Orthographia da lingua portugueza

    • Título
    • Orthographia da lingua portugueza
    • Subprojeto

    • Corpus Ortográfico do Português

    • Tecnologia

    • Tratado Metaortográfico

    • Língua Objeto
    • Português
    • Metalinguagem
    • Português
    • Autor
    • Lima, Luís Caetano de (1671-1757)
    • Biografia sucinta do autor
    • Nasceu em Lisboa em 7 de setembro de 1671. Ainda adolescente ingressou na Ordem dos teatinos. Participou por várias vezes em missões políticas e diplomáticas a Roma, Paris, Londres e Haia, etc. A primeira missão diplomática de Caetano de Lima ocorreu em 1695, quando acompanhou o Marquês de Cascais (D. Luís Alvares de Castro) à corte de Luís XIV. Terá participado nesta missão sob o disfarce de confessor do Marquês, no entanto, na verdade, as suas funções eram de maior relevo: seguiu na qualidade de secretário particular da embaixada nomeado pelo próprio monarca D. Pedro II. Após a conclusão desta missão, dirigiu-se em 1696 para a casa dos teatinos em Santa Anna a Real Sur le Quai Malaquest com o objetivo de se dedicar aos estudos. Aí reencontrou o seu mestre Rafael Bluteau. Em 1713 acompanhou o Conde de Tarouca, D. João Gomes da Silva, ministro plenipotenciário de Portugal e D. Luis da Cunha ao congresso da Paz de Utrecht. Continua ao serviço do Conde Tarouca em Haia onde reencontrou o seu pupilo, Infante D. Manuel de Bragança. De seguida dirigiu-se para França onde, com ordem régia, adquiriu vários livros e manuscritos raros. De regresso a Portugal em 1718, retomou a atividade docente, sendo mestre dos Infantes D. António e D. Francisca e sendo nomeado também Secretário de Línguas na Secretaria de Estado dos Negócios Estrangeiros. Foi chamado a integrar a Real Academia de História, da qual foi cofundador e onde exerceu um papel de revelo, quer pelas sua publicações de cariz histórico, entre as quais há que salientar a Geografia Historica de todos os Estados Soberanos da Europa (1734; 1736, Lisboa), quer pela seleção da sua Orthographia. Em 1721 acompanhou os cardeais portugueses para estes participarem no conclave por óbito do Papa Clemente XI. As várias viagens que faz pela Europa conferem-lhe o carisma do “estrangeirado” e facultam-lhe um conhecimento alargado da realidade e cultura europeias, bem como o conhecimento de línguas estrangeiras, em particular do francês e do italiano, línguas sobre as quais publicou duas gramáticas: Grammatica Franceza, ou arte para aprender o Francez por meyo da lingua Portugueza (1710, Lisboa) e Grammatica Italiana, e arte para aprender a lingua Italiana por meyo da lingua Portugueza (1734, Lisboa). Dominava igualmente o grego, o hebraico e o latim. Dedicou também o seu estudo ao direito canónico, ciências, geografia e medicina. Faleceu em Lisboa em 1757.
    • Editor
    • -
    • Biografia sucinta do editor
    • -
    • Tipo de documento
    • Impresso
    • Local de impressão
    • Lisboa
    • Impressores/Editoras
    • António Isidoro da Fonseca (fl.1735-1748)
      Joaõ Bautista Lerzo (ca.1710-pós-1752)
    • Ordem Religiosa
    • Ordem dos Clérigos Regulares (C.R) — Teatinos
    • Edição
    • 1.ª ed.
    • Ano
    • 1736
    • Volume de páginas/fólios
    • [XXIV], 217 [recte 213] pp.
    • Outras edições conhecidas
    • 1.ª ed.    Orthographia da Lingua Portugueza. por D. Luis Caetano de Lima, Clerigo Regular, Examinador das tres Ordens Militares. Lisboa Occidental: Na Officina de Antonio Isidoro da Fonseca. Vende-se na Rua larga de S. Roque, em casa de Joaõ Bautista Lerzo. M. DCC. XXXVI.

      2.ª ed.    To¯ru Maruyama: Keyword in context index of the Orthographia da lingua portugueza (1736) by D. Luis Caetano de Lima. Nagoya: Department of Japanese Studies, Nanzan University.

      3.ª ed.    Carlos Assunção, Rolf Kemmler, Gonçalo Fernandes, Sónia Coelho, Susana Fontes & Teresa Moura (2022): A Orthographia da Lingua Portugueza (1736) de Luís Caetano de Lima: Estudo introdutório e edição. Vila Real: Centro de Estudos em Letras; Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (= Ortógrafos Portugueses, 7). ISBN: 978-989-704-465-6 / e-ISBN: 978-989-704-466-3.

    • Mencionado em
    • -
    • Descrição sumária
    • -
    • Interesse linguístico
    • Lima foi um representante moderado do sistema etimológico. A obra foi elaborada para ser utilizada pela Real Academia de História, no sentido de uma uniformização da ortografia nas suas publicações. O sistema ortográfico do autor ainda era enaltecido no século XIX (Gonçalves 2003: 41).
    • Inovações metalinguísticas
    • -
    • Influência recebida de
    • Grammatica da Lingoagem Portuguesa (1536) de Fernão de Oliveira
      Grammatica da Lingua Portuguesa (1540) de João de Barros
      Orthographia da Lingoa Portvgvesa (1576) de Duarte Nunes de Leão
      Orthographia, ov modo para escrever certo na lingua portuguesa (1631) de Álvaro Ferreira de Vera
      Orthographia da lingva portvgveza (1671) de João Franco Barreto
      António Vieira (vários volumes dos Sermões do pregador jesuíta)

    • Influência exercida sobre
    • -
    • Índice da obra
    • [anterrosto] – [II]

      [página em branco] – [II]

      [rosto] – [III]

      [página em branco] – [IV]

      PROLOGO. – [V-XII]

      LICENC,AS. – [XIII-XXI]

      [página em branco] – [XXII]

      INDEX Dos Capitulos. – [XXIII]

      Erratas                        Emendas. – [XXIV]

      CAPITULO I. Dos nomes, e numeros das Letras. – 1-2

      CAPITULO II. Da pronuncia das Vogaes. – 2-73

      CAPITULO III. Da Pronuncia das Consoantes. – 73-110

      CAPITULO IV. Dos Ditongos. – 110-145

      CAPITULO V. Dos Tritongos. – 146-149

      CAPITULO VI. Dos Accentos. – 149- 196 [recte 192]

      CAPITULO VII. Das Letras dobradas. – 196 [recte 192]-205 [recte 201]

      SUPPLEMENTO I. Sobre o uso particular de algumas Letras. – 205 [recte 201]-211 [recte 207]

      SUPPLEMENTO I. Sobre a Letra Z. – 211 [recte 207]-217 [recte 213]

    • Localização na biblioteca/proprietário
    • Biblioteca Nacional de Portugal
    • Referências
    • -
    • Autor(es) deste ficha
    • Mónica Sofia Botelho Lima Augusto, Rolf Kemmler & Carlos Assunção
    • Como citar esta ficha
    • Augusto, Mónica Sofia Botelho Lima, Rolf Kemmler & Carlos Assunção. 2023. Lima, Luís Caetano de (1671-1757): Orthographia da lingua portugueza. https://pml.cel.utad.pt/ViewEntry.aspx?id_entry=15.

    Edição semidiplomática

    ORTHOGRAPHIA 
    DA LINGUA 
    PORTUGUEZA.

    pág. [I]

    pág. [II]
    ORTHOGRAPHIA
    DA LINGUA
    PORTUGUEZA,
    POR 
    D. LUIS CAETANO
    DE LIMA.
    Clerigo Regular, Examinador das tres 
    Ordens Militares.


    LISBOA OCCIDENTAL; 
    Na Officina de ANTONIO ISIDORO 
    da Fonceca.
    ______________________________
    M.DCC.XXXVI.
    Com todas as licenças necessarias.
    Vende-se na Rua larga de S. Roque, em casa 
    de Joaõ Bautista Lerzo.


    pág. [III]

    pág. [IV]
    PROLOGO.
    ESta he huma das obras, be- 
    nevolo Leitor, de que cos- 
    tumava dizer hum Critico 
    dos nossos dias, que era melhor 
    achalas feitas do que fazelas. Eu 
    sou totalmente deste parecer, re- 
    flectindo no grande trabalho, que 
    custaõ as ditas obras; mas ao 
    mesmo tempo digo tambem, 
    que he muito melhor fazelas, 
    do que deixalas de fazer.
    Tenho em meu favor o ex- 
    emplo de hum grande numero 
    de Grammaticos assim antigos, 
    como modernos, que taõ util- 
    mente trabalhàraõ sobre as Lin- 
    guas Grega, e Latina; e mais 
    que tudo se vé authorisado o meu 
      

     

     

    pág. [V]
    zelo, com o que praticàraõ a res- 
    peito da Lingua Franceza huns 
    homens taõ illustres, como saõ 
    os Vaugelas, os Ménages, os 
    Furetiéres, e os Corneilles, os 
    quaes naõ só explicáraõ a natu- 
    reza das palavras, mas procurà- 
    raõ regular-lhe a Orthographia, 
    e os Accentos; e he sem duvida 
    que todos estes Authores enten- 
    deraõ que era muito melhor ap- 
    plicarem-se, ainda que com incri- 
    vel trabalho, a aperfeiçoar a sua 
    Lingua, do que deixala na con- 
    fusaõ, em que alguns delles a 
    acháraõ no seu tempo.
    A vulgar objecçaõ, com que 
    nesciamente se procura desacre- 
    ditar este genero de livros, he 
    dizer que só argúem trabalho, 
      

     

     

    pág. [VI]
    mas naõ engenho nos seus Au- 
    thores. Eu convenho facilmente, 
    em que nelles senaõ encontra 
    nem a sutileza de hum Scoto, 
    nem a meditaçaõ de hum Des- 
    Cartes; mas isso nasce da diver- 
    sidade da materia; e ninguem ha 
    que desestime a perfeiçaõ de hu- 
    ma estatua de bronze, porque 
    naõ iguala o preço de outra de 
    ouro; nem se desacredita hum 
    artifice em cortar primorosa- 
    mente o cristal, por lhe naõ po- 
    der dar o valor de diamante.
    A obrigaçaõ do Author, que 
    emprende huma obra, he tratar 
    dignamente a materia, sem ex- 
    ceder os limites, que lhe pres- 
    creveo a natureza. Desta sorte se 
    contenta o mais celebre Pintor 
      

     

     

    pág. [VII]
    com vestir de verde escuro a hum 
    acipreste, e com pintar de máo 
    vermelhaõ a hum telhado; por 
    que a perfeiçaõ de cada huma 
    destas pinturas naõ requere co- 
    res nem mais vivas, nem mais 
    finas.
      Se nesta obra me aparto da 
    opiniaõ de alguns dos nossos 
    Grammaticos, peço-te, que an- 
    tes de condenar o meu parecer, 
    leas com attençaõ as razoens, 
    em que me fundo; e julgando que 
    saõ menos solidas do que me pa- 
    recem, procurarey emendar em 
    outra ediçaõ tudo, o que estranha- 
    res judiciosamente neste livro.
    Devo tambem advirtir-te, 
    Benevolo Leitor, que o meu in- 
    tento naõ querer criticar, nem 
      

     

     

    pág. [VIII]
    emendar a Orthographia usada 
    por outras pessoas, que talvez 
    tem para isso fundamentos mui- 
    to solidos, mas sómente propor 
    alguns principios certos, e ge- 
    raes, para que de humas pala- 
    vras se deduza com facilidade a 
    escritura das outras.
    Dirme-hàs que inutilmente 
    procuro regular a Orthographia 
    das palavras Portuguezas, indo- 
    lhe buscar a sua origem na Lin- 
    gua Latina; porque ordinaria- 
    mente as pessoas, que mais neces- 
    sitaõ destas regras, saõ as que ig- 
    noraõ de todo aquella Lingua. A 
    isto respondo em primeiro lugar, 
    que quando digo que se reccor- 
    ra à Lingua Latina, para se re- 
    gular de algum modo a Ortho- 
      

     

     

    pág. [IX]
    graphia das palavras, naõ fallo 
    senaõ dos que tem algum conhe- 
    cimento della. Em segundo lu- 
    gar dou este conselho, por naõ 
    achar Orthographia mais bem 
    regulada, que a que se faz por 
    etymologias, e derivaçoens, ain- 
    da que seja com alguma altera- 
    çaõ, conforme o genio das Lin- 
    guas. Nisto sigo o exemplo dos 
    Grammaticos Italianos, e Fran- 
    cezes, que saõ os que mais se 
    empregáraõ em procurar a pu- 
    reza das suas Linguas. Por te naõ 
    cançar com muitos exemplos, te 
    direi sómente que os Italianos, 
    conforme a sua Orthographia 
    moderna, ordenada para uso do 
    Seminario de Padua, e impressa 
    no anno de 1721. escrevem v.g. 

     

     


    pág. [X]

    Affabilità 
    com 2. ff de
    Affabilitas.
    Affermare 
    de
    Affirmo.
    Affine 
    de
    Affinis.
    Tranquillitá com 2. ll de Tranquillitas.
    Commendatione com 2. mm de Com- 
    mendatio.
    Sommo 
    de
    Summis.
    Infiammazione
       de
    Inflãmatio.
    Applauso 
    com 2. pp de
    Applausus.
    Applicazione 
    de
    Applicatio.
    Corregere 
    com 2. rr de
    Corrigo.
    Letterato 
    com 2. tt de
    Litteratus.

       Da mesma sorte escrevem os Fran- 
    cezes conforme a Orthographia dos 
    Diccionarios da Academia Real, de 
    Furetiére, e de Richeler:
       
    Affabbe 
    de 
    Affabilis.
    Affectation 
    de 
    Affectatio.
    Affection 
    de 
    Affectio.
    Affluence 
    de 
    Affluencia.
    Allegorie 
    de 
    Allegoria.
    Amollir 
    de 
    Mollio.
    Suffocation 
    de 
    Suffocatio.

     

     

     

    pág. [XI]
        
    Suffisant 
    de 
    Sufficiens.
    Suggerer 
    de 
    Suggero.
    Sommaire 
    de 
    Summarium.
    Lettres 
    de 
    Litteras.

     

     

     

     

     

     

     

     


    pág. [XII]
    LICENC,AS
    DO SANTO OFFICIO.
    APPROVAC,AM DO M.R.P. 
    M. Frey Manoel de Sequeira, Qua- 
    lificador do Santo Officio, &c.
    EMINENTISSIMO SENHOR.
    VI por ordem de V. Eminencia 
    este livro, cujo titulo he Or- 
    thographia da Lingua Portu- 
    gueza, composto pelo M.R.P. Dom 
    Luis Caetano de Lima, Clerigo Regu- 
    lar da divina Providencia. Nelle mos- 
    tra o seu Author grandes noticias das 
    Linguas Lusitana, Franceza, Holande- 
    za. e Ingleza; e o grande zelo, e tra- 
    balho, com que pratica tudo o que 
    toca à Lusitana; chegando a assinar 
    casos, em que nella se podem conside- 
    rar Tritongos; e com muita clareza, 
    e erudiçaõ tudo o mais, que lhe per- 
    tence, como materia propria de que 

     

     


    pág. [XIII]
    trata. Naõ contém cousa alguma en- 
    contrada a nossa Santa Fé; e bons cos- 
    tumes; e assim me parece muito dig- 
    no da licença que se pede. V. Emi- 
    nencia mandará o que for servido. Lis- 
    boa Oriental; em o Convento de N.
    Senhora da Graça em 20. de Abril de 
    1736.
        O M. Fr. Manoel de Sequeira.   
    VIsta a informaçaõ, póde-se impri- 
    mir o livro intitulado Orthogra- 
    phia Portugueza, Author o Padre 
    D. Luis Caetano de Lima; e depois 
    de impresso tornará para se conferir, 
    e dar licença que corra, sem a qual 
    naõ correrá. Lisboa Occidental 20 de 
    Abril de 1736.
           Fr. Rodrigo de Alanc. Teix. Sylva.
        Cabed. Soares. Abreu.   

     

     

     

    pág. [XIV]
    DO ORDINARIO.
    PO‘de-se imprimir o livro, de que se 
    trata, e depois de impresso tornará 
    para se conferir, e dar licença para que 
    corra. Lisboa Occidental 11. de Mayo 
    de 1736.
                Gouvea.   
    ___________________________________
    DO PAC,O.
    SENHOR.
    SEndo os decretos de V. Magestade Ora- 
    culos para o respeito, e obediencia: 
    este, pelo qual V. Magestade manda 
    censurar, e qualificar a Orthographia da Lin- 
    gua Portugueza, que compoz aquelle Heróe 
    mayor, que os maximos o Padre Dom Luis 
    Caetano de Lima, singular ornamento da sem- 
    pre illustre, e sapientissima Religiaõ dos 
    Clerigos Regulares da Divina Providencia; 
    ainda que conserva inviolavel o sagrado do 
    respeito; faz arduo, e difficultoso, o exer- 
    cicio da obediencia. Naõ he sacrificio a Ve- 

     

     


    pág. [XV]
    neraçaõ; porque he suave o rendimento res- 
    peitoso a hum Monarcha, que nem vio, nem 
    verà o Mundo igual, ou semelhante: mas 
    he penozo holocausto obedecer, cativando 
    o juizo, a razaõ, e o discurso, por violar 
    os preceitos da Magestade. O discurso, a ra- 
    zaõ, e o juizo estaõ dictando, que a alta, e 
    inaccessivel comprehençaõ de V. Magestade 
    naõ podia eleger para Mestre de todos os 
    idiomas, quem se presumisse capaz de censura, 
    e qualificaçaõ; e exercitando-se estas nas 
    obras, que pertende dar à Luz publica o 
    Mestre, jà fica aquella nomeaçaõ escrupulosa 
    na capacidade, de quem a obteve: so a este 
    illustre Varaõ julgou V. Magestade digno de 
    ensinar a fallar bem em todas as linguas; e 
    agora, quando ordena, se qualifiquem, e 
    censurem os perceitos, com que se ha de re- 
    duzir a acto as suas doutrinas, na Portugue- 
    za; parece duvidar do irrefragavel, e cien- 
    tifico dos seus egregios dictames: e esta orde- 
    naçaõ se refunde perplexidade do talento do 
    Mestre, tambem impoem injuria no sacro cha- 
    racter do soberano; e para obviar hum, e 
    outro precipicio, bastava por aprovaçoõ do 
    livro o nome do seu Author, como quem 
    era creatura da elevada prespicacia de Vossa 
    Magestade neste emprego.
    Tem empregado os seus grandes estudos 
      

     

     

    pág. [XVI]
    este doutissimo Mestre em nos ensinar com 
    primor varias linguas estranhas, e agora per- 
    tende aperfeiçoar a nacional com huma no- 
    va Arte, na sua mais propria, e genuina Or- 
    thopraphia e este he o mayor serviço, e 
    obsequio, que podia fazer à Coroa, e Vassa- 
    llos de V. Magestade; porque sempre dà gran- 
    des lustres ao diadema do Soberano a atten- 
    çaõ ao bem publico. O bem, que facilmen- 
    te hade alcançar com esta Orthographia a na- 
    çaõ Portugueza, he ser igual, e uniforme 
    na pureza de fallar, e no acerto de escrever; 
    e estas prerogativas, que faltaõ ao idioma 
    neste seculo o mais estimado, ou seja vicio, 
    ou indigencia, tem só a lingua Latina, e a 
    que com pouca corrupçaõ devemos crer, 
    que tambem o he a Lusitana. Mas para se ex- 
    ercer com perfeiçaõ, devem-se observar exacta- 
    mente no fallar, e escrever, os dictames, 
    os preceitos, e as regras desta Orthographia. 
    Sem ella será o Portuguez xarro, rustico, bar- 
    baro, e grosseiro: com ella será polido, acea- 
    do, e limado; e sendo estes relevantes attri- 
    butos no Padre Dom Luis Caetano de Li- 
    ma taõ naturaes, que parece o constitutivo 
    formal do seu singular genio, e engenho; saõ 
    tambem o esmalte das boas, e bellas letras 
    com que se exorna; os quaes com facil ne- 
    gocio acharáõ, e conseguiraõ todos os Vassal- 

     

     


    pág. [XVII]
    los de V. Magestade com esta purissima Or- 
    thographia.
    Até que V. Magestade empunhou o Ce- 
    tro, cingio a Coroa, e occupou o Trono pa- 
    ra immortal gloria dos seus Vassallos, assom- 
    bro dos Principes estrangeiros, e pasmo de 
    todo o uniuerso, foraõ em Portugal todos os 
    seculos de ferro na locuçaõ, e escritura; 
    porém tanto que principiou a moderar as 
    redeas do Imperio hum Rey taõ Augusto, e 
    taõ Aureo, como adoramos a V. Magestade, 
    logo floreceo felizmente nos seus dominios 
    do fallar, e escrever a idade de ouro, que 
    possuimos. Naõ saõ adulaçoens lizongeiras, 
    ou hyperboles chymericos as verdades infalli- 
    veis, que profiro, pois as testemunhaõ, e 
    ratificaõ, ver, e comparar os antigos, e 
    modernos escritos; as velhas, e novas com- 
    posiçoens; porém para que se immortalise, 
    e perpetue esta gloria, e felicidade, me pare- 
    ce deve V. Magestade mandar se estampe em 
    Laminas de diamantes esta Orthographia; 
    pois quem a observar, e seguir, em qualquer 
    estylo, que se empenhe, ha de dizer, e es- 
    crever com certeza, ornato, e gravidade.
    Ficando assim eternamente utilisada a Republi- 
    ca, e V. Magestade em tudo bem servido: 
    mas como sempre V. Magestade he o supre- 
    mo Senhor, mandará o que quizer, e lhe 
      

     

     

    pág. [XVIII]
    parecer, para ser mais que bem servido. Lis- 
    boa Occidental Convento da Boahora dos 
    Agostinhos Descalços 4 de Mayo de 1736.
        
        
        
        
    Fr. Antonio de Santa Maria,

     

     

     

     

     


    pág. [XIX]
    QUe se possa imprimir vistas 
    as licenças do Santo Offi- 
    cio, e Ordinario, e depois 
    de impresso tornará a esta Mesa 
    para se conferir, e taixar, e dar 
    licença para correr, sem a qual 
    naõ correrá. Lisboa Occidental.
    4. de Mayo de 1736.

                Pereira. Teixeira.

     

     

     

     

     

    pág. [XX]
    LICENC,AS.
    Do Santo Officio.
    VIsto estar confórme com o original, póde 
    correr. Lisboa Occidental. 18. de Mayo 
    de 1736.
    Fr. R. de Alancastre. Teixeira. Sylva. 
    Cabedo. Soares. Abreu.
    _______________________________________
    DO ORDINARIO
    PO‘de correr. Lisboa Occidental. 19. de 
    Mayo de 1736.
    Gouvea.
    _______________________________________
    DO PAC,O.
    QUe possa correr, e taixaõ em 200. reis.
    Lisboa Occidental. 19. de Mayo de 1736.
    Pereira. Teixeira.

     

     


    pág. [XXI]

     

     

     

     

     

     

     

     

     


    pág. [II]

    INDEX 
    Dos Capitulos.
    CAP. I. Dos nomes, e numeros 
    das Letras.
    CAP. II. Da pronuncia das Vogaes.
    CAP. III. Da pronuncia das Consoan- 
    tes.
    CAP. IV. Dos Ditongos.
    CAP. V. Dos Tritongos.
    CAP. VI. Dos Accentos.
    CAP. VII. Das Letras Dobradas.
    SUP. I. Sobre o uso particular de al- 
    gumas Letras.
    SUP. II. Sobre a Letra Z.

     

     


    pág. [XXIII]
        

    Erratas
    Emendas.

    pag.37. 
    Ratiotionor. 
    Ratiocinor.
    pag.41. 
    Moeha. 
    Mocha.
    pag.64. 
    Luxembaug. 
    Luxembourg.
    pag.77. 
    Raciaus. 
    Mancidus.
    pag.85. 
    Conslrange. 
    Constrange.
    pag.97. 
    Tequestro. 
    Sequestro.
    pag.118. 
      Pigneo. 
    Pigmeo.
        

     

     

     

     

     

     


    pág. [XXIV]

    CAPITULO I.
    Dos nomes, e numeros 
    das Letras.
    O ALPHABETO Portuguez 
    consta de 22. Letras, 16. 
    Consoantes, ou Liquidas, 
    e 6. Vogaes. O modo de 
    as pronunciar he o se- 
    guinte.
       A bé cê dê é éfe gé agá i éle 
    éme éne ó pê quê érre ésse tê u 
    xis ypsilon zê.
    Entre as Consoantes contaõ tam- 
    bem alguns a letra K, supposto que naõ 
    se usa della senaõ muito raras vezes.
       

     

     

     


    pág. 1
    Na mesma fórma contaõ ç que só tem 
    lugar antes das Vogaes A O U, como 
    em Traça Braço C,ujo. Finalmente 
    as letras consoantes J, e V, que tem 
    differente figura quando saõ Vogaes; e 
    conforme esta conta seriaõ todas 26.
    _______________________________________
    CAPITULO II.
    Da pronuncia das Vo- 
    gaes.
    ANtes de tratar particularmente 
    de cada Vogal, daremos huma 
    explicaçaõ dos termos de que usamos 
    para melhor intelligencia desta obra.
       Em primeiro lugar distinguimos 
    som ABERTO, e som FECHADO na 
    pronuncia das Vogaes A E O, a que 
    só respeita esta differença.
    Som Aberto he quando a Vogal 
       

     

     

     

    pág. 2
    soa muito, ou se abre, e carrega 
    muito nella, como em Páto, Léme, 
    Tóga; e para conhecer logo que a Vo- 
    gal deve ter hum som aberto lhe po- 
    mos Accento Agudo, como se vé nas 
    palavras acima.
       Som Fechado he quando a Vogal 
    soa pouco, e se fecha, ou carrega 
    menos nella, como v.g. em Gamo, 
    Remo, Pomo.
    Em segundo lugar distinguimos 
    as Vogaes em INICIAL, MEDIA, e 
    FINAL, conforme as syllabas ou luga- 
    res em que se encontraõ. Chamamos 
    Inicial aquella Vogal, porque princi- 
    pîa a palavra, como em Alma, e o 
    mesmo nome de Inicial lhe damos tam- 
    bem quando està na syllaba inicial do 
    nome, como em Pálma, para evitar 
    tantas classes de palavras. Media, 
    quando està no meyo do nome, ou seja 
    de trez, ou de mais syllabas; e Final, 
    quando se acha no fim das palavras.   

     

     

     


    pág. 3
    Em terceiro lugar distinguimos as 
    Vogaes em BREVES, e LONGAS, pa- 
    ra estabelecer a sua pronuncia.   
    A
    A Na primeira syllaba pronuncia-se 
    humas vezes Aberto, e outras 
    Fechado, conforme as terminações 
    das palavras; porem geralmente fal- 
    lando quasi sempre he Aberto.
       As palavras de duas syllabas, que 
    acabaõ em BA, BO, levaõ A aberto, 
    como v. gr. Aba, Cábo, Nábo.
       Do mesmo modo as que se termi- 
    naõ em CA, CO. Fáca, Sáca, Frá- 
    co, Táco.
       Em C,A, C,O. Ráça, Tráça, 
    A‘ço, Máço; e os tempos dos Verbos 
    Fáça, Fáço.
    Em CHA, CHO. Rácha, Fá- 
    cha, Cácho, Mácho.   

     

     

     

    pág. 4
        Em DA, DO. Náda, Fáda, Brá- 
    do, Prádo. Exceitua-se Cada por 
    Quisque, onde o A inicial he fechado.
       Em FA, FO. Cáfo, C,áfo, Gá- 
    fo, C,áfa, Gáfa.
       Em GA, GO. Bága, Trága, 
    Brága, Chága, Bágo, Págo, Trá- 
    go.
       Em YA, YO, Fáya, Sáya, 
    Máyo, Ráyo.
       Em JA, JO. Hája, Trajo, ou 
    Traje.
       Em LA, LO, ou LLA, LLO.
    Cálla, Fálla, Gála, Cállo, Fállo, 
    Fálo.
       Em LHA, LHO. Grálha, Má- 
    lha, Pálha, Málho, Rálho, Tálho.
    He porem Fechado nas seis se- 
    guintes terminações. Em MA, MO. 
    Ama, Dama, Fama, Amo, Gamo, 
    Ramo, Em NA, NO. Cana, Lhana, 
    Plana, Cano, Lhano, e Plano. Em 
    NHA, NHO. Canha, Manha, Ba- 
       

     

     

     

    pág. 5
    nho, Tanho. Exceytua-se Gánho, que 
    sempre leva A aberto, ou seja Nome, 
    ou Verbo.
       Torna-se a pronunciar A Aberto 
    nas terminações em PA, PO. Cápa, 
    Lápa, Mápa, Guápo, Sápo, Trápo.
       Em RA, RO. Ara, Cára, Vá- 
    ra, A‘ro, Fáro, Ráro.
       Em SA, SO, ou ZA, ZO. A‘za, 
    Bráza, Cása, Cáso, Rázo, Prázo.
       Em TA, TO. Dáta, Náta, Fá- 
    to, Páto.
       Em VA, VO. Fáva, Fávo; e 
    nos Verbos Cávo, Lávo, Trávo.
       Em XA, como em Fáxa, Faxo.
       As palavras que acabaõ em E, se 
    pronunciaõ com A aberto, como v. g. 
    A‘de, Gráde, Cáffre, Cháve, Pá- 
    dre, Mádre, Gráve, Tráve, e os 
    Verbos Cábe, Sábe.
    Quando a Vogal A he seguida de 
    alguma das Consoantes L R S na mes- 
    ma syllaba, tem som Aberto, como 
       

     

     

     

    pág. 6
    A‘lma, Pálma, A‘rma, Gárfo, Pár- 
    to, Pásto, Pálmo, Bálde, Cárne, 
    A‘rte, Tráste.
       Porem seguindo-se-lhe M ou N 
    na mesma syllaba, tem som fechado, 
    como Campo, Mando, Bando, Gran- 
    de, Campa, Dança.
       Note-se que os compostos de mui- 
    tas syllabas naõ seguem sempre a Vogal 
    aberta dos seus simples nas terminações 
    precedentes; e assim se pronuncîa A 
    inicial fechado em Artificial, Asmati- 
    co, Pasmado, Rasgado, ainda que 
    vem de Arte, Asma, Pásmo, Rásgo, 
    que tem A inicial aberto.
    A regra geral nesta materia he 
    que nos nomes de trez, e mais sylla- 
    bas se pronuncîa ordinariamente o A 
    inicial fechado em todo o genero de 
    terminações. Adorno, Acerto, Cami- 
    nho, Cativo, Favorecido, Parecido, 
    Sabedor, Matador, Paragem, Ra- 
    bugem, Fadiga, Faisca, Parente, 
       

     

     

     

    pág. 7
    Tapete. O mesmo nos Verbos Bata- 
    lhar, Caminhar, Carecer, Parecer, 
    Amanheço, Anouteço.
       Tambem tem A fechado os nomes 
    em que o dito A inicial he seguido de 
    R ou S na mesma syllaba. Cartilha, 
    Pastilha, Barrete, Casquete, Arte- 
    lho, Aspecto, Castigo, Quartilho, 
    e os Verbos Martyrisar, Mastigar, 
    Bastecer, Guarnecer.
       Exceytuaõ-se Armada, Arma- 
    dor, e os nomes que tem breve a syl- 
    laba Media, como A‘rvore, A‘spide, 
    Mármore, Bárbaro, Pássaro, que 
    levaõ A inicial aberto. Note-se que 
    ainda que em Arvore se pronuncia A 
    aberto, em Arvoredo he fechado.
    Sendo porem o A seguido na mes- 
    ma syllaba de C ou L, pronuncia-se 
    Aberto. Accesso, Accessorio, Acci- 
    dente, Accidental, Alfaya, Alfan- 
    ge, Alteza, Alguidar, Almazem. 
    Exceytua-se Accento, onde se perde 
       

     

     

     

    pág. 8
    hum C, e se pronuncîa o A fechado.
       Os nomes, que se terminaõ com 
    Accento Agudo, tem ordinariamente 
    o A inicial fechado. Cazál, Fatál, 
    Caráõ, Varáõ, Galé, Maré, Pa- 
    ríz, Chafaríz, Faról, Favôr, Ca- 
    vadôr, Atróz. Incluîmos nesta regra 
    Favor, e outros semelhantes, ainda 
    que levem Accento circumflexo, por- 
    que este substitue ali o Accento agu- 
    do, que deveraõ ter, se se pronun- 
    ciasse aberta a vogal.
       Sobre a palavra Para se deve no- 
    tar, que quando he Verbo tem o A 
    inicial Aberto. Pára. Quando he pro- 
    posiçaõ tem A fechado Pâra, e quando 
    he nome de Regiaõ leva no fim accen- 
    to Agudo. Pará.
       A MEDIO se pronuncîa humas 
    vezes Aberto, e outras Fechado.
    Primeiramente he Aberto nas ter- 
    minações em ABA, ABO. Aldrába, 
    Diábo.   

