentos mudados: ??????s??
?????s?? como se fosse tudo hu-
ma só palavra.
Mal se póde distinguir no nosso
Portuguez o Accento Grave do Cir-
cumflexo a respeito da ultima syllaba;
porque naõ milita a mesma razaõ, que
na lingua Grega, onde para tudo ha
principios certos, ainda que sojeitos
a muitas exceiçoens.
A querer dar alguma regra nesta
materia fòra de parecer, que se usasse
de Accento Grave nos Monosyllabos,
que levaõ Vogal fechada, como v. g.
Sè tu, Crè tu, Vè tu, Dè elle; e
nos presentes do Indicativo: Elle crè,
Elle vè.pág. 185 [recte pág. 181]
Da mesma sorte nos Monosyllabos,
que acabarem em consoante, se nel-
les tiver tambem a Vogal hum som
escuro: como v. g. nos Verbos: Dès
Crès Fèz Vès Dèm Tèm Vèm Fòr
Pòr Pòz: nas palavras Bèm Nèm Sèm
Rèz Vèz Dòm Sòm, Tòm Còr de
Color, Dòr Flòr.
Tambem naõ duvidára usar de
Accento Grave nos Futuros em AÕ:
Amaràõ Leràõ, Ouviràõ, Poràõ,
para differença dos Preteritos; visto
que este Ditongo fórma hum som fe-
chado, e escuro. Bem vejo porèm que
o Padre Antonio Vieira se serve de
Accento Agudo nos sobredittos futu-
ros, como fica ditto, quando trattá-
mos do Ditongo AÕ; mas como nos
taes futuros cesse o fim principal do
Accento Agudo, que he abrir a Vo-
gal; e por outra parte o Accento Gra-
ve he proprio da ultima syllaba, por
isso usára antes nelles de Accento
pág. 186 [recte pág. 182]
Grave, do que de Accento Agu-
do.
Conforme esta regra haõ tambem
de levar Accento Grave as terminações
dos nomes em AÕ, que sem elle fi-
cariaõ equivocos, como v. g. Botàõ,
Dobràõ, Formàõ, e Podàõ, com os
mais que juntámos em huma lista tra-
tando do Accento Agudo. Sobretudo
he necessario Accento Grave no sub-
stantivo Foràõ, para se distinguir do
Preterito Foraõ, visto que naõ póde
levar Accento Agudo no principio,
pois se naõ abre alli a Vogal. He bem
verdade que o ditto Preterito Foraõ
póde tambem ter Accento Circumfle-
xo na penultima, Fôraõ.
Mayor difficuldade ha ainda em
averiguar se se déve pòr Accento Gra-
ve, ou Circumflexo no fim das pala-
vras, que se terminaõ em ER, ES ou
EZ, OR, OS ou OZ, com E e O fe-
chado, para as differençar de outras
pág. 187 [recte pág. 183]
nas mesmas terminaçoens, que levaõ as
dittas Vogaes Abertas com Accento
Agudo: v. g. para fazer differença de
Prazer a Culhèr, de Arnez a Revèz,
de Bolor a Mayór, de Arroz, a Re-
tróz.
Porèm como o nosso parecer he,
que se deve usar de Accento Circum-
flexo nas referidas terminaçoens, guar-
damos trattar esta materia, para quan-
do fallarmos do ditto Accento.
Accento circumflexo póde estar
na Penultima, e na Ultima; e o seu
fim he fazer hum tom tambem fecha-
do, e escuro.
Na Penultima levaõ Accento Cir-
cumflexo varias palavras de duas, e
mais syllabas em differentes termina-
çoens, em que se pronuncîa a Vogal
fechada; como v. g. Câma, Sêpa, Gôma,
Escâma, Comêta, Redôma, Gâmo, Rê-
mo, Pôvo, Tyrâno, Espêlho, Miôlo.