     

     

     


    pág. 9
        Do mesmo mode em ACA, ACO. 
    Barráca, Casáca, Buráco, Opáco.
       Em AC,A, AC,O. Almofáça, Fa- 
    táça, Bagáço, Baráço.
       Em A‘CHA, A‘CHO. Granácha, 
    Penácho.
       Em ADA, ADO. Brigáda, Ta- 
    páda, Bocádo, Criádo. E assim nos 
    participios Amáda, Amádo, &c.
       Em AFA, AFO. Garráfa, e nos 
    tempos dos Verbos Abáfa, Abáfo.
       Em AGA, AGO. Adága, Triá- 
    ga, Afágo, Tabágo, huma das Anti- 
    lhas.
       Em AYA, AYO. Alfáya, Ata- 
    láya, Desmáyo, Ensáyo.
       Em ALA, ALO. Bengála, Escá- 
    la, e nos Verbos Entálo, Iguálo.
       Em ALHA, ALHO. Batálha, 
    Canálha, Barálho, Esgálho.
    He porem Fechado nas seis termi- 
    nações seguintes. Em AMA, AMO. Es- 
    cama, Amalgama, e nos Verbos Der- 
       

     

     

     

    pág. 10
    ramo, Infamo. Em ANA, ANO. Ca- 
    bana, Catana, Paysano, Ufano. Em 
    ANHA, e ANHO. Castanha, Pia- 
    nha, Façanha, Estranho, Castanho.
       Torna a ser Aberto nas termina- 
    ções em APA, APO. Zurrápa, Far- 
    rápo, Escápo.
       Em ARA, ARO, e ARIA, ARIO.
       Apára, Tiára, Appáro, C,afáro, Ca- 
    nário, Temerário, e nos Verbos Com- 
    páro, Depáro, Repáro, &c.
       Em ASA, ASO, ou AZA, AZO. 
    Abrázo, Aprázo, Arrázo.
       Em ATA, ATO. Baráta, Pata- 
    ráta, C,apáto, Retráto.
       Em AVA, AVO. Aljáva, Cala- 
    tráva, Aggrávo, Escrávo.
       Tambem se pronuncîa A aberto 
    nas terminações em ADE, AGE, ATE, 
    AVE. Bondáde, Verdáde, Ventágem, 
    Viágem, Alicáte, Surráte, Arrátel, 
    Affável, Admirável, Amável.
    Porem as terminações em AME, 
       

     

     

     

    pág. 11
        ANE, levaõ A fechado. Arame, In- 
    fame, Baneane.
       Os preteritos perfeitos da primeira 
    conjugaçaõ Amámos, Andámos tem A 
    aberto na penultima, para differença 
    dos presentes do Indicativo Amamos, 
    Andamos, que o levaõ fechado.
       O mesmo succede nos Plusquam 
    perfeitos Amára, Andára, onde se 
    pronuncia Aberto na penultima para os 
    distinguir dos Futuros Amará, Andará, 
    que tem Vogal aberta, e accento Agu- 
    do na ultima.
       Algumas vezes se pronuncîa A fe- 
    chado no meyo das palavras, por ser 
    breve a syllaba Media, como em A‘ma- 
    go, pro medulla arboris, Bárbaro, 
    Cóncavo, Cóvado, Escándalo, Eva- 
    no, Fígado, Láparo, Pássaro, Pí- 
    caro, Cámara, Década, Máscara, 
    Tamaga, Tamara, Sátrapa, Syllaba.
    Quando o A Medio he seguido na 
    mesma syllaba de alguma das letras 
       

     

     

     

    pág. 12
    CLRS, pronuncia-se Aberto. Esme- 
    ralda, Madrasta, Retaguarda, Van- 
    guarda, Embargo, Encargo, Cadar- 
    ço, Padrasto, Contracto, Extracto.
       Mas sendo seguido da letra N he o 
    dito A fechado. Barranco, Encanto, 
    Laranja, Varanda, Alcance, Alfan- 
    ge, Infante.
       A FINAL pronuncia-se Aberto 
    nos Monosyllabos, e outras palavras, 
    que acabaõ com Accento Agudo, 
    como Cá, Já, Lá, Má, Pá, Tá, 
    Vá, Bachá, Maná, Acolá, Ouxa- 
    lá, &c.
       Da mesma sorte nos Monosylla- 
    bos, e outras palavras em AL, AR, 
    e AZ. Cál, Grál, Sál, Tál, Dár, 
    Már, Fáz, Páz, Tráz, Corál, 
    Didál, Vogál, Pumár, Solár, Pri- 
    máz, Efficáz. Da mesma sorte nos In- 
    finitivos da primeira conjugacaõ Amár, 
    Estimár, &c.
    As palavras Ambar, Assucar, Al- 
       

     

     

     

    pág. 13
    jofar, e Nectar, levaõ A aberto, ain- 
    da que carecem de Accento na ultima.
       Tambem se pronuncîa A Final 
    aberto nas segundas, e terceiras pes- 
    soas dos Futuros, onde levaõ accento 
    agudo. Amarás, Lerás, Ouvirás, 
    Porás, Amará, Lerá, Ouvirá, Po- 
    rá, para se differençarem dos Preteri- 
    tos Amáras, Léras, Ouvíras, Amá- 
    ra, Léra, Ouvíra, que em lugar de 
    Accento Agudo na ultima, o tem na 
    penultima.
       Quanto à terminaçaõ em AM, ou 
    Aõ, como outros escrevem, e de que 
    trataremos adiante no Capitulo dos 
    Ditongos, baste por agora dizer que o 
    seu A he fechado, assim nos nomes 
    como nos Verbos.
    Os Monosyllabos, que naõ tem 
    Accento Agudo, levaõ A fechado. Da, 
    Ma, Na, Das, Mas, Nas. DO mes- 
    mo modo he tambem fechado nos no- 
    mes de muitas syllabas, que carecem 
       

     

     

     

    pág. 14
    de Accento final. Fáca, Séta, Fita, 
    Rosa, Pluma, Fachada, Vereda, 
    Ferida, Derrota, Arruda. O mesmo 
    succede nos tempos dos Amava, Ama- 
    ra, Amaria, Fazia, Fizera, Fa- 
    ria, &c.
    E
    E Na primeira syllaba, humas vezes 
    se pronuncîa Aberto, e outras Fe- 
    chado, conforme as differentes termi- 
    nações.
       Nas em EA, EO, ha esta diffe- 
    rença, que Cea, Pea, Vea, Tea, e 
    os Verbos Crea, Lea, Mea, naõ só 
    levaõ E fechado, mas lem-se como se 
    estivesse escritto: Ceya, Peya, Veya; 
    Teya, Creya, Leya, Meya. Pello con- 
    trario os nomes, Céo, Réo, Véo, le- 
    vaõ E totalmente aberto.
    Nas terminações em BA, BO, se 
       

     

     

     

    pág. 15
    pronuncîa E fechado no Verbo Bebo, e 
    no nome Gebo. Abre-se porem em Fé- 
    bo, e nas palavras em que medîa R na 
    dita terminaçaõ, como em Québra, 
    Québro.
       Nas em CA, CO, se encontra E 
    aberto em Béca, Méca, e nos Verbos 
    Pécco, Sécco, Pécca, Sécca. Fecha-se 
    porem nos nomes Peca, Seca, Beco, 
    Peco, Seco.
       Nas em C,A, C,O, he aberto no 
    nome Péça, e nos Verbos Féço, Mé- 
    ço, Péço. Mas fecha-se no nome Pre- 
    ço, e nos Verbos Creço, Deço, Teço.
       Nas em CHA, CHO, levaõ E 
    aberto os nomes Brécha, Frécha, Mé- 
    cha, Pécha; pello contrario em Fe- 
    cho, ou seja nome ou Verbo.
    Nas em DA, DO, se pronuncîa 
    E aberto nos nomes Méda, Quéda, 
    Crédo, Lédo, Médo (nome de Naçaõ) 
    e no Verbo Védo. He porem fechado 
    em Greda, Seda, Bredo, Cedo, De- 
       

     

     

     

    pág. 16
    do, Medo, Quedo. Mediando R na 
    dita terminaçaõ abre-se o E em Cédro, 
    Médro, Médra, Pédra, e fecha-se 
    em Pedro.
       Nas em GA, GO, tem E aberto 
    Céga, Séga, Cégo, Pégo, a palavra 
    Prégo, assim nome como Verbo, e os 
    Verbos Cégo, Régo, Ségo. Exceytuaõ- 
    se os nomes Pega, e Rego, que tem E 
    fechado.
       Nas em JA, JO, se pronuncîa E 
    fechado no nome Pejo, e nos Verbos 
    Seja, Vejo. He porem aberto nos no- 
    mes Bréjo, Téjo.
       Nas em LA, LO, levaõ E aberto 
    Péla, Tréla, Véla, Prélo, e os Ver- 
    bos Gélo, Zélo. Pello contrario he fe- 
    chado, nos substantivos Gelo, Grelo, 
    Pelo, Zelo, como tambem nos Ver- 
    bos a que se segue algum Artigo, como 
    Fela, Vela, Felo, Velo.
    Quando a letra L se acha dobra- 
    da, humas vezes leva E aberto como 
       

     

     

     

    pág. 17
    em Bélla, Célla, Nélla, Sélla, Béllo, 
    e no Verbo Séllo; e outras fechado 
    como em Pella, Pello, e no Substan- 
    tivo Sello.
       Nas em LHA, LHO, se acha E 
    fechado em Selha, Telha; e Aberto 
    em Vélha, Vélho.
       Nas em MA, MO, se pronuncîa 
    E fechado em Ema, Gema, Rema, 
    Tema, Gemo, Remo (tanto nome 
    como Verbo, Temo, Tremo. He po- 
    rem aberto no Substantivo Démo.
       Nas em NA, NO, he tambem fe- 
    chado. Pena, Scena, Feno, Peno.
       Nas em NHA, NHO, se fecha 
    da mesma sorte nos nomes Brenha, 
    Grenha, Lenha, Penha, Lenho; e 
    nos Verbos Tenho, Venho.
       Nas em PA, PO, se pronuncîa E 
    fechado em Sepa, Cepo; e aberto em 
    Trépa, Trépo.
    Nas em RA, RO, levaõ E aber- 
    to os nomes Féra, Héra, Méra, Fé- 
       

     

     

     

    pág. 18
    ro, Méro; e os Verbos E‘ra, Déra, 
    Géra, Géro, Quéro. He porem fe- 
    chado nos nomes Cera, Pera, Pero; e 
    no Verbo Lera.
       Quando a letra R se acha dobrada, 
    humas vezes leva E aberto, como nos 
    nomes, Guérra, Sérra, Térra, Fér- 
    ro, Pérro, e no Verbo E‘rro. Outras 
    vezes leva E fechado, como nos nomes 
    Cerro, Erro.
       Nas em SA, SO, ou ZA, ZO, 
    tem E aberto os nomes Réza, Léza, 
    Lézo; e os Verbos Pézo, Rézo; mas 
    fecha-se nos nomes Peso, Teso.
       Nas em TA TO, se pronuncîa 
    aberto nos nomes Méta, Séta, e em 
    Créta Ilha, e nos Verbos Gréta, Gré- 
    to, e Fechado nos nomes Greta, Pe- 
    ta, Preta, Teta, Preto, Treta.
    Nas em VA VO, tem E aberto o 
    Substantivo Léva, fallando de gente de 
    guerra, e o Verbo Léva, Lévo. Fe- 
    cha-se porem no nome Trevo, e nos 
    Verbos Devo.   

     

     

     

    pág. 19
        Entre as palavras, que acabaõ em 
    E se pronuncîaõ com E inicial aberto 
    os nomes Bréve, Crépe, Fébre, Lé- 
    bre, Léme, Léque, Léve, Séte; e os 
    Verbos Bébe, Céde, Créce, Déve, Fé- 
    re, Péde, Tréme. Levaõ porem E fe- 
    chado os nomes Rede Sede; e os Verbos 
    Lede, Sede, Teve, Vede.
       Quando a Vogal E he seguida de 
    alguma das letras L, R, S, na mesma 
    syllaba, humas vezes tem som aberto 
    como nos nomes E‘rra, Fésta, Guél- 
    ra, Méscla. Pésca, Sérpa, Térra, 
    Cérto, Déstro, Férro, Gésto, Mélro, 
    Pérto, Sérvo, Péste, Sérpe, Véste.
       Outras vezes tem som fechado 
    como em Bespa, Cerca, Cesta, Felpa, 
    Lesma, Resma, Terça, Cerco, Cesto, 
    Festo, Mesmo, Nervo, Termo, Des- 
    de, Deste, Neste, Verde.
    As palavras em que se segue M ou 
    N tem sempre E fechado. Crença, 
    Tença, Genro, Penso, Tempo, Tenro, 
       

     

     

     

    pág. 20
    Vento, Gente, Quente, Rente, com 
    os Verbos Mente, Pende, Rende, Ven- 
    de.
       Note-se, que os compostos de 
    muitas syllabas naõ seguem sempre a 
    Vogal aberta dos seus simples; e assim 
    levaõ E fechado os nomes Ervado, Fer- 
    rado, Festivo, Servido, ainda que ve- 
    nhaõ de E‘rva, Férro, Fésta, e Sérvo, 
    que tem E aberto.
       Os nomes que se terminaõ com al- 
    gum accento, tem E inicial fechado. 
    Leál, Reál, Meláõ, Lezáõ, Relé, 
    Recêm, Retêm, Febrîl, Perrexîl, Se- 
    nhôr, Metedôr. Da mesma sorte os In- 
    finitivos Levar, Deter, Remir, Repor.
    Geralmente se póde dizer que to- 
    do o E inicial nos nomes, e Verbos de 
    muitas syllabas tem som fechado. De- 
    tença, Merenda, Espaço, Esqueço, 
    Repente, Semente, Rebelliaõ Restau- 
    raçaõ, Remeiro, Thesoureiro. Excei- 
    tuaõ-se Mésinha, Séteira, Sédiço, e 
       

     

     

     

    pág. 21
    alguns esdruxulos, como Fétido; Tré- 
    pido.
       E MEDIO se pronuncîa humas ve- 
    zes Aberto, e outras fechado.
       Primeiramente nas terminações 
    em EA, EO, ha muita variedade; e 
    ainda que dellas havemos de fallar no 
    Capitulo dos Ditongos, naõ deixare- 
    mos de dizer aqui quanto à terminaçaõ 
    EA, que muitas vezes he o seu E me- 
    dio Breve, e Fechado, como em Co- 
    dea, Femea, Gavea, Lendea, Semea, 
    Chicorea, Serodea, e nos Imperativos 
    Lede-a, Tende-a, Ponde-a.
       Outras vezes he Longo, e Fechado 
    como em Area, Balea, Cadea, Candea, 
    Correa, Serea, e nos Verbos Passea, 
    Ratea, Rodea, Semea; e neste caso se 
    pronuncîa o E Medio, como se fora 
    EY. Areya, Baleya.
    Finalmente se pronuncîa E aberto 
    em Idéa, Judéa, como se estivesse es- 
    crito Idéya, Judéya.   

     

     

     


    pág. 22
        Semelhante variedade se encon- 
    tra na terminacaõ em EO; porque hu- 
    mas vezes leva E Breve fechado, como 
    nos Imperativos Ledeo, Sedeo, Ten- 
    deo, Pondeo. Outras vezes Longo, e 
    fechado, como em Hebreo, Judeo, 
    Orpheo, e nos Preteritos Ardeo, Ba- 
    teo, se naõ he que antes se devem es- 
    crever Ardeu, Bateu.
       Nos nomes Asseo, Correo, e nos 
    Verbos Receo, Semeo, se pronuncîa 
    E fechado como se fora EY. Asseyo, 
    Correyo, Receyo, Semeyo.
       Finalmente succede ser aberto em 
    Aréo, Chapéo, Mantéo, Boléo, e 
    nos seus Pluraes.
       Nas terminações em EBA, EBO, 
    se pronuncîa E fechado. Manceba, 
    Mancebo, Percebo, Recebo. Excey- 
    tua-se o Verbo Amancébo.
    Nas em ACA, ECO, se pronun- 
    cîa E aberto. Charnéca, Fanéca, Ca- 
    néca, Rabéca, Taréco, Desséco.   

     

     

     


    pág. 23
        Nas em EC,A, EC,O, se encon- 
    tra E aberto em Tripéça, e nos Verbos 
    Coméço, Despéço, Esquéço, Aderéço, 
    Amanhéço, Arreféço, Arreméço, Tro- 
    peço.
    Outras vezes he fechado como nos no- 
    mes Appreço, Adereço, Tropeço, Ar- 
    remeço; e nos Verbos Conheço, Pare- 
    ço, Pereço, Aborreço, Adormeço, 
    Anouteço, Amadureço, Encareço.
       Nas em ECHA, ECHO, tem E 
    aberto Esmécho, e fechado Desfecho.
       Nas em EDA, EDO, se pronun- 
    cîa E fechado nos nomes, Azeda, 
    Lameda, Vereda, Azedo, Arreme- 
    do, Enredo, Lagedo, Penedo. Po- 
    rem levaõ E aberto os Verbos Azédo, 
    Enrédo, Arremédo.
       Nas em EFA, EFO, se encontra 
    E Aberto em Sanéfa, Sinaléfa, Ta- 
    réfa.
    Nas em EGA, EGO, tem E fe- 
    chado os nomes Despego, Emprego, 
       

     

     

     

    pág. 24
    Lamego, Morcego, Refego, Socego.
       Pello contrario levaõ E aberto os 
    nomes Colléga, Entréga, Refréga, e 
    os Verbos Apégo, Despégo, Emprégo, 
    Entrégo, Esfrégo, Navégo, Socégo.
       Nas terminações em EJA, EJO, 
    se pronuncîa E fechado em Carqueja, 
    Cereja, Cerveja, Igreja, Bocejo, 
    Cortejo, Dezejo, Despejo. Do mes- 
    mo modo nos Verbos Bocejo, Cortejo, 
    Cotejo, Dezejo, Despejo, Revejo, 
    Varejo, e nas terminações em A. Ex- 
    ceytuaõ-se Envéja, e Envéjo.
       Nas em ELA, ELO, ou ELLA, 
    ELLO, se pronuncîa humas vezes E 
    aberto como em Adéla, Amarélla, 
    Barréla, Cadéla, Canéla, Fivella, 
    Janéla, Mazéla, Panéla, Singéla, 
    Tigéla, Castéllo, Farélo, Marmélo, 
    Martéllo, Murzélo.
    Outras yezes he fechado como em 
    Estrella, Cabello, Camelo, Capello, 
    Ourelo; e nos Verbos a que se segue 
       

     

     

     

    pág. 25
    algum artigo, como Bebela, Fazela, 
    Dizelo, Trazelo.
       Nas em ELHA, ELHO, se pro- 
    nuncîa E fechado em Abelha, Azelha, 
    Gadelha, Ovelha, Parelha, Segure- 
    lha, Artelho, Coelho, Espelho, Fran- 
    celho, Vermelho.
       Tambem he fechado em EMA, 
    EMO. Algema, Alfazema, Diade- 
    ma, Extremo, Supremo, e no Verbo 
    Espremo.
       DO mesmo modo em ENA, ENO.
    Açucena, Cayena, Camena, Ameno, 
    Aceno, e nos Verbos Aceno, Apeno, 
    Condeno.
       Igualmente se fecha em ENHA, 
    ENHO. Estamenha, Jurumenha, Re- 
    senha, Sardenha, Engenho, Ferre- 
    nho; e os Verbos Contenho, Convenho, 
    Mantenho, Retenho.
    Nas em EPA, EPO, se pronun- 
    cîa E Aberto. Carépa, Atrépo, De- 
    cépo.   

     

     

     


    pág. 26
        Nas em ERA, ERO, levaõ E 
    aberto os nomes Esféra, Espéra, Se- 
    véro; e os Verbos Espéro, Impéro, 
    Tempéro, Desespéro, Considéro, Exas- 
    péro, Exagéro, Recupéro, Vitupéro, 
    com os Preteritos Disséra, Houvéra, 
    Fizéra, Tivéra, Puzéra.
       He porem fechado nos nomes Es- 
    mero, Tempero, e nos Preteritos Me- 
    tera, Soffrera, Retera, Revera, 
    Tresleva.
       Nas em ESA, ESO, ou EZA, 
    EZO, se pronuncîa E fechado. Destre- 
    za, Duqueza, Empreza, Grande- 
    za, Largueza, Limpeza, Aceso, 
    Desprezo. Exceytua-se o Verbo Des- 
    prézo.
    Nas em ETA, ETO, tem E aber- 
    to o nome Facéto, e o Verbo Acarré- 
    to. He porem fechado nos nomes Bayo- 
    neta, Carreta, Cometa, Galheta, 
    Mareta, Planeta, Carreto, Espeto, 
    e nos Verbos Cometo, Arremeto.   

     

     

     


    pág. 27
        Nas em EVA, EVO, se pronun- 
    cîa E fechado no Verbo Atrevo.
       Nas palavras que acabaõ em E se 
    encontra humas vezes E aberto, como 
    em Estrépe, Guruméte, Maméde, 
    Mafaméde, Topéte; e nos Verbos 
    Confére, Prefére, Refére, Acométe, 
    Compéte, Prométte, Repéte, Ama- 
    nhéce, Arreféce, Esquéce.
       Outras vezes he fechado como 
    nos nomes Banquete, Bofete, pro 
    Mensa, Ferrete, Parede, Ramalhete, 
    Sinete, Tamborete, Tapete. E nos 
    Verbos Anoutece, Resplandece, Escu- 
    rece, Carece, Parece, Adormece.
    Quando ao E medio se segue na 
    mesma syllaba alguma das letras C R S, 
    humas vezes he aberto como em Affé- 
    cto, Insécto, Intérno, Inférno, In- 
    césto, Excésso, Catérva, Cavérna. 
    Da mesma sorte nos Verbos Apérto, 
    Despérto, Enxérto, Entérro, Infé- 
    sto, Resérvo, Refrésco.   

     

     

     


    pág. 28
        Outras vezes se pronuncîa fecha- 
    do, principalmente nos Substantivos, 
    cujos Verbos tem E aberto. Acerto, 
    Aperto, Apresto, Concerto, Enterro, 
    Enxerto, Desterro, Governo, Refres- 
    co. Alem disto se fecha tambem em 
    Enferma Enfermo, Esquerda, Esquer- 
    do, Soberba, Soberbo.
       Geralmente fallando os nomes, e 
    Verbos, em cuja syllaba Media se en- 
    contra M ou N, levaõ E fechado. Co- 
    menda, Fazenda, Merenda, Tormen- 
    ta, Coentro, Exemplo, Accendo, As- 
    sento, Pretendo; e nos Gerundios Fa- 
    zendo, Querendo.
    Muitas vezes succede ser fechado 
    o E Medio, porque he breve a sylla- 
    ba, como em A‘spero, Célebre, Cé- 
    rebro, Cónego, I‘ngreme, Pécego, 
    Próspero, Sóffrego, Néspera, Témpe- 
    ra, &c. Advirta-se que Próspera, e 
    Témpera tem E breve, quando saõ no- 
    mes, e longo quando saõ Verbos. 
    Prospéra, Tempéra.   

     

     

     

    pág. 29
        E Final, pronuncia-se aberto nos 
    Monosyllabos que levaõ Accento agu- 
    do. Fé, Pé, Sé, Thé.
       He fechado nos Verbos Dè, Lè, 
    Sè, Vè, que levaõ Accento Grave; 
    e nas Particulas De Me Se Te, e no 
    Relativo Que onde naõ ha Accento.
       Da mesma maneira se fecha nos 
    Monosyllabos que acabaõ em M. Bèm 
    Cèm, Dèm, Lèm, Nèm, Quèm Sèm, 
    Tèm, Vèm, onde tambem se poem 
    Accento Grave.
       E pella mesma razaõ nos que se 
    terminaõ em S ou Z. Dès, Lès, Fèz, 
    Mèz, Pèz, Rèz, Très, Vèz. Ex- 
    ceytua-se o nome Numeral Déz, e o 
    Verbo Quéz que tem Accento Agudo 
    com E aberto.
    Nos nomes de mais syllabas, que 
    acabaõ em Agudo se pronuncîa E aber- 
    to. Caffé, Galé, Libré, Maré, Po- 
    lé. Exceytua-se Porque, onde he fe- 
    chado.   

     

     

     


    pág. 30
        Tambem se abre na terminaçaõ 
    em EL. Broquél, Burél, Coronél, 
    Cayrél, Papél, Paynél, Pincél, Tro- 
    pél.
       Na terminaçaõ em EM naõ se pro- 
    nuncîa E fechado, mas este soa como 
    se fora EI. Bellem, Porem, Santarem, 
    como se estivesse escrito Belleim, Pe- 
    reim, Santareim.
       Torna a ser aberto na terminaçaõ 
    em ER. Culhér, Mulhér, Talhér, 
    Sumilhér. Exceytua-se Prazer, Des- 
    prazer, e os Infinitivos da segunda 
    Conjugaçaõ Arder, Bater, com al- 
    guns outros Verbos, em que se sup- 
    poem Accento Circumflexo.
       O nome Caracter ainda que naõ 
    tem no fim Accento Agudo, naõ dei- 
    xa de levar E aberto.
    Na terminaçaõ em ES, ou EZ, se 
    pronuncîa E fechado nos nomes Nacio- 
    naes Francez, Inglez, &c. Da mes- 
    ma sorte nos nomes Arnez, Entre- 
       

     

     

     

    pág. 31
    mez, Torquez, Tremez, e nos Pre- 
    teritos, Desfez, Prefez, Refez. 
    Exceytuaõ-se os nomes Convéz, e Re- 
    véz, que levaõ E aberto com Accen- 
    to Agudo.
    Finalmente se pronuncîa E fecha- 
    do Final, em todas as palavras que naõ 
    acabaõ em E Agudo. Trave, Leme, 
    Vide, Bosque, Rude, Bondade, Ta- 
    pete, Semide, Pagode, Virtude, &c.   
    I
    FAz-se differença de i Vogal a j 
    Consoante; porem o J grande tem 
    sempre a mesma figura, ou seja Con- 
    soante ou Vogal.
    Ainda que no I naõ haja a diffe- 
    rença de Som Aberto, ou Fechado, 
    com tudo naõ falta que observar sobre 
    a sua Accentuaçaõ, e quantidade das 
    syllabas.   

     

     

     

    pág. 32
        Quando á Accentuaçaõ as pala- 
    vras que acabaõ em ID, e IL, levaõ 
    Accento Circumflexo, como mais lar- 
    gamente diremos adiante. Davîd, Ma- 
    drîd, Brazîl, Burîl, Ceytîl, Gentîl, 
    &c.
       Exceytuaõ-se desta regra os Adje- 
    ctivos Dócil, Fácil, Fértil, Hábil, 
    Estéril, que levaõ Accento Agudo na 
    primeira, ou penultima.
       As palavras que se terminaõ em 
    IM tambem levaõ Accento Grave, ou 
    Circumflexo. Fìm, Mìm, Rìm, Sìm, 
    Chapîm, Jasmîm, Motîm, Cheru- 
    bîm, Seraphîm.
       Do mesmo modo os nomes em 
    IR. Nadîr, Ophîr; e os Infinitivos 
    Rìr, Caîr, Medîr, Ouvîr, Repetîr, 
    &c.
    Assim tambem os nomes em IS, 
    ou IZ. Matrîz, Perdîz, Vernîz. 
    Exceytua-se Cáliz, ou Calix, que 
    tem Accento Agudo na penultima.   

     

     

     


    pág. 33
        Quanto à quantidade das syllabas 
    he a Vogal I breve ou longa conforme 
    a natureza das palavras, de que senaõ 
    póde dar regra certa; pois que achan- 
    do-se entre as mesmas letras tem mui- 
    tas vezes differente quantidade, se- 
    gundo a diversa significaçaõ; como v. 
    gr. Pánico, de Panicus, e Paníco, 
    sorte de Pano de linho. Do mesmo 
    modo Exército de Exercitus, e Exer- 
    cíto, de Exerceo. Séria, de Serius, 
    e Sería, de Ser.
       Nos nomes que se derivaõ da Lin- 
    gua Latina, se deve reccorrer á dita 
    Lingua, para se pronunciarem confor- 
    me a quantidade que lá tem as pala- 
    vras. Deste modo pronunciamos Amí- 
    go, com I longo, porque vem de A- 
    micus; e Pállido com I breve, porque 
    vem de Pállidus.
    Porem ainda esta mesma regra es- 
    tá sogeita a muitas exceições, tanto a 
    respeito dos nomes, como dos Ver- 
       

     

     

     

    pág. 34
    bos; pois dizemos Gemído com I lon- 
    go, ainda que venha de Gémitus, e 
    Destíno com a penultima tambem lon- 
    ga, ainda que venha de Déstino.
    Quanto aos Verbos se póde dizer 
    que sempre saõ longos em Portuguez, 
    ainda que sejaõ breves no Latim, como 
    se verá da lista, que se segue.   
                                            
    VERBOS 

    VERBOS

     

    Portuguezes.

    Latinos.

     

    Agíto
    de
    Agito.
    Allucíno
    de
    Allúcino.
    Amplifíco 
    de
    Amplífico.
    Anímo
    de
    A‘nimo.
    Annuncío
    de
    Annúntio.
    Anticípo
    de
    Antícipo.
    Applíco
    de
    A‘pplico.
    Arbítro
    de
    A‘rbitror.
    Calumnío
    de
    Calúmnior.
    Comunîco
    de
    Comúnico.

     

     

     


    pág. 35
        
    Comprímo
    de
    Cómprimo.
    Concilío
    de
    Concílio.
    Concíto
    de
    Cóncito.
    Contamíno
    de
    Contámino.
    Dedíco
    de
    Dédico.
    Denuncío
    de
    Denúntio.
    Destíno
    de
    Déstino.
    Dissípo
    de
    Díssipo.
    Domíno
    de
    Dominor.
    Examíno
    de
    Exámino.
    Excíto
    de
    E‘xcito.
    Exímo
    de
    E‘ximo.
    Explíco
    de
    E‘xplico.
    Exprímo
    de
    E‘xprimo.
    Fabríco
    de
    Fábrico.
    Fulmíno
    de
    Fúlmino.
    Glorío
    de
    Glórior.
    Gratifíco
    de
    Gratificor.
    Habíto
    de
    Hábito.
    Hesíto
    de
    Hésito.
    Implíco
    de
    I‘mplico.
    Incíto
    de
    I‘ncito.
    Limíto
    de
    Límito.

     

     

     


    pág. 36
        
    Litígo
    de
    Lítigo.
    Maquíno
    de
    Máchinor.
    Medíto
    de
    Méditor.
    Milíto
    de
    Mílito.
    Mutílo
    de
    Mútilo.
    Negocío
    de
    Negótior.
    Obstíno
    de
    O‘bstino.
    Opprímo
    de
    Opprimo.
    Pacifíco
    de
    Pacífico.
    Palpíto
    de
    Pálpito.
    Particípo
    de
    Partícipo.
    Precipíto
    de
    Praecípito.
    Predestíno
    de
    Praedéstino.
    Prejudíco
    de
    Praejúdico.
    Pronuncío
    de
    Pronúntio.
    Raciocíno
    de
    Ratíotinor.
    Reedifíco
    de
    Reedífico.
    Recíto
    de
    Récito.
    Reconcilío
    de
    Reconcílio.
    Renuncîo
    de
    Renuntio.
    Reprímo
    de
    Réprimo.
    Sacrifíco
    de
    Sacrífico.
    Signifíco
    de
    Signífico.
       

     

     

     

    pág. 37
        
    Sollicíto
    de
    Sollícito.
    Supplíco
    de
    Súpplico.
    Supprímo
    de
    Súpprimo.
    Termíno
    de
    Término.
    Varío
    de
    Vário.
    Vicío
    de
    Vítio.
    Vomíto
    de
    Vómito.
       
    O que naõ padece duvida he terem a 
    penultima longa todos os Participios 
    da segunda, e terceira conjugaçaõ. 
    Querído, Sabído, Ouvído, Vestído.
       Da mesma sorte tem sempre I lon- 
    go os Preteritos Fogíra, Sentíra, para 
    differença dos Futuros Fogirá, Senti- 
    rá, que tem no fim Accento Agudo. 
    Tambem he longa a penultima nos 
    mais tempos. Fogía, Fogiría, Sentía, 
    Sentiría.
    Com a occasiaõ da lista preceden- 
    te apontaremos tambem aqui alguns 
    Verbos com as penultimas em A e E, 
    que sendo breves em Latim, saõ lon- 
       

     

     

     

    pág. 38
    gos no Portuguez, visto que os naõ 
    apontamos tratando das ditas Vogaes.
       
    PORT. 


    LAT.
    Aggrávo
    de
    A‘ggravo.
    Altéro
    de
    A‘ltero.
    Celébro
    de
    Célebro.
    Compáro
    de
    Cómparo.
    Considéro
    de
    Consídero.
    Contráho
    de
    Cóntraho.
    Degenéro
    de
    Degénero.
    Delibéro
    de
    Delíbero.
    Exaggéro
    de
    Exággero.
    Exaspéro
    de
    Exáspero.
    Impéro
    de
    I‘mpero.
    Impétro
    de
    I‘mpetro.
    Modéro
    de
    Módero.
    Numéro
    de
    Número.
    Penétro
    de
    Pénetro.
    Prepáro
    de
    Préparo.
    Recupéro
    de
    Recúpero.
    Refrigéro
    de
    Refrígero.

     

     

     


    pág. 39
        
    Regenéro
    de
    Regénero.
    Remunéro
    de
    Remúnero.
    Reverbéro
    de
    Revérbero.
    Repáro
    de
    Réparo.
    Sepáro
    de
    Séparo.
    Supéro
    de
    Súpero.
    Toléro
    de
    Tólero.
    Venéro
    de
    Véneror.
    Vitupéro
    de
    Vitúpero.
       
    Os Verbos com as penultimas em 
    O, e U se apontaraõ quando tratar- 
    mos destas Vogaes.   
    O
    O Na primeira syllaba humas vezes 
    he fechado, e outras aberto, 
    conforme as differentes terminações.
    Primeiramente he fechado nas ter- 
    minações em OA, OO, ou sejaõ No- 
    mes, ou Verbos. Boa, Broa, Doa, 
       

     

     

     

    pág. 40
    Goa, Loa, Moa, Noa, Roa, Soa, Toa, Voa, 
    Do-o, Mo-o, Ro-o, So-o, To-o, Vo-o.
       Tambem he fechado nas termina- 
    ções em BA, BO. Loba, Lobo, Bobo. 
    Exceytua-se o Verbo Dóbo. Mediando 
    R nas ditas terminações abre-se a Vo- 
    gal O nos Nomes O‘bra, Cóbra, Dó- 
    bra, Sóbra, e nos Verbos O‘bro, Có- 
    bro, Dóbro, Sóbro; màs fecha-se nos 
    Substantivos Cobro, Dobro, Sobro; e 
    na proposiçaõ Sobre.
       Nas em CA, CO, levaõ O aber- 
    to os nomes Chóca, Róca, Tróca, Fró- 
    co; e os Verbos Tóco, Tróco. Excey- 
    tuaõ-se os nomes Coco, Choco, Troco.
       Nas em C,A, C,O, se pronuncîa 
    O aberto em Cóça, Móça, Róça. Fe- 
    cha-se porem em Moça, pro Juvencu- 
    la, Poça, Moço, Poço, Troço.
       Do mesmo modo se abre nas em 
    CHA, CHO. Rócha, Tócha. Tiraõ- 
    se Mocha, Mocho.
    Nas em DA, DO, se encontra O 
       

     

     

     

    pág. 41
    aberto em Móda, Póda, Róda, Módo, 
    e nos Verbos Pódo, Ródo. Fecha-se po- 
    rem em Voda, Rodo, Todo.
       Nas em FA, FO, se abre em Mó- 
    fa; e se fecha em Fofo, Mofo.
       Nas em GA, GO, pronuncîa-se 
    aberto em Bóga, Dróga, Tóga, e nos 
    Verbos Jógo, Rógo, Vógo. Da mesma 
    sorte se abre tambem nos Pluraes como 
    v. g. Fógos, Jógos, Rógos, ainda que 
    os Singulares Fogo, Jogo, Rogo, te- 
    nhaõ O fechado.
       Mediando a letra R nas ditas ter- 
    minações leva O aberto Sógra; mas fe- 
    cha-se em Sogro, e Logro, sendo Sub- 
    stantivo, porque quando Lógro, he 
    Verbo, tem O aberto.
       Nas em JA, JO, levaõ O fecha- 
    do Nojo, Tojo.
    Pello contrario se abre nas em LA, 
    LO. Bóla, Cóla, Sóla, Dólo, Pólo. 
    Tiraõ-se os nomes Bolo, Rolo, Tolo, 
    Rola.   

     

     

     


    pág. 42
        He fechado nas em LHA, LHO. 
    Olha, Folha, Polha, Rolha, Olho, 
    Molho, Solho; e nos Verbos Colho, 
    Tolho. Exceytuaõ-se os nomes Mólho, 
    pro Manipulus, e O‘lhos, e Mólhos, 
    no Plural, com os Verbos O‘lho, Mó- 
    lho.
       Nas terminações em MA, MO, 
    se fecha esta Vogal em Broma, Goma, 
    Roma, Gomo, Pomo, Tomo, e em 
    Como, ou seja Verbo, ou Adverbio. 
    Abre-se porem no Verbo Tómo.
       Nas em NA, NO, se pronuncîa 
    O fechado em Nona, Tona, Mono, 
    Nono.
       Nas em NHA, NHO, tem O fe- 
    chado Cronha, Fronha, Ronha, e os 
    Verbos Ponha, Sonha, Ponho, So- 
    nho, assim Verbo, como Substantivo.
    Nas em PA, PO, se pronuncîa 
    O aberto em O‘pa, Cópa, Trópa, Có- 
    po, e no Verbo Tópo. Exceytua-se So- 
    pa.   

     

     

     


    pág. 43
        Tambem se abre em RA, RO, 
    nos nomes Hóra, Nóra, e no Adver- 
    bio Fóra; como tambem nos Verbos 
    Córo, Chóro, Móro, Chóra, Móra.
       Tem porem O fechado o Verbo 
    Fora, e os nomes Choro, Coro, Go- 
    ro, Soro, ainda que se abra em alguns 
    pluraes, como Córos, Góros, Póros, 
    Tóros, estes dous tambem no Singular 
    tem O aberto.
       Nas em SA, SO, ou ZA, ZO, 
    he aberto no Verbo Gózo, porem no 
    Substantivo Gozo, se pronuncîa o O 
    fechado.
       Nas em TA, TO, levaõ O aber- 
    to os nomes Bóta, Cóta, Nóta, Ró- 
    ta, quando he hum Tribunal de Ro- 
    ma, Sóta, e os Verbos Bóto, Cóto, 
    Nóto, Fróto, e Vóto, ou seja Verbo, 
    ou Nome. Pello contrario he fechado 
    em Gota, Goto, e no Adjectivo Rota, 
    Roto.
    Nas em VA, VO, tem O aberto 
       

     

     

     

    pág. 44
    Cóva, Nóva, Próva, Sóva, Tróva; 
    e o Verbo Próvo. Levaõ porem O fe- 
    chado os Singulares Ovo, Novo, Po- 
    vo, ainda que os Pluraes o tenhaõ 
    aberto O‘vos, Nóvos, Póvos. Tam- 
    bem se fecha no Verbo Movo.
       Nas em XA, XO, se pronuncîa 
    O fechado em Coxa, Froxa, Roxa, 
    Coxo, Froxo, Roxo.
       Quanto à terminaçaõ em E tem 
    primeiramente O aberto os nomes Bó- 
    de, Bófe, Bróche, Cóffre, Dóte, 
    Fóme, Lóte, Móte, Nóbre, Póbre, 
    Póte, Róque, Tópe, Tóque, Tróte, 
    Zóte. E os Verbos Cólhe, Cóme, Mó- 
    ve, Tóme, Pòde, sendo presente que 
    no Preterito tem O aberto.
    Da mesma sorte aquelles nomes, 
    em que a Vogal O he seguida de algu- 
    ma Consoante na mesma syllaba. Bósque, 
    Cóldre, Córte de animaes, Fólle, Gólpe, 
    Mólde, Mólle, Mórte, Nórte, Pór- 
    te, Pósse, Sórte, Tósse.   

     

     

     


    pág. 45
        Exceytuaõ-se Corte de Principe, 
    Torpe; como tambem Coche, Odre, 
    Podre, e a Proposiçaõ Sobre, que le- 
    vaõ O fechado. Na mesma exceiçaõ 
    se comprehendem os Nomes, e Ver- 
    bos em que se segue M, ou N. Conde, 
    Donde, Ponte, Compre, Ponde, Rom- 
    pe, Monde, Sonde.
       Nas terminações que naõ saõ em 
    E, sendo a Vogal O da primeira sylla- 
    ba acompanhada de alguma das letras 
    L R S, tem som aberto nos nomes Bór- 
    la, Córda, Cósta, Fórma, Fósca, 
    Mórna, O‘rta, Pórta, Pósta, Sólfa, 
    Tórta, e nos Verbos Córto, Fórmo, 
    Gósto, Móstro, Póstro, Tórno.
    Levaõ porem O fechado os nomes 
    Masculinos Corpo, Corvo, Corro, For- 
    no, Forro, Golfo, Gosto, Horto, 
    Mosto, Poldro, Polvo, Porco, Por- 
    to, Rostro, Soldo, Sorvo, Toldo, 
    Tordo, Torto. Os Adjectivos Morno, 
    Morto, Posto: e os Verbos Corro, 
       

     

     

     

    pág. 46
    Morro, Sorvo. Exceytua-se Bórdo, 
    que ou seja Verbo, ou Nome, sem- 
    pre leva O aberto.
       Da mesma sorte tem O fechado al- 
    guns Femininos, como Bolça, Colcha, 
    Forca, Força, Forma de official, Mos- 
    ca, Polpa, Rosca, Sorva.
       Finalmente se a letra, que se se- 
    guir à Vogal O na mesma syllaba, for 
    M, ou N, tambem se pronuncîa O 
    fechado. Onda, Pomba, Sonda; e as- 
    sim nos Nomes Masculinos, e nos Ver- 
    bos.
       Geralmente se póde dizer que O 
    na primeira syllaba he fechado nos No- 
    mes que tem mais de duas syllabas. 
    Morada, Cobarde, Corisco, Roteiro, 
    Sobrado.
       Exceytuaõ-se as palavras Córádo, 
    Mórgádo, Sómente, Cónesia, e pou- 
    cas outras, que tem Accento Agudo 
    na primeira syllaba.
    Tambem se fecha nas que acabaõ 
       

     

     

     

    pág. 47
    em algum Accento. Corál, Forál; 
    Broquél, Tropél, Gomîl, Motîm, 
    Bolôr, Mogôr, Foráõ, Coraçáõ. Do 
    mesmo modo nos Verbos Morar, Mo- 
    tejar, Doer, Promover, Bolir, Pro- 
    duzir.
       O Medio, humas vezes he fecha- 
    do, e outras aberto, conforme a dif- 
    ferença das terminações.
       Primeiramente nas terminações 
    em OA, OO, levaõ O fechado, e bre- 
    ve os nomes E‘goa, Légoa, Mágoa, 
    Névoa, Nódoa, Póvoa, Régoa, Tá- 
    boa, Trégoa. Da mesma sorte os Ver- 
    bos, a que se segue algum artigo. Po- 
    nho-a, Tenho-o; e os Gerundios Sen- 
    do-a, Sendo-o.
       He porem longo, ainda que fe- 
    chado, nos nomes Canôa, Forôa, Lei- 
    tôa, Lisbôa, Podôa; e assim nos Ver- 
    bos Magôo, Arrezôo, Magôa, Arre- 
    zôa, e outros semelhantes.
    Nas terminações em OBA, OBO, 
       

     

     

     

    pág. 48
    levaõ O fechado Alcoba, Arroba, Al- 
    farroba.
       Nas em OCA, OCO, se pronun- 
    cîa O fechado em Bioco, Descoco, e 
    nos seus Pluraes. He porem aberto em 
    Barróca, Mandióca, Massaróca; e 
    nos Verbos Convóco, Deslóco, Destró- 
    co, Provóco, Retóco Revóco.
       Nas em OC,A, OC,O, tem O fe- 
    chado os nomes Caroço, Destroço, Pes- 
    coço, Tramoço, Alvoroço, e em al- 
    guns destes Pluraes, como Destroços, 
    Alvoroços. Mas abre-se em Caróços, 
    Pescóços, Tramóços, e no Verbo Des- 
    tróço.
       Nas em OCHA, OCHO, he 
    aberto em Carócha, Garrócha, e no 
    Verbo Arrócho, ainda que se feche no 
    Substantivo.
    Nas em ODA, ODO, tem O fe- 
    chado o Substantivo Engodo; porem 
    abre-se nos Verbos Engódo, Accomódo, 
    Desacomódo.   

     

     

     


    pág. 49
        Nas em OFA, OFO, se encon- 
    tra O fechado em Estofo, e aberto em 
    Galhófa.
       Nas em OGA, OGO, he aberto 
    em Synagóga, e nos Verbos Affógo, 
    Desafógo, Revógo; mas fecha-se no 
    Substantivo Desafogo.
       Nas em OYA, OYO, se pronun- 
    cîa aberto no nome Tramóya, e nos 
    Verbos Apóyo, Combóyo; fecha-se po- 
    rem nos nomes Apoyo, Saloyo.
       Nas em OJA, OJO, levaõ O fe- 
    chado os nomes Arrojo, Despojo, En- 
    tojo; e aberto os Verbos Anójo, Ar- 
    rójo, Despójo, Entójo.
    Nas em OLA, OLO, tem O fe- 
    chado Cebola, Miolo, Rebolo, Tejolo. 
    Pello contrario se abre nos nomes An- 
    góla, Argóla, Bandeyróla, Gali- 
    nhóla, Santóla, Vióla; e nos Verbos 
    Assólo, Atólo, Consólo, Viólo. Quan- 
    to aos Pluraes pronuncia-se O aberto 
    em Miólos, e fechado em Rebolos, 
    Tejolos.   

     

     

     

    pág. 50
        Nas em OLHA, OLHO, se en- 
    contra O fechado nos nomes Ferrolho, 
    Refolho, Repolho; no Feminino Es- 
    colha, e nos Verbos Escolho, Reco- 
    lho, &c. Entre os Pluraes levaõ O 
    aberto Abrólhos, Antólhos, e fecha- 
    do Ferrolhos, Refolhos, Repolhos.
       Nas em OMA, OMO, tem O fe- 
    chado, Mafoma, Maroma, Redoma, 
    e o Verbo Engomo.
       Nas em ONA, ONO, se fecha a 
    Vogal O em Atafona, Azeitona, 
    Mangerona, e Cidade de Ancona.
       Tambem he fechado nas em 
    ONHA, ONHO. Peçonha, Bolonha, 
    Vergonha, Medonho, Medronho; e 
    nos Verbos Componho, Deponho, Pro- 
    ponho, Reponho, Supponho.
       Nas em OPA, OPO, leva O fe- 
    chado Estopa, Cachopo, e aberto no 
    Plural Cachópos.
    Nas em ORA, ORO, se abre nos 
    nomes Amóra, Demóra, C,amóra, 
       

     

     

     

    pág. 51
    Espóra: No Adverbio Agóra; e nos 
    Verbos Aaóro, Descóro, Devóro, De- 
    móro, Namóro. Fecha-se porem em Se- 
    nhora, e nos tempos dos Verbos Com- 
    pora, Propora, Dispora, em lugar 
    de Compusera. Assim tambem se fecha 
    nos Femininos de alguns nomes em OR, 
    fechado, v. g. Falladora, Gritadora, 
    Contendora, Gastadora, de Fallador, 
    Grittador, &c.
       Do mesmo modo nos Adjectivos 
    Masculinos Fermoso, Forçozo, Ma- 
    nhozo, Medrozo, Teimoso, Viçozo.
       Porem os Adjectivos Femininos 
    tem O aberto. Formósa, Forçóza, Me- 
    dróza, &c. com os seus Pluraes, 
    como tambem os Pluraes Masculinos 
    Fermósos, Forçósos, &c. Do mesmo 
    modo se abre nos Verbos Despózo, 
    Espózo.
    Nas em OTA, OTO, levaõ O fe- 
    chado os nomes Gafanhoto, Minhoto, 
    Arroto, Escota. Pello contrario he 
       

     

     

     

    pág. 52
    aberto em Bolóta, Derróta, Devóta, 
    Gaivóta; e nos Verbos Denóto, Der- 
    róto, Arróto, Desbóto, Embóto, 
    Enxóto, Esgóto.
       Nas em OVA, OVO, tem O fe- 
    chado os nomes Enxova, Escova, e 
    os Verbos Commovo, Promovo. He po- 
    rem aberto nos Verbos Appróvo, Com- 
    próvo, Repróvo, Renóvo.
       Nas em OXA, OXO, se encon- 
    tra O fechado no Nome Pintarroxo, e 
    no Verbo Afroxo.
       Nas palavras que acabaõ em E 
    humas vezes se acha O aberto, como 
    em Batoque, Bigóde, Capóte, Galó- 
    pe, Garróte, Magóte, Pagóde, Estó- 
    que, Remóque.
       Outras vezes fechado como em 
    Adobe, Arrobe.
    Tambem se fecha nos Pluraes dos 
    Nomes em OR, com O fechado no Sin- 
    gular, como Assores, ou Açores, 
    Horrores, Lavores, Tambores, Ter- 
       

     

     

     

    pág. 53
    rores, de Açôr, Horrôr, Lavôr, 
    Tambôr, e Terrôr.
       Porem nos Pluraes dos nomes em 
    OR, com O aberto, se abre tambem 
    a dita Vogal. Mayóres, Menóres, Suó- 
    res, de Mayór, Menór, Suór.
       Quando a Vogal O Media he se- 
    guida de alguma das letras L R S, na 
    mesma syllaba, pronuncîa-se aberta 
    nos Nomes Amóstra, Apósta, Bigór- 
    na, Escólta, Escórva, Refórma, 
    Albórque, Confórme, Consórte, Enór- 
    me, Desórdem.
       Da mesma sorte nos Verbos Abór- 
    do, Apórto, Apósto, Confórto, De- 
    zembólço, Desgósto, Embólço, En- 
    fórco, Confórto, Confórmo, Engólfo, 
    Entórno, Esfórço, Escórvo, Estór- 
    vo, Refórço, Refórmo, Tresbórdo.
    He porem fechado nos nomes Ca- 
    chorra, Lagosta, Madorna, Mas- 
    morra, Pachorra, Aborto, Absolto, 
    Absorto, Cachorro, Composto, Con- 
       

     

     

     

    pág. 54
    forto, Contorno, Dezembolço, Des- 
    gosto, Disposto, Embolço, Encosto, 
    Esforço, Estorvo, Reforço, Reposto, 
    Soccorro.
       Da mesma sorte se fecha em al- 
    guns Verbos, como Absolvo, Dis- 
    solvo, Resolvo, Reccorro, Soccorro. 
    Tambem he fechado se a letra que se 
    seguir à Vogal O na mesma syllaba, 
    for M, ou N, Confronto, Engonço, 
    Encontro, Escondo, Esconço, Re- 
    dondo.
       Algumas vezes succede ser fecha- 
    da a Vogal O Media, porque he bre- 
    ve a tal syllaba, como em A‘ncora, 
    A‘rvore, A‘tomo, Apóstolo, Bácoro, 
    Cómmodo, Góndola, Pérola, Pólvo- 
    ra, Rémora, Tábola, Témporas, Vés- 
    poras, Sy‘mbolo, Sy‘nodo.
    No particular da Quantidade da Vo- 
    gal O se deve observar, q? ha varios Ver- 
    bos em Portuguez, a tem longa, ainda 
    que no Latim, donde se derivaõ, a te- 
       

     

     

     

    pág. 55
    nhaõ breve, como succede entre ou- 
    tros nos seguintes.

    PORT. 

    LAT.
    Accomódo
    de
    Accómodo.
    Arrógo
    de
    A‘rrogo.
    Avóco
    de
    A‘voco.
    Collóco
    de
    Cólloco.
    Convóco
    de
    Cónvoco.
    Denóto
    de
    Dénoto.
    Immólo
    de
    I‘mmolo.
    Incommódo
    de
    Incómmodo.
    Incorpóro
    de
    Incórporo.
    Innóvo
    de
    I‘nnovo.
    Interrógo
    de
    Intérrogo.
    Prorógo
    de
    Prórogo.
    Provóco
    de
    Próvoco.
    Revóco
    de
    Révoco.
    Viólo
    de
    Víolo.
      
    O Final pronuncîa-se aberto nos 
    Monosyllabos que levaõ Accento Agu- 
    do, como Dó, Ló, Mó, Nó, Pó, Só.   

     

     

     

    pág. 56
        Da mesma sorte nos que acabaõ 
    em Consoante, com tanto que tenhaõ 
    o mesmo Accento Agudo. Cór pro Me- 
    moria, Cóz, Fóz, Ról, Sól, Vóz: 
    nos Pronomes Nós, Vós, no Compa- 
    rativo Mór, e finalmente nos Pluraes 
    dos nomes acima.
       Naõ levando Accento Agudo se 
    pronuncîa O fechado, como nas par- 
    ticulas Do, No, To, Dos, Nos, Tos: 
    em Bom, Dom, Som, Tom: em Cor 
    pro Colore, Dor, Flor; e nos Ver- 
    bos For, Por, Poz.
       Nos Nomes de mais syllabas ha- 
    vendo Accento Agudo se pronuncîa O 
    aberto. Filhó, Pharaó, Teiró, Ventó.
       Tambem se abre nos Nomes em 
    OL. Caracól, Faról, Girasól, Lan- 
    çól, Rouxinól, Tiról.
    Pello contrario os que acabaõ em 
    OR, tem ordinariamente O fechado. 
    Amôr, Ardôr, Pudôr, Pendôr, Ca- 
    lôr, Favôr, Sabôr, Lavôr, Pavôr, 
       

     

     

     

    pág. 57
    Senhôr, Directôr, &c. Assim tambem 
    os Infinitivos Compôr, Depôr, Oppôr, 
    Suppôr, Repôr, Transpôr.
       Exceytuaõ-se desta regra os Com- 
    parativos Mayór, Menór, Peór, e o 
    Nome Suór, que levaõ O aberto.
       Nas terminações em OS, ou OZ, 
    tem O aberto os nomes Atróz, Cadóz, 
    Feróz, Retróz, Albernóz, Badajós. 
    He porem fechado em Algôz, Arrôz, 
    e nos Preteritos Compôz, Depôz, 
    Dispôz, Expôz, Suppôz, &c.
    Finalmente se pronuncîa O fecha- 
    do no fim de todas as palavras que naõ 
    levaõ algum Accento. Fado, Perto, 
    Fisco, Porto, Rumo, Estado, Espe- 
    lho, Vestido, Despojo, Repuxo.   

     

     

     

     

     

    pág. 58
    U
    A Vogal U, tem differente figura 
    do V Consoante, excepto nas le- 
    tras Maiusculas, em que sempre se 
    uza de V. Advirtaõ os Francezes, que 
    o som desta Vogal he o mesmo que el- 
    les daõ ao seu Ditongo OU.
       Quanto á Accentuaçaõ, naõ ad- 
    mitte Accento Agudo, por naõ poder 
    pronuncîar-se com tom aberto, como 
    tambem succede à Vogal I; e assim leva 
    Accento Grave, ou Circumflexo, 
    conforme a natureza das syllabas.
       Tem lugar primeiramente nos 
    Monosyllabos Cru, Mu, Tu, Cruz, 
    Crus, Hum, Huns, Luz, Mus, 
    Nus, Puz, Sul.
    Nos nomes de mais syllabas que 
    acabaõ em U puro, como Pégû, Pe- 
    rû.   

     

     

     

    pág. 59
        Na terminaçaõ em UL, como 
    Azûl, Báûl, Paûl, Tafûl. Exceytua- 
    se Consul, que carece totalmente de 
    Accento na ultima syllaba.
       Na terminaçaõ em UM, Algûm, 
    Jejûm, Nenhûm, e nos seus Pluraes.
       Na em US, ou UZ, Alcaçûz, 
    Alcatrûz, Arcabûz, Capûz, Ormûz.
       Da mesma sorte nos Preteritos da 
    quarta Conjugaçaõ: Compûz, Dis- 
    pûz, Repûz, Pospûz, Transpûz.
       Quanto à quantidade a Vogal U 
    he quasi sempre longa, excepto nas 
    palavras, que vem do Grego, ou do 
    Latim, e nellas succede serem breves, 
    como as seguintes.
       
    Angulo 
    Arduo 
    Assiduo
    Capitulo
    Circulo
    Credulo
    Cumulo 
    Fatuo 
    Lugubre
    Obstaculo
    Oculo
    Oraculo
    Posthumo 
    Purpura 
    Regulo 
    Seculo 
    Vestibulo 
    Vocabulo.
       

     

     

     

    pág. 60
        Deve-se porem observar nesta 
    exceyçaõ, que ainda muitas vezes suc- 
    cede terem syllaba longa em Portu- 
    guez algumas palavras, que a tinhaõ 
    breve em Latim. Assim se pronuncîa 
    Refúgo, e Regúlo, com a penultima 
    longa, ainda que venhaõ de Refugus, 
    e de Regula, que a tem breve. Sobre 
    tudo se pronuncîaõ longos em Portu- 
    guez varios Verbos, que em Latim 
    tem a Penultima breve, sem alguma 
    alteraçaõ de letras, como se vè da li- 
    sta seguinte.
       
    PORT.


    LAT.
    Accumúlo
    de
    Accúmulo.
    Attenúo
    de
    Atténuo.
    Attribúo
    de
    Attríbuo.
    Argúo
    de
    A‘rguo.
    Augúro
    de
    A‘uguro.
    Coagúlo
    de
    Coágulo.
    Compúto
    de
    Computo.
       