He bem verdade que em todas estas
pág. 188 [recte pág. 184]
palavras naõ he taõ necessario o Ac-
cento circumflexo, porque ainda que
lhes falte, naõ formaõ algum Equi-
voco.
Por esta razaõ se faz preciso nas
palavras abaixo, porque ficariaõ equi-
vocas com a falta do ditto Accento. V.
g. nos nomes Chôro, Fôrro, Jôgo, Rô-
go, para os differençar dos Verbos
Chóro, Fórro, Jógo, Rógo. E da mes-
ma sorte nos nomes de mais syllabas:
Acêrto, Confôrto, Despôjo, para se
distinguirem dos Verbos: Acérto, Con-
fórto, Despójo.
Serve tambem o Accento Circum-
flexo para differençar os nomes, as-
sim substantivos como Adjectivos, que
mudando do Genero mudaõ de Accen-
to, v. g. Côrvo, Córva, Dôno Dóna,
Nôvo Nóva, Pôrco Pôrca, Tôrto Tór-
ta.
E para distinguir alguns singulares
dos Pluraes, como v. g. Côro, Fôrno,
pág. 189 [recte pág. 185]
Pôvo, Rôgo, que nos pluraes levaõ
Accento Agudo com Vogal aberta:
Córos, Fórnos, Póvos, Rógos; e da
mesma sorte nos de mais syllabas.
Os mais lugares do Accento Cir-
cumflexo na Penultima se pódem ver
nas listas, que fizemos tratando do Ac-
cento Agudo.
Na ultima se déve pòr Accento cir-
cumflexo no fim das palavras, que se
terminaõ em ER, ES ou EZ, OR,
OS, ou OZ com E e O fechado, pa-
ra as distinguir de outras nas mesmas
terminaçoens, que levaõ as dittas Vo-
gaes abertas com Accento agudo. V. g.
para fazer differença de Prazêr a Mu-
lhér, de Torquêz a Convéz, de Hor-
rôr a Menór, de Algôz a Cadóz.
O fundamento porque usamos de
Accento Circumflexo nestas palavras
he, porque o ditto Accento de sua na-
tureza participa do Agudo, e do Gra-
ve: logo parece que se déve usar del-
pág. 190 [recte pág. 186]
le naquellas palavras, que se terminaõ
em Agudo, como saõ Prazer Ardor,
nas quaes o mesmo Accento Agudo
naõ póde ter lugar, por se naõ pro-
nunciarem com vogal aberta, como
succede em Culhér, e Mayór.
Bem sey que esta razaõ serve
tambem para provar, que se déve pòr
Accento circumflexo nos Monosylla-
bos Ver Rez Dor Poz, em que nós usá-
mos de Accento Grave; pois da mes-
ma sorte se terminaõ em Vogal fecha-
da, ainda que aguda: E nòs reconhe-
cendo a força desta razaõ naõ duvidá-
ramos usar de Accento circumflexo
nos dittos Monosyllabos, se naõ fora
o querermos reservar algum lugar pa-
ra o Accento Grave.
Em conformidade do que acima
dizemos se déve tambem suppor Ac-
cento circumflexo nos tempos dos Ver-
bos, que acabaõ em semelhantes ter-
minaçoens, como saõ os Preteritos Des-
pág. 191 [recte pág. 187]
fêz Refêz, Compôz Repôz: Os Infi-
nitivos da segunda, e quarta Conju-
gaçaõ Querêr, Temêr, Compôr, Re-
pôr.
Sobre tudo he neccssario Accento
circumflexo no Infinitivo Podêr Posse,
para o distinguir do Futuro Podér Po-
tuero, que leva E aberto.
Quanto às palavras na terminaçaõ
EM tambem dévem levar Accento cir-
cumflexo, ainda que nunca se pode-
riaõ pronunciar com Vogal aberta, pois
sempre se lhe suppoem quasi hum I
no meyo, que obriga a fechar a Vo-
gal, como succede em Alguêm, Des-
dêm, Ninguêm, Parabêm, que se pro-
nuncîaõ como se estivesse escritto: Al-
gueim, Desdeim, Ningueim, Para-
beim. Da mesma sorte nos Adverbios
Porêm, Tambêm. Nem obsta o dizer-
se que os Adverbios Latinos levaõ Ac-
cento Grave, e que assim o devem ter
os Portuguezes; porque naõ ha mayor
pág. 192 [recte pág. 188]
razaõ para que os Latinos naõ guar-
dem as regras dos Accentos da lingua
Grega, e nós hajamos de guardar as
dos Accentos da Latina.
A respeito das palavras Equivo-
cas Contem, e Porem se deve praticar
esta Accentuaçaõ. Quando Contêm vem
do Verbo Continere, e Porêm he Ad-
verbio, haõ de ter Accento Circum-
flexo na ultima. Quando Côntem vem
de Numerare, e Pôrem de Ponere, de-
vem levar Accento Circumflexo na
Penultima, onde teriaõ Accento Agu-
do, se se pudesse abrir a Vogal.
Finalmente se ha de suppor Accen-
to circumflexo nas terminaçoens em
IL IR IZ UL UM UZ, supposto que
estas vogaes se naõ possao abrir de sua
propria natureza, como Burîl Ceytîl
Ferîr Pedîr Matrîz Azûl Paûl Al-
gûm Nenhûm Capûz Ormûz; e assim
nos preteritos da 4. Conjugaçaõ Com-
pûz, Suppûz; a que se pódem tambem
pág. 193 [recte pág. 189]
accrescentar as palavras em IM v. gr.
Jasmîm, Motîm, Espadîm.
Isto he tudo o que pudémos ob-
servar sobre os Accentos da Lingua
Portugueza; mas quanto mayor cui-
dado puzemos em lhe estabelecer al-
gumas regras; tanto mayor occasiaõ
teremos talvez dado a que se critique
o nosso trabalho. Nesta forma naõ du-
vido, que algumas pessoas, principal-
mente as que ignoraõ a Accentuaçaõ
Grega, e Hebraica, nos accusem de
que queremos sogeitar as palavras da
nossa lingua a huma taõ dura escravi-
daõ, como a dos Accentos: mas a isto
respondemos, que o nosso intento naõ
he persuadir a ninguem, que use delles
em todo o seu rigor; se naõ mostrar
que os taes Accentos pódem ter lugar
na nossa lingua; assim como o tiveraõ
na Grega, e muito mais na Hebraica,
o que lhe seria de huma summa perfei-
çaõ Ao menos ninguem me negará, que
pág. 194 [recte pág. 190]
por meyo destas regras se evitaõ in-
finitos Equivocos; pois ha humas pa-
lavras, em que he preciso Accento
Agudo, e outras em que se necessita
do Grave, ou do Circumflexo, para
pronunciar as Vogaes jà Abertas, jà
Fechadas, já Breves, e já Longas, em
forma que se possa perceber logo o
sentido da Oraçaõ. Accrescenta-se a
isto, que supposto que os que saõ Por-
tuguezes, facilmente determinem pel-
lo sentido a significaçaõ das palavras, e
a quantidade das Syllabas; com tudo
naõ succede assim aos Estrangeiros, pa-
ra os quaes he indifferente pronunciar
Póde Potest com O Aberto, e Pôde
Potuit com O Fechado; e damesma
sorte fazer breve o substantivo Mágoa,
e longo o Verbo Magôa, ou pronun-
ciar estas palavras de outra maneira,
mudandolhes o som, e a quantidade,
com que se confunda a sua verdadeira
significaçaõ. Finalmente para evitar
pág. 195 [recte pág. 191]
que se critique com justa razaõ o ze-
lo, com que procuramos a perfeiçoar a
Orthographia da lingua Portugueza,
nos contentamos com dizer que só
saõ precisos os Accentos nas palavras
equivocas; e que nas outras se deve
suppor que os ha, para dar alguma ra-
zaõ da pronuncia das taes palavras.