     

     

     

    pág. 61
        
    Congratúlo
    de
    Congratulor
    Constitúo
    de
    Constituo.
    Constrúo
    de
    Cónstruo.
    Continúo
    de
    Contínuo.
    Contribúo
    de
    Contríbuo.
    Cumúlo
    de
    Cumulo.
    Depúto
    de
    Députo.
    Destrúo
    de
    Déstruo.
    Dispúto
    de
    Dísputo.
    Dissimúlo
    de
    Dissímulo.
    Distribúo
    de
    Distríbuo.
    Edúco
    de
    E‘duco.
    Especúlo
    de
    Spéculor.
    Estimúlo
    de
    Stímulo.
    Extenúo
    de
    Exténuo.
    Insinúo
    de
    Insínuo.
    Institúo
    de
    Instítuo.
    Instrúo
    de
    ínstruo.
    Macúlo
    de
    Máculo.
    Occúpo
    de
    O‘ccupo.
    Perpetúo
    de
    Perpétuo.
    Postúlo
    de
    Póstulo.
    Preoccúpo
    de
    Preóccupo.
       

     

     

     

    pág. 62
        
    Repúto
    de
    Réputo.
    Restitúo
    de
    Restítuo.
    Suppúto
    de
    Súpputo.
       
    Y
    ESta Vogal he tomada dos Gregos, 
    entre os quaes tinha o mesmo tom 
    que a Vogal U dos Francezes; porem 
    tanto no Latim, como na mayor parte 
    das Linguas vulgares se lhe dá o som 
    da vogal I.
       Tem toda a força de letra Vogal 
    nas palavras tiradas do Grego, como 
    Abysmo, Estylo, Mysterio, Symbolo, 
    Synodo, Syllaba. Em outros lugares 
    naõ tem bastante força para formar 
    syllaba á parte; e por isso se poem 
    antes ou depois de outra Vogal.
    Y Inicial servindo de primeira le- 
    tra nos nomes, ainda que se encon- 
    tre muitas vezes nas Linguas France- 
       

     

     

     

    pág. 63
    za, e Ingleza, naõ tem lugar na Por- 
    tugueza, salvo em alguns Nomes Es- 
    trangeiros Geographicos, como Ye- 
    pes em Castella a Nova, Ygualada 
    em Catalunha, YorcK em Inglaterra, 
    Yviça no Mediterraneo, e Yvoix no 
    Luxembaug Francez.
       Y Medio se encontra primeira- 
    mente no meyo de muitos nomes aca- 
    bados em A, como Faya, Raya, Al- 
    faya, Meya, Teya, Alheya, Boya, 
    Troya, Tramoya, Tapuya.
       Da mesma sorte nos Nomes em O. 
    Mayo, Rayo, Balayo, Freyo, Meyo, 
    Alheyo, Moyo, Apoyo, Saloyo. E 
    nos Verbos Cayo, Sayo, Veyo, Con- 
    veyo, Apóyo, Combóyo; como tam- 
    bem nos tempos a que se segue algum 
    Artigo: Day-o, Dey-o, Foy-o, Fuy-o, 
    Callay-o, Dizey-o, &c.
    Finalmente em muitos outros No- 
    mes, e Verbos de differentes termi- 
    nações. Alfayate, Alvayade, Payol, 
       

     

     

     

    pág. 64
    Mayor, Mayores, Cayado, Cayar, 
    Rayar, Comboyar, Desmayar.
       Algumas vezes uza tambem o Pa- 
    dre Vieira de Y no comparativo Peyor, 
    Peyores; supposto que em outras oc- 
    casiões escreve Peór, Peóres.
       Varios Autores se servem tambem 
    de Y medio nas palavras Almeyda, 
    Ferreyra, Parreyra, Roseyra, Cra- 
    veyro, Primeyro, Terceyro, Feyçaõ, 
    Eleyçaõ, Gayta, Rayva, Heytor, 
    Eleytor; Fleyma, Peyta, Teyma, 
    Coyma, Noyva, Aypo, Rayvo, Say- 
    bo, Geyto, Pleyto, Ceytil, &c. Mas 
    o Padre Vieira usa nestas palavras de I 
    latino.
    Mayor necessidade ha da Vogal Y 
    para estabelecer algumas regras em or- 
    dem á Orthographia de varias palavras 
    em EA, e EO, a fim de saber quando 
    saõ Verbos, e quando saõ Nomes; e 
    ainda para distinguir os tempos dos 
    mesmos Verbos, e evitar por este mo- 
       

     

     

     

    pág. 65
    do muitos equivocos na Lingua.
       Em primeiro lugar parece preciso 
    o uso do Y Grego no meyo das pala- 
    vras em EA, ou sejaõ de duas sylla- 
    bas, como Cea, Mea, Pea, ou de 
    trez, como Area, para se conhecer 
    quando saõ Nomes, e quando saõ ter- 
    ceiras pessoas dos Indicativos.
       Em segundo lugar nas palavras em 
    EO, ou tambem sejaõ de duas sylla- 
    bas, como Creo, Leo, ou de trez, 
    como Passeo, Receo, para evitar dif- 
    ferentes equivocos,
       Supposta a necessidade que ha de 
    usar da Vogal Y para o effeito que 
    dissemos, entra a grande difficulda- 
    de de saber quando he que se deve 
    usar da dita Vogal, se na escrittura 
    dos Nomes, se na dos Verbos; e esta 
    he tanto mayor, quanto he varia a 
    Orthographia de que se servem os nos- 
    sos Authores.
    Havendo de dar alguma regra ne- 
       

     

     

     

    pág. 66
    sta materia, fora de parecer, que em 
    ambas as sobreditas terminações se pu- 
    zesse Y nos Verbos, e se supprimisse 
    nos Nomes; e que nesta forma se es- 
    crevesse Elle ceya, Elle peya, Elle 
    areya; e pello contrario Huma cea, 
    Huma pea, Huma area.
       Da mesma sorte Eu creyo, Eu 
    leyo, para differença dos Preteritos 
    Elle creo, Elle leo: como tambem 
    Eu galanteyo, Eu passeyo, Eu rodeyo, 
    para differença dos nomes Hum galan- 
    teo, Hum passeo, Hum rodeo.
    Com esta Orthographia se pode- 
    raõ distinguir facilmente os Verbos em 
    EO, naõ só dos Nomes acima aponta- 
    dos, para evitar equivocos, mas de 
    outros Substantivos, que levaõ diton- 
    go de EO, com E fechado, como saõ 
    Borneo, Hebreo, Orpheo, Phariseo, 
    Theseo; e daquelles em que o E se pro- 
    nuncîa aberto, como em Arpéo, Cha- 
    péo, Mantéo, Pygméo.   

     

     

     


    pág. 67
        Tambem se differençaráõ facil- 
    mente dos preteritos Ardeo, Morreo, 
    Escureceo, Estendeo; Supposto que os 
    ditos Preteritos se poderiaõ tambem 
    distinguir escrevendo-se com U no fim, 
    visto que o som da Vogal O he nelles 
    muy escuro: Ardeu, Morreu, Escu- 
    receu, Estendeu.
       As razões que me persuadem a se- 
    guir o methodo proposto, saõ as que 
    aqui aponto.
    A primeira para observar o mais 
    que he possivel a mesma ordem de Or- 
    thographia; porque se na terminaçaõ 
    em EA senaõ escrevem os nomes com 
    Y Grego; ainda que levem algum I na 
    pronuncia, como Balea, Cadea, que 
    se lem Baleya, Cadeya: que razaõ pó- 
    de haver para que na terminaçaõ em 
    EO, que lhe he taõ semelhante, naõ 
    tenhaõ os nomes a mesma Orthogra- 
    phia? Por este modo devem ser os no- 
    mes Passeo, Rodeo, os que careçaõ 
       

     

     

     

    pág. 68
    de Y na escrittura, deixando-o para 
    os Verbos Eu passeyo, Eu rodeyo.
       A segunda porque parece indis- 
    pensavel uzar-se de Y nos presentes 
    dos Verbos Eu creyo, Eu leyo; para 
    differença dos Preteritos Elle creo, 
    Elle leo, senaõ he que se escrevaõ 
    Creu, Leu. Da mesma sorte he preci- 
    so no Preterito Veyo (como escreve o 
    Padre Vieira) para differença do Sub- 
    stantivo Véo. Nestes termos para ob- 
    servar a mesma Orthographia se de- 
    vem tambem escrever com Y os pre- 
    sentes dos Verbos Eu passeyo, Eu ro- 
    deyo, tirando-o dos Nomes Hum pas- 
    seo, Hum rodeo.
    A terceira particularmente em or- 
    dem aos Nomes de duas syllabas em 
    EA; porque com esta Orthographia 
    se assemelhaõ mais ao Latim de que se 
    derivaõ; como v. g. Cea, Tea, Vea, 
    que ficaõ mais semelhantes a Cœna, 
    Tela, Vena, do que se tivessem Y 
       

     

     

     

    pág. 69
    no meyo: Ceya, Teya, Veya.
       Porem assim como ha estes fun- 
    damentos para se usar de Y nos Ver- 
    bos, tambem se offerecem razões 
    muy fortes em contrario.
       Huma he que naõ só nas Linguas 
    Primitivas, como a Hebraica, e a 
    Grega, mas ainda nas Vulgares saõ os 
    Verbos de ordinario compostos de me- 
    nos syllabas do que os nomes, pois lhe 
    servem de raizes; logo parece ser 
    contra esta regra taõ geral escreve- 
    rem-se os Verbos com mais letras do 
    que os nomes; e assim se deverá sup- 
    primir o Y nos Verbos.
    Esta objecçaõ que he de muita 
    força, naõ deixa de ter reposta; e he 
    que supposto que pello uso geral faõ 
    os Verbos mais simples do que os No- 
    mes, e por isso levaõ menos letras; 
    com tudo por huma exceiçaõ de re- 
    gra succede algumas vezes o contra- 
    rio, como vemos nos nomes Desdem, 
       

     

     

     

    pág. 70
    Feiçaõ, Tom, Sabaõ, os quaes tem 
    menos letras, e syllabas do que os 
    Verbos, Desdenhar, Afeiçoar, En- 
    toar, Ensaboar. O mesmo póde tam- 
    bem succeder por particular excei- 
    çaõ de regra nos Nomes Passeo, Ro- 
    deo, levando mais letras os Verbos 
    Eu passeyo, Eu rodeyo, ainda que naõ 
    tenhaõ mais syllabas.
       A outra objecçaõ he, que escre- 
    vendo-se os Nomes Passeo, Rodeo, 
    sem ypsilon, se confundem com a ter- 
    minaçaõ de outros Nomes, como Bor- 
    neo, Judeo; mas a isto respondemos 
    que he muito mais necessario distin- 
    guir os Nomes dos Verbos, do que 
    huns Nomes dos outros Nomes; e as- 
    sim he melhor escrever Eu rodeyo, 
    do que Eu rodeo, porque se evita hu- 
    ma mayor equivocaçaõ.
    Desta regra geral se devem excei- 
    tuar os dous Nomes Meyo, e Meya, 
    os quaes pódem ser escrîtos com Y, 
       

     

     

     

    pág. 71
    visto que se derivaõ de Medium, e 
    Media, em que se encontra hum I, 
    ainda que Latino; o qual conforme o 
    que acima dissemos, se muda em Y Gre- 
    go no meyo de outras Vogaes.
       Tambem se póde exceituar o No- 
    me Correo pro Tabellarius, escreven- 
    do-se Correyo, para differença do Pre- 
    terito Correo Cucurrit, no caso que 
    senaõ escreva antes Correu.
       Y Final, usa-se nos Monosyllabos 
    Pay, Mãy, Grey, Ley, Rey, Boy, 
    Muy, Tuy. Do mesmo modo no Pro- 
    nome Sy, na Interjeiçaõ Ay, e nos 
    Pluraes dos nomes acima: Pays, Mãys, 
    Reys, &c. Tambem serve nos Verbos 
    de huma só syllaba: Day, Vay, Dey, 
    Foy, Fuy.
    Deve-se usar do mesmo modo de- 
    sta Vogal em alguns Nomes de mais 
    syllabas, como Comboy: nos Preteri- 
    tos da primeira Conjugaçaõ: Amey, 
    Falley: nos Futuros de todas as Con- 
       

     

     

     

    pág. 72
    jugações: Amarey, Lerey, Ouvirey, 
    Porey; e em varios Imperativos, A- 
    may, Fallay, Dizey, Fazey.
    _______________________________________
    CAPITULO III.
    Da Pronuncia das Con- 
    soantes.
    ADvirta-se em primeiro lugar, que 
    na pronuncia Portugueza senaõ 
    supprimem Consoantes simples, mas 
    lem-se os Nomes com todas as letras 
    com que se escrevem; o que he muy 
    necessario aos Inglezes, e Francezes, 
    que apprendem o Portuguez.
    Advirta-se em segundo lugar que 
    as Letras Dobradas senaõ pronunciaõ 
    com mais força do que as Singelas, ex- 
       

     

     

     


    pág. 73
    cepto os dous CC, dous RR, e dous 
    SS, que requerem dobrada força, 
    como v. g. Accesso, Accessorio, Amar- 
    ra, Catarro, Assalto, Amasso, que 
    senaõ devem pronunciar Aceso, Aceso- 
    rio, Amara, Cataro, Asalto, Ama- 
    so. Sendo porem geral esta regra para 
    os RR, e SS, dobrados, senaõ veri- 
    fica sempre nos CC, antes fora viciosa 
    affectaçaõ carregar nelles em varias pa- 
    lavras.
    Advirta-se em terceiro lugar que 
    as letras Consoantes, em que compre- 
    hendemos as Liquidas, tomadas sepa- 
    radamente, tem quasi a mesma força, 
    que nas outras Linguas; e assim neste 
    Capitulo só trataremos daquellas que 
    tem alguma differença essencial, e da 
    uniaõ de algumas Consoantes entre si.   

     

     

     

     


    pág. 74
        
    Ç
    ESta letra tem força de dous SS, e 
    só se poem antes das Vogaes 
    A O U, tanto no principio, como no 
    meyo das palavras. C,afra, C,arça, 
    Moço, Poço, C,ujo, Açulo.
       A grande difficuldade consiste em 
    saber quando devemos usar de C, ou de 
    dous SS, e ainda de hum só S, visto te- 
    rem estas letras muitas vezes a mesma 
    força. Nesta materia nos parece, que 
    devemos reccorrer ás régras seguintes, 
    considerando as palavras, ou como de- 
    rivadas do Latim, ou como Portugue- 
    zas de natureza.
    Se as palavras forem derivadas do 
    Latim, e ali tiverem dous SS, escre- 
    verse-haõ tambem com dous SS no Por- 
    tuguez, e naõ com C,. Deste modo 
       

     

     

     

    pág. 75
    escrevemos Massa, e naõ Maça, por- 
    que vem do Latim Massa: Passo, e naõ 
    Paço, porque vem do Latim Passus: 
    Posso, e naõ Poço, porque vem do 
    Latim Possum.
       A mesma regra se terá para saber 
    quando se deve usar de S singelo, ou 
    de C,. Escreva-se Consul, e naõ Conçul; 
    Satisfazer, e naõ C,atisfazer; Ver- 
    so, e naõ Verço, porque vem do La- 
    tim Consul, Satisfacio, e Versus.
       Da mesma sorte se escreveráõ 
    com S as palavras Sabáõ, Saber, Sa- 
    cerdocio, Sacramento, Sacrificio, Sa- 
    lario, Salto, Salvo, Sangrar, San- 
    to, Saude, Sermaõ, Serviço, Sétta, 
    Singular, Simples, Somno, Sorte, 
    Suggestaõ, Supplicar, e outras mui- 
    tas, visto que se derivaõ do Latim.
    Quando as palavras se escrevem 
    em Latim com C, tambem conservaõ 
    C ou C, no Portuguez; ou seja no prin- 
    cipio, ou no meyo das ditas palavras.   

     

     

     


    pág. 76
    Cebola de Cepa: Cegonha de Ciconia: 
    Cereja de Cerasus: Certeza de Certi- 
    tudo: Creço de Cresco: Cisne de Cig- 
    nus: Façanha de Facinus: Faço de 
    Facio: Lança de Lancea: Rançoso de 
    Ranciàus: Recebo de Recipio, &c.
       Escrevendo-se em Latim com CP, 
    levaõ C, no Portuguez; porem com 
    esta differença, que humas vezes per- 
    dem o P como v. g. Conceyçaõ de Con- 
    ceptio, transformando-o em Y; e ou- 
    tras vezes o conservaõ, como em Adop- 
    çaõ de Adoptio, e Percepçaõ de Percep- 
    tio.
       Tendo em Latim CT, tomaõ C, no 
    Portuguez: Affeyçaõ de Affectio; Con- 
    feyçaõ de Confectio; Exacçaõ de Exa- 
    ctio; Dicçaõ de Dictio; Ficçaõ de Fi- 
    ctio; e Protecçaõ de Protectio.
    Algumas vezes succede mudarse o 
    Q Latino em C, no Portuguez: Laço 
    de Laqueus: outras vezes em C: Cin- 
    co de Quinque; Licor de Liquor.   

     

     

     


    pág. 77
        Muy ordinariamente se converte 
    tambem o T Latino em C, no Portu- 
    guez. Destroço de Destructus; Graça 
    de Gratia; Espaço de Spatium; Mar- 
    ço de Martius; Peço de Peto; Poço de 
    Puteus; Preço de Pretium; Presença 
    de Praesentia; Opposiçaõ de Oppositio; 
    Preparaçaõ de Praeparatio; Paço de 
    Palatium; Soluçaõ de Solutio; Traí- 
    çaõ de Traditio.
       Se as palavras forem originaria- 
    mente Portuguezas, ou ao menos esti- 
    ver remota a sua dirivaçaõ do Latim, 
    levaõ C, e naõ dous SS em varias ter- 
    minações.
       Nas em AC,A, EC,A, IC,A, 
    OC,A, UC,A. Ameaça, Cabeça, Se- 
    diça, Carroça, Carapuça.
       Nas em AC,O, EC,O, IC,O, 
    OC,O, UC,O. Engaço, Tropeço, Car- 
    riço, Pescoço, Rebuço.
    Nas em ANC,A, ENC,A, IN- 
    C,A, ONC,A, UNC,A. Fiança, A- 
       

     

     

     

    pág. 78
    vença, Desinça, Gerigonça, Junça.
       Nas em ANC,O, ENC,O, IN- 
    C,O, ONC,O, UNC,O. Descanço, 
    Lenço, Painço, Esconço.
       Nas em ARC,A, ERC,A, IRC,A, 
    ORC,A, URC,A. Farça, Verça, Cor- 
    ça, Camurça.
       Finalmente nas em ARC,O, e 
    ORC,O. Cadarço, Camarço, Esforço, 
    Reforço.
    A difficuldade que ha na Ortho- 
    graphia da letra C, nos obriga a por 
    aqui duas Listas, huma das palavras 
    mais commuas, que começaõ por C, 
    e outra das que o tem no meyo.   
    Palavras com C, inicial.
       
    C,abujo
    C,afar
    C,afaro 
    C,afo
    C,afra
    C,anefa 
    C,apato
    C,apo
    C,arapatel 
    C,arça
    C,ujar
    C,ujo 
    C,umagre
    C,umarento
    C,umo 
       

     

     

     

    pág. 79
       
    C,urra
    C,urraõ
    C,urriada.
       
    Palavras com C, medio, ou 
    Final.
       
    Abafadiço
    Abraçar
    Aço
    Acoçar
    Açougue
    Açoute
    Açude
    Açular
    Adelgaço
    Adereço
    Adormeço
    Alagadiço
    Alçada
    Alcançar
    Almofaça
    Alvoroço
    Amanheço
    Ameaço
    Anouteço
    Appareço
    Apreço
    Arrefeço
    Atiço.
    Baço
    Bagaço
    Baraço
    Boçal
    Bolça.
    Cabeça
    Caça
    Caçar
    Camurça
    Caniço
    Careço
    Caroço
    Castiçal
    Castiço
    Chaça
    Chouriço
    Cobiça
    Coça
    Coçar
    Condeça
    Corço
    Corrediça
    Crença.
    Derriçar
    Disfarçar
    Devaça.
    Doença.
    Eça 
       

     

     

     

    pág. 80
       
    Embaçar
    Embaraçar
    Emboçar
    Embolçar
    Embuçar
    Encabeçar
    Encareço
    Engaço
    Engonço
    Enguiço
    Escaço
    Esconço
    Esforço.
    Fataça
    Feitiço
    Feneço
    Ferçura
    Força
    Forçado.
    Garça.
    Inchaço.
    Laçada
    Lançado
    Lançar
    Louça.
    Maçãa
    Maço
    Madraço
    Meço
    Moça
    Moço.
    Ouriço.
    Painço,
    Pareço
    Passadiço
    Peça
    Peçonha
    Pedaço
    Pescoço
    Pigarça.
    Poça
    Praça.
    Raça
    Ranço
    Roça
    Roçar
    Rebuço
    Rechaçar
    Reforço
    Regaço.
    Sédiço
    Serviçal
    Soçobrar
    Sumiço.
    Taça
    Traçado
    Tramoço
    Traça
    Teço
    Terçaã
    Troço
    Tropeço.
    Viçoso.
       
    Accrescentaremos às listas prece- 
       

     

     

     

    pág. 81
    dentes outra (como exceiçaõ de Re- 
    gra) de varias palavras, as quaes por 
    naõ serem derivadas do Latim, ou por 
    estarem muy alteradas, parecia que 
    deviaõ levar C, , com tudo o uso as 
    faz escrever com S.
       
    Sacar
    Sacada
    Sair
    Saida,
    Sacudir
    Sala
    Salpicar
    Salpico
    Saloyo
    Sapo
    Saquear
    Sarayva
    Saudade
    Savel
    Saya
    Sédiço
    Sigano
    Siza
    Sizo
    Soldado
    Solho
    Sombra
    Sombrio
    Sonda
    Sondar
    Sumilher, &c.

       
    G
    NEsta letra ha alguma difficuldade 
    a respeito da syllaba GE, que 
    se equivóca com JE formando o mes- 
    mo som.

     

     

     

    pág. 82
       A regra será reccorrer aos nomes 
    Latinos, ou Gregos, quando delles 
    se derivarem as palavras Portuguezas; 
    e tendo G nas dittas linguas, o leva- 
    ráõ tambem na nossa.
       Deste modo escrevemos com G 
    Confranger, Congelar, Constranger, 
    Degenerar, Engenho, Gemer, Gemi- 
    do, Genero, Genro, Gente, Géraçaõ 
    Gesto, Regelo, Tanger, porque vem 
    de Confringo, Congelo, Constringo, 
    Degenero, Ingenium, Gemo, Gemi- 
    tus, Generalis, Gener, Gens, Ge- 
    neratio, Gestus, ???????, e Tango.
    Pello contrario levando as pala- 
    vras I ou J no Latim se escreveraõ 
    em Portuguez na mesma forma. Adje- 
    ctivo, Conjectura, Jejum, Jenella, 
    ou Janella, Interjeiçaõ, Projecçaõ, 
    Projecto, Rejeito; porque vem de Ad- 
    jectivus, Conjectura, Jejunium, Ja- 
    nua, Interjectio, Projectio, Proje- 
    ctus, e Rejicio.   

     

     

     


    pág. 83
       Naõ deixa porém de haver algu- 
    mas palavras puramente Portuguezas, 
    que tambem se escrevem com GE, 
    como v. g. Engeitar, Geada, Geito, 
    Gema de Ovo, Gerigonça, Lagedo, 
    Lagem, Ligeiro, Ligeireza. Nestes 
    termos o fim da regra acima naõ he re- 
    gular todas as palavras, que devem le- 
    var GE, se naõ advertir, que aquel- 
    las, que em Latim tiverem G, se haõ 
    de escrever tambem com elle no Por- 
    tuguez.
       Como tambem póde haver algu- 
    ma duvida sobre as syllabas GI, e JI, 
    ainda que mais facil de resolver, naõ 
    deixaremos de apontar a regra seguin- 
    te.
    Todas as vezes que as Palavras ti- 
    verem GI no Latim, se haõ de escre- 
    ver em Portuguez com as mesmas le- 
    tras, e naõ com JI. Agilidade, Agi- 
    taçaõ, Fragil, Fugitivo, Legiaõ, Le- 
    gitimo, Logica, Magica, Pagina, Re- 
       

     

     

     

    pág. 84
    giaõ, Tragico, Vigiar; porque vem de 
    Agilitas, Agitatio, Fragilis, Fugitivus, 
    Legio, Legitimus, Logica, Magica, 
    Pagina, Regio, &c.
       Da mesma sorte os Verbos, Cin- 
    gir, Fingir, Frigir, Tingir, Ungir, 
    porque vem de Cingo, Fingo, Frigo, 
    Tingo, Ungo.
       Finalmente o G he proprio da 
    terminaçaõ em GE puro, como v. g.
    nos nomes Monge, Alfange, Orange; 
    e nos Verbos Tange, Frege, Finge, 
    Vnge, Confrange, Constrange.
       Assim tambem das terminaçoens 
    em AGEM, IGEM, UGEM. Baga- 
    gem, Ferragem, Impigem, Verti- 
    gem, Ferrugem, Penugem.
       Quanto ao encontro da letra G 
    com a vogal U, humas vezes fere a 
    ditta vogal, e outras se perde de to- 
    do.
    Fére a Vogal U na syllaba GUA, 
    soando estas vogaes ambas assim no 
       

     

     

     

    pág. 85
    principio, como no meyo das palavras 
    Gualde, Guarda, Guarnecer, Guare- 
    cer, Agua, Aguada, Igual, Desigual.
    Nas syllabas GUE, GUI, GUO 
    ordinariamente se perde o U, como 
    em Guerra, Guerreiro, Guia, Guin- 
    dar, Alguidar, Extinguir. Excei- 
    tuaõ-se Pingue, Sanguinidade, San- 
    guinolento, Contiguo, e algumas ou- 
    tras.   
    H
    O H na lingua Portugueza naõ he 
    Aspiraçaõ aspera, como em va- 
    rias linguas do Norte, e ainda na Fran- 
    ceza nas palavras Hardes, Hardy, Ha- 
    zard, e outras; antes sempre he sua- 
    ve, naõ pondo força alguma na vogal, 
    que se lhe segue.
    Deixando a Joaõ Franco Barreto a 
    gloria de copiar com cançada curiosi- 
       

     

     

     

    pág. 86
    dade tudo, o que Diomedes, Aulo Gel- 
    lio, Quintiliano, e Prisciano differaõ 
    do H, de que se naõ segue utilidade 
    alguma para a lingua Portugueza, as- 
    sentamos que o ditto H tem dous usos 
    nesta lingua; pois humas vezes serve 
    de Simplez Aspiraçaõ, e outras de le- 
    tra.
    Serve o H de Aspiraçaõ branda 
    nos principios dos nomes Harpa, He- 
    rança, Herdade, Historia, Hombro, 
    Homicidio, Honesto: nos verbos Ha- 
    ver, Honrar, Hospedar; nos adver- 
    bios Hoje, Hontem; e em muitas ou- 
    tras palavras, tiradas do Grego, ou do 
    Latim. Nellas se deve usar da tal As- 
    piraçaõ, ainda que seja contra o pare- 
    cer de Joaõ Franco Barreto, que nos 
    prohibe escrever Homem, Humilde, 
    Humor, senaõ Omem, Umilde, Umor. 
    O mesmo se ha de guardar em Hum, 
    e Huma; porque supposto que Unus 
    em Latim naõ tenha a dita aspiraçaõ; 
       

     

     

     

    pág. 87
    com tudo o mesmo Vnus vem do Gre- 
    go ????, que leva hum espirito as- 
    pero, como se vè na tal palavra.
       Usa-se tambem da Aspiraçaõ H 
    no meyo de muitas palavras, como 
    Deshonra, Deshonesto, Exhalar, Ex- 
    hibir, Inhibir, Prohibir, Compre- 
    hender, Reprehender, Vehemente, 
    Vehiculo.
    Confirma-se esta Orthographia 
    com os exemplos de muitos Manus- 
    crittos Originaes antigos, e dos li- 
    vros de mais antiga impressaõ, como 
    v. g. varios Regimentos delRey Dom 
    Manoel, impressos em Lisboa no an- 
    no de 1514. As nossas Ordenaçoens im- 
    pressas no anno de 1521. As Consti- 
    tuiçoens de Lisboa do Cardeal Dom 
    Affonso, impressas em 1537. A infor- 
    maçaõ das terras do Preste Joaõ por 
    Francisco Alvares em Lisboa no anno 
    de 1540. Os Commentarios de Affon- 
    so de Albuquerque em 1576. Final- 
       

     

     

     

    pág. 88
    mente esta mesma Orthographia segui- 
    raõ Joaõ de Barros nas suas Decadas: 
    Fr. Bernardo de Brito nas suas Monar- 
    quias, e o P. Antonio Vieira em todas 
    as suas obras.
       A‘lem disto serve o H de Aspira- 
    çaõ nos nomes, que levaõ CH, 
    PH, RH, e TH; como v. g. Christo, 
    Chronica, Archanjo, Phrase, Phre- 
    nesì, Physica, Philosophia, Ortho- 
    graphia, Rhetorica, Rheumatismo, 
    Rhodes, Theatro, Thema, Thesouro, 
    Theologia, Mathematica, &c. Os 
    quaes nomes saõ originariamente Gre- 
    gos; e nelles sustenta o H naõ a for- 
    ça das letras ? ch, ? ph, ? rh, 
    ? th, mas a differença da Escrittura 
    por letras simples. He bem verdade, 
    que entre os nomes, que levaõ CH ha 
    muitos, em que o H naõ he Aspiraçaõ, 
    senaõ Letra, como logo veremos.
    A força da derivaçaõ pede, que to- 
    dos estes nomes se escrevaõ com le- 
       

     

     

     

    pág. 89
    tras aspiradas; naõ deixa porém de ha- 
    ver exemplos de bons Autores, que 
    saõ de parecer differente.
       O mais que pude observar nas 
    obras do Padre Antonio Vieira he, que 
    elle pella mayor parte usa de letras 
    com aspiraçaõ, e se serve do H.
       No tocante a CH escreve Ar- 
    chanjo, Cherubim, Chimera, Choro- 
    graphia, Christo, Chronica, Machi- 
    na, Monarchia, Sepulchro; e ainda 
    Anchora, como se vè na 3. Parte dos 
    seus Sermoens, pag. 14.
       Quanto a PH naõ usa tanto de 
    Aspiraçaõ; e muitas vezes escreve: 
    Anfiteatro, Blasfemia, Filippe, Fi- 
    losofo, Proféta, Triunfo.
    A respeito de RH, e TH usa 
    muito da Aspiraçaõ, e assim escreve 
    Rhetorica, Rhodes, Authoridade, Bar- 
    tholomeu, Catherina, Matheos, Ma- 
    thias, Thomàs, Thomè, Theologia, 
    Thesouro, Throno.   