_______________________________________
CAPITULO VII.
Das Letras dobradas.
AS letras, como bem advirtio Al-
varo Ferreira de Vera na sua Or-
thographia, a quem copiou Joaõ Fran-
co Barreto, ou se dobraõ pella natu-
reza das palavras, como Callo Fallo,
de que se naõ póde dar regra alguma:
pág. 196 [recte pág. 192]
ou por Derivaçaõ como Cavalleiro de
Cavallo, Ferreiro de Ferro: ou por
significaçaõ, como succede nos Dimi-
nutivos Verdette, Pequenette de Ver-
de, e Pequeno; do mesmo modo que os
Latinos disseraõ Libellus de Liber, e
Tantillus de Tantus: ou por Corrup-
çaõ, convertendo huma letra em ou-
tra, como nos nomes que se derivaõ
do Latim, v. g. Pessoa de Persona,
e Dicçaõ de Dictio: ou por Variaçaõ,
principalm?te de conjugaçaõ, para mos-
trar Tempos ou Modos differentes, como
Amase, Ensina-se, que differem de Amas-
se, Ensinasse; pois os primeiros saõ lin-
guagem do Indicativo; e os 2. do Conjun-
ctivo. Finalmente dobraõ-se as letras por
Composiçaõ, como Afforar de Foro, Ar-
ruinar de Ruina, Assinalar de Sinal, Em-
mudecer de Mudo, Ennobrecer de Nobre.
Alem destas regras fundamentaes
de dobrar as letras se devem observar
as seguintes.
pág. 197 [recte pág. 193]
Em 1. lugar as letras, que mais ne-
cessitaõ de se dobrarem, saõ MNRS,
e ainda a letra C no principio de al-
gumas palavras. Estas se dobraõ quasi
sem mais regra, que a boa consonan-
cia que fazem no ouvido; porque naõ
ha, quem naõ estranhe ouvir Arruinar
em lugar de Aruinar, Asinalar em lu-
gar de Assinalar, Acesso em lugar de
Accesso. Sem mais regra pois que a
harmonia do Ouvido escreveremos
com letras dobradas os nomes, e verbos
que se seguem entre outros muitos.
Arrancar
Arranhar
Arrazar
Arrebatar
Arrebentar
Arrecadar
Arredar
Arrefecer
Arrimo
Arriscar
Arrobe
Arrombar
Assentar
Assinalar
Assombrar
Assustar
Emmagrecer
Emmendar
pág. 198 [recte pág. 194]
Emmudecer
Ennobrecer
Ennovelar
Immediato
Immenso
Immodesto
Innocencia
Innocente
Innovar
Innumeravel.
Quando digo que estas letras se
dobraõ quasi sem mais regra, que a boa
harmonia do ouvido, naõ pertendo
negar, que muitas dellas sejaõ dobra-
das por Composiçaõ; mas o meu intento
he dar a entender, que basta a dita har-
monia para dobrar algumas vezes as le-
tras.
Em 2. lugar se podem tambem do-
brar no Portuguez as letras B C D F
G L P T, ainda que naõ se dobra-
rem naõ cause estranheza no ouvido,
como se vé na lista que se segue.
Abbade
Abbreviar
Sabbado
Accento
Accessor
Accidental
pág. 199 [recte pág. 195]
Accidente
Successo
Successor
Accomodar
Occorrer
Accumular
Addicionar
Affagar
Affear
Affecto
Affeiçaõ
Affirmar
Affligir
Affrontar
Affroxar
Differir
Difficil
Diffuso
Effeito
Efficaz
Effeminado
Aggravo
Aggrado
Aggressor
Allegar
Illicito
Alludir
Appellar
Appellidar
Appellido
Elle
Aquelle
Cavallo
Libello
Parallelo
Collateral
Collegio
Collocar
Apparato
Apparelho
Apparencia
Applacar
Applauso
Appetite
Appropriar
Approvar
pág. 200 [recte pág. 196]
Oppor
Oppilaçaõ
Opposiçaõ
Opportuno
Oppressaõ
Opprimir
Opprobrio
Supplica
Snpplicar
Suppor
Supportar
Attribuir
Attributo
Attriçaõ
Escritto
Sobrescritto
Manuscritto
&c.
A regra de dobrar as letras acima,
quando as palavras se naõ poderem re-
duzir aos principios, que já temos dado,
he buscarlhes a sua origem; e tendo el-
las letras dobradas no latim, se lhe pó-
dem pôr tambem no Portuguez. Bem sey
que parece demaziada affectaçaõ do-
brar letras, que se naõ pronunciaõ,
só porque no latim se dobraõ; mas
o contrario seria sogeitar-se á Critica
de alguns Grammaticos, os quaes ven-
do que se naõ dobraõ certas letras, at-
tribuem esta omissaõ a ignorancia, sen-
pág. 201 [recte pág. 197]
do ella talvez huma naõ pequena per-
feiçaõ na nossa lingua.
Ao menos devem-se dobrar as le-
tras M N R S pella razaõ que jà dis-
semos, e ainda a letra C nas palavras:
Accesso Accessorio Accidente Acciden-
tal, Occidente, Occidental.
Quem seguir a opiniaõ de dobrar
as letras, tem em seu favor o uso das
linguas Franceza, e Italiana, que or-
dinariamente as dobraõ nas palavras
que no latim tem dobradas. Os France-
zes v. g. escrevem.
Abbè
de
Abbas
Accepter
de
Accipio
Affecter
de
Affecto
Affliction
de
Afflictio
Aggreger
de
Aggrego
Alleguer
de
Allego
Commode
de
Commodus
Communiquer
de
Communico.
Connexion
de
Connexio.
pág. 202 [recte pág. 198]
Annoncer
de
Annuntio
Appetit
de
Appeto
Applaudir
de
Applaudo.
Da mesma sorte os Italianos.
Abbreviare
de
Abbrevio
Accommodare
de
Accomodo
Affermare
do
Affirmo
Aggravare
de
Aggravo
Allegare
de
Allego
Commettere
de
Committo
Commutare
de
Commuto
Annumerare
de
Annumero
Apparente
de
Apparens.
Algumas palavras ha tambem, que
nos parecem Portuguezas de origem,
sendo tiradas immediatamente do Gre-
go, nas quaes se dobraõ as Consoan-
tes, como v. g. Amasso que vem do
Grego Amasso ??????, ou Ana-
masso ????????; Cólla, que tam-
pág. 203 [recte pág. 199]
bem vem do Grego Kólla ?????,
idest, gluten.
E para que se naõ estranhe dizer-
mos, que no Portuguez se achaõ pala-
vras tiradas immediatamente do Gre-
go, sem fallar nos termos de Artes, e
Sciencias, apontaremos algumas na li-
sta seguinte, advirtindo que essas nem
saõ latinizadas, nem naturalizadas em
outra lingua vulgar.
Asco
A’´???
Fastidium
Atar
A’´???
Necto.
Borborinho
???????Z?
Strepit? edo.
Córto
?????
Caedo
Cara
????
Facies, caput.
Caneca
???????
Mens. genus.
Calar abaixo
??????
Dimitto.
Esteira
??????
Sterno
Latir
???????
Latro, as.
Lizo
??????
Laevis.
Mófa
?????
Querela.
Peitar
?????
Suadeo.
pág. 204 [recte pág. 200]
Regelo
?????Ù
Frigore corr.
Rasgar
?‘????
Rumpo.
Tremoço
????Ù
Lupinum.
Tufaõ
?????