     

     

     


    pág. 90
       A alguns parece, que se deve usar 
    da Aspiraçaõ H no meyo de certos 
    tempos de varios Verbos, para mostrar 
    que alli se forma alguma syllaba à 
    parte, como v. g. em Cahia, Cahiria, 
    Dohia, Dohiria, Concluhia, Conclu- 
    hiria, Mohia, Mohiria; porque 
    achando-se tres Vogaes juntas, póde 
    haver algum equivoco, principal- 
    mente em Caia ignorando-se se he o 
    Imperfeito do Indicativo Cadebat, 
    se a terceira pessoa do Imperativo Ca- 
    dat.
    Porém o verdadeiro modo de pre- 
    venir este inconveniente seria usar de 
    dous pontos sobre a Vogal, que deve 
    fazer syllaba à parte, como costumaõ 
    os Francezes nas palavras, em que se 
    evîta o Ditongo, v. g. em Païsant, 
    que fica de tres syllabas, e em Païsa- 
    ge, que fica de quatro. Por este modo 
    se devem escrever Caîa, Doîa, fa- 
    zendo estes Imperfeitos de tres sylla- 
       

     

     

     

    pág. 91
    bas por meio dos dous pontos sobre a 
    Vogal I. Esta Orthographia nos pa- 
    rece melhor, do que usar de algum 
    Accento, como se acha em alguns 
    Authores, que escrevem Caía, Do- 
    ía, pro Cadebat, Dolebat.
    Tem o H força de letra na com- 
    posiçaõ, quando se junta com alguma 
    Consoante, ou Liquida, como succe- 
    de nas syllabas CH, LH, e NH.   
    CH
       Requere tanta força na lingua 
    Portugueza, como na Ingleza v. g. em 
    Cheeks faces, e Church Igreja; e mui- 
    ta mais que em Francez. Nesta forma 
    erraráõ os Francezes, que pronuncia- 
    rem Chapeo em Portuguez taõ branda- 
    mente, como elles dizem Chapeau.
    Com esta força se faz soar o CH 
    no principio das palavras Chave, Che-, 
    fe, China, Choque, Chuva: no meyo 
       

     

     


    pág. 92
    em Machado, Rochedo, Machinho, 
    Cachorro, Machuco: no fim em Pe- 
    nacho, Esmícho, Esguicho, Garro- 
    cha, Capucho. Finalmente o CH se 
    deve differençar muito da letra X, 
    dandose-lhe dobrada força.
    Tiraõ-se desta regra alguns nomes 
    pella mayor parte derivados do Gre- 
    go, nos quaes o CH substituhe a le- 
    tra X, e se pronuncîa com Q, ou 
    C, v. g. Chiromancia, Chorographia, 
    Christo, Christandade, Chronica, Chro- 
    nologia, Cherubim, Archanjo, Ge- 
    rarchia, Monarchia; como se fora 
    Quiromancia, Quorographia, Queru- 
    bim, Arcanjo, Gerarquia, Monar- 
    quia.   
    LH
    Tem a mesma força, que os dous 
    LL dos Castelhanos, que ILL dos 
    Francezes, e GLI dos Italianos. A 
    palavra Castelhano se pronuncia da 
       

     

     


    pág. 93
    mesma maneira, que Castellano em 
    Hespanhol, que Castillan em Fran- 
    cez, e que Castigliano em Italiano.
    Da mesma sorte as mais palavras, 
    em que concorrem as duas letras LH. 
    Malha, Velha, Milha, Folha, Bu- 
    lha, Baralho, Espelho, Sarilho, Es- 
    colho, Debulho.   
    NH
       Val o mesmo que o GN dos Ita- 
    lianos, e dos Francezes; e que o ñ 
    dos Castelhanos. Senhor como Signor 
    em Italiano, Seigneur em Francez, e 
    Señor em Castelhano.
    Da mesma sorte em varias outras 
    palavras: Banha, Lenha, Linha, Fro- 
    nha, Cunha, Estranho, Engenho, 
    Caminho, Medonho, Rascunho.   

     

     

     


    pág. 94

    J
    ESta letra he consoante no principio 
    de muitas palavras, ou legitima- 
    mente Portuguezas, ou tiradas de ou- 
    tras linguas. Jâ, Jáz, Jardim, Jar- 
    ro, Jaspe, Jogo, Jugo, Jazigo, 
    Jejuar, Jornada, Justiça.
       Da mesma sorte no meyo de mui- 
    tas palavras em varias terminaçoens. 
    Tejo, Rijo, Tojo, C,ujo, Enveja, 
    Laranja, Esponja, Despejo, Des- 
    pojo.
       A syllaba JE serve de substituir o 
    HIE dos Latinos nas palavras, que el- 
    les tomáraõ do Grego, ou do He- 
    braico. Jericò, Jerusalem, Jerosoly- 
    mitano, Jerapolis em lugar de Hie- 
    ricus, Hierusalem, &c.
    Quanto à differença entre as syl- 
    labas GE, e JE veja-se o que temos 
       

     

     

     

    pág. 95
    apontado sobre a letra G.
    Finalmente quanto ao uso dos 
    Verbos podemos dizer em geral, que 
    os tempos em A e O se escrevem 
    com JA, JO; e os tempos em E com 
    GE. Haja, Cinja, Frija, Tinja, Un- 
    ja, Cinjo, Frijo, Tinjo, Vnjo, Cin- 
    ge, Frege, Tange, Tinge, Unge.   
    Q
    ESta letra substitue muitas vezes 
    o C dos Latinos, e o K dos Gre- 
    gos.
       Na syllaba QUA fere a vogal U, 
    e se faz soar juntamente com o A, 
    da mesma sorte que nas mais linguas. 
    Qual, Quaõ, Quadro Quando, Qua- 
    tro, &c. como se fora Cuando, Cua- 
    tro, pronunciando-se porém todas as 
    letras juntas.
    Naõ fere porém o U nas syllabas 
       

     

     

     

    pág. 96
    QUE, QUI, QUO, antes supprimin- 
    dose de todo, fica a letra Q com a 
    força de C, ou de K.
       Em 1. lugar no principio das pa- 
    lavras Quebrar, Quéda, Questaõ, 
    Quintal, Quotidiano, que se lèm co- 
    mo se estivesse escritto: Kebrar, Ké- 
    da, Cotidiano.
       Em 2. lugar no meyo de varios 
    nomes, e verbos. Aquentar, Esque- 
    cer, Esquerdo, Esquivo, Mosquete, 
    Pasquim, Sequidaõ, &c.
       Exceituaõ-se desta ultima regra as 
    palavras tiradas proximamente do La- 
    tim, nas quaes fere o U como em 
    QUA, v. g. Extorquir, Frequente, 
    Frequencia, Frequentar, Propinquo, 
    Propinquidade, Tranquillo, Tranquil- 
    lidade, Sequestrar, Tequestro, Quin- 
    quagenario, Quinquagesima.
    Esta exceiçaõ porém naõ deixa 
    ainda de ter outra; pois entre os no- 
    mes derivados proximamente do La- 
       

     

     

     

    pág. 97
    tim se encontraõ alguns, em que o 
    U naõ fere, como nos nomes acima; 
    e assim tornaõ a ficar sogeitos à regra 
    geral. Estes saõ entre outros Extin- 
    guir de Extinguere, Inquieto de In- 
    quietus, Quinze de Quindecimo, e 
    Requerer de Requiro.
    R
    ESta letra no principio das pala- 
    vras requere tanta força, como 
    se fora dobrada, e nisto differe muito 
    a nossa pronuncia da Franceza. De- 
    ve-se pois carregar muito em Raya, 
    Regra, Rima, Rosa, Ruma, Razo, 
    Rego, Riso, Rogo, Ruço; e assim nas 
    palavras de mais syllabas, ou sejaõ 
    Verbos, ou Nomes.
    No meyo das palavras, naõ sen- 
    do o R dobrado, pronuncia-se muy 
    suavemente. Cara, Pera, Mira, No- 
       

     

     

     

    pág. 98
    ra, Pura, Caro, Pero, Giro, Lóro, 
    Duro; e nas palavras de mais syllabas. 
    Tiára, Espéra, Hegyra, Espóra, Ven- 
    tura.
       Da mesma sorte em varios tem- 
    pos de Verbos: Amára, Fizéra, Ou- 
    vira, Amaría, Faria, Ouviria, Ama- 
    rá, Fará, Ouvirá.
       Exceituaõ- se desta regra as pala- 
    vras, que levaõ L ou N na syllaba pre- 
    cedente v. g. Bilro, Melro, Chalrar, 
    Chilrar, Palrar, Abalroar, Escal- 
    racho, Genro, Tenro, Honra, Des- 
    honra, Enramar, Enredar, Enrique- 
    cer, Enrolar, Enroupar, Enroccar, 
    Enramado, Enredado, &c. Nestas pa- 
    lavras tem o R aspereza de dobrado, 
    ainda que seja singelo.
    R dobrado pronuncia-se com do- 
    brada força. Barro, Ferro, Cirro, 
    Corro, Murro, Amarra, Desterra, 
    Espirra, Arroba, Arruda, Catar- 
    ro, Enterro, Arrimo, Arroto, Em- 
    purro.   

     

     

     

    pág. 99
       
    S
    ESta consoante no principio das 
    palavras pronuncia-se com tanta 
    força, como se fora C, ou dous SS. 
    Só, Sal, Saõ, Sim, Salvo, Servo, 
    Sino, Somno, Susto.
       No meyo das palavras entre duas 
    Vogaes pronuncia-se taõ suavemente, 
    como se fora Z. Desastre, Desejo, 
    Desigual, Desordem, Confuso.
       Exceituaõ- se os Verbos, a que se 
    segue a particula SE, porque nelles 
    se pronuncîa o S com aspereza, ou 
    seja no Indicativo Ama-se, Perde-se, 
    Ouve-se, Póde-se; ou seja no Impera- 
    tivo Ame-se, Diga-se, Ouça-se, Po- 
    nha-se; ou nos Gerundios, Amando-se, 
    Lendo-se, Ouvindo-se, Pondo-se.
    Deve-se por grande cuidado na 
    Orthographia dos Indicativos acima, 
       

     

     

     

    pág. 100
    escrevendo-os com hum só S, ainda 
    que o tal S se pronuncie com força 
    de dobrado: Ama-se, Perde-se, Ou- 
    ve:se, Póde-se, para que a syllaba Me- 
    dia seja breve, a fim de se differen- 
    çarem dos Conjunctivos, que a tem 
    longa, por se escreverem com dous 
    SS. Amasse, Perdesse, Houvesse, Po- 
    desse.
       Naõ estando o S entre duas Vo- 
    gaes no meyo das palavras, e ha- 
    vendo alguma das letras L N R na 
    syllaba precedente, pronuncia-se o 
    ditto S com muita força. Balsamo, 
    Conseguir, Conselho, Consentir, Con- 
    sultar Denso, Ensino, Malsim, Mal- 
    sinar, Manso, Penso, Perseguir, 
    Perseverar, Persistir, Sensivel, Ver- 
    saõ, Verso.
    S dobrado requere tambem do- 
    brada força. Passa, Cessa, Missa, Nos- 
    sa, Tusso, Assalto, Espesso, Remisso, 
    Colosso, &c.   

     

     

     


    pág. 101
       Ha muita difficuldade em averi- 
    guar, quando se deve escrever S, ou 
    Z entre duas Vogaes, pois que a pro- 
    nuncia he a mesma.
       A regra mais certa, que póde ha- 
    ver nesta materia, he escrever com 
    S as palavras, que se derivarem do 
    Latim, e tiverem S na ditta lingua, 
    como entre outras as seguintes.
       
    Aceso
    Base
    Caso
    Causa
    Conclusaõ
    Concluso
    Confusaõ
    Confuso
    Contusaõ
    Decisaõ
    Defesa
    Defensa
    Desejo
    Desejar
    Diffusaõ
    Diffuso
    Divisaõ
    Effusaõ
    Escuso
    Esposo
    Fermoso
    Fuso
    Leproso
    Léso
    Miseria
    Musa
    Occasiaõ
    Occaso
    Opposiçaõ
    Parafuso,
    Pausa
    Raso
    Recuso
    Reserva
    Resina
    Riso
    Rosa
    Rosal
    Teso
       

     

     

     

    pág. 102
       
    Thesouro
    Viçoso
    Uso.
       
       Naõ sendo as palavras derivadas 
    do Latim, se escreveráõ com Z, prin- 
    cipalmente nas terminaçoens AZA, 
    EZA, IZA, OZA, UZA, AZO, 
    EZO, IZO, OZO, UZO, por se- 
    rem muy proprias da lingua Portu- 
    gueza; e em outras occasiões como 
    se vè da lista seguinte.
       
    Abrazo
    Agudeza
    Alfazema
    Aprazo
    Avizo
    Braza
    Camiza
    Catorze
    Caza
    Cazar
    Couza
    Cruzado
    Desprezo
    Destreza
    Divizar
    Empreza
    Estranheza,
    Forçozo
    Franzido
    Fraqueza,
    Fuzilar
    Gazear
    Gazeta
    Gazûa
    Gozar
    Gozo
    Grandeza
    Largueza,
    Leveza
    Limpeza
    Manhozo
    Matizar
    Pezar
    Pezo
    Pouzada
    Prazo
       

     

     

     

    pág. 103
       
    Prezar
    Prezo
    Pureza
    Rapoza
    Réza
    Rezar
    Sizo
    Sizudo
    Sutileza
    Teimozo
    Trazer
    Vaidozo.
       
       Quando digo que naõ sendo as 
    palavras derivadas do Latim, se es- 
    creveraõ com Z, fallo das que naõ 
    saõ derivadas immediatamente, como 
    he Thesouro de Thesaurus, ou que naõ 
    tem S no Latim, como succede em 
    Agudeza de Acutus, em Catorze de 
    Quatuordecim; e outras semelhan- 
    tes.
       Desta regra se devem exceituar 
    as palavras, e principalmente os Ver- 
    bos compostos da particula DES, em 
    que se ha de conservar a mesma par- 
    ticula; pois facilmente se conhece que 
    saõ palavras compostas. Entre outras 
    se offerecem as seguintes.
       
    Desabafar
    Desabitar
       

     

     

     

    pág. 104
       
    Desabituar
    Desabrigar
    Desabrir
    Desacompanhar
    Desacostumar
    Desadorar
    Desaffeiçoar
    Desafiar
    Desafogar
    Desaforar
    Desaguar
    Desarmar
    Desamuar
    Desancorar
    Desandar
    Desassombrar
    Desatacar
    Desatar
    Desatinar
    Desembaraçar
    Desembargar
    Desembrulhar
    Desamparar
    Desempedir
    Desencalmar
    Desencaminhar
    Desencantar
    Desencarregar
    Desenfadar
    Desencostar
    Desenganar
    Desenrolar
    Desentoar
    Desherdar
    Deshonrar
    Desesperar
    Desinçar
    Desinchar
    Desobedecer
    Desobrigar
    Desoccupar
    Desordenar
    Desorelhar
    Desusar, &c.
       

     

     

     


    pág. 105
       Todos os verbos precedentes se 
    devem escrever com S, e naõ com 
    Z, por serem compostos da particu- 
    la DES, ainda que alguns delles se- 
    jaõ originariamente Portuguezes. O 
    mesmo se deve tambem praticar com 
    os nomes, em que se acha a sobredita 
    particula, como Desafio, Desamor, 
    Desatino, Desembaraço, Desembar- 
    go, Desengano, Deshonra, Desigual, 
    Desordem.
    Para se saber quando devemos 
    usar de dous SS, ou de C, veja-se a 
    letra C;.   
    X
    ESta letra tem a mesma pronuncia, 
    que o CH dos Francezes, tanto 
    no principio, como no meyo das pa- 
    lavras; e assim pronunciamos Xadrez, 
    Xarópe, Deixar, Paixaõ, do mesmo mo- 

     

     

     


    pág. 106
    do que os Francezes pronuncîaõ Cha- 
    peau, Cheval, Achever, Acheter.
       Com esta occasiaõ naõ podemos 
    deixar de condenar a falsa reflexaõ, 
    com que Joaõ Franco Barreto assenta 
    na sua Orthographia pag. 173. que os 
    Francezes carecem da letra X no seu 
    Alphabeto; porque se o Autor falla 
    da figura desta letra, naõ he neces- 
    sario mais que lançar os olhos sobre 
    huma pagina de qualquer livro Fran- 
    cez, para ficar convencido, de que 
    o X he muy commum naquella lin- 
    gua: Se falla da sua força, basta tam- 
    bem ouvir dizer a hum Francez Cha- 
    peau, Cheval, para ver que a sua 
    pronuncia do CH he a mesma, que a 
    do X Portuguez.
    Tornando ao uso desta letra, tem 
    lugar no meyo das palavras legitima- 
    mente Portuguezas, como Bruxa, 
    Cartuxa, Froxo, Lixo, Peixe, Ro- 
    xo, Rouxinol, Afroxar, Debuxar, 
       

     

     

     

    pág. 107
    Deixar, Queixar. Conto por palavras 
    legitimamente Portuguezas naõ só a- 
    quellas, que se naõ derivaõ de outras 
    linguas, mas tambem outras, cuja de- 
    rivaçaõ he já muy afastada em razaõ 
    da alteraçaõ, que nellas ha de letras, 
    ou de syllabas. Neste ultimo numero 
    ponho a palavra Deixar, porque ain- 
    da que a sua etymologia possa ser de 
    Linquo, de que ao principio se fez 
    Leixar, e depois deixar, como os Ita- 
    lianos fizeraõ Lasciare, os Francezes 
    Laisser, e os Castelhanos Dexar; com 
    tudo está já nella muy afastada a so- 
    bredita derivaçaõ.
    Da mesma sorte tem lugar o X 
    nas palavras derivadas do Latim, em 
    que se encontra a mesma letra, co- 
    mo em Buxo, Connexaõ, Convexo, 
    Flexivel, Perplexo, Reflexo, Seixo, 
    que vem de Buxum, Connexio, Con- 
    vexus, Perplexus, Flexibilis, Refle- 
    xus, Saxum.   

     

     

     


    pág. 108
    Ha porèm alguma differença na 
    pronuncia destas palavras; porque nas 
    de duas syllabas, como Buxo, Seixo 
    se pronuncia o X como se fora CH 
    Francez em Boucher, Sécher; e nas 
    outras quasi como CSS: Connecssaõ, 
    Convecsso, Flecssivel, Perplecsso, es- 
    crevendo-se Connexaõ, Convexo, &c.   
    Z
    ESta consoante leva sempre Ac- 
    cento no fim das palavras, ou se- 
    ja Grave, ou Circumflexo, ou Agudo. 
    Páz, Capáz, Mèz, Convéz, Gìz, 
    Matîz, Vóz, Algôz, Crùz, Ca- 
    pûz.
       Do mesmo modo em varios Ver- 
    bos, e nos nomes Nacionaes Inglêz, 
    Hollandêz, Portuguêz, Andalûz.
    Exceituaõ-se da regra acima os 
    nomes Patronimicos, que naõ levaõ 
       

     

     

     

    pág. 109
    Accento no fim, como Alvarez, An- 
    tunez, Bernardez, Fernandez, Nu- 
    nez, Perez, Tellez, &c. Porêm 
    Garcêz, ainda que venha de Garcia, 
    leva no fim o seu Accento.
    Quanto à differença entre Z e S, 
    veja-se o que temos dito na letra S.   
    _______________________________________
    CAPITULO IV.
    Dos Ditongos.
    DItongo, ou Diphtongo, conforme 
    os Gregos, he o som de duas Vo- 
    gaes unidas em huma só syllaba.
    Podemos dizer em geral, que os 
    Ditongos Portuguezes differem dos 
    mais das outras Naçoens, em que el- 
    las de tal modo altéraõ a natureza das 
       

     

     


    pág. 110
    Vogaes, que muitas vezes pronun- 
    cîaõ os seus Ditongos com letras, que 
    nelles se naõ achaõ. Deste modo pro- 
    nunciaõ os Francezes Otél, e Méson 
    escrevendo Autel e Maison: os Ingle- 
    zes Blid e Piple escrevendo Bleed e 
    People; e os Hollandezes Gut, Sut, es- 
    crevendo Goet, Soet.
       Porêm nos Ditongos Portuguezes 
    quasi sempre retem as Vogaes a sua 
    força, e só servem de fazer pronun- 
    ciar com velocidade as ditas Vogaes 
    unidas, excepto o Ditongo Aõ, em 
    que se altéra mais a natureza das Vo- 
    gaes, de que he composto.
       Podemse dividir os Ditongos em 
    Proprios e Improprios. Os Proprios 
    saõ 23. a saber: ae ai ao au ay ea 
    ei eo eu ey ia ie io oa oe oi ou 
    oy ua ue ui uo uy.
    Os Ditongos Improprios, que cha- 
    mamos assim, porque senaõ formaõ 
    como os Proprios, saõ aquelles que 
       

     

     

     

    pág. 111
    levaõ o sinal ~ chamado til sobre as Vo- 
    gaes, e se contaõ até nove. ãa ãe ão 
    ãy ?e ?j õe õo ?u. No ditto numero 
    de Ditongos variaõ muito os nossos 
    Grammaticos.
    Ditongos Proprios.
    AE
    ACha-se nos Verbos Cae, Sae, e 
    nos seus pluraes Caem, Saem, co- 
    mo tambem nos Compostos dos ditos 
    Verbos Descae, Recae, Sobresae. Da 
    mesma sorte nos pluraes dos nomes 
    em AL: Quaes, Taes, Animaes, Hos- 
    pitaes, Mortaes, Naturaes, Princi- 
    paes.
    Neste Ditongo se pronunciaõ am- 
    bas as Vogaes, como em quasi todos 
    os outros, com muita velocidade, e 
    a Vogal A tem hum tom Aberto.   

     

     

     

    pág. 112

    AI
       Usa-se em muitas palavras, como 
    v. g. Baixo, Saibo, Raiva, Taipa, Cai- 
    rel, Painel, Airoso, Raivoso, Sarai- 
    va, Vaivem, &c.
       Nos presentes dos Verbos da pri- 
    meira Conjugaçaõ: Amais, Buscais, 
    Estimais; e em outros tempos da se- 
    gunda Conjugaçaõ: Digais, Façais; 
    e na 3. e 4. Ouçais, Ponhais.
    Esta he a Orthographia, que se ob- 
    serva nas Obras do Padre Antonio 
    Vieira, assim a respeito do presente Di- 
    tongo de AI, como do Ditongo de 
    AE; supposto que commummente se 
    confundaõ os Ditongos em Naturaes, 
    Estimais, escrevendo-se Naturais, 
    Estimaes. O mesmo Autor escreve sem- 
    pre Mais com I Latino, e naõ Mays 
    com Y Grego; e muito menos Maes 
    com E, pois se naõ funda em regra 
       

     

     

     

    pág. 113
    alguma. Neste Ditongo se pronuncîa 
    tambem a Vogal A muito aberta.
    AO
       Este Ditongo se acha em Gráo, 
    Máo, Náo por Navio, Páo, Váo, e 
    em nomes de mais syllabas: Calháo, De- 
    gráo, Saráo; e nos pluraes de todos 
    estes nomes: Gráos, Náos, Degráos, 
    Saráos.
    Nelles se pronuncîa a Vogal A taõ 
    aberta, como se levára Accento Agu- 
    do; antes os Monosyllabos necessitaõ 
    do tal accento, para se evitar melhor 
    a equivocaçaõ de Gráo gradus com 
    Grão grandis: de Máo malus com 
    Mão manus: de Náo Navis com Não 
    non: de Páo lignum com Pão Panis: 
    finalmense de Váo vadum com Vão 
    vanus.   

     

     

     


    pág. 114

    AU
       Com este Ditongo se escrevem os 
    nomes Causa, Frauta, Pausa, Au- 
    sencia, Audiencia, Author, Ausen- 
    tar, Centauro, Defraudo.
       Os nomes Alaude, Ataude, Sau- 
    de, e outros semelhantes deveraõ ter 
    dous pontos sobre a vogal U?: Alaü- 
    de, Ataûde, Saüde, para mostrar que 
    nelles naõ ha Ditongo, e que cada 
    Vogal faz syllaba à parte, da maneira 
    que usaõ os Francezes nas palavras v. 
    g. Batüe, Rompüe, Réüssir, Reünir.
    Note-se que o Ditongo AU dos 
    Latinos se muda ordinariamente no 
    Ditongo Portuguez de OU; e assim de 
    Aurum, Laurus, Taurus se faz Ou- 
    ro, Louro, Touro.   

     

     

     

     

    pág. 115

    AY
       Tem lugar nos Monosyllabos Ay, 
    Pay, e no Indicativo Vay. Da mes- 
    ma sorte nos Imperativos da primeira 
    Conjugaçao Amay, Anday, Estimay.
    Muitos Authores escrevem com 
    este Ditongo Bayxo, Saybo, Rayva, 
    Taypa, Cayxaõ, Payxaõ; porèm o 
    Padre Antonio Vieira usa nelles pela 
    maior parte de I latino. Neste Di- 
    tongo se fazem soar ambas as vogaes; 
    e o A he muito aberto.   
    EA
       Concorre nas palavras Chicorea, 
    Cerulea, Cesarea, Herculea, Femea, 
    Gavea, Lendea, Semea, e póde-se 
    dizer que só he Poetico.
    As palavras Cea, Tea, Vea, Area, 
    Balea, Cadea, Serea taõ longe estaõ 
    de terem Ditongo, que antes nellas se 
       

     

     


    pág. 116
    pronuncîa a vogal E como se fora EY, 
    em prova de que faz syllaba à parte: 
    Ceya, Teya, Veya, Areya, Baleya, 
    Cadeya, Sereya.
    O mesmo succede ainda quando 
    a Vogal E he aberta, e leva Accento 
    Agudo: Idéa, Judéa, Medéa, que 
    se lem Idéya, Judéya, Medéya.   
    EI
       Encontra-se nos nomes Feira, 
    Geira, Peita, Beiço, Geito, Peito, 
    Confeiçaõ, Eleiçaõ, Parreira, Rosei- 
    ra, Primeiro, Terceiro. Muitos Au- 
    thores escrevem estes nomes com Y; 
    mas tem contra si a Authoridade do 
    Padre Antonio Vieira, que pela mayor 
    parte usa nelles de I latino.
    Usa-se tambem nos Pluraes dos 
    nomes em EL, Coronéis, Borquéis, 
    Papéis, Pincéis, e nelles se pronun- 
    cîa E aberto.   

     

     

     

    pág. 117
    Serve do mesmo modo no Ver- 
    bo Substantivo Ereis: nos presentes 
    dos Indicativos da segunda Conjuga- 
    çaõ: Dizeis, Fazeis, Escreveis. Em 
    todos as Futuros das 4. Conjugações 
    Amareis, Lereis, Ouvireis, Poreis, 
    e em todos estes Verbos se pronuncîa 
    o E fechado.   
    EO
       Neste Ditongo se fazem tambem 
    sentir as duas Vogaes, como nos ou- 
    tros, porem com esta differença, que 
    em Céo, Réo, Véo, Arpéo, Chapéo, 
    Mantéo, Pignéo a Vogal E he taõ 
    aberta, que parece que leva accento 
    Agudo.
       Pelo contrario nos Nomes Bor- 
    neo, Hebreo, Phariseo, Orpheo, Te- 
    seo a Vogal E se pronuncîa muy fe- 
    chada.
    O mesmo succede nos Preteritos 
       

     

     

     

    pág. 118
    da segunda Conjugaçaõ: Cometeo, Es- 
    tendeo, Fendeo, Mereceo, Rendeo; e 
    nos mais Monosyllabos Deo, Leo, se 
    he que se naõ devem escrever antes 
    com U: Deu, Leu, de que tratare- 
    mos abaixo.
       Ha outros nomes, em que o E naõ 
    só se pronuncîa fechado, mas breve; 
    como Ceruleo, Cesareo, Herculeo.
       Nos nomes Correo, Enleo, Ga- 
    lanteo, Receo, Rodeo naõ póde o E 
    formar Ditongo, pois se pronuncia 
    como EY. Correyo, Enleyo, Galan- 
    teyo, Receyo, Rodeyo. Da mesma sor- 
    te nos presentes de alguns Verbos, 
    como Mareo, Semeo, Rodeo, que an- 
    tes se deveraõ escrever Mareyo, Se- 
    meyo, Rodeyo.
    Aqui seria o lugar de estabelecer 
    a Orthographia dos Pronomes Meo, 
    Seo, Teo, e dos Preteritos, de que aci- 
    ma fallamos, Creo, Deo, Leo, Co- 
    meteo, Estendeo, Rendeo, que muitos 
       

     

     

     

    pág. 119
    escrevem com o Ditongo de EU Meu 
    Seu Teu, Creu, Deu, Leu, &c.
       Esta materia he muy difficil de as- 
    sentar, pois que entre os nossos Au- 
    thores reina huma grande variedade 
    de Orthographia; e por cada parte se 
    offerecem razoens de muita força.
       Para que estes Verbos se escrevaõ 
    com o Ditongo EU, póde haver a ra- 
    zaõ de querer evitar equivocos; por- 
    que assim se distinguem melhor os Pre- 
    teritos Creu, Leu dos presentes Creo, 
    Leo; como tambem os Preteritos, Co- 
    meteu, Escondeu, Rendeu dos presen- 
    tes do Indicativo, a que se segue o Re- 
    lativo O: Comette-o, Esconde-o, Ren- 
    de-o.
    E para que nos pronomes se use do 
    mesmo Ditongo, se póde allegar, com 
    que ficaõ mais semelhantes ao Latim; 
    como na verdade se parecem mais 
    Meu, Seu, Teu com Meus, Suus, 
    Tuus, do que Meo, Seo, Teo.   

     

     

     


    pág. 120
       Por outra parte parece, que os di- 
    tos Preteritos se devem antes escrever 
    com o Ditongo EO. porque esta he a 
    Orthographia, de que usáraõ os nossos 
    primeiros Authores, como consta dos 
    Manuscritos primitivos, e dos livros 
    da mais antiga impressaõ; e della usa 
    tambem commumente o Padre Anto- 
    nio Vieira, ainda que naõ duvido, se 
    possaõ achar alguns exemplos em con- 
    trario.
       Querendo tomar algum partido ne- 
    sta materia, me inclinára antes a usar 
    do Ditongo EO nos sobreditos Preteri- 
    tos.
    Esta Orthographia, alem de ser au- 
    thorizada com o uso dos primeiros Ma- 
    nuscriptos, e livros Portuguezes, he 
    muy propria da nossa lingua, como se 
    vè nos Nomes Borneo, Hebreo, Or- 
    pheo, Phariseo, Theseo; e assim pa- 
    rece se naõ deve desterrar na termi- 
    naçaõ dos Verbos. A mesma Escrittu- 
       

     

     

     

    pág. 121
    ra se observa nos nomes Arpéo, Cha- 
    péo, Mantéo, Pigméo; supposto leva- 
    rem Accento Agudo, por terem a Vo- 
    gal E muito aberta.
    Quanto a dizerse, que o uso do Di- 
    tongo EU nestes preteritos tira haver 
    equivocos, póde-se responder, que ba- 
    stantemente se evitaõ os ditos Equivo- 
    cos escrevendo os Presentes dos Ver- 
    bos Credo, Lego, com Y: Eu creyo, 
    Eu leyo, conforme o que temos as- 
    sentado fallando do Y Medio; por- 
    que assim ninguem os tomará pelos Pre- 
    teritos Elle creo, Elle leo. Da mesma 
    sorte para differençar os Preteritos 
    Cometeo, Escondeo, Rendeo dos Pre- 
    sentes, que levaõ o Relativo O, basta 
    escrever os ditos Presentes com huma 
    separaçaõ entre o Verbo, e o Relati- 
    vo, como v. g. Comete-o, Esconde-o, 
    Rende-o, como faz o Padre Antonio 
    Vieira em casos semelhantes; e parti- 
    cularmente no XIV. volume pag. 118. 
       

     

     

     

    pág. 122
    onde escreve Ouvi-a Audite illam, pa- 
    ra differença de Ouvia Audiebat.
    Sobre os Pronomes Meu, Seu, Teu, 
    veja-se o que dizemos no Ditongo abai- 
    xo.   
    EU
       Os Pronomes Meus, Tuus, Suus 
    se deviaõ escrever em Portuguez com 
    EO Meo, Seo, Teo para seguir a mes- 
    ma Orthographia dos outros nomes, e 
    dos Verbos, de que trattamos no Di- 
    tongo precedente; porem o uso com- 
    mum lhes dá o Ditongo EU; e assim 
    até o mesmo Padre Antonio Vieira es- 
    creve ordinariamente Meu, Seu, Teu; 
    e da mesma sorte os Pluraes, Meus, 
    Seus, Teus.
    Note-se porem que escrevendo 
    o Padre Vieira os ditos pronomes com 
    U, sempre usa de O no nome DEOS, 
    o que devemos chamar exceiçaõ de 
    regra; pois, derivando-se Deos e Meu 
       

     

     


    pág. 124
    igualmente do Latim Deus, Meus, pa- 
    rece que em Portuguez deviaõ levar 
    ambos as mesmas letras.
       Acha-se tambem este Ditongo no 
    pronome Eu, e em varios nomes, v. 
    g. Breu, Cacheu, Eunuco, Feudo, 
    Rheumatismo, &c. onde se pronun- 
    ciaõ ambas as Vogaes em hum mesmo 
    tempo.
    Nos nomes Ceume, Meudo, Con- 
    teudo, se naõ forma Ditongo, pois 
    que a Vogal U faz syllaba à parte; e 
    devia levar dous pontos em cima. 
    Ceûme, Meûdo, Conteûdo, como tam- 
    bem he necessario algumas vezes no 
    Ditongo de AU.   
    EY
       Forma-se este Ditongo nos Mo- 
    nosyllabos Grey, Ley, Rey, e nos 
    seus Pluraes: Greys, Leys, Reys.
    Usa-se tambem delle no Preterito 
       

     

     

     

    pág. 124
    Dey, e no Presente Sey. Da mesma 
    sorte nos Preteritos da primeira Con- 
    jugaçaõ: Amey, Estimey: nos Impe- 
    rativos da segunda Conjugaçaõ: Di- 
    zey, Fazey, Metey, Recebey; e em 
    todos os Futuros: Amarey, Lerey, 
    Ouvirey, Porey.
       O Padre Antonio Vieira usa deste 
    Ditongo em Reyno, Reynar, Reyna- 
    do, talvez porque se compoem do no- 
    me Rey.
    Outros Authores escrevem Geyto, 
    Peyto, &c. Veja-se o que dizemos so- 
    bre o Ditongo de EI.   
    IA
    Este Ditongo he poetico; e acha- 
    se nas palavras Asia, Gloria, Grecia, 
    Essencia, Paciencia, Babylonia, Pro- 
    sodia; e assim se forma huma só sylla- 
    ba das letras Cia Dia Nia Ria Sîa.   

     

     

     


    pág. 125
    IE
    Acha-se em poucas palavras, co- 
    mo v. g. em Clicie, Effigie, Especie, 
    onde estas Vogaes se pronuncîaõ ve- 
    lozmente. Nas palavras Sciencia, Pa- 
    ciencia, e outras semelhantes se faz 
    mayor separaçaõ destas letras.   
    IO
       Este Ditongo se encontra em Ar- 
    tificio, Beneficio, Contrario, Impe- 
    rio, Remedio, Prodigio, Principio, 
    e em muitos outros nomes, onde se 
    pronuncîaõ ambas as Vogaes com ve- 
    locidade.
    Acha-se tambem nos preteritos da 
    terceira Conjugaçaõ Abrio, Ferio, Ou- 
    vio, Persuadio; supposto que algumas 
    pessoas escrevem Abriu, Feriu, Ou- 
    viu, Persuadiu, o que parece sum- 
       

     

     

     

    pág. 126
    mamente duro na nossa pronuncia.
    OA
       Encontra-se nos nomes Frágoa, 
    Lêgoa, Mágoa, Nódoa, Táboa, Tré- 
    goa, em que a Vogal O he breve.
       Nos nomes Corôa, Lagôa, Podôa, 
    Pessôa, em que a Vogal O he longa, 
    mas fechada.
    Da mesma sorte nos Verbos, Coa, 
    Doa, Roa, Soa, Toa, Voa, e nos 
    de mais syllabas, como Abalrôa, Aben- 
    çôa, Atrôa, Entôa, Magôa, Per- 
    dôa; nas quaes tambem a Vogal O he 
    longa, e fechada.   
    OE
       Tem lugar no nome Leucotohoe, 
    ainda que Camoens faz alguma vez 
    tho-e de 2. syllabas.
    Nos presentes dos Verbos Dóe, 
       

     

     

     

    pág. 127
    Móe, Róe, Sóe, Constróe, Destróe, 
    Esmóe, Remóe, que levaõ O aberto. 
    Nos presentes dos Verbos Poem, Com- 
    poem, Dispoem, e mais compostos, 
    em que a Vogal O tem som fechado. 
    Nos Imperativos Soe do Verbo soar; 
    Abençôe, Amontôe, Arresôe, Atrôe, 
    Magôe, Perdôe, em que tambem a 
    Vogal O he fechada e longa.
    Nos pluraes dos Nomes em OL: 
    Róes, Sóes, Anzóes, Caracóes, Rou- 
    xinóes, Espanhóes, que levaõ O aber- 
    to.   
    OI
    Acha-se em Pois, Depois, con- 
    forme a Orthographia do Padre An- 
    tonio Vieira; e no Verbo substantivo 
    Sois. O mesmo Author se serve deste 
    Ditongo em Foice, Noite, Tresnoitar, 
    Anoitecer, &c.   

     

     

     


    pág. 128

    OU
       Tem lugar em muitas palavras, 
    como v. g. Ouro, Mouro, Thesouro, 
    Cousa, Pousada, &c. Este Ditongo 
    se equivóca com o de OI no discurso 
    familiar, em que alguns dizem Dois, 
    Oiro, Moiro; ainda que se escreva, 
    e se deva pronunciar Dous, Ouro, 
    Mouro.
       Acha-se tambem nos Presentes dos 
    Verbos Dou, Estou, Sou, Vou: nas 
    terceiras pessoas dos Preteritos da pri- 
    meira Conjugaçaõ Amou, Estimou, 
    &c.
    Nelle se pronuncîaõ ambas as Vo- 
    gaes velozmente, e sem formar hum 
    som diverso, como fazem os France- 
    zes, que convertem OU em U, e de 
    Boulet, Soulier pronuncîaõ Bulet, Su- 
    lier, segundo o nosso Alphabeto; nem 
    como os Inglezes, que transformaõ OU 
       

     

     

     

    pág. 129
    em AU, e de Eybrous sobrancelhas, 
    e Mouth Boca, lem Eibraus, e Mauth; 
    o que tambem fazem os Hollandezes 
    escrevendo Hout lenha, Sout sal, e 
    pronunciando Haut e Saut.
    OY
    Acha-se nos nomes Boy com O fe- 
    chado, Comboy com O aberto, e no 
    Verbo substantivo Foy. Alguns Autho- 
    res escrevem Foyce, Noyte, mas o P. 
    Antonio Vieira he de opiniaõ differen- 
    te.   
    UA
       Encontraõ-se estas Vogaes nos no- 
    mes Agua, Lingua, Mingua, e seus 
    compostos Aguada, Aguar, Lingua- 
    do, Linguagem, Minguante, Minguar, 
    e em Igual. Desigual.
    Da mesma sorte nas syllabas GUA, 
    e QUA nos principios das palavras: 
       

     

     


    pág. 130
    Gualde, Guarda, Guardar, Guarni- 
    çaõ, Guarecer; Quadro, Quatro, 
    Qual, Qualidade, Quantidade, Quan- 
    tia, &c.
    Alguns Authores escrevem Agoa, 
    Lingoa, e pello contrario Legua, Ma- 
    gua; mas tem contra si a Orthogra- 
    phia do Padre Antonio Vieira.   
    UE
       Concorrem estas letras nos nomes 
    Cruel, Crueza, Crueldade, Samuel, 
    onde duvidaõ alguns que formem Di- 
    tongo.
    Tambem se achaõ varias vezes nas 
    syllabas GUE, QUE, nas quaes, ou 
    fere a Vogal U, como em Pingue, Se- 
    questro, ou se perde de todo, como 
    em Guerra, Questaõ.   

     

     

     

     

    pág. 131

    UI
    Nota-se este Ditongo em Muito, 
    Ruivo, Cuidado, Cuidar, Descuido, 
    Descuidar, onde se pronuncîaõ juntas 
    as Vogaes.   
    UO
    Forma-se nos nomes Assiduo, Con- 
    tiguo, Mellifluo, Residuo, Ociduo, 
    Triduo.   
    UY
    Usa o P. Antonio Vieira deste Di- 
    tongo na palavra Muy, ainda que 
    naõ escreva Muyto, senaõ Muito. 
    Tambem se acha no Verbo substanti- 
    vo Fuy, e em Tuy nome de Cidade.   

     

     

     


    pág. 132

    Ditongos Improprios.
    ÃA
    USa-se deste Ditongo nos Mono- 
    syllabos Grãa, Lãa, Rãa, Sãa, 
    Vãa, e nos nomes Alemãa, Christãa, 
    Irmãa, Maçãa, Manhãa, Terçãa.
       Esta he a Orthographia de Duarte 
    Nunes de Leão, authorizada com mil 
    exemplos do Padre Antonio Vieira, a 
    quem antes se deve seguir, do que a 
    Joaõ Franco Barreto, que com hum 
    capricho mal fundado quer que se es- 
    ereva Lan, San, Van, Maçan, Ma- 
    nhan, Terçan.
    Quanto aos pluraes destes nomes, 
    huns escrevem Lãas, Vãas, Ma- 
    çãas, seguindo a Orthographia do sin- 
    gular; e outros Lans, Vans, Ma- 
    çans.   

     

     

     

    pág. 133

    ÃE
    Poem-se este Ditongo em alguns 
    Pluraes dos nomes em ÃO, como 
    Alemães, Capitães, Cães, Pães, em 
    lugar de Alemaens, Capitaens, Caens, 
    Paens.   
    ÃY
    Acha-se sómente na palavra Mãy, 
    e no seu plural Mãys.   
    ÃO
    Este Ditongo he muy difficultoso 
    para os Estrangeiros, e naõ se póde dar 
    regra certa para a sua pronuncia. En- 
    contra-se em grande numero de pa- 
    lavras, ou sejaõ Monosyllabos, como 
    v. g. Caõ, Grão, Mão, Não, Pão, 
    São, Tão, Vão: ou nomes de mui- 
       

     

     


    pág. 134
    tas syllabas, como Acção, Feição, 
    Occasiaõ, Uniaõ.
       Quanto aos Pluraes dos nomes em 
    ÃO, humas vezes levaõ o Ditongo 
    ÃOS, como v. g. Grãos, Mãos, Sãos, 
    Christãos, Cidadãos, Pagãos.
       Outras vezes se formaõ com o Di- 
    tongo ÕES, ou OENS, Açcões, Fei- 
    ções, Occasiões, ou Acçoens, Fei- 
    çoens, Occasioens.
       O mesmo Ditongo ÃO se acha em 
    varios tempos de Verbos, como Dão, 
    São, Amão, Amavão, Amáraõ, Ama- 
    rão, Amarião; e assim das mais Con- 
    jugaçoens. Advirta-se porèm, que os 
    Verbos naõ levaõ accento no fim, sal- 
    vo os futuros de todas as Conjugações 
    Amaráõ, Leráõ, Ouviráõ, Poráõ, 
    para se differençarem dos Preteritos 
    Amáraõ, Léraõ, Ouvíraõ, que tem 
    accento na Penultima.
    Grande difficuldade ha entre os 
    nossos Authores sobre assentar quan- 
       

     

     

     

    pág. 135
    do he, que estes nomes se devem es- 
    crever com o Ditongo ÃO, ou com 
    a syllaba AM; porque até o P. Anto- 
    nio Vieira na mesma pagina escreve 
    humas vezes Salamaõ, Sansaõ, Ser- 
    maõ, e outras Salamam, Sansam, Ser- 
    mam.
       Naõ obstante a variedade de exem- 
    plos, que ha por huma, e outra par- 
    te, fora de parecer que antes se usas- 
    se geralmente do Ditongo ÃO, do 
    que da syllaba AM; e isto por duas 
    razoens.
       A primeira, porque o Ditongo ÃO 
    he mais conforme à nossa pronuncia, 
    em que fazemos soar de algum modo 
    a Vogal O; e assim devemos escrever 
    as letras mais conformes ao som, que 
    queremos dar às syllabas.
    A segunda, porque assim o pede a 
    primeira Orthographia, e pronuncia 
    destas palavras; pois como confessa 
    Bento Pereira in Arte Grammaticæ 
       

     

     

     

    pág. 136
    pag. 316. o til~que se poem sobre o Di- 
    tongo ÃO, tem lugar de M; e anti- 
    gamente se escrevia Razaom em lu- 
    gar de Razão; e no Reynado delRey 
    D. Diniz se punha ainda Razom: co- 
    mo se vê na Monarc. Lusit. t. 5. pag. 332. 
    logo mais se conforma o Ditongo ÃO 
    com a Escrittura antiga; pois conserva 
    a Vogal O, que he a mais dominante 
    na syllaba; e assim se deve antes es- 
    crever Occasião, do que Occasiam. Fi- 
    nalmente he tanto mais natural a es- 
    crittura do Ditongo ÃO, que os mes- 
    mos Estrangeiros dezejando imitalo, es- 
    crevem antes Razaon do que Razan.
    Nem obsta o dizer o mesmo Bento 
    Pereira no lugar citado, que a escrit- 
    tura dos Nomes em AM he mais che- 
    gada ao Latim, como se vè nos accu- 
    sativos Musam, Palmam, e nos Ver- 
    bos Legebam, Audiebam; porque se 
    o uso teve bastante poder para alte- 
    rar naõ só as letras, mas as syllabas, 
       

     

     

     

    pág. 137
    porque o naõ terá tambem para lhe 
    mudar a terminaçaõ? 
       Alem de que no tocante aos no- 
    mes, se lhes quizermos buscar esta se- 
    melhança, mais se parecem na escrit- 
    tura Occasiaõ com Occasio, do que 
    Occasiam, pois conserva a vogal O, 
    que ha na palavra Latina. Do mesmo 
    modo mais se parece Naõ com Non do 
    que Nam; pois em Naõ só se altera hu- 
    ma letra, que he o A; e em Nam duas, 
    que saõ A e M.
       No que toca aos Verbos parece 
    analogia muy perluxa o dizer Roga- 
    vam, porque os Latinos diziaõ Roga- 
    bant; deste modo melhor seria dei- 
    xarlhe o N, e dizer Rogavan, como 
    os Castelhanos; e muito melhor ainda 
    o conservarlhe o B, e dizer Rogaban, 
    como os Galegos em lugar de Roga- 
    vaõ, no que certamente naõ convirá 
    algum Autor.
    Nas linguas, que se derivaõ humas 
       

     

     

     

    pág. 138
    das outras naõ se observaõ taõ miuda- 
    mente as analogias; antes as termina- 
    çoens differentes foraõ sempre, as que 
    fizeraõ a diversidade dos Dialectos.
       Deste modo nem Herodoto se atreve- 
    ria a dizer ?????? no Dialecto Joni- 
    co, nem Pindaro ???? no Dorico, 
    porque o Genitivo da terceira Decli- 
    naçaõ simples na lingua commua era 
    ????. Da mesma sorte naõ haveria taõ 
    dîversas contracçoens nos verbos Cir- 
    cumflexos, e particularmente naõ di- 
    riaõ os Eolicos ?????? em lugar de 
    ??????; nem os Atticos ?????? 
    em lugar de ????????, ou ?????? 
    nos Verbos ???? e ?????. 
    Nem obsta em segundo lugar di- 
    zer o mesmo Autor que o Ditongo ÃO 
    será causa de se naõ distinguîrem os 
    Preteritos, e os Futuros dos Verbos, 
    naõ se fazendo differença de Amárão 
    Amaverunt, e de Amarão Amabunt, 
    o que elle pretende fazer por meyo da 
       

     

     

     

    pág. 139
    terminaçaõ em Am, dizendo no Prete- 
    rito Amáraõ, e no futuro Amarâõ; por- 
    que esta mesma differença se póde fa- 
    zer com o Ditongo de ÃO, pondo o me- 
    smo Accento Agudo na penultima do 
    Preterito Amáraõ, e mudando-o para a 
    ultima no Futuro Amaráõ. Com effeito 
    assim o observa o Padre Antonio Vieira 
    muitas vezes, e particularmente na Set- 
    tima Parte dos seus Sermoens pag. 244. 
    onde escreve com Accento Agudo os 
    Futuros Diráõ, Cuidaráõ, e pag. 373. 
    Seráõ, e Arderáõ. E na Terceira Parte 
    pag. 427. Pediráõ, Estaráõ.
       Finalmente naõ digaõ os de opi- 
    niaõ contraria, que esta Orthographia 
    he impropria, porque se naõ podem 
    por 2. accentos na mesma syllaba; por- 
    que o til naõ he Accento, que abra, 
    ou feche a Vogal, senaõ hum substitu- 
    to da Consoante M.
    Supposto que o Ditongo ÃO seja 
    de sua natureza longo, como os maes 
       

     

     

     

    pág. 140
    Ditongos das outras linguas; com tu- 
    do em algumas occasioens faz syllaba 
    breve, seguindose-lhe qualguer das 
    particulas ma me mo, ta te to, lha 
    lhe lho, na no, mas mos, nas nos, tas 
    tos lhas lhes lhos, e se. Trágaõ-ma, 
    Digaõ-me, Fáçaõ-mo, Ponhaõ-se, &c.
       Falta-nos ainda satisfazer a dous 
    defeitos, que os Estrangeiros preten- 
    dem achar no Ditongo ÃO, ou na syl- 
    laba AM, visto fazer o mesmo som.
    O primeiro defeito, que allegaõ 
    contra este Ditongo he, que fórma hum 
    som aspero ao ouvido; pois ninguem 
    póde duvidar, de que a Terminaçaõ 
    Castelhana em Ocasion seja mais suave, 
    do que a Portugueza em Occasiaõ. Po- 
    rem nesta mesma reprovada dureza 
    se enserra huma grande ventagem, 
    qual he ser o ÃO huma terminaçaõ, 
    que distingue o Portuguez totalmente 
    das mais linguas; e em todas ellas se de- 
    ve estimar particularmente aquillo, 
       

     

     

     

    pág. 141
    que as differença melhor humas das ou- 
    tras. Esta singularidade naõ logra a ter- 
    minaçaõ Castelhana em ION, ainda 
    que seja mais suave do que a Portu- 
    gueza em ÃO; pois que os Francezes 
    tem tambem muitas palavras na mes- 
    ma terminaçaõ, como Aspiration, 
    Prétention, ainda que no som do N 
    haja alguma differença.
    O II. defeito, que se allega con- 
    tra este Ditongo, he o ser muy difficil 
    de aprender aos Estrangeiros; mas in- 
    justamente se chama imperfeiçaõ em 
    huma lingua aquillo, que nella he diffi- 
    cultozo de alcançar ás outras naçoens. 
    Deste modo se diria, que a pronuncia 
    Ingleza nas palavras Lord, Mylord he 
    hum defeito na lingua, pois naõ ha Es- 
    trangeiro, que possa vencer aquella dif- 
    ficuldade, e que chegue a imitar o som 
    entre O e A, que alli formaõ os Ingle- 
    zes. Da mesma sorte se attribuhiria a 
    imperfeiçaõ a pronuncia do U Fran- 
       

     

     

     

    pág. 142
    cez, que tambem naõ conseguem fa- 
    cilmente as outras naçoens: Se pois naõ 
    he defeito para as mais linguas o te- 
    rem pronuncias difficultozas, ou impos- 
    siveis de imitar aos Estrangeiros; tam- 
    bem o naõ serà a pronuncia do Diton- 
    go ÃO a respeito da lingua Portugue- 
    za.
    E?
       Parece que este Ditongo devia 
    ter lugar nos pluraes dos Agudos da 
    terminaçaõ EM, como B?es, Desd?es, 
    Ningu?s, Vint?es; e tambem nos plu- 
    raes dos nomes em AGEM, IGEM, 
    UGEM, como Ventag?es, Vertig?es, 
    Penug?s; mas o P. Antonio Vieira co- 
    stuma escrever Bens, Desdens, Venta- 
    gens, Penugens.
    No que toca ao singular destes no- 
    mes sempre o mesmo Author escreve 
    Bem, Ninguem, e naõ B? Ningu?, 
       

     

     

     

    pág. 143
    como quer Joaõ Franco Barreto; e do 
    mesmo modo os Verbos Dem, Tem, 
    Vem, Contem, Detem, Retem, a que 
    muitas vezes poem Accento.
    ?J
    Duarte Nunes de Leaõ quer, que 
    se use deste Ditongo nos Pluraes dos 
    nomes em IM, como v. g. Jasmîjs Mal- 
    sîjs; porem o P. Antonio Vieira es- 
    creve Jasmins, Malsins.   
    O?
    Tem seu lugar em muitos dos 
    Pluraes dos nomes em ÃO, Acço?s 
    Coraço?s, Occasio?s; mas o P. Anto- 
    nio Vieira ordinariamente Acçoens, 
    Coraçoens &c.   

     

     

     

     

    pág. 144

    Tambem Duarte Nunes de Leaõ usa 
    deste Ditongo nos pluraes dos nomes 
    em OM: Boõs, Doõs, Soõs, porèm 
    o Padre Antonio Vieira se serve de N 
    escrevendo: Bons, Dons, Sons, Tons.   
    U?
    O mesmo Duarte Nunes usa do pre- 
    sente Ditongo nos pluraes dos nomes 
    em UM, como Hu?s, Algu?s, Ne- 
    nhu?s, os quaes o P. Antonio Vieira es- 
    creve com N Huns, Alguns, Ne- 
    nhuns.   

     

     

     

     

     

    pág. 145
    CAPITULO V.
    Dos Tritongos.
    TRitongo he o som de tres vo- 
    gaes pronunciadas juntamente, 
    como se estivessem em huma mesma 
    syllaba. Nas linguas vulgares saõ muy 
    frequentes os Tritongos: na Ingleza 
    entre outros se encontraõ os de Yeard  
    Vara, Youth mocidade, Wound chaga: 
    na Franceza os de Vaisseau navio, Saou- 
    ler fartar, Yeux olhos: na Hollande- 
    za os de Kraay, gralha, Leevu Leaõ, 
    Moeite pena. Alguns delles formaõ 
    som totalmente differente das Vo- 
    gaes de que se compoem, como v. g. 
    Vaisseau, Vessó; outros tomaõ o som 
    dos Ditongos: Saouler Souler. Apon- 
    tamos estes Tritongos nas outras lin- 
    guas, naõ para affectar noticia dellas; 
    mas a fim de mostrar os que se podem 
    formar na nossa.

     

     

     

    pág. 146
    A‘ vista destes exemplos podemos 
    dizer que no Portuguez naõ ha Tri- 
    tongos que formem som diverso das 
    Vogaes de que saõ compostos: só se 
    encontraõ alguns que participaõ do 
    som de alguma das suas Vogaes; e as 
    mais das vezes se pronunciaõ estas se- 
    paradamente. Com tudo naõ deixare- 
    mos de apontar os casos, em que de 
    algum modo se fórma Tritongo.   
    AIA, ou AYA.
    Alfaya, Atalaya, Azagaya, Al- 
    fayate, Alvayade, Cayar, Rayar, 
    Desmayar, Cayado, Rayado, Des- 
    mayado.   
    AIO, ou AYO
    Ayo, Mayo, Payo, Rayo, Ba- 
    layo, Payol, Mayor, Mayores, Ga- 
    yola.   

     

     

     

    pág. 147

    EIA, ou EYA.
    Meya, Alheya, Enleya, Passeya, 
    Rodeya, Galanteya.   
    EIO, ou EYO.
    Meyo, Arreyo, Enleyo, Passeyo, 
    Redeyo, Galanteyo.   
    IEI, ou IEY.
    Amieiro, Cirieiro, Vimieyro.   
    OIA, ou OYA.
    Boya, Troya, Saloya, Tramoya, 
    Boyaõ, Boyada, Apoyar, Comboyar.   
    OEI, ou OEY.
    Limoeyro, Padroeyro, Tanoeyro, 
    Poeira, Aroeira.   

     

     

     

    pág. 148
    OIO, ou OYO.
    Moyo, Apoyo, Saloyo.   
    UIA, ou UYA.
    Tapuya.   
    _______________________________________
    CAPITULO VI.
    Dos Accentos.
    ACcento na lingua Portugueza he 
    o sinal que se poem sobre alguma 
    syllaba, para carregar na Vogal della, 
    abrindo-a, ou fechando-a, conforme 
    a sua natureza, ou situaçaõ.
    Commumente se dividem os Ac- 
    centos em Agudo ´, Grave `, e cir- 
    cumflexo ^. O Accento Agudo ge- 
       

     

     

     

    pág. 149
    ralmente fallando faz soar mais a Vo- 
    gal, sobre que está. O Accento Grave 
    abaixa a Vogal, sobre que se poem. O 
    Accento Circumflexo assim como par- 
    ticipa na figura dos Accentos Agudo, 
    e Grave, assim no effeito participa 
    tambem do som dos taes Accentos.
       Fora facil o determinar o lugar de 
    cada hum destes accentos, se na nossa 
    lingua concorressem as mesmas circun- 
    stancias que na Latina, e Grega; po- 
    rèm sendo a differença taõ grande, naõ 
    podemos seguir as mesmas regras. Ain- 
    da assim procuraremos conformarnos 
    o mais que for possivel com a nature- 
    za de cada Accento em particular.
    Note-se primeiro que tudo, que o 
    uso dos accentos na nossa lingua he 
    principalmente nas palavras equivo- 
    cas, a quem a differença, ou falta de 
    accento faz mudar de significaçaõ, co- 
    mo v. g. em Amára Amaverat, e Ama- 
    rá Amabit em Gósto Gaudeo, e Gosto 
    Gaudium.   