Ventus, &c.
SUPPLEMENTO I.
Sobre o uso particular de algumas
Letras.
B
ANtes de B M P nunca se es-
creve N senaõ M: pello con-
trario antes de todas as outras
letras sempre se poem N e naõ M.
Assim se escreve Embargo, Immenso,
Empenho, e naõ Enbargo, Inmenso,
Enpenho.
Exceituaõ-se desta segunda regra
alguns nomes compostos das proposi-
pág. 205 [recte pág. 201]
çoens CUM, CIRCUM, e do Adver-
bio BEM. Comsigo, Comtigo, Com-
nosco, Comvosco, Comtudo, Circum-
flexo, Circumspecto, Circumferencia,
Circumcisaõ, Circumlocuçaõ, Bem-
quisto, Bemvisto, Bemfeito, Bemfei-
toria, Bemfeitor, &c.
Tambem se exceituaõ os nomes ti-
rados do Latim, ou do Grego, como
v. g. Calumnia, Calumniar, omnipo-
tencia, Omnipotente, Solemne, So-
lemnidade, Hymno, e outros, em que
se escreve M sem ser antes de B M
P; e disto ha varios exemplos nas Obras
do Padre Antonio Vieira.
H
Esta Aspiraçaõ se conserva sempre
em todos os modos, e tempos do Ver-
bo Haver. Hey Has Ha Havia Hou-
ve Houvera Haverà Haja Haveria
pág. 206 [recte pág. 202]
Houvesse Haver Havido Havendo.
Tambem tem lugar nos futuros de
todas os Conjugaçoens: Amar se-há,
Dir se-ha, Ouvir se-ha, Por se-ha, e
nos seus pluraes conforme a Orthogra-
phia do Padre Antonio Vieira.
O mesmo Author usa ordinaria-
mente de H em muitos tempos do Ver-
bo IR ou HIR; e em Sair, Sobresair,
Cair, Descair Recair, Attribuir,
Abstrair, Contribuir, Distribuir, De-
stituir, Destruir, Construir, Restituir,
Restribuir, Substituir. Assim escre-
ve nos Imperfeitos do indicativo: Hia,
Sahia, Cahia, Descahia, Attribuhia,
&c. Nos Futuros Sahirey, Cahirey,
Contribuirey: nos subjunctivos Cahi-
ra, Cahisse, Cahiria, Sahira, Sahis-
se, Sahiria: e nos Participios: Cahi-
do, Sahido, Restituhido, Substituhi-
do.
A terceira pessoa do singular do
presente do Indicativo Sum se escre-
pág. 207 [recte pág. 203]
ve HE est, para fazer differença da
Conjunçaõ E.
SC
Tem a lingua Portugueza varios
nomes derivados do Latim, e ainda
do Gredo, onde se escrevem com SC
ou ??. Estes se reduzem a duas clas-
ses: huns levaõ depois do SC alguma
das Vogaes A O U, ou alguma con-
soante, como succede em Scandalum,
Scorpio, Scutum, Scriptor, Scribo.
Outros tem depois do SC alguma das
Vogaes E I, como Sceptrum, Scien-
tia, Scipio. Para acertar a Orthogra-
phia destas palavras, se devem obser-
var as regras seguintes.
Os nomes, que depois de SC tive-
rem A O U, ou alguma consoante,
tomaõ no Portuguez E antes do SC;
e assim se escreve Escandalo, Escor-
pág. 208 [recte pág. 204]
piaõ, Escudo, Escrittor, Escrevo.
Os nomes, que tiverem E, ou I
depois do SC, naõ tomaõ outra Vogal
no principio, mas conservaõ o mes-
mo SC, escrevendo-se Sceptro, Sci-
encia, Scipiaõ. Esta he a Orthographia
mais usada do Padre Antonio Vieira,
ou do Corrector das suas impressoens;
comtudo no seu primeiro Volume, cu-
ja correcçaõ dizem correo por sua
conta, tira muitas vezes este Author,
o S inicial destas palavras, e escreve
Ceptro, Ciencia, Cipiaõ.