     

     

     

    pág. 150
       Muitas vezes se poem tambem Ac- 
    cento só para saber se a Vogal he Aber- 
    ta, ou Fechada, como v. g. em Vióla, 
    para mostrar, que a Vogal O se abre 
    no meyo desta palavra, ao contrario 
    de Cebola, onde se fecha.
       Tambem se usa delle sobre Vo- 
    gaes que se naõ podem abrir ou fechar, 
    como saõ I e U, a fim de carregar na 
    ditta syllaba, de que se segue secun- 
    dariamente saberse se he longa, co- 
    mo faz o Padre Antonio Vieira nos Ver- 
    bos Excíta, Particípa. O mesmo Au- 
    thor poem Accento nos Adjectivos 
    Abstraído, Arguído, Concluído, e Pro- 
    movído, e nos tres primeiros ha ainda 
    mayor necessidade de Accento, pa- 
    ra mostrar que nelles naõ ha Diton- 
    go.
    Accento Agudo póde ter tres lu- 
    gares, Antepenultima, Penultima, e 
    Ultima. O fim principal deste Accento 
    na Antepenultima he abrir muito a Vo- 
       

     

     

     

    pág. 151
    gal sobre que se poem, e fazer que fi- 
    que como Dominante entre as mais 
    syllabas, sem attender à Quantidade 
    de Breve, ou Longa na syllaba em que 
    està. Isto observáraõ os Latinos; por- 
    que o mesmo Accento Agudo se attri- 
    bue à Antepenultima de Maximus com 
    a primeira longa, do que a Homines 
    que tem a primeira Breve. Os Gregos 
    guardáraõ tambem a ditta regra escre- 
    vendo com o mesmo Accento ???????? 
    Deúteron, que ???????, Thánatos, naõ 
    obstante que o primeiro nome tem a 
    primeira syllaba longa, e o segundo a 
    tem breve.
    Alem do fim principal do Accento 
    Agudo na Antepenultima, que he abrir 
    a Vogal, sobre que se poem, como 
    se vè nos nomes Dádiva, Máquina, 
    Pállido, Rápido, onde o A da primei- 
    ra syllaba he muito Aberto: Serve tam- 
    bem para carregar na Vogal da mes- 
    ma syllaba Antepenultima, para fazer 
       

     

     

     

    pág. 152
    a Penultima Breve, ainda que muitas 
    vezes naõ possa dar à dita Vogal hum 
    som claro, como tem os nomes acima, 
    ou porque ella o naõ receba de sua 
    mesma natureza, como succede nas 
    Vogaes I e U, v. g. em Mínimo, Ví- 
    cio, Júbilo, Público; ou porque se 
    lhe segue alguma consoante nesta syl- 
    laba, que impede o som claro da Vo- 
    gal, como em An‘cora, Góndola, Cóm- 
    puto, Sándalo.
       Estes saõ os dous fins do Accento 
    Agudo na Antepenultima: o primeiro 
    abrir a Vogal sobre que se poem, e o 
    segundo carregar nella para fazer a Pe- 
    nultima Breve.
    Porèm ainda se offerece huma re- 
    flexaõ, que póde servir de exceiçaõ 
    de regra; e he que muitas vezes suc- 
    cede porse Accento Agudo na Ante- 
    penultima, sobre Vogaes capazes de 
    som aberto; que com tudo ficaõ com 
    som escuro, como se vè em A‘mago, 
       

     

     

     

    pág. 153
    A‘nimo, Cámara, Támara; onde o 
    A da ditta Antepenultima podéra soar 
    claramente, pois he Vogal capaz de 
    abrirse de sua natureza, e naõ tem o 
    embaraço de consóante, que se lhe si- 
    ga na mesma syllaba. Neste caso só 
    serve o ditto Accento Agudo de fazer 
    breve a Penultima.
       Do Accento Agudo na Antepenul- 
    tima naõ fallaõ os nossos Grammatî- 
    cos; porém observa-se muitas vezes 
    nas Obras do P. Antonio Vieira; e parti- 
    cularmente na Terceira Parte dos seus 
    Sermoens pag. 338. e 342. onde diz: 
    Sómente, Póde-se.
       A‘vista destes exemplos se devia 
    tambem usar de Accento Agudo nas 
    Antepenultimas de outras palavras, 
    como em Frécheiro, Mézinha, Sé- 
    diço, Séteira; pois tem a mesma neces- 
    sidade de Accento, para nellas se abri- 
    rem as Vogaes das primeiras syllabas.
    Sobre tudo he necessario o ditto 
       

     

     

     

    pág. 154
    Accento nas palavras, que pela sua falta 
    ficaõ equivocas. Estas se pòdem redu- 
    zir a duas classes, huma de palavras, 
    em que o Equivoco só respeita o abrir 
    ou fechar da Vogal, deixando a Pe- 
    nultima, ou syllaba Media com a mes- 
    ma quantidade, como succede nas se- 
    guintes.
       
    Pégada
    Pegada
    Pésame
    Pesame.
    Prégado
    Pregado.
       
       A outra classe he de palavras em 
    que o Equivoco altéra a quantidade 
    da syllaba Media, ou Penultima, e a 
    faz ser breve, ou longa, como se vè 
    da lista presente.
       
    Abóbora
    Abobóra
    Adúltera
    Adultéra.
    A‘goa
    Agôa,
    Alívio
    Alivîo
       

     

     

     

    pág. 155
       
    A‘ncora
    Ancóra
    A‘nimo
    Anímo
    Artículo
    Articúlo
    A‘rvore
    Arvóre
    Beatífico
    Beatifíco
    Annúncio
    Annuncîo
    Cándea
    Candêa
    Circunstáncia
    Circunstãcîa
    Cómputo
    Compûto
    Contínuo
    Continûo
    Contrário
    Contrarîo
    Depósito
    Deposîto
    Dísimo
    Disîmo
    Dúvida
    Duvîda
    Equívoco
    Equivóco
    Específico
    Espicifîco
    Exército
    Exercîto
    Gázeo,
    Gazêo
    Glória
    Glorîa
    Hábito
    Habîto
    Idólatra
    Idolátra
    Injúria
    Injurîa
    I‘ntimo
    Intîmo
       

     

     

     

    pág. 156
       
    Júbilo
    Jubîlo
    Lástima
    Lastîma
    Legítimo
    Legitîmo
    Máquina
    Maquîna
    Malícia
    Malicîa
    Mágoa
    Magôa
    Officío
    Officîo
    Pánico
    Panîco
    Páteo
    Patêo
    Prática
    Pratîca
    Princípio
    Principîo
    Pronóstico
    Pronostîco
    Pronúncia
    Pronuncîa
    Próspero
    Prospéro
    Provido
    Provîdo
    Público
    Publîco
    Régulo
    Regûlo
    Renúncia
    Renuncîa
    Sábia
    Sabîa
    Séria
    Serîa
    Témpera
    Tempéra
    Vária
    Varîa
    Válido
    Valîdo
       

     

     

     

    pág. 157
       
    Vómito
    Vomîto.
       
       Em todas estas palavras he neces- 
    sario Accento Agudo na Antepenulti- 
    ma (fallando das da primeira columna) 
    humas vezes para abrir a Vogal sobre 
    que vay posto; e outras para que car- 
    regando nella fique Breve a Penulti- 
    ma.
       Note-se que os nomes postos na pri- 
    meira columna, saõ sempre os que tem 
    a Penultima Breve ao contrario dos 
    Verbos da segunda columna, em que 
    sempre he Longa.
       Accento Agudo na Penultima tem 
    lugar em varias palavras a fim de abrir 
    a Vogal sobre que se puzer, como Mó- 
    ta, Séta para differença de Greta Se- 
    pa: Amóra, Espóra para differença 
    de Senhora, Gritadora.
    A principal necessidade deste Ac- 
    cento he a respeito das palavras que 
    sem elle ficariaõ equivocas. Primeira- 
       

     

     

     

    pág. 158
    mente levaõ Accento Agudo varios 
    tempos dos Verbos, v. g. os Preteri- 
    tos da primeira Conjugaçaõ Amámos, 
    Fallámos, Levámos, para differença 
    dos presentes Amamos, Fallamos, Le- 
    vamos. Da mesma sorte os Preteritos 
    Plusquam perfeitos Amára, Fallára, 
    Levára para differença dos Futuros, 
    que tem no fim Accento Agudo: Ama- 
    rá, Fallará, Levará.
       Igual necessidade ha tambem para 
    differençar varios Verbos dos nomes, 
    e alguns nomes entre si, de que dare- 
    mos duas listas, huma das palavras de 
    duas syllabas, e outras das de 3. e mais 
    syllabas.
       
    Bésta
    Besta.
    Bólo v.
    Bolo n.
    Bórra v.
    Borra. n.
    Cérco v.
    Cerco n.
    Chóro v.
    Choro n.
    Cóbro v.
    Cobro n.
       

     

     

     

    pág. 159
       
    Córte
    Corte
    Cóva
    Cova
    Désse
    Desse
    E‘rro v.
    Erro n.
    Fóra
    Fora
    Fórça v.
    Força n.
    Fórma v.
    Forma n.
    Gósto v.
    Gosto n.
    Gózo v.
    Gozo n.
    Jògo v.
    Jogo n.
    Móça
    Moça
    Mólho v.
    Molho n.
    O‘lho v.
    Olho n.
    Péga v.
    Pega n.
    Pézo v.
    Pezo n.
    Póde pres.
    Pode pret.
    Prégar
    Pregar
    Régo v.
    Rego n.
    Ródo v.
    Rodo n.
    Rógo v.
    Rogo v.
    Sóbre v.
    Sobre prep.
    Sóldo v.
    Soldo n.
    Tópo v.
    Topo n.
       

     

     

     

    pág. 160
       
    Tórno v.
    Torno n.
    Vérga v.
    Verga n.
    Zélo v.
    Zelo. n.


    Abórto v.
    Aborto n. &c.
    Accórdo v.
    Accordo
    Acérto v.
    Acerto
    Apérto v.
    Aperto
    Apóyo v.
    Apoyo
    Aprésto v.
    Apresto
    Arreméço v.
    Arremeço
    Arrócho v.
    Arrocho
    Arrójo v.
    Arrojo
    Arróto v.
    Arroto n. &c.
    Azédo
    Azedo
    Boféte
    Bofete
    Concérto
    Concerto
    Confórto
    Conforto
    Desafógo
    Desafogo
    Desafóro
    Desaforo
    Desapégo
    Desapego
    Desembólço
    Desembolço
    Despójo
    Despojo
       

     

     

     

    pág. 165 [recte pág. 161]
       
    Desprézo
    Desprezo
    Destempéro
    Destempero
    Emprégo
    Emprego
    Engódo
    Engodo
    Entérro
    Enterro
    Entójo
    Entojo
    Enxérto v.
    Enxerto n. &c.
    Equivóco
    Equivoco
    Escóva
    Escova
    Esfórço
    Esforço
    Espóso
    Esposo
    Govérno
    Governo
    Refórço
    Reforço
    Socégo
    Socego
    Tempéro
    Tempero
    Tropéço
    Tropeço


    Alvoróço
    Alvoroço
    Aderéço
    Adereço
    Apréço
    Apreço
    Arremédo
    Arremedo
    Desgósto
    Desgosto
    Encósto
    Encosto
       

     

     

     

    pág. 166 [recte pág. 162]
       
    Espéto
    Espeto
    Enrédo
    Enredo
    Estórvo
    Estorvo.
       
       A‘lem da necessidade, que ha de 
    Accento Agudo nas penultimas das pa- 
    lavras das listas precedentes, parece 
    indispensavel o ditto Accento em mui- 
    tas outras occasioens.
       Em primeiro lugar nos Adjectivos 
    em OSA OSO, ou OZA OZO, para 
    distinguir nelles a vogal O fechada da 
    Vogal O aberta; he bem verdade que 
    nesta materia se póde dar huma regra 
    geral, a saber, que a Terminaçaõ Fe- 
    minina sempre leva O aberto, e a Mas- 
    culina fechado, como se vè na lista 
    seguinte.
       
    Airóza
    Airozo
    Aleivóza
    Aleivozo
    Ditóza
    Ditozo
    Engenhóza
    Engenhozo
       

     

     

     

    pág. 167 [recte pág. 163]
       
    Façanhósa
    Façanhoso
    Fermósa
    Fermoso
    Forçóza
    Forçoso
    Furiósa
    Furioso
    Golósa
    Goloso
    Gostóza
    Gostozo
    Grandiósa
    Grandioso
    Leprósa
    Leproso
    Maliciósa
    Malicioso
    Manhóza
    Manhozo
    Mavióza
    Maviozo
    Medróza
    Medrozo
    Pasmóza
    Pasmozo
    Queixóza
    Queixozo
    Ruidóza
    Ruidozo
    Saboróza
    Saborozo
    Teimóza
    Teimozo
    Vaidóza
    Vaidozo
    Viçóza
    Viçozo
    Vistóza
    Vistozo
    Victorióza
    Victoriozo
    Zelóza
    Zeloso.
       

     

     

     


    pág. 168 [recte pág. 164]
       Esta mesma regra póde tambem 
    servir para os Adjectivos em OSTA 
    OSTO, em que os Femininos se pro- 
    nuncîaõ com O aberto. Compósta, 
    Expósta, Repósta, Suppósta, ao con- 
    trario dos Masculinos, que levaõ O fe- 
    chado: Composto, Exposto, Reposto, 
    Supposto.
       Em segundo lugar nos Adjectivos 
    de duas syllabas em varias termina- 
    çoens, onde os Femininos tem O aber- 
    to, como Mórna, Mórta, Nóva, 
    Tórta, para differença dos Masculinos, 
    que o tem fechado. Morno, Morto, 
    Novo, Torto.
    Esta regra porèm naõ deixa de es- 
    tar sogeita a varias exceiçoens; por- 
    que muitas vezes levaõ O fechado as- 
    sim os Masculinos, como os Femini- 
    nos v. g. Forra, Forro, Gorda Gor- 
    do, Moça Moço, Nona Nono, Preza 
    Prezo, Solta Solto, Teza Tezo, To- 
    da Todo, Tola Tolo, Roxa Roxo, 
    Vesga Vesgo.   

     

     

     

    pág. 169 [recte pág. 165]
       Outras vezes tem todos O aberto, 
    como v. g. Lérda Lérdo, Lésa Lé- 
    zo, Méra Mêro, Cérta Cérto, Féra 
    Féro, Nóssa Nósso, Vóssa Vósso.
       Semelhante variedade se experi- 
    menta nos Adjectivos de tres syllabas; 
    porque Devóto Devóta, Sevéra Se- 
    véro tem sempre a Vogal Media aber- 
    ta; e pello contrario he fechada em 
    Amena Ameno, Azeda Azedo, Es- 
    querda Esquerdo.
       Em terceiro lugar nos substanti- 
    vos de duas e tres syllabas, compostos 
    das mesmas letras, mas differentes no 
    Genero, dos quaes os Femininos tem 
    o E aberto, e os Masculinos fechado.
       
    Bóla
    Bolo
    Fólga
    Folgo
    Fórra
    Forro
    Méda
    Medo
    Mófa
    Mofo
    Pórca
    Porco
       

     

     

     

    pág. 170 [recte pág. 166]
       
    Pórta
    Porto
    Pósta
    Posto
    Róda
    Rodo
    Sólda
    Soldo
    Tólda
    Toldo
    Canéla
    Canelo
    Capélla
    Capello
    Ouréla
    Ourelo.
       
       Exceituaõ-se desta regra alguns 
    substantivos, em que ambos os Ge- 
    neros levaõ a Penultima aberta, como 
    Cópa Cópo, Móda Módo, Pérra Pér- 
    ro, Sérva Sérvo.
       Tambem se exceituaõ outros, que 
    sempre a tem fechada. Goma Gomo, 
    Loba Lobo, Pera Pero, Sorva, Sor- 
    vo, Carreta Carreto, Esposa Espo- 
    so, Rapoza Rapozo, Saloya Saloyo.
    Em quarto lugar he necessario Ac- 
    cento Agudo na penultima para mos- 
    trar, que varios nomes levaõ O aber- 
    to no plural, tendo-o fechado no sin- 
       

     

     

     

    pág. 171 [recte pág. 167]
    gular, como se vé na lista seguinte.
       
    Coro
    Córos
    Corpo
    Córpos
    Corvo
    Córvos
    Forno
    Fórnos
    Olho
    O‘lhos
    Osso
    O‘ssos
    Ovo
    O‘vos
    Poço
    Póços
    Porco
    Pórcos
    Rogo
    Rógos
    Tojo
    Tójos
    Tordo
    Tórdos
    Torno
    Tórnos
    Troço
    Tróços


    Abrolho
    Abrólhos
    Caroço
    Caróços
    Despojo
    Despójos
    Gafanhoto
    Gafanhótos
    Minhoto
    Minhótos
    Miolo
    Miólos
       

     

     

     

    pág. 172 [recte pág. 168]
       
    Perdigoto
    Perdigótos
    Pescoço
    Pescóços
    Tramoço
    Tramóços
       
       Exceituaõ-se desta regra varios 
    Pluraes, que levaõ a Penultima fecha- 
    da do mesmo modo que os singulares.
       
    Bobo
    Bobos
    Bolo
    Bolos
    Gomo
    Gomos
    Lobo
    Lobos
    Lodo
    Lodos
    Moço
    Moços
    Nojo
    Nojos
    Sorvo
    Sorvos
    Tolo
    Tolos
    Troco
    Trocos


    Engodo
    Engodos
    Esposo
    Esposos
    Ferrolho
    Ferrolhos
    Rapozo
    Rapozos
       

     

     

     

    pág. 173 [recte pág. 169]
       
    Refolho 
    Refolhos
    Rebolo 
    Rebolos
    Repolho 
    Repolhos
    Tijolo 
    Tijolos.
       
       Quanto aos Substantivos, que se 
    terminaõ em A basta dizer, que con- 
    servaõ geralmente na penultima dos 
    pluraes a Vogal aberta, ou fechada que 
    tinhaõ no singular. Assim se pronuncîa 
    O aberto em ambos os numeros dos 
    substantivos seguintes:
       
    Bóla
    Bólas
    Cóva
    Cóvas
    Pósta
    Póstas
    Róda
    Ródas.
       
       Pello contrario se pronuncîa O fe- 
    chado em:
       
    Coca
    Cocas
    Folha
    Folhas
       

     

     

     

    pág. 174 [recte pág. 170]
       
    Goma
    Gomas
    Rolha
    Rolhas
    Voda
    Vodas.
       
       Semelhante regra geral se póde dar 
    para os nomes de 2. syllabas, que tem 
    E na Antepenultima, a saber que re- 
    tem nas pluraes a mesma Vogal aber- 
    ta, ou fechada do singular. Nesta fór- 
    ma levaõ E Aberto.
       
    Férro
    Férros
    Mélro
    Mélros
    Prégo
    Prégos
    Prélo
    Prélos
    Sérvo
    Sérvos
    Térno
    Térnos.


    Béca
    Bécas
    Féra
    Féras
    Frécha
    Fréchas
    Mécha
    Méchas
    Méta
    Métas
       

     

     

     

    pág. 175 [recte pág. 171]
       
    Térra
    Térras
    Vélha
    Vélhas.
       
       Pello contrario se pronuncîa E fe- 
    chado em:
       
    Dedo
    Dedos
    Feno
    Fenos
    Rego
    Regos
    Remo
    Remos
    Trevo
    Trevos
    Zelo
    Zelos
    Greta
    Gretas
    Letra
    Letras
    Pena
    Penas
    Penha
    Penhas
    Resma
    Resmas
    Telha
    Telhas.
       
    Finalmente he necessario Accento 
    Agudo nas penultimas dos Presentes 
    dos Verbos, que se seguem, para os 
    differençar dos nomes.   

     

     

     


    pág. 176 [recte pág. 172]
       

      Verbos.


    Nomes.
    Bàixaõ
    Baixàõ
    Bástaõ
    Bastàõ
    Bórdaõ
    Bordàõ
    Bórraõ
    Borràõ
    Bótaõ
    Botàõ
    Cálçaõ
    Calçàõ
    Cánçaõ
    Cançàõ
    Cátaõ
    Catàõ
    Chóraõ
    Choràõ
    Chóutaõ
    Choutàõ
    C,úrraõ
    C,urràõ
    Dóbraõ
    Dobràõ
    Férraõ
    Ferràõ
    Fórmaõ
    Formàõ
    Fúndaõ
    Fundàõ
    Guíaõ
    Guiàõ
    Límaõ
    Limàõ
    Málhaõ
    Malhàõ
    Móntaõ
    Montàõ
       

     

     

     

    pág. 177 [recte pág. 173]
       
    Pícaõ
    Picàõ
    Pízaõ
    Pizàõ
    Pénsaõ
    Pensàõ
    Pódaõ
    Podàõ
    Rásgaõ
    Rasgàõ
    Rézaõ
    Rezàõ
    Sérraõ
    Serràõ
    Tórraõ
    Torràõ
    Tóstaõ
    Tostàõ
    Trávaõ
    Travàõ
    Tróvaõ
    Trovàõ
    Alégraõ
    Alegràõ
    Arreméçaõ
    Arremeçàõ
    Empúrraõ
    Empurràõ
    Reméndaõ
    Remendàõ
       
       Accento Agudo na Ultima syllaba 
    tem lugar nos Monosyllabos, que se fór- 
    maõ com Vogal pura aberta, como Cá 
    Já Lá Pá Fé Pé Sé Dó Nó Pó Só.
    Da mesma sorte nos que levaõ al- 
    guma consoante com a mesma Vogal 
    aberta, como os Verbos Dáz Fáz 
       

     

     

     

    pág. 178 [recte pág. 174]
    Tráz, Váz nos Pronomes Nós Vós; 
    e em outras palavras, como Ar, Páz, 
    Más, Déz, Féz, Pés, Cór, Pós, 
    Fóz, Vóz.
       Sobre tudo he necessario muitas 
    vezes para evitar equivocos, como 
    entre Cór memoria, e Cor color: en- 
    tre Féz Reyno e Fez fecit: entre 
    Más de Malus, e Mas adverbio: Entre 
    Gráo gradus, e Graõ Granum: entre 
    Máo Malus, e Mão Manus: entre Náo 
    Navis, e Naõ non: entre Páo lignum, 
    e Paõ Panis: entre Váo vadum, e 
    Vaõ vanus.
       Tambem se poem Accento Agudo 
    no fim de nomes de muitas syllabas, 
    ou acabem por Vogal, ou por con- 
    soante. Manná, Tafetá, Galé, Ma- 
    ré, Teiró, Guardapó, Finál, Morál, 
    Primáz, Culhér, Mulhér, Convéz, 
    Revéz, Faról, Lançól, Mayór, Me- 
    nór, Peór, Suór, Feróz, Retròz.
    Finalmente nos futuros dos Ver- 
       

     

     

     

    pág. 179 [recte pág. 175]
    bos de todas as Conjugaçoens: Será 
    Dará, Lerá, Rirá, Porá, e nos de 
    mais syllabas, para os differençar dos 
    Preteritos Plusquam perfeitos.
       Até aqui se consorma a lingua Por- 
    tugueza com outras linguas no uso do 
    Accento agudo; mas ainda tem duas 
    singularidades, que merecem particu- 
    lar reflexaõ.
    A pimeira he admittir Accento 
    Agudo na primeira syllaba de alguns 
    nomes, e Verbos, que tem quatro, 
    ou mais syllabas; se nelles se houver 
    de pronunciar a ditta primeira syllaba 
    com Vogal aberta. Esta singularidade 
    he contra as regras do Accento Agu- 
    do, que tanto no Grego, como no 
    Latim naõ póde preceder a Antepe- 
    nultima. Quando digo que he contra 
    as regras da     lingua Grega, fallo do 
    Grego Primitivo; porque no vulgar de 
    hoje tem introduzido a barbaridade 
    recuar o Accento Agudo mais que à 
       

     

     

     

    pág. 180 [recte pág. 176]
    Antepenultima, e polo na primeira 
    syllaba de nomes, que às vezes tem 
    quatro e cinco.
       Com effeito usa o Padre Antonio 
    Vieira de Accento Agudo na primeira 
    syllaba de Prégadores, e isto repetidas 
    vezes no Sermaõ do Espirito Santo na 
    sua terceira parte. Assim tambem se de- 
    ve usar em Prócuraçaõ, e Prócura- 
    dores, mas naõ no verbo Procuro, 
    Procurar, que alguns pronuncîaõ im- 
    propriamente com O aberto, como 
    fazem em certas Provincias. Dessa sor- 
    te porque se diz Sérvo com E aberto, 
    quereráõ tambem dizer Sérvidor, e 
    Sérvir, que o levaõ fechado; e de A‘r- 
    vore, Mártir, Bóla, Róda, em que 
    se abrem as Vogaes A e O, diraõ A‘r- 
    voredo, Mártirio, Bólar, e Ródar, 
    em que se fechaõ.
    A mesma Accentuaçaõ pratîca es- 
    te Autor nos Verbos, que vaõ unidos 
    com alguns Pronomes, ou Particulas, 
       

     

     

     

    pág. 181 [recte pág. 177]
    como v. g. Fizérao-volo, Mostráraõ- 
    se-nos, Tiráraõ-sevos, Puzéraõ-sete, 
    Acabáraõ seme; e este ultimo exem- 
    plo he da terceira Parte pag. 343. Isto 
    deve tambem ter lugar nos singulares: 
    Fizéra-volo, Mostrára-senos, Tirá- 
    ra-sevos, Puzéra-sete, Acabára-seme.
       Igual necessidade concorre na pa- 
    lavra Mésinheiro, e algumas outras, 
    pois sem accento Agudo se naõ leria 
    aberta a Vogal E da primeira syllaba.
       A segunda singularidade he admit- 
    tir 2. accentos Agudos na mesma pala- 
    vra, o que tambem he tanto contra as 
    regras geraes da Lingua Grega, como 
    da Latina; porque o Accento Agudo se 
    deve pôr sobre a Vogal dominante; e 
    esta naõ costuma ser nas dittas linguas 
    mais que huma em cada nome.
    Esta Accentuaçaõ porèm he neces- 
    saria nos Preteritos Brádáraõ, Córá- 
    raõ, Géráraõ, Prégáraõ, Pádejáraõ; 
    Vózeáraõ, naõ só para os differençar 
       

     

     

     

    pág. 182 [recte pág. 178]
    dos Futuros, mas para tirar Equivocos. 
    Se o Preterito Prégáraõ naõ levar Ac- 
    cento Agudo na syllaba GA‘, equivo- 
    carseha com o futuro Prégaraõ. Se 
    naõ tiver outro Accento Agudo na syl- 
    laba Pré, quando significa Praedicave- 
    runt, naõ se distinguirâ de Prégáraõ 
    clavo confixerunt.
       Do mesmo modo he necessario do- 
    brado Accento Agudo nos Participios 
    Brádádo, Córádo, Gérádo, Entré- 
    vádo, Enfézádo, &c. nos Infinitivos 
    Pádejár, Vózeár; e nos substantivos 
    Cálçádo, Mórgádo, Cálçáda, Pégáda, 
    Báchá, Cázamáta, Espálhafáto, A‘l- 
    fayáte, A‘ljabébe, &c.
    O ser esta Orthographia contra o 
    uso do Accento Agudo se salva com 
    dizer, que o fim principal do ditto 
    Accento na nossa lingua he abrir mui- 
    to as Vogaes: logo se no mesmo no- 
    me concorrerem muitas Vogaes aber- 
    tas, muitos devem tambem ser os Ac- 
    centos Agudos.   

     

     

     

    pág. 183 [recte pág. 179]
       Na mesma lingua Grega temos de 
    algum modo, com que desculpar esta 
    irregularidade; porque supposto que 
    cada nome naõ possa ter mais que 
    hum Accento Agudo; comtudo a uniaõ 
    das Encliticas altéra esta regra geral, 
    e faz que muitos nomes, que já tinhaõ 
    hum Accento Agudo, recebaõ outro 
    por causa da tal Enclitica, como se 
    encontra muitas vezes, e particular- 
    mente duas no mesmo verso 157. do 
    primeiro livro da Iliada de Home- 
    ro ??????? ???????? ????????? 
    ???????? E os montes sombrios, e o 
    már sonoro.
    Accento grave naõ deve ter lugar 
    senaõ na ultima syllaba, como só teve 
    entre os Gregos; e na tal syllaba faz 
    pronunciar a Vogal com hum som fe- 
    chado, e escuro. He taõ proprio o 
    Accento Grave da ultima syllaba, que 
    quando na Lingua Grega se ajuntaõ as 
    Encliticas a nomes, que levaõ o tal Ac- 
       

     

     

     

    pág. 184 [recte pág. 180]
    cento, no qual caso se pronuncîa o 
    nome, e a Enclitica tudo seguido; mu- 
    da-se entaõ o Accento Grave em Agu- 
    do, visto que jà o nome naõ acaba como 
    antes. Assim se vè v. g. em ??????s???? 
    e em ?????s???? que por causa das 
    Encliticas se escrevem, e lèm com 
    Accentos mudados: ??????s??
    ?????s?? como se fosse tudo hu- 
    ma só palavra.
       Mal se póde distinguir no nosso 
    Portuguez o Accento Grave do Cir- 
    cumflexo a respeito da ultima syllaba; 
    porque naõ milita a mesma razaõ, que 
    na lingua Grega, onde para tudo ha 
    principios certos, ainda que sojeitos 
    a muitas exceiçoens.
    A querer dar alguma regra nesta 
    materia fòra de parecer, que se usasse 
    de Accento Grave nos Monosyllabos, 
    que levaõ Vogal fechada, como v. g. 
    Sè tu, Crè tu, Vè tu, Dè elle; e 
    nos presentes do Indicativo: Elle crè, 
    Elle vè.   