Alem destes nomes, que come-
çaõ por SC, ha outros derivados do La-
tim, que tem no meyo estas duas le-
tras: taes saõ as palavras Crescer, De-
scer, Nascer, Pascer, que vem de
Cresco, Descendo, Nascor, e Pasco.
O Padre Antonio Vieira conserva a le-
tra S nestas palavras, ainda que outros
Authores escrevaõ: Crecer, Decer,
Nacer, Pacer.
pág. 209 [recte pág. 205]
Do mesmo modo o conserva tam-
bem nos seus derivados, ou sejaõ Ver-
bos, ou Nomes. Accrescer, Accres-
centar, Deccrescer, Recrescer, Des-
cender, Renascer, Accrescentamento,
Descendimento, Descendente, Des-
cendencia, Nascimento, Apascentar,
&c, Tambem escreve Nescio confor-
me a ethimologia Latina.
SCH
As palavras, em que concorrem es-
tas letras, saõ Gregas de origem. Se
a ellas se seguir a Vogual I, lança-se
fóra o S, e pronunciase o CH como
simplez C. Schisma, Schismatico, lea-
se como se fora Cisma, Cismatico.
Sendo as letras SCH seguidas de
O, como succede em Schola, Scho-
lium, accrescentase-lhe em Portuguez
hum E, e a syllaba CHO pronuncia-se
pág. 210 [recte pág. 206]
como CO. Escola, Escolio.
SUPPLEMENTO I.
Sobre a Letra.
Z
A Perseguiçaõ, que vemos levantada
contra esta letra, nos obriga a fa-
zer este 2. Supplemento à nossa Ortho-
graphia, em que defendamos a justiça
da sua causa, e acudamos ao reparo de
alguns criticos modernos, de que sem
embargo de elles a haverem desna-
turalizado, lhe conservamos ainda lu-
gar no Alphabeto.
Primeiramente està a favor da le-
tra Z a posse, que logra de tempo im-
memorial na nossa lingua; pois se naõ
acharà Original algum dos de mayor
veneraçaõ, em que naõ occupe hum
pág. 211 [recte pág. 207]
lugar decente. Nesta posse a conser-
váraõ os nossos antigos Grammaticos;
de que he escusado allegar grande co-
pia de exemplos, baste por todos o teste-
munho de Fernaõ de Oliveira na sua
Grammatica da lingua Portugueza im-
pressa em Lisboa ha duzentos annos,
isto he no anno de 1536. em que diz
expressamente, que he nossa propria a
dita letra.
O terse recebido o Z na nossa lin-
gua, naõ procedeo de capricho particu-
lar de alguns Authores, mas de hum
exemplo fixo, e permanente de quasi
todas as naçoens do Mundo. Dos Chal-
deos, Hebreos, Samaritanos, e Sy-
riacos passou esta letra aos Gregos, e
delles a tomáraõ os Romanos para ex-
primir com hum unico tom a força de
duas Consoantes juntas, pella qual ra-
zaõ he contada entre as letras dobra-
das.
Chegado o Z às Provincias de Eu-
pág. 212 [recte pág. 208]
ropa se espalhar geralmente ainda en-
tre aquellas Naçoens; cujas linguas se
naõ derivaõ da Latina, como saõ as
linguas do Norte, e nellas se tem con-
servado atè o tempo presente, sem
que viesse ao pensamento a algum
Grammatico o excluila do seu Alpha-
beto.
Esta geral aceitaçaõ da letra Z he
fundada na grande utilidade, que
lhe dá a sua força; e como esta senaõ
ache em alguma das outras Consoan-
tes, naõ se póde negar que por este
principio se faz precisa. Dirme-haõ,
que a sua falta se substitue facilmente
pela letra S; mas a isto respondo, que
me parece diligencia muito escusada
tirar huma letra do Alphabeto, para lhe
substituir a força com outra letra.