     

     

     

    pág. 185 [recte pág. 181]
       Da mesma sorte nos Monosyllabos, 
    que acabarem em consoante, se nel- 
    les tiver tambem a Vogal hum som 
    escuro: como v. g. nos Verbos: Dès 
    Crès Fèz Vès Dèm Tèm Vèm Fòr 
    Pòr Pòz: nas palavras Bèm Nèm Sèm 
    Rèz Vèz Dòm Sòm, Tòm Còr de 
    Color, Dòr Flòr.
    Tambem naõ duvidára usar de 
    Accento Grave nos Futuros em AÕ: 
    Amaràõ Leràõ, Ouviràõ, Poràõ, 
    para differença dos Preteritos; visto 
    que este Ditongo fórma hum som fe- 
    chado, e escuro. Bem vejo porèm que 
    o Padre Antonio Vieira se serve de 
    Accento Agudo nos sobredittos futu- 
    ros, como fica ditto, quando trattá- 
    mos do Ditongo AÕ; mas como nos 
    taes futuros cesse o fim principal do 
    Accento Agudo, que he abrir a Vo- 
    gal; e por outra parte o Accento Gra- 
    ve he proprio da ultima syllaba, por 
    isso usára antes nelles de Accento 
       

     

     

     

    pág. 186 [recte pág. 182]
    Grave, do que de Accento Agu- 
    do.
       Conforme esta regra haõ tambem 
    de levar Accento Grave as terminações 
    dos nomes em AÕ, que sem elle fi- 
    cariaõ equivocos, como v. g. Botàõ, 
    Dobràõ, Formàõ, e Podàõ, com os 
    mais que juntámos em huma lista tra- 
    tando do Accento Agudo. Sobretudo 
    he necessario Accento Grave no sub- 
    stantivo Foràõ, para se distinguir do 
    Preterito Foraõ, visto que naõ póde 
    levar Accento Agudo no principio, 
    pois se naõ abre alli a Vogal. He bem 
    verdade que o ditto Preterito Foraõ 
    póde tambem ter Accento Circumfle- 
    xo na penultima, Fôraõ.
    Mayor difficuldade ha ainda em 
    averiguar se se déve pòr Accento Gra- 
    ve, ou Circumflexo no fim das pala- 
    vras, que se terminaõ em ER, ES ou 
    EZ, OR, OS ou OZ, com E e O fe- 
    chado, para as differençar de outras 
       

     

     

     

    pág. 187 [recte pág. 183]
    nas mesmas terminaçoens, que levaõ as 
    dittas Vogaes Abertas com Accento 
    Agudo: v. g. para fazer differença de 
    Prazer a Culhèr, de Arnez a Revèz, 
    de Bolor a Mayór, de Arroz, a Re- 
    tróz.
       Porèm como o nosso parecer he, 
    que se deve usar de Accento Circum- 
    flexo nas referidas terminaçoens, guar- 
    damos trattar esta materia, para quan- 
    do fallarmos do ditto Accento.
       Accento circumflexo póde estar 
    na Penultima, e na Ultima; e o seu 
    fim he fazer hum tom tambem fecha- 
    do, e escuro.
    Na Penultima levaõ Accento Cir- 
    cumflexo varias palavras de duas, e 
    mais syllabas em differentes termina- 
    çoens, em que se pronuncîa a Vogal 
    fechada; como v. g. Câma, Sêpa, Gôma, 
    Escâma, Comêta, Redôma, Gâmo, Rê- 
    mo, Pôvo, Tyrâno, Espêlho, Miôlo. 
    He bem verdade que em todas estas 
       

     

     

     

    pág. 188 [recte pág. 184]
    palavras naõ he taõ necessario o Ac- 
    cento circumflexo, porque ainda que 
    lhes falte, naõ formaõ algum Equi- 
    voco.
       Por esta razaõ se faz preciso nas 
    palavras abaixo, porque ficariaõ equi- 
    vocas com a falta do ditto Accento. V. 
    g. nos nomes Chôro, Fôrro, Jôgo, Rô- 
    go, para os differençar dos Verbos 
    Chóro, Fórro, Jógo, Rógo. E da mes- 
    ma sorte nos nomes de mais syllabas: 
    Acêrto, Confôrto, Despôjo, para se 
    distinguirem dos Verbos: Acérto, Con- 
    fórto, Despójo.
       Serve tambem o Accento Circum- 
    flexo para differençar os nomes, as- 
    sim substantivos como Adjectivos, que 
    mudando do Genero mudaõ de Accen- 
    to, v. g. Côrvo, Córva, Dôno Dóna, 
    Nôvo Nóva, Pôrco Pôrca, Tôrto Tór- 
    ta.
    E para distinguir alguns singulares 
    dos Pluraes, como v. g. Côro, Fôrno, 
       

     

     

     

    pág. 189 [recte pág. 185]
    Pôvo, Rôgo, que nos pluraes levaõ 
    Accento Agudo com Vogal aberta: 
    Córos, Fórnos, Póvos, Rógos; e da 
    mesma sorte nos de mais syllabas.
       Os mais lugares do Accento Cir- 
    cumflexo na Penultima se pódem ver 
    nas listas, que fizemos tratando do Ac- 
    cento Agudo.
       Na ultima se déve pòr Accento cir- 
    cumflexo no fim das palavras, que se 
    terminaõ em ER, ES ou EZ, OR, 
    OS, ou OZ com E e O fechado, pa- 
    ra as distinguir de outras nas mesmas 
    terminaçoens, que levaõ as dittas Vo- 
    gaes abertas com Accento agudo. V. g. 
    para fazer differença de Prazêr a Mu- 
    lhér, de Torquêz a Convéz, de Hor- 
    rôr a Menór, de Algôz a Cadóz.
    O fundamento porque usamos de 
    Accento Circumflexo nestas palavras 
    he, porque o ditto Accento de sua na- 
    tureza participa do Agudo, e do Gra- 
    ve: logo parece que se déve usar del- 
       

     

     

     

    pág. 190 [recte pág. 186]
    le naquellas palavras, que se terminaõ 
    em Agudo, como saõ Prazer Ardor, 
    nas quaes o mesmo Accento Agudo 
    naõ póde ter lugar, por se naõ pro- 
    nunciarem com vogal aberta, como 
    succede em Culhér, e Mayór.
       Bem sey que esta razaõ serve 
    tambem para provar, que se déve pòr 
    Accento circumflexo nos Monosylla- 
    bos Ver Rez Dor Poz, em que nós usá- 
    mos de Accento Grave; pois da mes- 
    ma sorte se terminaõ em Vogal fecha- 
    da, ainda que aguda: E nòs reconhe- 
    cendo a força desta razaõ naõ duvidá- 
    ramos usar de Accento circumflexo 
    nos dittos Monosyllabos, se naõ fora 
    o querermos reservar algum lugar pa- 
    ra o Accento Grave.
    Em conformidade do que acima 
    dizemos se déve tambem suppor Ac- 
    cento circumflexo nos tempos dos Ver- 
    bos, que acabaõ em semelhantes ter- 
    minaçoens, como saõ os Preteritos Des- 
       

     

     

     

    pág. 191 [recte pág. 187]
    fêz Refêz, Compôz Repôz: Os Infi- 
    nitivos da segunda, e quarta Conju- 
    gaçaõ Querêr, Temêr, Compôr, Re- 
    pôr.
       Sobre tudo he neccssario Accento 
    circumflexo no Infinitivo Podêr Posse, 
    para o distinguir do Futuro Podér Po- 
    tuero, que leva E aberto.
    Quanto às palavras na terminaçaõ 
    EM tambem dévem levar Accento cir- 
    cumflexo, ainda que nunca se pode- 
    riaõ pronunciar com Vogal aberta, pois 
    sempre se lhe suppoem quasi hum I 
    no meyo, que obriga a fechar a Vo- 
    gal, como succede em Alguêm, Des- 
    dêm, Ninguêm, Parabêm, que se pro- 
    nuncîaõ como se estivesse escritto: Al- 
    gueim, Desdeim, Ningueim, Para- 
    beim. Da mesma sorte nos Adverbios 
    Porêm, Tambêm. Nem obsta o dizer- 
    se que os Adverbios Latinos levaõ Ac- 
    cento Grave, e que assim o devem ter 
    os Portuguezes; porque naõ ha mayor 
       

     

     

     

    pág. 192 [recte pág. 188]
    razaõ para que os Latinos naõ guar- 
    dem as regras dos Accentos da lingua 
    Grega, e nós hajamos de guardar as 
    dos Accentos da Latina.
       A respeito das palavras Equivo- 
    cas Contem, e Porem se deve praticar 
    esta Accentuaçaõ. Quando Contêm vem 
    do Verbo Continere, e Porêm he Ad- 
    verbio, haõ de ter Accento Circum- 
    flexo na ultima. Quando Côntem vem 
    de Numerare, e Pôrem de Ponere, de- 
    vem levar Accento Circumflexo na 
    Penultima, onde teriaõ Accento Agu- 
    do, se se pudesse abrir a Vogal.
    Finalmente se ha de suppor Accen- 
    to circumflexo nas terminaçoens em 
    IL IR IZ UL UM UZ, supposto que 
    estas vogaes se naõ possao abrir de sua 
    propria natureza, como Burîl Ceytîl 
    Ferîr Pedîr Matrîz Azûl Paûl Al- 
    gûm Nenhûm Capûz Ormûz; e assim 
    nos preteritos da 4. Conjugaçaõ Com- 
    pûz, Suppûz; a que se pódem tambem 
       

     

     

     

    pág. 193 [recte pág. 189]
    accrescentar as palavras em IM v. gr. 
    Jasmîm, Motîm, Espadîm.
    Isto he tudo o que pudémos ob- 
    servar sobre os Accentos da Lingua 
    Portugueza; mas quanto mayor cui- 
    dado puzemos em lhe estabelecer al- 
    gumas regras; tanto mayor occasiaõ 
    teremos talvez dado a que se critique 
    o nosso trabalho. Nesta forma naõ du- 
    vido, que algumas pessoas, principal- 
    mente as que ignoraõ a Accentuaçaõ 
    Grega, e Hebraica, nos accusem de 
    que queremos sogeitar as palavras da 
    nossa lingua a huma taõ dura escravi- 
    daõ, como a dos Accentos: mas a isto 
    respondemos, que o nosso intento naõ 
    he persuadir a ninguem, que use delles 
    em todo o seu rigor; se naõ mostrar 
    que os taes Accentos pódem ter lugar 
    na nossa lingua; assim como o tiveraõ 
    na Grega, e muito mais na Hebraica, 
    o que lhe seria de huma summa perfei- 
    çaõ Ao menos ninguem me negará, que 
       

     

     

     

    pág. 194 [recte pág. 190]
    por meyo destas regras se evitaõ in- 
    finitos Equivocos; pois ha humas pa- 
    lavras, em que he preciso Accento 
    Agudo, e outras em que se necessita 
    do Grave, ou do Circumflexo, para 
    pronunciar as Vogaes jà Abertas, jà 
    Fechadas, já Breves, e já Longas, em 
    forma que se possa perceber logo o 
    sentido da Oraçaõ. Accrescenta-se a 
    isto, que supposto que os que saõ Por- 
    tuguezes, facilmente determinem pel- 
    lo sentido a significaçaõ das palavras, e 
    a quantidade das Syllabas; com tudo 
    naõ succede assim aos Estrangeiros, pa- 
    ra os quaes he indifferente pronunciar 
    Póde Potest com O Aberto, e Pôde 
    Potuit com O Fechado; e damesma 
    sorte fazer breve o substantivo Mágoa, 
    e longo o Verbo Magôa, ou pronun- 
    ciar estas palavras de outra maneira, 
    mudandolhes o som, e a quantidade, 
    com que se confunda a sua verdadeira 
    significaçaõ. Finalmente para evitar 

     

     

     


    pág. 195 [recte pág. 191]
    que se critique com justa razaõ o ze- 
    lo, com que procuramos a perfeiçoar a 
    Orthographia da lingua Portugueza, 
    nos contentamos com dizer que só 
    saõ precisos os Accentos nas palavras 
    equivocas; e que nas outras se deve 
    suppor que os ha, para dar alguma ra- 
    zaõ da pronuncia das taes palavras.
    _______________________________________
    CAPITULO VII.
    Das Letras dobradas.
    AS letras, como bem advirtio Al- 
    varo Ferreira de Vera na sua Or- 
    thographia, a quem copiou Joaõ Fran- 
    co Barreto, ou se dobraõ pella natu- 
    reza das palavras, como Callo Fallo, 
    de que se naõ póde dar regra alguma: 

     

     

     


    pág. 196 [recte pág. 192]
    ou por Derivaçaõ como Cavalleiro de 
    Cavallo, Ferreiro de Ferro: ou por 
    significaçaõ, como succede nos Dimi- 
    nutivos Verdette, Pequenette de Ver- 
    de, e Pequeno; do mesmo modo que os 
    Latinos disseraõ Libellus de Liber, e 
    Tantillus de Tantus: ou por Corrup- 
    çaõ, convertendo huma letra em ou- 
    tra, como nos nomes que se derivaõ 
    do Latim, v. g. Pessoa de Persona, 
    e Dicçaõ de Dictio: ou por Variaçaõ, 
    principalm?te de conjugaçaõ, para mos- 
    trar Tempos ou Modos differentes, como 
    Amase, Ensina-se, que differem de Amas- 
    se, Ensinasse; pois os primeiros saõ lin- 
    guagem do Indicativo; e os 2. do Conjun- 
    ctivo. Finalmente dobraõ-se as letras por 
    Composiçaõ, como Afforar de Foro, Ar- 
    ruinar de Ruina, Assinalar de Sinal, Em- 
    mudecer de Mudo, Ennobrecer de Nobre.
    Alem destas regras fundamentaes 
    de dobrar as letras se devem observar 
    as seguintes.   

     

     

     


    pág. 197 [recte pág. 193]
       Em 1. lugar as letras, que mais ne- 
    cessitaõ de se dobrarem, saõ MNRS, 
    e ainda a letra C no principio de al- 
    gumas palavras. Estas se dobraõ quasi 
    sem mais regra, que a boa consonan- 
    cia que fazem no ouvido; porque naõ 
    ha, quem naõ estranhe ouvir Arruinar 
    em lugar de Aruinar, Asinalar em lu- 
    gar de Assinalar, Acesso em lugar de 
    Accesso. Sem mais regra pois que a 
    harmonia do Ouvido escreveremos 
    com letras dobradas os nomes, e verbos 
    que se seguem entre outros muitos.
       
    Arrancar
    Arranhar
    Arrazar
    Arrebatar
    Arrebentar
    Arrecadar
    Arredar
    Arrefecer
    Arrimo
    Arriscar
    Arrobe
    Arrombar
    Assentar
    Assinalar
    Assombrar
    Assustar
    Emmagrecer
    Emmendar

     

     

     


    pág. 198 [recte pág. 194]
       
    Emmudecer
    Ennobrecer
    Ennovelar
    Immediato
    Immenso
    Immodesto
    Innocencia
    Innocente
    Innovar
    Innumeravel.
       
       Quando digo que estas letras se 
    dobraõ quasi sem mais regra, que a boa 
    harmonia do ouvido, naõ pertendo 
    negar, que muitas dellas sejaõ dobra- 
    das por Composiçaõ; mas o meu intento 
    he dar a entender, que basta a dita har- 
    monia para dobrar algumas vezes as le- 
    tras.
       Em 2. lugar se podem tambem do- 
    brar no Portuguez as letras B C D F 
    G L P T, ainda que naõ se dobra- 
    rem naõ cause estranheza no ouvido, 
    como se vé na lista que se segue.
       
    Abbade
    Abbreviar
    Sabbado
    Accento
    Accessor
    Accidental

     

     

     


    pág. 199 [recte pág. 195]
       
    Accidente
    Successo
    Successor
    Accomodar
    Occorrer
    Accumular
    Addicionar
    Affagar
    Affear
    Affecto
    Affeiçaõ
    Affirmar
    Affligir
    Affrontar
    Affroxar
    Differir
    Difficil
    Diffuso
    Effeito
    Efficaz
    Effeminado
    Aggravo
    Aggrado
    Aggressor
    Allegar
    Illicito
    Alludir
    Appellar
    Appellidar
    Appellido
    Elle
    Aquelle
    Cavallo
    Libello
    Parallelo
    Collateral
    Collegio
    Collocar
    Apparato
    Apparelho
    Apparencia
    Applacar
    Applauso
    Appetite
    Appropriar
    Approvar

     

     

     


    pág. 200 [recte pág. 196]
       
    Oppor
    Oppilaçaõ
    Opposiçaõ
    Opportuno
    Oppressaõ
    Opprimir
    Opprobrio
    Supplica
    Snpplicar
    Suppor
    Supportar
    Attribuir
    Attributo
    Attriçaõ
    Escritto
    Sobrescritto
    Manuscritto
    &c.
       
    A regra de dobrar as letras acima, 
    quando as palavras se naõ poderem re- 
    duzir aos principios, que já temos dado, 
    he buscarlhes a sua origem; e tendo el- 
    las letras dobradas no latim, se lhe pó- 
    dem pôr tambem no Portuguez. Bem sey 
    que parece demaziada affectaçaõ do- 
    brar letras, que se naõ pronunciaõ, 
    só porque no latim se dobraõ; mas 
    o contrario seria sogeitar-se á Critica 
    de alguns Grammaticos, os quaes ven- 
    do que se naõ dobraõ certas letras, at- 
    tribuem esta omissaõ a ignorancia, sen- 
       

     

     

     

    pág. 201 [recte pág. 197]
    do ella talvez huma naõ pequena per- 
    feiçaõ na nossa lingua.
       Ao menos devem-se dobrar as le- 
    tras M N R S pella razaõ que jà dis- 
    semos, e ainda a letra C nas palavras: 
    Accesso Accessorio Accidente Acciden- 
    tal, Occidente, Occidental.
       Quem seguir a opiniaõ de dobrar 
    as letras, tem em seu favor o uso das 
    linguas Franceza, e Italiana, que or- 
    dinariamente as dobraõ nas palavras 
    que no latim tem dobradas. Os France- 
    zes v. g. escrevem.
       
    Abbè
    de
    Abbas
    Accepter
    de
    Accipio
    Affecter
    de
    Affecto
    Affliction
    de
    Afflictio
    Aggreger
    de
    Aggrego
    Alleguer
    de
    Allego
    Commode
    de
    Commodus
    Communiquer
    de
    Communico.
    Connexion
    de
    Connexio.
       

     

     

     

    pág. 202 [recte pág. 198]
       
    Annoncer
    de
    Annuntio
    Appetit
    de
    Appeto
    Applaudir
    de
    Applaudo.
       
       Da mesma sorte os Italianos.
       
    Abbreviare
    de
    Abbrevio
    Accommodare
    de
    Accomodo
    Affermare
    do
    Affirmo
    Aggravare
    de
    Aggravo
    Allegare
    de
    Allego
    Commettere
    de
    Committo
    Commutare
    de
    Commuto
    Annumerare
    de
    Annumero
    Apparente
    de
    Apparens.
       
    Algumas palavras ha tambem, que 
    nos parecem Portuguezas de origem, 
    sendo tiradas immediatamente do Gre- 
    go, nas quaes se dobraõ as Consoan- 
    tes, como v. g. Amasso que vem do 
    Grego Amasso ??????, ou Ana- 
    masso ????????; Cólla, que tam- 
       

     

     

     

    pág. 203 [recte pág. 199]
    bem vem do Grego Kólla ?????, 
    idest, gluten.
       E para que se naõ estranhe dizer- 
    mos, que no Portuguez se achaõ pala- 
    vras tiradas immediatamente do Gre- 
    go, sem fallar nos termos de Artes, e 
    Sciencias, apontaremos algumas na li- 
    sta seguinte, advirtindo que essas nem 
    saõ latinizadas, nem naturalizadas em 
    outra lingua vulgar.
       
    Asco
    A’´???
    Fastidium
    Atar
    A’´???
    Necto.
    Borborinho
    ???????Z?
    Strepit? edo.
    Córto
    ?????
    Caedo
    Cara
    ????
    Facies, caput.
    Caneca
    ???????
    Mens. genus.
    Calar abaixo
    ??????
    Dimitto.
    Esteira
    ??????
    Sterno
    Latir
    ???????
    Latro, as.
    Lizo
    ??????
    Laevis.
    Mófa
    ?????
    Querela.
    Peitar
    ?????
    Suadeo.
       

     

     

     

    pág. 204 [recte pág. 200]
       
    Regelo
    ?????Ù
    Frigore corr.
    Rasgar
    ?‘????
    Rumpo.
    Tremoço
    ????Ù
    Lupinum.
    Tufaõ
    ?????
    Ventus, &c.
       
    SUPPLEMENTO I.
    Sobre o uso particular de algumas 
    Letras.
    B
    ANtes de B M P nunca se es- 
    creve N senaõ M: pello con- 
    trario antes de todas as outras 
    letras sempre se poem N e naõ M. 
    Assim se escreve Embargo, Immenso, 
    Empenho, e naõ Enbargo, Inmenso, 
    Enpenho.
    Exceituaõ-se desta segunda regra 
    alguns nomes compostos das proposi-
       

     

     

     

    pág. 205 [recte pág. 201]
    çoens CUM, CIRCUM, e do Adver- 
    bio BEM. Comsigo, Comtigo, Com- 
    nosco, Comvosco, Comtudo, Circum- 
    flexo, Circumspecto, Circumferencia, 
    Circumcisaõ, Circumlocuçaõ, Bem- 
    quisto, Bemvisto, Bemfeito, Bemfei- 
    toria, Bemfeitor, &c.
    Tambem se exceituaõ os nomes ti- 
    rados do Latim, ou do Grego, como 
    v. g. Calumnia, Calumniar, omnipo- 
    tencia, Omnipotente, Solemne, So- 
    lemnidade, Hymno, e outros, em que 
    se escreve M sem ser antes de B M 
    P; e disto ha varios exemplos nas Obras 
    do Padre Antonio Vieira.   
    H
    Esta Aspiraçaõ se conserva sempre 
    em todos os modos, e tempos do Ver- 
    bo Haver. Hey Has Ha Havia Hou- 
    ve Houvera Haverà Haja Haveria 
       

     

     

     

    pág. 206 [recte pág. 202]
    Houvesse Haver Havido Havendo.
       Tambem tem lugar nos futuros de 
    todas os Conjugaçoens: Amar se-há, 
    Dir se-ha, Ouvir se-ha, Por se-ha, e 
    nos seus pluraes conforme a Orthogra- 
    phia do Padre Antonio Vieira.
       O mesmo Author usa ordinaria- 
    mente de H em muitos tempos do Ver- 
    bo IR ou HIR; e em Sair, Sobresair, 
    Cair, Descair Recair, Attribuir, 
    Abstrair, Contribuir, Distribuir, De- 
    stituir, Destruir, Construir, Restituir, 
    Restribuir, Substituir. Assim escre- 
    ve nos Imperfeitos do indicativo: Hia, 
    Sahia, Cahia, Descahia, Attribuhia, 
    &c. Nos Futuros Sahirey, Cahirey, 
    Contribuirey: nos subjunctivos Cahi- 
    ra, Cahisse, Cahiria, Sahira, Sahis- 
    se, Sahiria: e nos Participios: Cahi- 
    do, Sahido, Restituhido, Substituhi- 
    do.
    A terceira pessoa do singular do 
    presente do Indicativo Sum se escre- 
       

     

     

     

    pág. 207 [recte pág. 203]
    ve HE est, para fazer differença da 
    Conjunçaõ E.
    SC
       Tem a lingua Portugueza varios 
    nomes derivados do Latim, e ainda 
    do Gredo, onde se escrevem com SC 
    ou ??. Estes se reduzem a duas clas- 
    ses: huns levaõ depois do SC alguma 
    das Vogaes A O U, ou alguma con- 
    soante, como succede em Scandalum, 
    Scorpio, Scutum, Scriptor, Scribo. 
    Outros tem depois do SC alguma das 
    Vogaes E I, como Sceptrum, Scien- 
    tia, Scipio. Para acertar a Orthogra- 
    phia destas palavras, se devem obser- 
    var as regras seguintes.
    Os nomes, que depois de SC tive- 
    rem A O U, ou alguma consoante, 
    tomaõ no Portuguez E antes do SC; 
    e assim se escreve Escandalo, Escor- 
       

     

     

     

    pág. 208 [recte pág. 204]
    piaõ, Escudo, Escrittor, Escrevo.
       Os nomes, que tiverem E, ou I 
    depois do SC, naõ tomaõ outra Vogal 
    no principio, mas conservaõ o mes- 
    mo SC, escrevendo-se Sceptro, Sci- 
    encia, Scipiaõ. Esta he a Orthographia 
    mais usada do Padre Antonio Vieira, 
    ou do Corrector das suas impressoens; 
    comtudo no seu primeiro Volume, cu- 
    ja correcçaõ dizem correo por sua 
    conta, tira muitas vezes este Author, 
    o S inicial destas palavras, e escreve 
    Ceptro, Ciencia, Cipiaõ.
    Alem destes nomes, que come- 
    çaõ por SC, ha outros derivados do La- 
    tim, que tem no meyo estas duas le- 
    tras: taes saõ as palavras Crescer, De- 
    scer, Nascer, Pascer, que vem de 
    Cresco, Descendo, Nascor, e Pasco. 
    O Padre Antonio Vieira conserva a le- 
    tra S nestas palavras, ainda que outros 
    Authores escrevaõ: Crecer, Decer, 
    Nacer, Pacer.   

     

     

     


    pág. 209 [recte pág. 205]
    Do mesmo modo o conserva tam- 
    bem nos seus derivados, ou sejaõ Ver- 
    bos, ou Nomes. Accrescer, Accres- 
    centar, Deccrescer, Recrescer, Des- 
    cender, Renascer, Accrescentamento, 
    Descendimento, Descendente, Des- 
    cendencia, Nascimento, Apascentar, 
    &c, Tambem escreve Nescio confor- 
    me a ethimologia Latina.   
    SCH
       As palavras, em que concorrem es- 
    tas letras, saõ Gregas de origem. Se 
    a ellas se seguir a Vogual I, lança-se 
    fóra o S, e pronunciase o CH como 
    simplez C. Schisma, Schismatico, lea- 
    se como se fora Cisma, Cismatico.
    Sendo as letras SCH seguidas de 
    O, como succede em Schola, Scho- 
    lium, accrescentase-lhe em Portuguez 
    hum E, e a syllaba CHO pronuncia-se 
       

     

     

     

    pág. 210 [recte pág. 206]
    como CO. Escola, Escolio.
    SUPPLEMENTO I.
    Sobre a Letra.
    Z
    A Perseguiçaõ, que vemos levantada 
    contra esta letra, nos obriga a fa- 
    zer este 2. Supplemento à nossa Ortho- 
    graphia, em que defendamos a justiça 
    da sua causa, e acudamos ao reparo de 
    alguns criticos modernos, de que sem 
    embargo de elles a haverem desna- 
    turalizado, lhe conservamos ainda lu- 
    gar no Alphabeto.
    Primeiramente està a favor da le- 
    tra Z a posse, que logra de tempo im- 
    memorial na nossa lingua; pois se naõ 
    acharà Original algum dos de mayor 
    veneraçaõ, em que naõ occupe hum 
       

     

     

     

    pág. 211 [recte pág. 207]
    lugar decente. Nesta posse a conser- 
    váraõ os nossos antigos Grammaticos; 
    de que he escusado allegar grande co- 
    pia de exemplos, baste por todos o teste- 
    munho de Fernaõ de Oliveira na sua 
    Grammatica da lingua Portugueza im- 
    pressa em Lisboa ha duzentos annos, 
    isto he no anno de 1536. em que diz 
    expressamente, que he nossa propria a 
    dita letra.
       O terse recebido o Z na nossa lin- 
    gua, naõ procedeo de capricho particu- 
    lar de alguns Authores, mas de hum 
    exemplo fixo, e permanente de quasi 
    todas as naçoens do Mundo. Dos Chal- 
    deos, Hebreos, Samaritanos, e Sy- 
    riacos passou esta letra aos Gregos, e 
    delles a tomáraõ os Romanos para ex- 
    primir com hum unico tom a força de 
    duas Consoantes juntas, pella qual ra- 
    zaõ he contada entre as letras dobra- 
    das.
    Chegado o Z às Provincias de Eu- 
       

     

     

     

    pág. 212 [recte pág. 208]
    ropa se espalhar geralmente ainda en- 
    tre aquellas Naçoens; cujas linguas se 
    naõ derivaõ da Latina, como saõ as 
    linguas do Norte, e nellas se tem con- 
    servado atè o tempo presente, sem 
    que viesse ao pensamento a algum 
    Grammatico o excluila do seu Alpha- 
    beto.
       Esta geral aceitaçaõ da letra Z he 
    fundada na grande utilidade, que 
    lhe dá a sua força; e como esta senaõ 
    ache em alguma das outras Consoan- 
    tes, naõ se póde negar que por este 
    principio se faz precisa. Dirme-haõ, 
    que a sua falta se substitue facilmente 
    pela letra S; mas a isto respondo, que 
    me parece diligencia muito escusada 
    tirar huma letra do Alphabeto, para lhe 
    substituir a força com outra letra.
    Tres saõ os lugares, que póde oc- 
    cupar a letra Z na composiçaõ das pa- 
    lavras. Póde estar na primeira syllaba, 
    na Media, e na ultima; e em qualquer 
       

     

     

     

    pág. 213 [recte pág. 209]
    destes lugares se acha com huma pos- 
    se muy legitima.
       Na primeira syllaba tem lugar esta 
    letra nas palavras Zagal, Zangaõ, Zar- 
    co, Zelo, Zezere, Zombar, Zunir, 
    &c. e se nellas se usar de S em lugar 
    de Z, poderá haver quem lea as dit- 
    tas palavras com S aspero, do modo 
    que lé Sabio, Sala, Segredo, Solar, 
    dizendo Sagal, Sangaõ, Sarco, Se- 
    lo, Sesere, Sombar, Sunir, &c. com 
    notavel deformidade da nossa lin- 
    gua.
       Seguirse-ha ainda outra equivoca- 
    çaõ peor, se se der ao S a força do 
    Z nos principios das palavras, porque 
    se naõ conhecerà quando o S tem to- 
    da a sua força; e assim se poderia di- 
    zer Zaõ, Zello, e Zino, em lugar de 
    Saõ, Sello, e Sino.
    No meyo das palavras tem a letra 
    Z o seu lugar com igual utilidade que 
    no principio; porque tirando-se o Z 
       

     

     

     

    pág. 214 [recte pág. 210]
    das Palavras Alteza, Empreza, Tre- 
    ze, Quatorze, Trazer, e substi- 
    tuindo-lhe a letra S, haverà quem dè 
    a esta letra toda a sua força, e lea 
    com hum som aspero Altesa Empre- 
    sa trese, assim como lè Ama-se, Di- 
    ga-se, Ouve-se, Póde-se; com igual 
    deformidade na pronuncia.
       Naõ faltarà tambem quem vendo 
    escritto Altesa, e Empresa com S, e 
    que com tudo se pronuncîaõ com Z, 
    queira tambem dar esta pronuncia a 
    Ama-se, Diga-se, como se estivera 
    escritto Ama-ze, Diga-ze.
       No fim das palavras tem lugar 
    a letra Z em varios nomes Monosyl- 
    labos, ou levem Vogal fechada, co- 
    mo em Mez, Pez, Rez, fallando 
    de gado, Vez, Giz, Triz, Cruz, 
    Luz: ou a levem aberta, como em 
    Páz, Ráz, Féz Cidade, Cóz, Fóz, 
    Póz, Vóz, e outros varios.
    Da mesma sorte tem lugar em no- 
       

     

     

     

    pág. 215 [recte pág. 211]
    mes de mais syllabas, ou com Vogal 
    fechada, ou aberta: Capáz, Car- 
    táz, Rapáz, Cabáz, Arganáz, Lin- 
    guaráz; Arnez, Valdez, Francez, 
    Inglez, Maltez, Hamburguez, Mi- 
    lanez, Convéx, Revéz; Matiz, Ma- 
    triz, Verniz, Juiz, Perdiz, Co- 
    dorniz, Chafariz: Algoz, Arroz, 
    Atróz, Feróz, Cadóz, Retróz, 
    Badajóz, Albernóz: Capuz, Anda- 
    luz, Arcabuz.
       Assim tambem nos tempos de al- 
    guns Verbos, como em Faz, Des- 
    faz, Prefáz, Refáz, Dáz, Jáz, 
    Tráz, Váz, Fez, Desfez, Prefez, 
    Refez, Fiz, Desfiz, Prefiz, Re- 
    fiz, Poz, Compoz, Dispoz, Re- 
    poz; Puz, Dispuz, Compuz, Re- 
    puz, Suppuz.
    Em todos estes lugares se acha in- 
    troduzida a letra Z, e naõ com algu- 
    ma posse violenta, senaõ com hum 
    publico, e preciso consentimento 
       

     

     

     

    pág. 216 [recte pág. 212]
    dos nossos primeiros Mestres, como 
    testemunhaõ os Manuscriptos mais bem 
    conservados, e os livros das mais an- 
    tigas ediçoens.
    FIM.
       

     

     

     

     

     

     


        pág. 217 [recte pág. 213]