Tres saõ os lugares, que póde oc-
cupar a letra Z na composiçaõ das pa-
lavras. Póde estar na primeira syllaba,
na Media, e na ultima; e em qualquer
pág. 213 [recte pág. 209]
destes lugares se acha com huma pos-
se muy legitima.
Na primeira syllaba tem lugar esta
letra nas palavras Zagal, Zangaõ, Zar-
co, Zelo, Zezere, Zombar, Zunir,
&c. e se nellas se usar de S em lugar
de Z, poderá haver quem lea as dit-
tas palavras com S aspero, do modo
que lé Sabio, Sala, Segredo, Solar,
dizendo Sagal, Sangaõ, Sarco, Se-
lo, Sesere, Sombar, Sunir, &c. com
notavel deformidade da nossa lin-
gua.
Seguirse-ha ainda outra equivoca-
çaõ peor, se se der ao S a força do
Z nos principios das palavras, porque
se naõ conhecerà quando o S tem to-
da a sua força; e assim se poderia di-
zer Zaõ, Zello, e Zino, em lugar de
Saõ, Sello, e Sino.
No meyo das palavras tem a letra
Z o seu lugar com igual utilidade que
no principio; porque tirando-se o Z
pág. 214 [recte pág. 210]
das Palavras Alteza, Empreza, Tre-
ze, Quatorze, Trazer, e substi-
tuindo-lhe a letra S, haverà quem dè
a esta letra toda a sua força, e lea
com hum som aspero Altesa Empre-
sa trese, assim como lè Ama-se, Di-
ga-se, Ouve-se, Póde-se; com igual
deformidade na pronuncia.
Naõ faltarà tambem quem vendo
escritto Altesa, e Empresa com S, e
que com tudo se pronuncîaõ com Z,
queira tambem dar esta pronuncia a
Ama-se, Diga-se, como se estivera
escritto Ama-ze, Diga-ze.
No fim das palavras tem lugar
a letra Z em varios nomes Monosyl-
labos, ou levem Vogal fechada, co-
mo em Mez, Pez, Rez, fallando
de gado, Vez, Giz, Triz, Cruz,
Luz: ou a levem aberta, como em
Páz, Ráz, Féz Cidade, Cóz, Fóz,
Póz, Vóz, e outros varios.
Da mesma sorte tem lugar em no-
pág. 215 [recte pág. 211]
mes de mais syllabas, ou com Vogal
fechada, ou aberta: Capáz, Car-
táz, Rapáz, Cabáz, Arganáz, Lin-
guaráz; Arnez, Valdez, Francez,
Inglez, Maltez, Hamburguez, Mi-
lanez, Convéx, Revéz; Matiz, Ma-
triz, Verniz, Juiz, Perdiz, Co-
dorniz, Chafariz: Algoz, Arroz,
Atróz, Feróz, Cadóz, Retróz,
Badajóz, Albernóz: Capuz, Anda-
luz, Arcabuz.
Assim tambem nos tempos de al-
guns Verbos, como em Faz, Des-
faz, Prefáz, Refáz, Dáz, Jáz,
Tráz, Váz, Fez, Desfez, Prefez,
Refez, Fiz, Desfiz, Prefiz, Re-
fiz, Poz, Compoz, Dispoz, Re-
poz; Puz, Dispuz, Compuz, Re-
puz, Suppuz.
Em todos estes lugares se acha in-
troduzida a letra Z, e naõ com algu-
ma posse violenta, senaõ com hum
publico, e preciso consentimento
pág. 216 [recte pág. 212]
dos nossos primeiros Mestres, como
testemunhaõ os Manuscriptos mais bem
conservados, e os livros das mais an-
tigas ediçoens.
FIM.
pág. 217 [recte pág. 213]

